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2.2 PRIMEIRO PLANO Resultados das Entrevistas

2.2.3 O Fórum e a representatividade dos participantes

Nesta pesquisa, uma categoria considerada para análise foi a da representatividade, buscando-se, através dela, perceber como as pessoas visualizam o Fórum e como entendiam o papel desempenhado por quem o compunha.

Para Ava Gardner, o Fórum possui a “cara” de todos.

Ele é diplomático, igualzinho ao Fulano, busca as palavras com a delicadeza da Ciclana e com a precisão do Beltrano. É menino que nem o José, militante que nem a Maria e estudioso que nem o Joaquim36.

Porque, para mim, assim como qualquer outro organismo, como qualquer outra reunião de sujeitos, ele [o Fórum] é um somatório das características desses sujeitos, com o seu entorno, com os desafios colocados no momento, com as possibilidades pensadas, é um somatório disso tudo. Então, assim, eu acho que o Fórum tem essas caras. (AVA GARDNER).

O entrevistado prosseguiu dizendo que, durante algum tempo, todos os segmentos que estavam presentes nas discussões do Fórum recorriam à academia para ouvir o que ela tinha para dizer, como se o teor e o conteúdo da fala dos outros segmentos não tivesse importância. Isso preocupava o entrevistado. Mas avaliou que, atualmente, houve um amadurecimento por parte das pessoas que freqüentam as plenárias, no sentido de

“escutar” a todos, valorizando e percebendo que outros segmentos trazem, também, contribuições significativas em suas falas.

Acredita, ainda, que seja viável o Fórum se fazer representar, institucionalmente, em espaços de formulação de políticas educacionais, desde que existam propostas discutidas e definidas, em consenso, nas instâncias de deliberação.

Para Marilyn Monroe, a representatividade de segmentos variados é uma característica importante do Fórum e o entrevistado percebe esta representatividade como um componente do próprio movimento do Fórum Mineiro. A propósito da participação dos atores nas plenárias, avaliou:

O que eu acho é que ele se modifica com a entrada desses atores sociais que são novos, que eram novos naquele movimento ali. E esses atores sociais eles surgem vinculados a uma discussão nacional, em relação à EJA, em relação à educação de uma forma em geral. Eles surgem no Fórum fazendo a discussão da questão do direito à educação para todos. (MARILYN MONROE). Mencionou que o Fórum não possui a cara do Professor Leôncio37, da UFMG, pois

tem a cara da gente. Pode ter até gente que diz que o Fórum tem a cara do Léo, mas é porque o Léo personifica a universidade. Eu acho que o problema é que a universidade na EJA é o Léo. [...] a UFMG como é considerada excelência, então o Léo é a referência do Fórum. Não sei se tem a cara dele, mas ele é a referência”. (MARILYN MONROE).

Greta Garbo apresentou opinião distinta e mencionou que o Fórum “tem uma cara”, pois considera que, numa visão geral, isso aparece e

acaba que tem [uma “cara”] . Não tem, mas tem. A gente identifica, identifica as pessoas, porque são as pessoas que participam mais, são as pessoas que pegam no chifre do boi. Então, o Fórum Mineiro ele tem a cara do Leôncio, não tem jeito da gente falar que não tem. Talvez ele não queira que isso aconteça, mas é inevitável. (GRETA GARBO).

Greta Garbo analisou esta situação como uma interferência positiva para o funcionamento do Fórum, visto que, em sua opinião, “o Leôncio se constitui uma liderança e sem liderança os movimentos não acontecem”. Ressaltou que, há três anos, não participa das reuniões do Fórum, portanto não podia avaliar se a situação atual é a mesma de seu tempo. Reforçou que “naquela, época, o Léo dava o tom do Fórum e que essa era uma ação muito bem feita, pois agregava as pessoas, permitindo o aparecimento de novas lideranças”.

Marlon Brando disse que o Fórum “não possui uma cara e sim voz”, porque

tem voz que tem mais voz de se impor do que outra, pelo lugar que ocupa dentro das práticas sociais. Eu acho que a universidade ela tem uma

legitimidade na fala maior, por exemplo, do que o SESI, a Prefeitura de Belo Horizonte tem uma legitimidade maior do que o Estado, naquele tempo. (MARLON BRANDO).

Conforme Dantas (2005), para o fato de que as pessoas ligadas à Academia sejam contempladas com um destaque maior quando se fala dos fóruns, há uma explicação. Segundo a autora, falando sobre a experiência do Fórum do Rio de Janeiro,

cabe ressaltar que os representantes de universidades, das quais muitos já possuem experiências anteriores em processos de mobilização, acabam tornando-se elementos decisivos para o êxito das intervenções e das articulações externas que o Fórum consegue estabelecer. O fato de seus interlocutores estarem em meio à produção de conhecimento nas universidades e de participarem de conferências internacionais da área, possibilita um poder de ação e de discurso consistentes, junto às municipalidades e aos espaços institucionais do Estado do Rio de Janeiro. (DANTAS, 2005, p.34-35).

Marilyn Monroe mencionou que os participantes do Fórum traziam, para os encontros, as visões das instituições nas quais trabalhavam ou militavam, muitas vezes, sem o poder real da representação. Explicou que, em sua opinião, existia uma considerável relação do Fórum com as pessoas, em detrimento dos lugares que estavam representando:

a representação é muito das pessoas, a representação no Fórum era muito das pessoas, as pessoas que tinham uma relação com aquele processo direto, que é o meu caso, da Beltrana, a medida que essas pessoas saem, essa representação deixa de existir. Era o que eu percebia um pouco. (MARILYN MONROE).

Greta Garbo ponderou que o fato de representar o poder público, durante a discussão do processo de regulamentação no Fórum, ocasionou um tratamento diferenciado em relação à sua pessoa. Disse que

ouvida eu era, mas eu via caras e bocas, a gente percebe, o corpo fala. Então eu sentia caras e bocas, porque, por exemplo, pensava assim. “Ah mas é porque é da SMED-BH!” “Ah, mas tá representando o executivo!” Via as caras e bocas, mas acho que as pessoas percebem que é a diversidade mesmo que constrói o trabalho. (GRETA GARBO).

Na opinião de Marlon Brando, o lugar que a instituição ocupa na sociedade determina a representação que a pessoa exerce no Fórum, pois o que fortalece as pessoas é a instituição e “a legitimidade da fala está pelo lugar, da posição política das pessoas, do lugar que a pessoa está ocupando”.

Marlon Brando continuou dizendo que, em sua opinião, existe no Fórum, luta e disputa de poder, apesar das universidades colocarem a Educação de Jovens e Adultos na periferia de seus interesses. E, assim como nas práticas dos movimentos populares, quem “tem uma boa articulação nas falas, tem maior força de impor, de ganhar essa

James Dean avaliou que o Fórum é um movimento “mais horizontalizado nas relações e nas parcerias que estabelece”. Concordou que, por diversos fatores, uns segmentos destacam-se mais que outros, mas isso, em sua visão, não exclui o caráter múltiplo do Fórum.

Existe uma grande preocupação em mostrar e colocar todos os segmentos que participam do Fórum, acho que há essa preocupação [...] pela história, pela mobilização, acho que os segmentos das universidades e das administrações públicas, acho que pela própria capacidade de estar mais envolvido, [...] acho que as contingências fazem com que ora as universidades, as administrações públicas, estejam representando, as contingências, mas há a preocupação de aglutinar os vários segmentos. (JAMES DEAN).

Mencionou, ainda, que o Fórum “não é um movimento instituído que, talvez, sei lá, poderia se dizer instituinte, ele não é tão institucional, mas é mais fluído, vai acontecendo.” (JAMES DEAN).

Elizabeth Taylor fez considerações semelhantes e pontuou não haver uma separação dentro do Fórum, acreditando que todos os segmentos participam Avaliou que, possivelmente, haja uma participação maior do segmento dos educadores. Destacou que sente falta da presença dos alunos nas reuniões.

Cary Grant avaliou que o Fórum é independente e que a participação das entidades ocorre no sentido da colaboração para que o Fórum exista e seja um espaço democrático de discussão e formação. Ressaltou que não compete ao Fórum formatar uma opinião própria sobre um determinado assunto, uma posição política que seja favorável ou contrária a alguma coisa. Disse que existe uma horizontalidade dentro do Fórum e que “nunca vi isso de um ser mais do que o outro, eu nunca vi isso”. (CARY GRANT).