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2 1.3 A Responsabilidade Social no Brasil

2.1.4 O exercício da RS

O referencial teórico para orientar nossa investigação sobre o processo de concepção e implementação do programa de responsabilidade social do IPD baseia-se na construção tridimensional dos vetores éticos da RS desenvolvido por Melo Neto e Froes (2001, p.132), originalmente concebidos na perspectiva das empresas mas que no presente estudo são aplicados a uma OS. E que são:

- o vetor da adoção dos valores éticos; - o vetor da difusão dos valores éticos; - o vetor da transferência dos valores éticos.

Figura 2.1.4 (1) - Vetores éticos da RS

1 Vetor da Adoção dos valores éticos

2 Vetor da Difusão dos valores éticos 3 Vetor da Transferência

dos valores éticos

Fonte: Melo Neto e Froes, 2001, p.133-134.

Para Melo Neto e Froes (2001), a empresa estaria atuando no vetor da adoção dos valores éticos (1º vetor) quando assimila valores referentes ao respeito aos direitos humanos, às liberdades e garantias individuais, aos direitos dos consumidores, às obrigações contratuais e a obediência aos princípios legais que regem a sua atuação. A adoção caracteriza-se por uma mudança organizacional que implica assimilar à cultura empresarial valores éticos que devem ser observados e praticados.

Quando uma empresa, através da sua conduta socialmente responsável, difunde valores e comportamentos-cidadãos junto a seus diversos públicos e no meio onde atua, ela passa a atuar no 2º vetor (desenvolve ações sociais sob a forma de projetos sociais e ações comunitárias). Na difusão objetiva-se desenvolver ações sociais que se traduzem em resultados positivos para a comunidade, uma vez que há toda uma cultura organizacional interna voltada para isso.

No entanto, só quando a organização passa a transferir valores é que ocorre a responsabilidade social em sua plenitude. Seus projetos e ações tornam-se sustentáveis e efetivos e os resultados obtidos asseguram uma melhoria da qualidade de vida no trabalho e na sociedade.

Conforme visto anteriormente, pode-se conceituar Responsabilidade Social como sendo o comprometimento permanente da organização em adotar um comportamento ético e de contribuir para o desenvolvimento econômico, melhorando simultaneamente a qualidade de vida de todos os stakeholders.

Ainda segundo Melo Neto e Froes (2001), atuação socialmente responsável não se dá de forma aleatória exigindo das organizações:

- congruência entre ações, valores, políticas, culturas e visão estratégica; - construção de meios de comunicação internos e externos;

- construção de relações confiáveis e duradouras com os stakeholders.

A missão é a expressão da razão da existência de uma organização. A organização que pauta sua atuação pela responsabilidade social demonstra isso através de suas ações, seus valores, políticas, cultura e visão estratégica. Os programas de ação propostos devem ser coerentes com a definição de missão, valores, objetivos e das metas estabelecidas por ela, que, numa sinergia, hão de convergir para uma boa e simétrica comunicação.

A organização que se torna cidadã deve conscientizar-se de que o seu desempenho social só será satisfatório se a idéia de responsabilidade social permear todo o seu ambiente interno e contaminar as relações com o ambiente externo.

O público alvo prioritário das ações de RS é a comunidade. Uma das atividades essenciais e um dos grandes desafios, são estimular a sua participação e abrir canais de comunicação que valorizem essa relação.

Para Melo Neto e Froes (2001, p. 132), a responsabilidade social baseia-se na construção pelas organizações de relações confiáveis e duradouras com os seguintes segmentos; (i) junto aos parceiros; (ii) junto à sociedade global; (iii) junto à comunidade; (iv) junto aos concorrentes; (v) junto aos consumidores; (vi) junto ao meio-ambiente e (vii) junto ao governo, ou seja, com todos os stakeholders.

Para os mesmos autores as funções básicas da Responsabilidade Social são:

- a formação da consciência ética social interna e externa; - a difusão de valores éticos sociais interna e externamente;

- a institucionalização de práticas e comportamentos sociais éticos com seus stakeholders.

Para Melo Neto e Froes (2001, p. 135-136) a RS reúne três dimensões, iniciando-se pela opção por adotar um comportamento ético, desenvolvendo, em seguida, ações de responsabilidade social interna e, depois, ações de responsabilidade externa, ou seja, contém os seguintes componentes:

- Responsabilidade social externa; - Responsabilidade Social interna; - Comportamento ético-social.

Portanto, organização socialmente responsável, é aquela que pratica comportamentos socialmente éticos. Não são admitidas atitudes internas e externas como a competição desenfreada, os abusos de poder, a concorrência, e as atitudes e comportamentos individualistas e egocêntricos que contaminam a atuação da organização. Internamente, porque a ética organizacional cria, dissemina e institucionaliza “valores” que se refletem em

atitudes, comportamentos e práticas gerenciais. E, externamente, porque esses valores também vão tornar-se perceptíveis na prática das ações sociais externas.

Segundo Mendonça e Gonçalves (2002, p. 4), quando uma organização se relaciona com todos os grupos de interesse que a influenciam ou que são impactados (stakeholders) por sua atuação de forma ética, acredita-se que tende a haver nesta organização a congruência entre ações, seus valores, suas políticas, sua cultura e sua visão estratégica. Isso pode ser alcançado a partir da construção de canais de comunicação internos e externos transparentes, ou quando a organização desenvolve ações que objetivem o desenvolvimento social. Os autores afirmam, ainda, que com a incorporação, difusão e transferê ncia (grifo nosso) desses princípios éticos, a organização pode ser qualificada como socialmente responsável.

A correta prática da RS pode melhorar o desempenho e a sustentabilidade a médio e longo prazo da organização, proporcionando valor agregado à ima gem; motivação do público interno; vantagens competitiva; facilidade de acesso ao capital e financiamento; influencia no setor; reconhecimento dos dirigentes como líderes; melhora do clima organizacional, dentre outros (ORCHIS, YUNG e MORALES, 2002, p. 62).

No entanto muitas organizações transmitem uma falsa idéia de preocupação com a sociedade apenas objetivando os benefícios acima descritos. Isso pode ser notado pela ausência de valores relativos a RS em sua cultura e baixo grau de comprometimento com o conceito, o que causa inconsistência no comportamento da organização, que não se sustenta com o passar do tempo.