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CAPÍTULO IV – ANÁLISE DE DADOS E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

4.2 Os exames da família TOEFL e o TOEFL IBT

4.2.1 O exame TOEFL IBT

4.2.1.2 O exame TOEFL IBT e os aspectos delineadores desta pesquisa

apresentarmos ideias na vida real, esperamos uma reação de interlocutores, independentemente de quem sejam, o que confere uma característica de imprevisibilidade. A natureza interativa da produção oral é enfatizada por Luoma:

Da perspectiva de avaliação, a produção oral é especial por causa de sua natureza interativa. Ela é normalmente avaliada em interações ao vivo, onde o discurso do teste não é inteiramente previsível, assim como duas conversas nunca serão exatamente as mesmas, mesmo se elas forem sobre o mesmo tópico e os falantes tiverem os mesmos papéis e objetivos. (LUOMA, 2004, p.170)

Dessa forma, acreditamos que a prova de produção oral esteja distante do objetivo do exame, divulgado pela ETS, de avaliar a capacidade de uso da língua em contexto acadêmico, visto que a natureza da habilidade não está sendo contemplada.

Em relação à produção escrita, segundo as especificações do exame, busca-se analisar a capacidade do candidato de redigir um resumo baseado em textos escritos e de áudio, demonstrando, para tanto, saber relacionar, contrastar e confrontar dados entre os textos; e sintetizar, parafrasear e citar informações. Um aspecto positivo dessa tarefa está na integração das habilidades. Entretanto, o gênero resumo é muito questionado em pesquisas diante da reconhecida dificuldade de correção. Além disso, também é esperado que o candidato saiba redigir um texto dissertativo defendendo suas opiniões. A produção escrita no exame valoriza aspectos tais como organização textual, uso de conectivos, apropriação e variedade lexical e gramatical, desenvolvimento de ideias pela utilização de argumentos, exemplos e detalhes, assim como ortografia, pontuação e formato.

4.2.1.2 O exame TOEFL IBT e os aspectos delineadores desta pesquisa

Consideramos, primeiramente, que a visão de língua defendida pelo exame privilegia um ensino voltado para o desenvolvimento das habilidades para comunicação, o que excluiria abordagens mais tradicionais como gramática e tradução, e incluiria outras como a comunicativa e ensino baseado em tarefas.

O formato e conteúdo do exame integram dois dos aspectos mais explorados nos materiais analisados. Todas as ferramentas de divulgação oficiais do TOEFL IBT esclarecem o conteúdo do exame, enfatizando os gêneros textuais esperados nas habilidades de produção, como a redação de um resumo, e de compreensão, como palestras, diálogos, textos

acadêmicos de leitura, delimitando também os possíveis interlocutores e situações de comunicação. Somado a isso, o guia oficial especifica as expectativas de respostas para cada tipo de questão que compõe o exame, assim como fornece exemplos de produção escrita de exames passados com as pontuações obtidas e os comentários do examinador. O guia também apresenta listas amplas sobre os tópicos normalmente abrangidos em cada seção. Por exemplo, para a tarefa de redação independente que compõe a prova de produção escrita, são apresentadas quatorze páginas dos tópicos já abordados em testes passados. De forma semelhante, para os tópicos dos excertos de aulas da prova de compreensão oral, o material traz as quatro categorias principais: artes, ciências da vida, ciências da física e ciências sociais, e mais uma média de dez sub tópicos para cada uma delas.

Além disso, conhecer quais habilidades serão examinadas e estar familiarizado com os tipos de questões de cada seção do TOEFL IBT, o tempo, as situações em que a língua será utilizada e os seus prováveis tópicos, são apontados como fatores que auxiliam o entendimento das habilidades linguísticas necessárias para o candidato ter sucesso no exame. Um exemplo dessa importância seria a explicação e exemplificação detalhadas dos tipos de questões que serão solicitadas.

Portanto, é esperado que programas de ensino voltados para o TOEFL IBT enfoquem esses aspectos. No entanto, não foram identificadas nos documentos analisados orientações para que o formato das questões fosse priorizado em sala de aula como se fosse o aspecto mais relevante do exame. A orientação é de que o candidato conheça o formato das tarefas. Entretanto, estudos mostram que o treinamento massivo dos tipos de questões em detrimento do desenvolvimento de habilidade linguística acaba consistindo em um efeito retroativo negativo no ensino (LI, 1988; CHENG, 1997). Consequentemente, esse aspecto merece atenção nas investigações sobre efeito retroativo na prática de ensino.

Esses resultados nos levam a questionar como o formato do exame está sendo compreendido em sala de aula por meio da prática de ensino. Primeiramente, caso o objetivo principal seja fazer o aluno obter uma nota mais elevada utilizando as características do formato, independentemente da capacidade de entendimento do assunto das questões, conforme discutido por Millman (1965) e Benson (1988), o TOEFL IBT está exercendo um efeito retroativo negativo no ensino. Por outro lado, caso o formato seja visto como uma das características do teste e o seu entendimento integre as operações mentais de utilização da língua e, consequentemente, constitua estratégias de uso da língua (COHEN, 1998), acreditamos que o efeito não seja inicialmente negativo, somente se o foco da aula for essencialmente esse, sobrepondo-se a outras atividades que também auxiliam no

desenvolvimento das habilidades comunicativas.

Embora haja referências para a utilização do material didático editado pela ETS e do site da organização como recomendação de estudo para o aluno, enfatiza-se também o fato de que para atingir um bom resultado, o candidato deve desenvolver habilidades exigidas no exame e utilizar outros tipos de materiais.

(...) você deve usar outro material para complementar as questões práticas do exame neste livro (…) Em outras palavras, a melhor maneira de melhorar seu desempenho no teste é melhorar suas habilidades. (...) A melhor maneira de melhorar a sua habilidade de leitura é ler frequentemente e ler muitos tipos de textos em várias áreas (ciências, ciência social, artes, negócios e outros). A Internet é um dos melhores recursos para isso, mas qualquer livro, revista ou jornal pode auxiliar. (The Official Guide to the TOEFL test, 2012, p.3-4)

Esse posicionamento da ETS revela a visão de língua como uso e a necessidade do candidato desenvolver as suas habilidades indo ao encontro de outras organizações elaboradoras de exames internacionais de proficiência como a University of Cambridge Local Examinations Syndicate (UCLES, 1994), responsável pelo exame FCE, que aconselha os candidatos a não se fixarem em exames passados como forma de estudo: “candidatos são fortemente aconselhados a não se concentrarem de modo inadequado no trabalho com os testes práticos e os exames, pois isso por si só não os fará mais proficientes nas diferentes habilidades.”

Dessa maneira, observamos que, por um lado, a ETS defende nessa afirmação a variedade dos tipos de textos, não favorecendo as áreas normalmente avaliadas no TOEFL IBT, assim como o desenvolvimento das habilidades, mas, por outro, a organização explora detalhadamente em seu guia oficial os tópicos abrangidos pelo exame nas diferentes seções do exame.