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41 (Aluna 05). A partir desses discursos, parece claro afirmar que a prática do futebol de campo pode trazer benefícios tanto para a sociedade como para o indivíduo.

Logo, na sociedade atual, o futebol pode ser um agente transformador contribuindo para a socialização de pessoas, inclusão social e diminuir o tempo ocioso de muito jovens e adultos que vivem a margem da sociedade. Para o indivíduo, pode contribuir com a qualidade de vida, trazendo melhorias na saúde física, mental e social das pessoas (SANTOS, 2013). Isso nos mostra também que muitos jovens excluídos socialmente, sem acesso a uma educação de qualidade, encontram um espaço, um grupo e uma forma de "ser alguém" no futebol (FREIRE, 2003).

Ademais, fica explícito que o futebol é importante para as meninas entrevistadas, conforme podemos ver nos seguintes relatos: “Porque eu acredito que vai ser meu futuro daqui pra frente eu quero muito que seja meu futuro “uma jogadora de futebol” (Aluna 03), “por que eu gosto e creio que ainda vou ser uma jogadora profissional pois muitos mim diz que ainda vou ser jogadora pois o sonho da minha mãe e mim ver jogando fora e com fé em Deus eu vou realizar o sonho dela.” (Aluna 02).

Dentro dessa realidade, se encontram muitas crianças que veem no futebol a oportunidade de melhorar sua vida social e econômica, uma vez que sonham em jogar num grande clube profissional e ter salários muito elevados, mas, na maioria das vezes, e para a maioria das pessoas, isso nunca se torna realidade e não passa apenas de sonhos. Por outro lado, a prática do futebol de campo pode contribuir para a formação do cidadão de bem (SANTOS, 2013). Nesse contexto, o texto da primeira Conferencia Nacional dos Esportes relata que:

É possível fazer com que todos possam praticar esporte na escola, nas ruas, nas praças, na fábrica, no campo, em casa, em todos os lugares. Ganhar campeonatos e medalhas poderá ser consequência disso, mas o objetivo central será formar cidadãos e cidadãs críticos e conscientes. (1ª CONFERENCIA NACIONAL DOS ESPORTES, 2004, p. 10).

Além disso, por outro âmbito, outra aluna fez o seguinte relato: “por que eu já sofri preconceito sabe... ai eu fui gostando de jogar futebol... por isso o futebol é importante pra mim...” (Aluna 01). Tendo isso em vista, percebe-se, de acordo com Santos (2013), que o futebol de campo da forma em que se encontra inserido na sociedade em certos momentos, exclui algumas pessoas, principalmente, as do sexo feminino.

42 Em relação ao futebol, para Goellner (2003, p. 92) “alguém poderá dizer: mas os meninos são mais rápidos, tem mais habilidade, as meninas não sabem chutar, não têm força, correm todas atrás da bola ao mesmo tempo”, mas é evidente que esta é uma realidade concreta, afinal este é o “país do futebol” masculino e segregamos a todo o tempo. Em que as melhores oportunidades nesse esporte são dadas a pessoas do sexo masculino. Nesse sentido, segundo Simões e Knijnik (2004) e Devide et al. (2008), a inserção das mulheres no futebol não suprimiu os preconceitos circulantes, pois ainda travam uma batalha constante para manterem sua permanência neste esporte, que em nosso país tem se mantido pelos próprios esforços e habilidades técnicas das jogadoras, que movidas pelo amor a esta prática desportiva, mantém-se ativas como atletas.

Nesse caso, foi possível observar que a prática do futebol realmente influencia direta ou indiretamente na vida das entrevistadas. Dessa forma, as respostas obtidas coadunam com o proposto nos objetivos deste trabalho, identificando determinados efeitos socioculturais relativos à prática do esporte em questão.

43 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O interesse em trabalhar tal temática se deu pelo fato de que a mesma aborda um assunto ainda tão pouco explorado no âmbito acadêmico, a influência sociocultural da prática do futebol, especificamente para meninas participantes do PROFESP, tomando como base o ERMN.

Com base nos objetivos propostos pela pesquisa e diante dos dados apresentados, fica explícito que o futebol é um fenômeno sociocultural de grande influência na vida das alunas, capaz de provocar mudanças significativas no que diz respeito aos seus vínculos sociais, aos locais frequentados por elas e na relação das mesmas com seus familiares. Além disso, foi possível aferir discursos de preconceitos que permeiam a prática do futebol pelas garotas, que, apesar disso, permanecem ativas na modalidade.

De forma geral, percebeu-se também a importância do PROFESP por oportunizar e democratizar o acesso à prática e à cultura do esporte, permitindo aos atendidos pelo programa ter novas experiências, além de influenciar na formação integral dos mesmos, revelando efeitos socioculturais essenciais à realidade das mesmas.

Por fim, reconhecemos ainda que esta pesquisa poderia e deveria estar focalizada de maneira mais aprofundada no fazer pedagógico docente nas práticas da modalidade em questão. No entanto, foi interpretado que as discussões sobre os aspectos socioculturais que transpassam a prática do futebol pelas mulheres precisam adentrar a nossa área com mais afinco, objetivando proporcionar maior familiaridade da sociedade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito. Com isso, é preciso ressaltar a importância das pesquisas científicas no âmbito esportivo, pois estas podem vir a contribuir com construção de novas hipóteses, cujos fins reflitam positivamente nas vidas dos que se fazem presentes neste meio, isto é, pesquisas científicas nesta área podem contribuir para uma aproximação da população para com o contexto social do programa, assim como proporcionar um maior conhecimento acerca da prática da modalidade.

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49 7. APÊNDICE

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