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CAPÍTULO IV – ANÁLISE DE DADOS E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

4.5 Os cursos presenciais desta investigação

4.5.1 Curso Desenvolvimento de Habilidades Linguísticas para o Convívio Social

4.5.1.2 Observação em sala de aula e entrevista com o professor

Apresentamos, nesta seção, os aspectos mais salientes da prática de ensino que demonstram, entre outras características, a abordagem privilegiada, a utilização do material didático, as atitudes e percepções do professor do curso e alunos em relação aos exames de proficiência exigidos no CsF.

Com base nas observações, pudemos concluir que a abordagem de ensino do professor prioriza o uso da língua. O seu posicionamento mostra a preocupação em proporcionar condições para que o aluno possa desenvolver as habilidades comunicativas na língua inglesa, remetendo à visão de use da língua, segundo a dicotomia discutida por Widdowson (1978) entre usage e use, sendo a primeira relativa aos padrões formais da língua enquanto a segunda estaria relacionada à função comunicativa da língua.

Por exemplo, em várias oportunidades durante a aula, o professor buscou a participação dos alunos e envolvimento no tópico, especialmente no início da aula, quando um novo assunto era apresentado.

(Professor A) - So basically, you’re going to make a profile for this social network that we have here but first let me ask… which eh…social network do you have a profile in….like…. I suppose everybody has facebook…yes?

(Aluno 1) Tweeter... (Professor A) Tweeter ah?

Observamos que, embora alguns alunos tentem responder às perguntas colocadas pelo professor, às vezes não conseguem expandir além de frases curtas, recorrendo ao português para finalizar as sentenças. No entanto, considerando o nível de proficiência do curso, essa situação é esperada. Além disso, identificamos também a busca pela comunicação na língua e uma intensificação das próprias experiências pessoais do aluno como elementos importantes na contribuição para aprendizagem em sala de aula (BROWN, 2000).

(Professor A) - Can we discuss about the...about what you wrote? Who wants to read first?

(Aluno 1) Coloquei...I like music. I play the guitar. I like Science. I always find...eu sempre procuro…

(Professor A) Look for? (Aluno 1) Look for? (Professor A) Yes…

(Aluno 1) I look for my objective so my type of intelligence is musical, logical and intrapersonal.

Além disso, constatamos uma forte influência do material didático nas aulas, uma vez que o conteúdo trabalhado, assim como o formato das atividades, giravam em torno da apostila, o que foi confirmado pelo entrevistado ao ser questionado sobre o planejamento do curso. O professor é responsável pela sua elaboração tendo em vista o grupo de alunos, o tempo de duração do curso e o ritmo das aulas para que o conteúdo do material didático seja trabalhado.

(Professor A) - O que a gente tem que fazer é cumprir a carga horária estabelecida e percorrer todo o material... todos os pontos do material.. e por isso que o material já é organizado em módulos pra que eles encaixem na carga horária.

Quando questionado sobre a abordagem de ensino que adota, o material didático surge como principal norteador de sua prática, confirmando o que havia sido observado em sala.

(Professor A) Pensando que eu tenho que seguir o material, que já está estabelecido....eu procuro fazer com que os alunos possam praticar, trabalhar com essas quatro grandes habilidades do...da aprendizagem de língua que é o listening, writing, o speaking e o reading, mas...eu diria...eu não sei se eu conseguiria me enquadrar em uma abordagem..assim...mas o que eu procuro fazer é que...mas o que fazer é que os alunos conversem comigo, então além de falar sobre os temas do material, eu falo sobre as coisas que aconteceram na (nome da universidade), coisas da realidade deles pra que eles se estimulem a falar de coisas que eles já sabem, então, nesse sentindo eu estaria tentando for..não forçar, mas produzir uma comunicação entre a gente...fazer com que eles falassem sobre coisas da vida deles mesmo.

Questionado se busca utilizar outros materiais com outros conteúdos para as suas aulas, o professor revela preocupação em considerar o nível de proficiência de seus alunos.

(Professor A) - Depende da turma, nessa turma aqui de agora, eu percebi que...talvez...os alunos tivessem um nível mais avançado do que a apostila exigisse...então eles poderiam aproveitar mais, então como eu dividi com a outra turma...quer dizer com a outra professora, ou seja, esse curso era dado por dois professores a (nome da professora), que é a outra professora tentou trazer conteúdos novos também, a gente teve a participação das intercambistas...das ETAs que também fizeram oficinas, essas coisas, mas geralmente eu tento...dar uma manipulada no material de acordo com o grau de conhecimento dos alunos. A declaração do professor pode indicar problemas, primeiramente, quanto ao teste de classificação (HUGHES, 1993) que visa identificar o nível de proficiência do aluno para enquadrá-lo em um curso adequado as suas capacidades. No entanto, como no contexto estudado essa nivelação é realizada por meio do MEO, esse resultado aponta para uma

discrepância entre os níveis de proficiência dos cursos online e presencial.

A prova de rendimento aplicada focalizou as habilidades de compreensão oral e produção escrita para a produção de um texto, em um formato bem simples de dictagloss. Esse tipo de atividade não é utilizado em testes de proficiência como o TOEFL IBT ou o IELTS, sendo mais normalmente um recurso de sala de aula. Segundo definição do site “teachingenglish.org.uk” da BBC e British Council, o dictagloss é uma atividade de ditado em sala de aula na qual os alunos devem reconstruir um texto a partir do que ouviram e tomaram notas.

Uma das tarefas de produção escrita do TOEFL IBT, chamada de integrada, consiste na redação de um resumo a partir de textos escrito e oral, integrando as habilidades de compreensão escrita, compreensão oral e produção escrita. Assim, a prova de rendimento adotada no curso assemelha-se ao exame quanto à integração de habilidades, mas diverge em outros aspectos, como conteúdo. Entretanto, como não foram identificadas outras evidências, esse aspecto não pode ser inferido como influência do TOEFL IBT, mas, provavelmente, atribuído aos componentes regulares de um material didático.

Esse fato foi confirmado pelo professor, que não identifica uma relação direta entre o curso que ministra e os exames de proficiência exigidos no CsF.

(Professor A) É..ao teste...eu diria que não diretamente. Ele tá no sentido em que o aluno vai desenvolver melhor a habilidade de ouvir..a...de racionar, de reconhecer as informações e isso é muito importante no teste de proficiência, né? Mas não é o tipo de teste que... um um tipo de aula que é feita pensando no teste, pensando no tipo de questões.

O professor afirma ainda que os alunos dos cursos em que trabalha não solicitam esclarecimentos de conteúdo ou formato dos exames de proficiência envolvidos no CsF, e acredita que esse tipo de estudante provavelmente busque os cursos preparatórios para o TOEFL. Dessa maneira, o perfil dos alunos de seu curso seria um pouco diferente, demonstrando outras expectativas de aprendizado da língua:

(Professor A) ...mas eu percebo que não são todos os alunos que fazem os cursos que vão participar do programa e às vezes são alunos de cursos que nem têm...nem são contemplados no edital...nos editais que abrem do Ciência sem Fronteiras...a..então os alunos vêm com expectativas do tipo melhorar o inglês ou praticar mesmo...quem precisa e já tá tentando se inscrever pros editais etc sim aí se dedica, diz que vai prestar os exames de proficiência etc

da língua que o aluno poderia enfrentar já no exterior.

(Professor A) - Dessa frente...o objetivo é de que os alunos possam...os alunos que supostamente forem pro programa Ciências sem Fronteiras, possam é....lidar com as situações reais lá do....de vida mesmo dos Estados Unidos, então... ou da Austrália, ou do Reino Unido etc, como, por exemplo, conseguir alugar uma casa, ou se precisar ir ao hospital, uma farmácia, conseguir se comunicar nesse sentido, então... o curso tenta... fazer um panorama geral...desse tipo de situação do dia a dia.

Quando questionado sobre o ensino de inglês focalizando exames de proficiência como os exigidos no CsF, o professor mostrou resistência e apontou o risco do ensino tornar- se um treinamento para se passar em testes, o que constituiria um perigo, segundo sua visão:

(Professor A) - ....na medida em que os cursos sejam moldados assim para que o aluno passe no teste, não para que o aluno tenha proficiência em inglês e saiba efetivamente lidar com situações reais, entendeu? Mas, às vezes, pode ser que os cursos sejam ser manipulados para que o aluno treine, treine e treine e isso acaba virando um tipo de vestibular ou de curso preparatório para o vestibular, ou seja, o aluno não precisa saber efetivamente lidar com a língua, ele precisa memorizar técnicas, regras etc nesse sentido acho que pode ser um perigo...não parece que está ocorrendo isso ainda aqui, pela minha experiência, pelo meu contato com outros professores, mas é um perigo que eu vejo.

O posicionamento do participante enfatiza o fato de que professores, assim como todos os atores, possuem suas próprias concepções sobre exame e ensino, podendo influenciar os alunos (NORRIS, 2008).