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CAPÍTULO II – O FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO NA ESCOLA

2.3 O FNDE E OS PROGRAMAS FEDERAIS DE DESCENTRALIZAÇÃO FINANCEIRA

2.3.1. O FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO (FNDE)

Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) é uma autarquia federal, criada44 em 21 de novembro de 1968, “que tem por objetivo captar recursos financeiros para o desenvolvimento de programas destinados à educação e em especial à universalização do ensino fundamental”. (CRUZ, 2009, p.201)

O FNDE se auto define45 como “uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação que tem como missão prestar assistência financeira e técnica e executar ações que contribuam para uma educação de qualidade a todos”. Ser referência na implementação de políticas públicas é sua visão de futuro, tendo como valores o compromisso com a educação, a ética e transparência, a excelência na gestão, a acessibilidade e inclusão social, a cidadania e controle social, a responsabilidade ambiental e a inovação e o empreendedorismo.

CRUZ (2009, p.201) explica que o FNDE, órgão executor das políticas educacionais, tem como objetivo:

44. Lei nº 5.537 e Decreto nº 872, de 15 de dezembro de 1969 45. In: http://www.fnde.gov.br

financiar as ações suplementares voltadas, principalmente, ao ensino fundamental público ofertado por estados e municípios, viabilizando o que a Constituição Federal define, em seu artigo 211, como exercício da função redistributiva e supletiva da União em relação às demais esferas governamentais, com o objetivo de garantir a equalização de oportunidades educacionais e o padrão mínimo de qualidade do ensino.

A autora enfatiza que apesar de o ensino fundamental ser o seu foco principal, o FNDE vem ampliando sua abrangência financiando ações também para as demais etapas da educação básica, como a educação infantil e o ensino médio.

Como já foi visto em capítulo anterior, a principal fonte de recursos do FNDE é a contribuição social do salário-educação. Além dessa fonte de recursos, o FNDE administra outras significativas fontes de recursos: os recursos ordinários do Tesouro Nacional46, recursos vinculados à MDE e as contribuições sobre Concursos e Prognósticos. Analisando a composição dos recursos geridos pelo FNDE no período de 1995 a 2006, CRUZ (2009) revela que a contribuição social do salário-educação representou uma média de 40% do total de recursos diretamente administrados pela autarquia. Destaca ainda a média referente às outras fontes47 significativas de recursos administradas pelo FNDE, a saber: recursos vinculados à MDE (16%), Recursos Ordinários do Tesouro (11%) e Concursos e Prognósticos (10%).

Os recursos do FNDE são voltados para atendimento às escolas públicas de educação básica e direcionados aos estados, ao Distrito Federal, aos municípios e às organizações não governamentais sem fins lucrativos por meio de diferentes programas. CRUZ (2009, p. 216) explica “que os repasses ocorrem mediante três tipos de ações de assistência financeira: a direta, a automática e a voluntária”.

A autora explica que a assistência direta “é aquela na qual o próprio FNDE executa a aquisição e a distribuição de produtos entre estados e municípios”. O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e o Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE)

46. Receitas do Tesouro Nacional de natureza tributária, de contribuições, patrimonial, de transferências correntes e outras, sem destinação específica, isto é, que não estão vinculadas a nenhum órgão ou programação e nem são passíveis de transferência para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Constituem Recursos para livre programação.

47. Sobre as fontes de recurso geridas pelo FNDE ver Rosana Evangelista da Cruz; Pacto Federativo e Financiamento da Educação: a função supletiva e redistributiva da União – O FNDE em destaque. Tese de doutorado em Educação. Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, 2009.

são exemplos de programas de assistência direta, pelos quais os livros são recebidos e incorporados no acervo da escola.

A assistência automática é financeira, sendo os repasses financeiros automáticos e realizados diretamente em conta corrente específica em nome do beneficiário. Permitem atendimento universalizante, sem qualquer discricionariedade com relação à definição das unidades federadas a serem beneficiadas. A autora explica que:

A automaticidade está determinada pela definição clara de critérios que permitem que a distribuição dos recursos ocorra sem que outros elementos intervenham no financiamento previamente determinado, assim como pela dispensa de convênio, contrato, acordo, ajuste, ou qualquer outro instrumento congênere, embora sempre exija algum tipo de ação do pleiteante, mesmo que simplificada, como a adesão ou atualização de cadastro, para que o recurso seja repassado (CRUZ, 2009, p.216).

Pode ter caráter constitucional, quando a transferência automática é determinada na Constituição Federal, como as quotas estaduais e municipais do salário- educação e a complementação do FUNDEB, ou caráter legal, onde as transferências são previstas em leis específicas, podendo ser citados como exemplos de programas de transferência automática o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e o Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (PNATE). Por sua vez, a assistência voluntária, é definida pela autora como:

um tipo de transferência discricionária, que decorre, na maioria das vezes de convênios para o financiamento de projetos educacionais, por meio da apresentação de Planos de Trabalhos Anuais (PTAs), elaborados a partir dos critérios definidos anualmente pelo Conselho Deliberativo (CD/FNDE) e divulgados pelos manuais de financiamento da autarquia, voltados para as diferentes etapas e modalidades da educação básica (CRUZ, 2009, p.217).

Os recursos transferidos pelo FNDE diretamente para as Unidades Executoras das escolas, por meio de diferentes programas, são classificados em recurso de custeio e capital. Os recursos chegam à escola destinados para despesa de custeio e/ou capital, com montantes já definidos em cada uma dessas categorias econômicas. Os recursos de custeio destinam-se à contratação de serviços ou aquisição de materiais de consumo, materiais com durabilidade inferior a dois anos, como por exemplo, pagamento de mão de obra para manutenção do prédio escolar, compra de materiais escolares, material didático, material para secretaria, entre outros. Recursos de capital são aqueles destinados

para a compra de material com durabilidade superior a dois anos, chamados de materiais ou bens permanentes48.

Visto que o foco deste trabalho são os recursos transferidos diretamente para as escolas, o próximo subcapítulo será destinado ao entendimento do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) em toda sua trajetória; programa este que com o passar dos anos assumiu um papel central na operacionalização da transferência dos recursos financeiros para as escolas, não somente os destinados ao próprio programa, mas como mecanismo para transferência de recursos dos diferentes programas e ações federais de assistência financeira automática, de caráter legal, que foram sendo implantados nas escolas públicas brasileiras no decorrer da última década.