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O exame preliminar do processo e o despacho de artigo 6º 1 Questões suscitadas

CONTRAORDENAÇÕES NOS TRIBUNAIS ADMINISTRATIVOS 5 O processo contraordenacional Em especial, o despacho liminar e a decisão por despacho

4. O exame preliminar do processo e o despacho de artigo 6º 1 Questões suscitadas

4.2. O exame preliminar do processo: artigos 59.º, 63.º e 65.º do RGIMOS: conteúdo 4.2.1. A intempestividade e as exigências de forma do n.º 3, do artigo 59.º

4.2.2. Os demais objetos de pronúncia do despacho do artigo 63.º do RGIMOS 4.2.3. O despacho de aceitação do recurso do artigo 65.º, do RGIMOS: conteúdo 4.2.4. A determinação do âmbito da prova do artigo 72.º, n.º 2

4.3. A decisão por despacho: artigo 64.º Conclusão

Introdução

A tramitação do processo de contraordenação, quer na fase administrativa, quer na fase judicial depara-se frequentemente com o problema da determinação do regime aplicável, atento o laconismo da regulamentação constante Regime Geral do Ilícito de Mera Ordenação (adiante RGIMOS).

O tema de que se ocupa o presente texto é bem ilustrativo do percurso que o intérprete tem de empreender para dilucidar o regime aplicável ao processo de contraordenação. Trata-se neste texto de duas decisões judiciais que se posicionam nos dois extremos temporais da fase de impugnação judicial do processo de contraordenação: o momento em que, no início da fase, o juiz decide acerca da aceitação do recurso e o momento em que, não havendo oposição dos sujeitos a quem a lei atribui essa faculdade, põe termo a esta fase da impugnação judicial, decidindo o caso através da prolação de um despacho que dispensa a realização da audiência de julgamento.

1 O presente texto corresponde à comunicação realizada no CEJ, em 23 de março de 2018, no âmbito da ação de

formação contínua, subordinada ao tema As “novas” contraordenações administrativas. A autora agradece o contributo que foi dado pelas questões colocadas pelas Senhoras Magistradas e pelos Senhores Magistrados presentes na sessão para a reflexão sobre este tema.

2 Mestre em Direito (Ciências jurídico-criminais) pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, doutoranda

da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, investigadora do CEDIS-FDUNL e bolseira da FCT. A autora foi, até setembro de 2017, Diretora do Departamento de Contencioso da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários. As opiniões emitidas na sessão e reproduzidas neste texto são exclusivamente pessoais, não podendo, em caso algum, ser atribuídas à CMVM.

CONTRAORDENAÇÕES NOS TRIBUNAIS ADMINISTRATIVOS 5. O processo contraordenacional. Em especial, o despacho liminar e a decisão por despacho

Quanto ao início do processo, regem os artigos 63.º e 65.º do RGIMOS que preveem a intervenção inicial do juiz da impugnação e que constituem o resultado daquilo a que o artigo 27.º-A, n.º 1, alínea c), designa como «exame preliminar do recurso da decisão da autoridade administrativa». O artigo 64.º, por seu turno, dispõe acerca da decisão final por despacho. Saber o que caracteriza estes despachos e qual é o conteúdo que podem ter é um tema que convoca aspetos centrais do debate sobre o processo de contraordenação:

– A questão do direito aplicável;

– As características do processo de contraordenação, ou seja, a questão da sua autonomia. Questões que surgem indissociavelmente ligadas, pois determinar o direito aplicável pressupõe estabelecer as características do processo de contraordenação, nos casos em que são convocadas as normas processuais penais, atenta a exigência, prevista no artigo 41.º do RGIMOS, de os preceitos reguladores do processo criminal, quando aplicados ao processo de contraordenação, serem devidamente adaptados.

Estes dois aspetos desencadeiam, ainda, uma terceira característica que é particularmente intensa no processo de contraordenação e que é a do desenvolvimento jurisprudencial desse exercício de definição do direito aplicável, assente num excurso que os tribunais realizam precisamente sobre a questão das características específicas do processo de contraordenação. Esta é, assim, uma área em que a definição e a estabilização das soluções pressupõe e assenta, com particular intensidade, na jurisprudência. Dessa concretização se irá dando conta ao longo deste trabalho, a propósito de cada uma das questões suscitadas.

Antes de enunciar e tratar as questões que os despachos objeto do presente texto colocam, serão tratadas as questões do direito aplicável e da caracterização do processo de contraordenação na fase judicial, por forma a sustentar a posterior resolução dessas questões.

1. O regime aplicável ao processo de contraordenação

A fase da impugnação judicial do processo de contraordenação é regulada nos artigos 59.º a 75.º do RGIMOS que contêm o essencial das normas aplicáveis a esta fase.

Contudo, previamente à aplicação do disposto neste capítulo do RGIMOS, o percurso de determinação do direito aplicável tem de iniciar-se com a verificação da eventual existência de disposições processuais específicas do regime setorial a que a contraordenação respeita que, sendo especiais, sempre prevalecerão sobre o disposto no RGIMOS.

CONTRAORDENAÇÕES NOS TRIBUNAIS ADMINISTRATIVOS 5. O processo contraordenacional. Em especial, o despacho liminar e a decisão por despacho

Na verdade, atenta a evolução de várias legislações setoriais, verificam-se hoje significativos afastamentos do regime previsto no RGIMOS3 que terão de ser considerados na determinação do regime aplicável a cada um dos setores.

Esta tendência de afastamento dos regimes setoriais em relação ao RGIMOS começou por verificar-se nas contraordenações do setor financeiro,4 atentas as necessidades acrescidas de formalização de um processo que poderia culminar com a aplicação de coimas muito superiores àquelas que se previam para a generalidade das contraordenações criadas quando do surgimento do RGIMOS em 1982.

Entretanto, esses afastamentos começaram a ser incorporados também no regime processual de outras áreas.5

Embora com formulações concretas nem sempre inteiramente coincidentes, os regimes setoriais têm em comum o afastamento do RGIMOS essencialmente em relação a quatro aspetos:

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