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Efeitos socioculturais da prática do futebol para alunas do Programa Segundo Tempo Forças no Esporte

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

EFEITOS SOCIOCULTURAIS DA PRÁTICA DO FUTEBOL PARA ALUNAS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO FORÇAS NO ESPORTE

JÉSSICA NATÁLIA DE SOUZA

NATAL- RN 2019

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JÉSSICA NATÁLIA DE SOUZA

EFEITOS SOCIOCULTURAIS DA PRÁTICA DO FUTEBOL PARA ALUNAS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO FORÇAS NO ESPORTE

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Licenciado em Educação Física, sob a orientação do Prof. Dr. Aguinaldo Cesar Surdi.

NATAL- RN 2019

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS Souza, Jéssica Natália de.

Efeitos socioculturais da prática do futebol para alunas do Programa Segundo Tempo Forças no Esporte / Jessica Natalia de Souza. - 2019.

48f.: il.

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (Graduação em Educação Física) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Educação Física. Natal, RN, 2019.

Orientador: Aguinaldo Cesar Surdi.

1. Futebol - Mulheres - TCC. 2. Programa Segundo Tempo - TCC. 3. Efeitos socioculturais - TCC. I. Surdi, Aguinaldo Cesar. II. Título.

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JÉSSICA NATÁLIA DE SOUZA

EFEITOS SOCIOCULTURAIS DA PRÁTICA DO FUTEBOL PARA ALUNAS DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO FORÇAS NO ESPORTE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como pré-requisito para obtenção do grau de Licenciatura em Educação Física, sob a orientação do Prof. Dr. Aguinaldo Cesar Surdi.

BANCA EXAMINADORA:

_________________________________________ Prof. Dr. Aguinaldo Cesar Surdi.

__________________________________________ Prof. Me. Mayara Cristina Mendes Maia

__________________________________________ Prof. Me. Rafael de Góis Tinôco

Aprovada em_______ / _______ / ____________________.

NATAL-RN 2019

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a toda minha família, que me incentiva e me motiva todos os dias a continuar me dedicando a tornar-se minha melhor versão, e assim contribuir para tentar tornar o mundo um lugar melhor. A minha mãe, Rosinha, ao meu pai, Carlos e a minha irmã, Emili. A todos os professores que já cruzaram meu caminho. Aos meus alunos do PROFESP. A todas as mulheres atletas e a todos que direta ou indiretamente contribuíram para que eu chegasse até aqui.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pela fé, força e perseverança para chegar à conclusão dessa importante etapa da vida.

Aos meus pais, Carlos e Rosa, que desde sempre me incentivam, apoiam e dão todo suporte necessário para que eu siga trilhando o caminho do bem. Que me fizeram enxergar que através da educação podemos alçar voos incomparáveis e nos tornar quem quisermos ser, mas que para isso é necessário dedicação. Que me inspiram a sempre dar e ser o meu melhor. Que me ensinaram e ensinam todos os dias sobre o que é o amor. A vocês, minha eterna gratidão.

A minha irmã, Emili, que, do seu jeitinho, sempre esteve ao meu lado, sendo minha melhor amiga e confidente, compartilhando os perrengues da vida escolástica, aguentando minhas chatices e reclamações e dividindo noites de luz acesa no quarto. Como também a minha fiel escudeira dog Kiara, pela companhia em todas as horas que estive em casa escrevendo.

A minha vó, Dona Santina, por se fazer sempre presente, principalmente para me mandar ter cuidado com a hora de chegar em casa porque o mundo está muito perigoso e por levantar nosso astral com seu espírito jovial.

A minha vó, Dona Socorro (In memoriam), por sempre se orgulhar de mim e me mimar por ser sua primeira netinha.

Ao meu vovô, Seu Canindé, por ser um grande exemplo de homem, por me mostrar que mesmo sem diploma é possível ser um grande engenheiro, por sempre me ensinar coisas novas e também por ser, por diversas vezes, um patrocinador das minhas viagens para competir.

Aos meus segundos pais, tia Nazaré e tio Wdemberg, por serem um porto seguro desde quando me entendo por gente.

As minhas tias Aliete, Loura e Rosilene, por serem uns dos meus maiores exemplos de mulher e por acompanharem minha caminhada, mesmo que, por vezes, de longe.A minha tia Janaína, que sempre contribuiu para a minha formação, e também a minha tia Margô. Ambas formam a maior dupla de fãs que eu tenho.

A todos os professores que já passaram pela minha vida escolar, principalmente os do IFRN, em especial a Fabíola, Marília e Robson, que, sem dúvida, foram essenciais para a minha formação.

Aos meus amigos desde o IFRN, em especial a dupla dinâmica Anny e Julhinha, que se aventuraram no mesmo barco comigo, no maravilhoso mundo da educação física.

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As minhas amigas e companheiras de time, do IFRN (Barrotinhas) e UFRN, por compartilharem todos os momentos e tornarem a caminhada do meio acadêmico mais leve e divertida.

A todos os meus professores de educação física e técnicos, em especial a Dinho, Dierre, Emerson, Nilson Barrote, Ivana, Hélder e Dito, que me inspiraram em escolher essa profissão tão gratificante que é ser professor.

A todos os professores da graduação em Educação Física, principalmente Kalina Masset, Rose Marie, Rafael de Góis, Figueiredo, Cida, Aguinaldo e Pádua que, de modos distintos, contribuíram tanto para minha formação profissional, como também pessoal.

Ao grupo que compõe o LEFEM, em especial os professores Márcio Romeu e Allyson Carvalho, principalmente por terem oportunizado minhas primeiras experiências no âmbito das pesquisas acadêmicas.

A equipe do PROFESP, em especial ao Capitão Luciano, por proporcionar uma das mais belas experiências que eu poderia ter durante minha formação como docente, e ao professor Luan, por toda parceria e profissionalismo.

Aos meus colegas de curso, por terem compartilhado todas as alegrias e momentos de angústia advindos da nossa caminhada durantes esses anos.

As professoras e amigas que o futebol apresentou, Pitchula e Lila, que tenho também como exemplos de profissionais, as quais de certa forma “me viram crescer” e se fizeram sempre presentes desde o IF até hoje, me ajudando tanto nos trabalhos acadêmicos, como na vida.

Aos professores Richardson e Kaline Guedes, por terem me abraçado nos estágios, mostrando a verdadeira essência da educação física escolar, contribuindo imensamente para minha formação como profissional.

A Fernandinha, Serginho e Guilherme, por serem sempre meus fiéis escudeiros. A Júlia Braga, que me acompanhou durante os capítulos finais dessa jornada, sempre apoiando e motivando a fazer o meu melhor.

Ao meu orientador, professor Aguinaldo César Surdi, pela dedicação e presteza e pela significativa mediação de conhecimento durante o curso, além das efetivas orientações na construção deste projeto.

E por fim, a todos aqueles que direta ou indiretamente, fizeram parte da minha caminhada, gratidão!

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Agora a menina já virou mulher

Tá correndo atrás do sonho e sabe o quer Driblando as dificuldades, deixando pra trás Com orgulho é jogadora e ama o que faz (CACAU FERNANDES).

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RESUMO

Este estudo tem por objetivo refletir sobre os efeitos socioculturais da prática do futebol para as meninas participantes do Programa Segundo Tempo Forças no Esporte (PROFESP), através da análise das respostas do questionário aplicado e entrevista em grupo focal realizada com as alunas. Ao todo, 6 (seis) meninas, com faixa etária entre 13 (treze) e 18 (dezoito) anos, que estão no programa há pelo menos 2 (dois) anos, participaram da pesquisa. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa descritiva de abordagem qualitativa. Como resultados, foi visto que o futebol é um fenômeno sociocultural de grande influência na vida das alunas, capaz de provocar mudanças significativas no que diz respeito aos seus vínculos sociais, aos locais frequentados por elas e na relação das mesmas com seus familiares, assim como também foram identificados discursos de preconceitos que permeiam a prática do futebol pelas garotas.

PALAVRAS-CHAVE: Programa Segundo Tempo; Futebol Feminino; Efeitos Socioculturais.

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ABSTRACT

This study aims to reflect on the sociocultural effects of soccer practice for girls who participates in the Second Time Forces in Sports Program (PROFESP), by analyzing the questionnaire and interview's answers with the students. In this research, there were 6 (six) participants, all girls, aged between 13 (thirteen) and 18 (eighteen) years, old who have been in the program for at least 2 (two) years. Methodologically, it is a descriptive research with a qualitative approach. As a result, it was seen that soccer is a sociocultural phenomenon of great influence on the students' lives, capable of causing significant changes regarding their social ties, the places they frequent and their relationship with their families, as well as prejudice discourses that permeate girls' soccer practice were also identified.

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ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1- Questão 1 - Fonte: Elaborado pela autora, 2019. ... 27

Gráfico 2 - Questão 2 - Fonte: Elaborado pela autora, 2019. ... 29

Gráfico 3 - Questão 3 - Fonte: Elaborado pela autora, 2019. ... 30

Gráfico 4 - Questão 4 - Fonte: Elaborado pela autora, 2019. ... 31

Gráfico 5 - Questão 5 - Fonte: Elaborado pela autora, 2019. ... 33

Gráfico 6 - Questão 6 - Fonte: Elaborado pela autora, 2019. ... 34

Gráfico 7 - Questão 7 - Fonte: Elaborado pela autora, 2019. ... 35

Gráfico 8 - Questão 8 - Fonte: Elaborado pela autora, 2019. ... 38

Gráfico 9 - Questão 9- Fonte: Elaborado pela autora, 2019. ... 39

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 13

2. CAPÍTULO I: O FUTEBOL FEMININO ... 188

3. CAPÍTULO II: O PROFESP E O FUTEBOL FEMININOErro! Indicador não definido.3 4. CAPÍTULO III: ENXERGANDO ATRAVÉS DE OUTROS OLHOS: Efeitos socioculturais da prática do futebol para meninas participantes do PROFESP. ... 27

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 333

6. REFERÊNCIAS ... 44

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13 1. INTRODUÇÃO

Quando falamos sobre esporte, de imediato o pensamento nos remete às imagens de atletas conhecidos mundialmente, lembranças de competições importantes, grandes conquistas, entre vários outros aspectos que fazem referência a tal temática. No entanto, por vezes, não conseguimos ter acesso ou alcançar informações esportivas que acontecem ao redor do mundo em outros âmbitos, (projetos e/ou eventos, por exemplo) de forma não competitiva. Ademais, sabemos que é grande a quantidade de esportes que existem, os quais são praticados em todo o mundo de diversas maneiras, sejam eles para fins de lazer, saúde ou como profissão.

Logo, para González, Darido e Oliveira (2017), o esporte tem se constituído como uma das manifestações culturais mais conhecidas em todo o mundo seja para a prática no dia a dia das diversas comunidades e pessoas, ou para o mundo do espetáculo. Assim, os praticantes de esporte encontram diferentes significados na sua realização, podendo representar um trabalho para atletas profissionais, diversão e saúde para amigos que se reúnem aos finais de semana ou ainda um momento particular de aprender algo novo, possibilitando reconhecer elementos essenciais sobre o mundo e a convivência humana. Por isso, o esporte é um fenômeno que pode ocorrer em diversos contextos, com diferentes níveis de exigência, bem como diferentes sentidos e significados atribuídos por seus praticantes e apreciadores.

Pensando nisso, o Ministério da Defesa, desenvolve, juntamente, com outros órgãos federais, Marinha, Exército e Aeronáutica, um programa intitulado Programa Forças no Esporte, uma vertente do Programa Segundo Tempo. Para mais, o Programa Segundo Tempo Forças no Esporte (PROFESP), é destinado ao atendimento de crianças e jovens de ambos os sexos, a partir de 6 (seis) até os 18 (dezoito) anos de idade, em situação de vulnerabilidade social.

O programa tem como missão promover o desenvolvimento integral, por meio da prática do esporte educacional, trabalhando os níveis cognitivo, psicomotor e afetivo, das crianças e adolescentes, prioritariamente em estado de vulnerabilidade social, a fim de contribuir para a formação da cidadania e melhora da qualidade de vida. O trabalho e a difusão do esporte são realizados através da parceria com as escolas públicas, justamente com o intuito de contribuir para a reversão do quadro de vulnerabilidade social, atuando como instrumento de formação integral dos indivíduos e

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14 consequentemente, possibilitando o desenvolvimento da convivência social, a construção de valores, a promoção da saúde e o aprimoramento da consciência crítica e da cidadania (GONZÁLEZ; DARIDO; OLIVEIRA, 2017).

Assim sendo, o PROFESP ganha força, ao coadunar com a classificação, de determinação legal, proposta pela Lei Pelé – Lei nº 9.615 - de 24/05/1998 - DOU de 25/3/1998, onde se subdivide o esporte em Esporte de Rendimento, Esporte de Participação e Esporte Educacional. Vale salientar que, foi a Comissão de Reformulação do Esporte Brasileiro de 1985, presidida por Manoel Tubino e instalada pelo Decreto nº 91.452, que sugeriu, sob a forma de indicações, que o conceito de Esporte no Brasil fosse ampliado, deixando a perspectiva única do desempenho para também, compreende-lo a partir novas perspectivas da educação e da participação (lazer).

O Professor Tubino teve grande participação nesse acontecimento ao emprestar todo o seu conhecimento e a sua sensibilidade ao poder legislativo, tornando possível o delineamento do espírito da lei (proteger o direito à prática esportiva com vistas ao desenvolvimento integral do ser humano), consagrando na Constituição Brasileira, o Esporte Educacional como um direito social, conforme preconiza ao artigo 217 onde se firma que o esporte é direito de cada cidadão.

Com isso, o Esporte de Rendimento deve ser praticado segundo normas gerais da Lei em questão e regras de prática desportiva, nacionais e internacionais, com a finalidade de obter resultados e integrar pessoas e comunidades do País e estas com as de outras nações.

Já o Esporte de Participação, visa à participação nas práticas esportivas de modo voluntário, compreendendo as modalidades desportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a integração dos praticantes na plenitude da vida social, na promoção da saúde e educação e na preservação do meio ambiente.

E, por fim, o Esporte Educacional, o qual tem maior incidência sobre o fenômeno sociocultural do esporte, sendo, portanto, o mais indicado para ser trabalhado por intermédio dos sistemas de ensino e formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade e a hipercompetitividade de seus praticantes, também por ter a finalidade de auxiliar no desenvolvimento integral e a formação para a cidadania e lazer, obedecendo aos princípios da totalidade, coeducação, emancipação, participação,

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15 Em face do que foi apresentado, percebe-se a importância desse programa por oportunizar e democratizar o acesso à prática e à cultura do esporte, além de influenciar na formação integral das pessoas, revelando efeitos socioculturais essenciais à realidade das mesmas. Como exemplo disso, podemos citar a prática do futebol pelas meninas, a qual reconhecemos que socialmente é permeada por polêmicas de diferentes sujeitos sociais. Sabendo disso, cabe advogar que durante muito tempo a aproximação entre o futebol e a masculinização da mulher foi um dos principais fatores distanciadores da prática deste esporte para o gênero feminino (GOELLNER, 2005).

Porém, com o passar dos anos, ainda que a passos lentos, esta problemática vem se desmistificando e, dessa forma, já podemos observar um aumento significativo no quantitativo de mulheres praticando a modalidade em questão, seja em escolas, clubes, ruas, como também em programas como o PROFESP.

Nesse contexto, vale destacar que a visão do programa em questão, é oferecer práticas esportivas educacionais ao maior número de crianças e adolescentes possíveis e estimular valores sociais e culturais inerentes às práticas corporais e ao desenvolvimento integral, bem como favorecer condições pedagógicas, a fim de formar cidadãos que possam fazer a diferença na sociedade num futuro bem próximo. Partindo dessa premissa, percebeu-se a necessidade de adentrar nesse âmbito, tendo como parâmetro determinados fenômenos socioculturais associados à prática do futebol feminino como esporte educacional.

Assim, o objetivo geral dessa pesquisa é refletir sobre os efeitos socioculturais da prática do futebol para meninas participantes do Programa Segundo Tempo Forças no Esporte. No intuito de alcançar o objetivo geral, tomou-se como objetivos específicos, identificar possíveis mudanças de comportamento das alunas (relação com os pais, formatação de amizades, lugares frequentados etc.) e investigar possíveis discursos de preconceito perante a prática do futebol por mulheres.

Metodologicamente, este estudo trata-se de uma pesquisa de natureza básica e com isso, está classificada como uma pesquisa de cunho descritiva onde, segundo Gil (2008), tem como objetivo descrever as características de determinadas populações ou fenômenos. Nesse sentido, parte da abordagem qualitativa, que para Minayo (2001), trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis, como os fenômenos socioculturais em questão neste trabalho. Em razão disso, pode-se dizer que

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16 os resultados desta pesquisa foram levantados através de percepções e análises, onde o objetivo da amostra escolhida é produzir informações aprofundadas e ilustrativas: seja ela pequena ou grande, o que importa é que ela seja capaz de produzir novas informações (DESLAURIERS, 1991, p. 58).

Por sua vez, como instrumentos utilizados à coleta de informações estão o questionário (Anexo 1) e a entrevista em grupo focal, que foram realizados separadamente. Segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 201), o questionário é um instrumento de coleta constituído por uma série ordenada de perguntas que devem ser respondidas por escrito pelo informante, sem a presença do pesquisador, em que a mesma objetiva levantar opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, assim como situações vivenciadas. Já a entrevista em grupo focal é definida por Morgan (1997) como uma técnica de pesquisa qualitativa, derivada das entrevistas grupais, que coleta informações por meio das interações grupais.

Para tanto, a pesquisa foi realizada em um dos núcleos do PROFESP, localizado na base da Estação Radiogoniométrica da Marinha em Natal (ERMN). Isto posto, tivemos a participação de um grupo de 6 (seis) meninas estão no programa há pelo menos 2 (dois) anos, com faixa etária entre 13 (treze) a 18 (dezoito) anos, as quais foram selecionadas tendo em vista a principal atividade desempenhada no programa acima mencionado, a prática do futebol. Vale ressaltar que o baixo quórum de alunas entrevistadas se deu, principalmente, pela dificuldade de encontros nos meses de setembro e outubro advindos de problemas administrativos do projeto. Desse modo, ao invés de irem para o núcleo duas vezes, estavam indo apenas uma vez por semana.

O estudo justifica-se pela minha relação com a Educação Física, com o esporte e com o Programa Segundo Tempo. Nessa lida, antes mesmo de iniciar a graduação, já imaginava realizar trabalhos interligados com a área e durante a graduação adentrei no PROFESP que, como o próprio nome diz, as atividades tinham ênfase na área esportiva. Por ter trabalhado com o futebol feminino no referido programa, afirmo que ainda se faz primordial ultrapassar a barreira de que o esporte futebol não é para as meninas, corroborando com o que vemos no cotidiano social, com chavões preconceituosos e olhares enviesados, além da necessária disseminação e popularização dessa prática, tendo em vista as dificuldades enfrentadas.

Apesar de o futebol feminino, na contemporaneidade, vir ultrapassando demasiadas barreiras, sabe-se que ainda há muitas lacunas no que se refere tanto a prática dessa modalidade pelas mulheres, levando em consideração o contexto

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17 sociocultural, quanto a sua popularização. Nesse sentindo, pesquisas científicas nesta área podem contribuir para uma aproximação da população para com o contexto social do programa, assim como proporcionar um maior conhecimento acerca da prática da modalidade.

Dada à relevância e contemporaneidade do tema, o estudo foi desenvolvido a partir da perspectiva de capítulos a seguir. Nessa perspectiva, preterimos por iniciar com um levantamento acerca da construção do PROFESP, a fim de proporcionar uma aproximação do leitor para com o programa em questão. E posteriormente, buscando ampliar as discussões que se remetem a aspectos socioculturais que envolvem a prática do futebol feminino.

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18 2. CAPÍTULO I: O FUTEBOL FEMININO

O futebol é um esporte composto por diversas matrizes que dão formas a esta prática e aos seus entrelaçamentos sociais, políticos e financeiros. Na matriz do futebol de mulheres é reconhecida a heterogeneidade de suas participações, como amadoras, profissionais, árbitras, técnicas, torcedoras, seja em capitais brasileiras ou em cidades do interior, ou seja, não há um único perfil. Porém, todas as diferenças existentes nesse futebol passam ainda por aspectos de retardamento da prática em nosso país, enraizado pelos fatores histórico-culturais, em especial o machismo. As diversas estratégias para que possamos viver este esporte, organizando, competindo, acompanhando ou jogando, mantêm as mulheres em constante ruptura social no Brasil, pois elas deixam de seguir padrões esperados para uma mulher pela sociedade, como por exemplo, ser considerada frágil, tornar-se dona de casa, cuidar do marido e dos filhos.

A pesquisadora Cláudia Kessler (2015), em sua obra intitulada “Mais que barbies e ogras: uma etnografia do futebol de mulheres no Brasil e nos EU1A”, organizou os períodos históricos do futebol de mulheres em nosso país, apresentando um formato distribuído em 3 (três) marcadores históricos: o início do século XX até a promulgação do Decreto-Lei nº 3.199/41, a década de 1980 marcada pela surgimento de várias equipes e competições e os anos 1990 até 2015 e anos atuais.

Ao falar sobre o primeiro marcador, isto é, o início do século XX até a promulgação do Decreto-Lei nº 3.199/41, sabemos que há diferentes narrativas sobre os primeiros jogos de futebol praticados por times de mulheres no Brasil. Eriberto Lessa, em reportagem publicada no Jornal da Unicamp (2003), afirma que na busca que fez junto aos principais jornais de São Paulo sobre a existência do futebol feminino na primeira metade do século XX em nosso país, encontrou 3 (três) episódios iniciais do futebol das brasileiras: o primeiro ocorreu em 1913, em um evento beneficente, na cidade de Indianópolis (SP); o segundo foi em 1921 envolvendo “senhoritas de Tremembé e da Cantareira”, bairros da zona norte de São Paulo; e, por último, os torneios que ocorreram na cidade do Rio de Janeiro em 1940, envolvendo predominantemente mulheres do subúrbio carioca. Nesses torneios formaram-se equipes como o “Cassino Realengo”, o “Benfica F.C.” e o “Eva Futebol Clube”. Estas equipes

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Machismo: sistema de representações simbólicas, que mistifica as relações de exploração, de dominação, de sujeição entre o homem e a mulher (DRUMONT, 1980).

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19 foram pioneiras no recebimento de convites para jogarem fora do país e no protagonismo de partidas importantes no mundo do futebol de homens.

Enquanto as partidas eram realizadas durante a Ditadura do Estado Novo, os torneios se tornavam alvos de polêmicas nos meios médicos, políticos e na imprensa. Por estes pilares, um decreto de lei surgia proibindo as brasileiras de praticarem diversos esportes. O início da proibição da prática de algumas modalidades esportivas por parte das mulheres se deu por meio do Decreto-Lei 3.199/41, promulgado pelo Conselho Nacional de Desportos (CND), através do capítulo IX, artigo 54, que afirmava: “[...] às mulheres não se permitirá a prática dos esportes incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo para este feito, o Conselho Nacional dos Desportos (CND) baixar as necessárias instruções às entidades esportivas do país [...]” (ORLANDO et al., 2019)

Todavia, modalidades que não apresentassem contato físico, principalmente, não foram representadas desse modo, tais como o tênis, o voleibol, o críquete, a natação e o ciclismo (FRANZINI, 2005). No ano de 1965, o CND aprovou a Deliberação N. 7, proibindo as mulheres de praticarem, especificadamente, as práticas de lutas, futebol, futebol de salão, futebol de praia, polo aquático, rugby, halterofilismo e baseball (GOELLNER, 2005) e contava com apoio de governadores dos Estados junto aos seus chefes de Polícia, no sentido de fiscalizarem e não permitirem realização de jogos de futebol feminino.

Estas ações, pautadas por discursos biológicos e conservadores, impediram por quase 40 anos o desenvolvimento dessas modalidades em todo o país, mas as mulheres continuaram jogando apesar da proibição. Nessa perspectiva, “Apesar da repressão exercida pela sociedade e seus governantes, as mulheres nunca deixaram de praticar esportes, dando força no decorrer dos anos a um movimento de inserção destas no meio esportivo”. (ORLANDO et al., 2019)

Há registros de times e partidas que ocorreram nesse período de proibição, como o time Araguari Atlético Clube de Minas Gerais (MG). A direção do Grupo Escolar Visconde de Ouro Preto propôs ao clube a realização de uma partida beneficente contra os atletas do seu maior rival, o Fluminense Futebol Clube, com o intuito de arrecadar dinheiro para o colégio. A proposta chegou aos ouvidos de Ney Montes, um dos diretores do Araguari, que incentivou a realização de uma partida entre mulheres, criando o Araguari. Depois do primeiro jogo, o Araguari começou a promover amistosos entre outras equipes clandestinamente. O problema veio com a repercussão

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20 que tomou proporção nacional. Uma matéria publicada na revista O Cruzeiro, em 28 de fevereiro de 1959, revelou o clube de futebol com representação de mulheres que se apresentava publicamente, além de outras reportagens que foram surgindo e contribuindo para o encerramento da equipe, por conta da fiscalização ocorridas em defesa do conteúdo expresso no Decreto-Lei. (ORLANDO et al., 2019)

Outras equipes que se destacaram nesse período, anos 50, foram o Vila Hilda F.C., da cidade de Pelotas (RS) e o Corinthians F.C., da cidade de São Paulo (SP). As duas equipes eram formadas por mulheres jovens, de classe média baixa, que residiam nos mesmos bairros dos clubes. A Revista dos Esportes (1950) foi uma das que publicou notícias sobre esses confrontos. À medida que os times se enfrentavam e a torcida aumentava, as partidas ganhavam mais repercussões. E mais uma vez, por consequência da expansão da prática, o CND impediu a continuidade dos times.

A contestação à ilegalidade da prática de futebol por mulheres começou a ganhar força devido ao contexto político que o país apresentava, mais especificamente, o recuo do Governo Militar e a crise econômica no final da década de 70. Esse cenário permitiu concessões como a anistia a presos políticos, a legalização de práticas esportivas e outras ações que contribuíam para a redemocratização da sociedade brasileira (ORLANDO et al., 2019). Na década de 70, as praias do Rio de Janeiro (RJ) começaram a contar com reunião de mulheres para jogar bola, identificadas como empregadas domésticas que trabalhavam no Leblon que, após o expediente, se juntavam para momentos de sociabilidade e lazer. Algumas reportagens de jornais do RJ, como a do Jornal do Brasil (1976), comprovaram a existência desses futebóis através de manchetes como “O futebol depois da louça lavada” (BRUHNS, 2000).

Para a legalização das práticas esportivas às mulheres, Souza e Mourão (2011) destacam que no Senado Federal, em Brasília, no ano de 1976, foi instaurada uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para examinar a situação da mulher em todos os setores de atividade. A CPMI ouviu mulheres como a nadadora Maria Lenk e a jornalista e tenista Íris de Carvalho, que discursaram sobre o esporte no país. Elas “Sugeriram a revogação do decreto-lei que prejudicava a participação das mulheres em determinados esportes e reivindicaram o direito de escolha das mulheres de se exporem ou não às periculosidades dos esportes de contato e alto impacto” (SOUZA, MOURÃO, 2011, p. 39). Desde então, a proibição quanto às mulheres praticarem alguns esportes como o futebol começou a ser questionada em outros espaços. Em 1979, o CND

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21 revogou o Decreto-Lei, em função, inclusive, de se adequar aos parâmetros das entidades esportivas internacionais.

Adentrando ao segundo e terceiro marcadores, ou seja, a década de 80 até os anos atuais, sabemos que o texto da Deliberação nº 10/79 trata sobre a permissão à prática esportiva pelas mulheres, condicionada às modalidades com competições oficiais organizadas pelas entidades internacionais, caracterizando a prática do futebol por brasileiras como legítima a partir das regras e dos aportes teóricos internacionais, assim, demonstrando a importância da participação das mulheres no cenário internacional do futebol. E, em 6 de março de 1986, baixa a Recomendação nº 2, na qual “[...] reconhece a necessidade de estímulo à participação da mulher nas diversas modalidades desportivas no país [...]” (CASTELLANI FILHO, 1988, p. 64).

Nesse período, o CND tentou criar algumas regras específicas para as mulheres, mas só em 1983 a modalidade foi regulamentada através da persistência de clubes que atuavam de forma ilegal no período passado e de campeonatos pequenos.

No cenário nacional, a equipe que mais se destacou nessa década, foi o Esporte Clube Radar, popularmente originado da praia de Copacabana, do RJ, no ano de 1932, com trajetória de conquistas nacionais e internacionais, o a qual, em 1982, conquistou o Women's Cup of Spain, derrotando seleções da Espanha, Portugal e França. Logo, os anos de 1980 a 1990 seguiram com um aumento no número de times de mulheres em clubes brasileiros. Cresceu também o número de competições locais, onde em 1988, o RJ organizou o Campeonato Estadual e a primeira Seleção Nacional, conquistando o terceiro lugar no inédito Mundial da China. Nesse período, a Federação Internacional de Futebol (FIFA) iniciou seus primeiros passos com a modalidade, o que veio a influenciar diretamente a organização desse futebol em todo o mundo.

No entanto, este futebol cresceu de maneira lenta e sem políticas públicas necessárias para o seu desenvolvimento, seguindo carente de condições e de infraestruturas para a organização de clubes e competições oficiais. Prova disso, é que, o futebol praticado por mulheres, foi introduzido em períodos distintos do futebol praticado por homens nas principais competições mundiais.

Como exemplos, temos os Jogos Pan-Americanos, que surgiram em 1951 já contando com partidas de futebol praticadas por homens e só acrescentando a modalidade para mulheres em 1999; os Jogos Olímpicos Modernos, que incluíram o futebol de homens em 1908 e o futebol de mulheres em 1996 (DEVIDE, 2005); e a maior competição da modalidade, a Copa do Mundo, enquanto que a primeira Copa do

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22 Futebol dos homens aconteceu no ano de 1930, no Uruguai, a das mulheres se deu apenas em 1991, na China. Atualmente, esta mesma modalidade vem ganhando espaço de maneira significativa dentro das principais entidades nacionais e internacionais do futebol.

Para mais, um fato curioso é o fato de que as atletas da seleção brasileira de futebol feminino, em sua maioria, começaram a praticar futebol nas ruas, clubes e praias, e que evitavam a escola, conforme mostra o trabalho conduzido por Todaro (1997). O fato de haver a exclusão da escola como local possível para a prática do futebol feminino ocorreu, provavelmente, porque quanto maior o número de pessoas observando, especialmente, se for do sexo oposto, mais as garotas se intimidavam em participar de atividades ditas, predominantemente, masculinas.

Segundo Altman (1998), as meninas agem de maneira não condizente com o modelo e feminilidade hegemônica na escola, de forma mais frequente na ausência dos meninos. Do mesmo modo, Thorne (conforme citado por Altman, 1998), comparando a escola com grupos de amigos de bairros, concluiu que lugares mais populosos, como a escola, oferecem testemunhas em potencial e as gozações tornam as relações entre gênero mais arriscadas, aumentando a distância entre meninos e meninas e marcando fronteiras de gênero.

Nesse sentido, em uma pesquisa conduzida por Souza Jr. (1991), as garotas foram questionadas sobre qual seria a opinião dos garotos a respeito do fato delas estarem jogando futebol. Interessantemente, a maioria delas respondeu que eles passariam a considerá-las masculinizadas e que passariam a ter medo delas porque elas poderiam ganhar dos meninos. Com isso, pode-se dizer que a presença da mulher no mundo do esporte representa, ao mesmo tempo, ameaça e complementaridade: ameaça porque chama para si a atenção de homens e mulheres, dentro de um universo construído e dominado por valores masculinos e porque põem em perigo algumas características tidas como constitutivas da sua feminilidade. Complementaridade porque parceira do homem em atitudes e hábitos sociais, cujo exercício simboliza um modo moderno e civilizado de ser (GOELLNER, 2006).

Sabendo disso, podemos agora discorrer acerca do futebol feminino em outros âmbitos, sendo assim, direcionaremos a temática da pesquisa para a vertente social e educacional, objetivando aproximar o leitor ao objeto de estudo tratado no presente estudo.

(23)

23 3. CAPÍTULO II: O PROFESP E O FUTEBOL FEMININO

O Ministério da Defesa desenvolve, juntamente, com outros órgãos federais, o Programa Forças no Esporte, uma vertente do Programa Segundo Tempo que tem por objetivo promover a integração social e o desenvolvimento humano por meio da prática esportiva. Os esforços empreendidos concentram-se na inclusão social, valorização da cidadania, inserção no trabalho e na realização de atividades físicas, esportivas e de lazer. O programa está presente em 86 cidades de 26 estados, em instituições vinculadas à Marinha, ao Exército e à Aeronáutica. O Ministério do Esporte é responsável pelo material esportivo e pelo pagamento de professores e estagiários. O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, por sua vez, responde pela alimentação (BRASIL, 2014).

Segundo dados do Ministério da Defesa, as atividades do PROFESP beneficiam anualmente, aproximadamente, 21 mil crianças e adolescentes com idade entre 6 (seis) e 18 (dezoito) anos. Além do objetivo geral deste, podemos destacar alguns objetivos específicos:

Oferecer práticas esportivas educacionais, estimulando crianças e adolescentes a manter uma interação efetiva que contribua para o seu desenvolvimento integral; desenvolver valores sociais; contribuir para a melhoria das capacidades físicas e habilidades motoras; melhoria de qualidade de vida: autoestima, convívio, interação social e saúde (BRASIL, 2016).

Como se pode observar, existem objetivos sociais bem delineados por parte do próprio Ministério da Defesa, até mesmo por ser um órgão com amplas e diversas atribuições, dentre as quais tem como objetivo, dar mais fluidez à sua relação com outras áreas do Estado, utilizando, nesse caso, das competências das práticas esportivas para intervir no contexto social das crianças e adolescentes.

Por outro lado, também tem como princípios: reversão do quadro atual de injustiça, exclusão e vulnerabilidade social; esporte e do lazer como direito de cada um e dever do Estado; universalização e inclusão social; democratização da gestão e da participação (BRASIL, 2011). Partindo desses princípios, os objetivos do programa são: • Oferecer práticas esportivas educacionais, estimulando crianças, adolescentes e jovens, prioritariamente matriculadas na rede pública de ensino, a manter uma interação efetiva que contribua para o seu desenvolvimento integral;

(24)

24 • Desenvolver valores sociais;

• Contribuir para a melhoria das capacidades físicas e habilidades motoras;

• Contribuir para a melhoria da qualidade de vida (autoestima, convívio, integração social e saúde);

• Contribuir para a diminuição da exposição aos riscos sociais (drogas, prostituição, gravidez precoce, criminalidade, trabalho infantil e a conscientização da prática esportiva, assegurando o exercício da cidadania).

Alcançadas essas metas, alguns resultados refletem diretamente e indiretamente na realidade social dos beneficiados do programa. Tendo como impactos diretos:

Melhoria no convívio e na integração social dos participantes; da autoestima dos participantes; das capacidades e habilidades motoras dos participantes; das condições de saúde dos participantes; aumento do número de praticantes de atividades esportivas educacionais; e melhoria da qualificação dos profissionais envolvidos. (BRASIL, 2011).

Isto posto, vale salientar que a permanência dos participantes no programa é um fator relevante para a obtenção desses resultados, tendo em vista que trabalhos sociais demandam tempo, principalmente no que se refere a integração e criações de vínculos sociais, além do desenvolvimento de capacidades e habilidades motoras, as quais necessitam ser postas em prática durante a realização das atividades esportivas. Prontamente, temos os impactos indiretos:

Diminuição da exposição dos participantes a riscos sociais; melhoria no rendimento escolar dos alunos envolvidos; diminuição da evasão escolar nas escolas atendidas; geração de novos empregos no setor de educação física e esporte nos locais de abrangência do programa; e melhoria da infraestrutura esportiva no sistema de ensino público do País e nas comunidades em geral (BRASIL, 2011).

Seguindo o que já foi exposto, o núcleo da ERMN foi implantado em 2010. Esse processo foi dividido em duas partes, primeiramente, foram realizadas uma pesquisa no campo, diagnóstico social e a estruturação de parcerias (BRASIL, 2016). Posteriormente, a implementação e desenvolvimento do núcleo. Esses passos foram imprescindíveis para dar continuidade ao planejamento.

Na primeira fase, o coordenador do Programa teve a colaboração das Prefeituras Municipais de Natal, Parnamirim, Macaíba e São Gonçalo do Amarante, que

(25)

25 forneceram o mapa diagnóstico da área, e a indicação das crianças e adolescentes que seriam atendidas no núcleo/ERMN. Em seguida, ocorreu à implementação do PROFESP na ERMN:

Em março de 2011, onde o núcleo/OM fez diversos investimentos para recebimento das crianças e adolescentes como: construção de banheiro e vestiário feminino, reforma da quadra, reforma do campo de futebol, reforma de um mini auditório e ainda, em 2014, foram construídas áreas específicas para utilização do PROFESP, tais como: secretaria, sala para os conveniados, sala para custódia do material. (BRASIL, 2016)

Uma vez feita à estruturação do ambiente, e as parcerias e selecionando previamente a população de alunos a serem atendidos, tornou-se possível o início e o desenvolvimento das atividades do programa no núcleo da ERMN, o qual tem como objetivo geral desde o surgimento:

Desenvolver as ações do Programa Segundo Tempo – Forças no Esporte, por meio de atividades esportivas, reforço escolar, artes manuais, atividades de recreação, passeios, visitas e integração com as Organizações Militares (OM) vinculadas ao programa, visando combater a exploração sexual, o trabalho infantil, maus tratos, bem como preencher o tempo livre com atividades que venham a contribuir para o desenvolvimento, qualidade de vida e formação da cidadania. Além disso, o núcleo contribui substancialmente para a nutrição básica necessária ao desenvolvimento das crianças e adolescentes participantes do programa (BRASIL, 2016).

Partindo da realidade social dos alunos, as atividades esportivas ofertadas no PROFESP tem caráter educacional, tendo como objetivo o desenvolvimento integral da criança e do adolescente, de forma a favorecer o conhecimento de seu próprio corpo, explorar seus limites, aumentar as suas potencialidades, desenvolver seu espírito de solidariedade, de cooperação mútua, disciplina e de respeito pelo coletivo.

Atualmente no núcleo, são praticadas as seguintes modalidades: futebol, handebol e voleibol, como esportes coletivos; atletismo e corrida de orientação como modalidades individuais, onde são desenvolvidas para os alunos de 6 (seis) até 12 (doze) anos na iniciação, como em um nível inicial de especialização, direcionado para os alunos de idade entre 13 (treze) e 18 (dezoito) anos.

A partir das informações supracitadas, podemos adentrar no universo do futebol, tendo como enfoque a prática deste pelas meninas participantes do PROFESP na

(26)

26 EMRN. Nesse sentido, ao vivenciar o dia a dia no EMRN, percebeu-se a possibilidade de se trabalhar acerca desses questionamentos, pois, neste local, foi observada uma diferença peculiar quanto à procura das meninas para praticar futebol. Grande parcela delas escolheu, voluntariamente, fazer parte das atividades referentes ao esporte mencionado, pois, a partir dos 13 anos, os alunos podem escolher e ser direcionados para uma única modalidade, onde é possibilitada uma vivência voltada às especificidades da mesma.

Ademais, durante grande parte do ano letivo, os encontros aconteceram 2 (duas) vezes na semana para os municípios de Macaíba e São Gonçalo, nas segundas e quartas, e para os municípios de Parnamirim e Natal, terças e quintas, ambos em turnos matutino (8h as 12h) ou vespertino (12h as 16h). No entanto, nos últimos dois meses ativos de 2019 (setembro e outubro), devido a questões de cunho administrativo, foi necessário que houvesse uma redução dos dias letivos do programa, fazendo desta forma com que, na base da ERMN, este funcionasse apenas uma vez na semana para cada município.

Outro ponto que merece ser destacado é o fato de que, devido o número de meninas que se dispuseram a praticar futebol ser reduzido, sendo, normalmente, a quantidade por turno abaixo de 10 alunas, na maioria dos dias, grande parte das atividades são realizadas juntamente com os meninos de mesma idade, o que despertou ainda mais o interesse em pesquisar acerca dos fenômenos socioculturais presentes na prática do futebol pelas alunas do PROFESP.

Para tanto, de acordo com observações feitas no decorrer dos anos letivos desde 2017, foi possível perceber que no começo houve certo estranhamento, tanto por parte dos garotos como também das garotas, principalmente no que diz respeito ao nível de desenvolvimento e habilidades, o que podem ser explicados basicamente pelo fator fisiológico de crescimento e maturação, levando em consideração a idade dos mesmos, além de que, culturalmente, os meninos começam a jogar futebol bem mais cedo do que as meninas e com bem mais frequência. Os discursos ouvidos eram sempre os mesmos, “não queremos jogar com os meninos, eles são muito fortes!” ou “vamos jogar com as meninas? Elas não sabem jogar!”. No entanto, com o passar do tempo, os alunos foram se acostumando, aceitando e compreendendo as diferenças de cada um, sendo possível ver as mudanças de postura e o respeito dentro dos trabalhos realizados.

(27)

27 4. CAPÍTULO III: ENXERGANDO ATRAVÉS DE OUTROS OLHOS: Efeitos

socioculturais da prática do futebol para meninas participantes do PROFESP.

Com base nos objetivos gerais e específicos da pesquisa, foi aplicado um questionário (Anexo 1) e uma entrevista em grupo focal com a finalidade de contemplar as seguintes questões: refletir sobre os efeitos socioculturais da prática do futebol para meninas participantes do PROFESP, identificar possíveis mudanças de comportamento das alunas (relação com os pais, círculo de amizades, lugares frequentados etc.) e descobrir possíveis discursos de preconceito perante a prática do futebol para mulheres. O questionário foi composto de 10 perguntas, que abrangem os temas em questão, as quais serão discutidas a seguir.

Gráfico 1 – Questão 1 do questionário aplicado

Fonte: Elaborado pela autora, 2019

Podemos visualizar no gráfico acima, as respostas correspondentes à primeira questão foram quase unânimes. Quando questionadas sobre quando começaram a jogar, 5 (cinco) das 6 (seis) alunas entrevistadas afirmaram ter começado a jogar há tempos, desde antes de começar a participar do PROFESP. Esse fato nos remete a que aprender a jogar futebol no Brasil sempre esteve respaldado no significado cultural de sua prática. Como exemplo, temos duas alunas, residentes dos municípios de São Gonçalo-RN e Parnamirim-Gonçalo-RN, ambas de 14 anos de idade, as quais afirmaram ter começado a jogar aos 8 anos: “Eu comecei a jogar futebol em 2012 tinha apenas 8 anos Ai jogava só na minha rua ai um certo dia uma mulher que morava em frente da minha casa viu eu jogando com meus amigos e mim chamou pra jogar no time da comunidade ai foi ai

83% 17%

1. Quando e como você começou a

praticar futebol?

(28)

28

que eu comecei a jogar” (Aluna 02); “Eu comecei a joga com minha irmã aos 8 anos” (Aluna 05). Nesse contexto, há de convir que as crianças ganham bolas de futebol mesmo antes de começarem a andar, assim, o objeto faz parte das brincadeiras e da vida das crianças desde muito cedo (GIGLIO, 2005). Desse modo, entendemos, conforme afirma DaMatta (1982, p. 16), que “o futebol praticado no Brasil não é somente uma atividade com conotações específicas, mas também um jogo a serviço de todo um conjunto de valores e relações sociais, onde a população exercita e aprende costumes [...]”.

Com relação à forma como começaram, as mesmas mencionaram ter começado jogando na rua ou escola, juntamente com amigos e/ou familiares, cabendo afirmar, a partir disso, que o futebol é um dos fenômenos sociais que está mais presente na experiência do dia a dia de diversas populações. A influência comunicativa da família e também a influência cultural, podem definir a socialização como o processo pelo qual as crianças aprendem a comportar-se de uma maneira aceitável e a se relacionar com os demais, definido este comportamento pela cultura à que pertencem seus familiares (SILVA, 2015).

Logo, além das respostas supracitadas, a Aluna 03 afirma: “Comecei a jogar na rua com meus amigo toda tarde quando não tinha a aula as vezes no final de semana depois comecei a frequentar o projeto da marinha e acabei gostando mais de futebol”. Outra resposta obtida mencionou a escola como marco do início da prática do futebol para uma das garotas: “Bom, eu comecei a praticar o futebol já faz um tempo, comecei na escola jogando com os amigos durante o intervalo” (Aluna 04).

Esse último relato nos faz voltar ao que discute Thorne (citado por Altman, 1998), que ao comparar a escola com grupos de amigos de bairros, concluiu que lugares mais populosos, como a escola, oferecem testemunhas em potencial e as gozações tornam as relações entre gênero mais arriscadas, aumentando a distância entre meninos e meninas e marcando fronteiras de gênero, fato esse que pode ser visualizado ao registrar que somente uma das garotas entrevistadas iniciou na escola às práticas do esporte em questão, evidenciando que apesar de ser preferência, a escolha do “esporte favorito do brasileiro” nem sempre atinge a escola de forma igualitária. A prática por mulheres é dificultada em um espaço eminentemente masculino (GOELLNER, 2005).

Ademais, a aluna 06, estudante de uma escola, localizada em Macaíba-RN, foi a única que começou a jogar futebol a partir do PROFESP, em sua resposta ela diz: “Faz 3 anos que eu jogo futebol eu comecei pela a marinha”. Nesse sentido, apesar de

(29)

29 termos enraizada uma cultura padrão onde meninas não devem jogar futebol, podemos perceber, a partir das respostas obtidas com a primeira questão, que a maior parcela das alunas entrevistadas não se encaixa nesse padrão, de forma que fazer parte do PROFESP deu a oportunidade de continuar um processo que já havia se iniciado antes. Entretanto, percebeu-se também que o PROFESP propicia novos caminhos para os alunos, permitindo-lhes ter novas experiências e oportunizando a realização de atividades cujas práticas ainda não haviam sido vivenciadas pelos estudantes.

O gráfico abaixo apresenta os dados obtidos a partir da análise das respostas correspondentes à segunda pergunta do questionário.

Gráfico 2 – Questão 2 do questionário aplicado

Fonte: Elaborado pela autora, 2019

O esquema acima mostrado aponta que 67% das alunas escolheu praticar futebol no PROFESP por gostar da modalidade, como afirma a Aluna 02 em sua resposta: “por que é um dos esportes que eu mais gosto e é um esporte que eu pratico tanto na comunidade como em outros lugares fora da comunidade por isso que eu escolhi praticar futebol no profesp”. O esquema mostra também que 33% decidiu treinar esse esporte para poder desenvolver suas habilidades, como é o caso da aluna 05, a qual afirmou ter escolhido o futebol porque ensinava mais coisas e possibilitava criar mais habilidades jogando.

Outrossim, as discussões das duas primeiras questões nos levam em direção a um dos pontos mencionados nos objetivos deste trabalho: a influência sociocultural da prática do futebol para as meninas participantes do PROFESP. A partir desses questionamentos foi possível perceber que a maior parcela do grupo iniciou a prática do

67% 33%

2. Por que escolheu praticar futebol no

PROFESP?

(30)

30 futebol enquanto brincava na rua, próximo aos seus locais de moradia, esse fato fez refletir sobre como a cultura das comunidades podem influenciar nas pessoas que ali residem. Convém ressaltar que na entrevista realizada em grupo focal, foi recorrente o número de menções quanto à forma corriqueira que o futebol é praticado nas imediações das casas das alunas, tanto por elas, como pelas demais pessoas do bairro. Nesse caso, parece claro afirmar que a relação social das entrevistadas com a comunidade e sua cultura, foi providencial para que estas escolhessem o futebol como modalidade esportiva a ser praticada no PROFESP.

Não obstante, esse fato também pode ser confirmado através da análise feita acerca das respostas que fazem referencia a terceira questão aplicada: “Você pratica futebol fora do PROFESP? Se sim, onde?”. Quando questionadas sobre essa situação, pôde-se perceber que realmente as comunidades são grandes influenciadoras no que se refere à prática do futebol pelas meninas. Conforme indica o gráfico abaixo, 67% das entrevistadas atuam também nesta modalidade fora dos portões do Núcleo da Marinha, enquanto o restante diz, atualmente, só ter o programa para poder jogar.

Gráfico 3 – Questão 3 do questionário aplicado

Fonte: Elaborado pela autora, 2019

Além disso, vale salientar que as alunas destacaram comunidades, escolas e clubes como principais polos de prática do futebol para além das estruturas do PROFESP, conforme podemos visualizar nos seguintes relatos: “participo sim na escola, na comunidade, no cras, numa escolinha que é lá em natal, na escolinha em guanduba, no interior de afonso bezerra e as vezes no campo que é em frente a minha casa” (Aluna 02); “Sim, com meus amigos quando tem horário vago na escola a gente

67% 33%

3. Você pratica futebol fora do PROFESP? Se

sim, onde?

(31)

31

vai pra praça jogar lá” (Aluna 03); “Sim aonde eu jogo na minha casa e quando meu pai vai joga ai eu vou joga também” (Aluna 06). Nesse intento, a partir dos relatos das entrevistadas, entende-se que a prática do futebol é uma realidade social e cultural. As crianças aprendem a jogar futebol e acabam gostando e o praticam na escola, no clube, em casa e em vários outros lugares e isso acaba fazendo parte integrante do contexto cultural e das relações sociais (FREIRE, 2006).

Assim sendo, podemos voltar a frisar ainda acerca do histórico de resistência referente à prática do futebol por mulheres, o qual, ainda que a passos lentos, vem se desenvolvendo de forma que já podemos observar um aumento significativo no quantitativo das que praticam a modalidade em questão, seja com amigos ou familiares, seja nas escolas, clubes, nas ruas, como também em programas como o PROFESP.

A questão número 4 (quatro) buscou indagar as alunas acerca dos seus vínculos de amizade, com relação a como eram antes de começar a jogar futebol e se houve alguma mudança depois, podendo assim, a partir das respostas alcançadas, identificar possíveis mudanças relativas às interações sociais das alunas. Ao analisar os relatos foi visto que o maior número de alunas asseguraram mudanças em seus vínculos sociais concernentes à prática do futebol, conforme podemos evidenciar tanto na declaração da Aluna 02, membro do programa desde 2014: “sim através dos jogos fora eu conheço mais pessoas e novas amizades”, quanto no gráfico subsequente:

Gráfico 4 – Questão 4 do questionário aplicado

Fonte: Elaborado pela autora, 2019

67% 33%

4. Como eram seus vínculos de amizade antes de

começar a jogar futebol? Como ficaram depois?

(32)

32 Nesse sentido, a partir dos dados, podemos entender que a prática do futebol, para as meninas participantes do programa em questão, possibilitou mudanças relacionadas aos vínculos sociais, fato esse que coaduna com a opinião do autor a seguir:

Sem dúvidas, o futebol possui grande capacidade de socialização, por se tratar de um esporte coletivo. É um desporto que um depende do outro e o sucesso de todos depende do trabalho de cada um, sendo, portanto, um excelente veículo integrador, contribuindo efetivamente para o aspecto sócio-afetivo. (SOUZA, 2004, p. 31).

Destarte, as duas alunas que responderam negativamente, expuseram que o motivo era pelo fato de que já jogavam com seus amigos e, portanto, não houveram mudanças, como replicou a Aluna 04: “As amizades eram boas, até por que jogava com os amigos então não teve mudança nenhuma”. No entanto, devido a declaração da Aluna 01, integrante do PROFESP desde 2017, que disse: “Meu vínculo começou com as meninas do projeto, por que eu tenho mais amizade com elas [...]”, no momento de grupo focal, ambas as garotas pertencentes ao grupo dos 33%, foram questionadas sobre como conheceram as demais praticantes de futebol do núcleo da Marinha, nesse momento, as mesmas afirmaram que conheciam algumas as quais estudavam nas suas respectivas escolas, mas que realmente findaram por conhecer outras jogadoras através do PROFESP, confirmando o que é proposto por MARTINS FILHO e MARTINS FILHO (2008), que o desenvolvimento social da criança, mais do que inserção dela na sociedade, é a inserção do social nela, para torná-la um ser na própria sociedade e um meio para se conseguir isso é a prática do Futebol.

Dito isso, parece acertado que a prática esportiva, nesse caso, especificadamente, o futebol, favorece ao que implica, de forma geral, a missão do programa em questão, a qual prenuncia promover o desenvolvimento integral, por meio da prática do esporte educacional, trabalhando os níveis cognitivo, psicomotor e afetivo das crianças e adolescentes, atuando como instrumento de formação integral dos indivíduos e, consequentemente, possibilitando o desenvolvimento da convivência social.

Dando prosseguimento, adentramos agora em um dos pontos mais comuns quando se fala em futebol de mulheres: o preconceito. Vale ressaltar que durante muito tempo a aproximação entre o futebol e a masculinização da mulher foi um dos principais fatores distanciadores da prática deste esporte para o gênero feminino, como podemos pleitear a partir da colocação abaixo:

(33)

33 “A primeira partida de futebol feminino no Brasil “oficialmente” aconteceu em 1921, essa partida chegou a ser noticiada pelo jornal A Gazeta, era considerada uma atração curiosa. Mas o preconceito foi muito grande na época, pois o futebol sempre foi visto como um esporte bruto e impróprio para as mulheres da sociedade.”. (CH, 2019)

Nesse contexto, a quinta pergunta do questionário referenciou esse tópico, fazendo a indagação apontada no gráfico que segue:

Gráfico 5 – Questão 5 do questionário aplicado

Fonte: Elaborado pela autora, 2019

Ao fazer uma rápida leitura do gráfico acima, podemos perceber que uma parcela de mais de 80% das jovens alegaram já ter sofrido preconceito por jogar futebol. É preciso acentuar que nas respostas obtidas, foi recorrente a menção da expressão “Maria machão”, denominação dada a meninas que apresentam características e comportamentos considerados tipicamente masculinos, ou seja, que envolvam elevada competitividade ou força física, tais como futebol, lutas, entre outros.

Além disso, outro detalhe observado é que em todos os casos, eram meninos os responsáveis por apelidar e fazer xingamentos direcionados às moças, o que nos leva a perceber que ainda vivemos numa sociedade de pensamentos retrógrados, que acredita que mulheres não devem praticar futebol por ser considerado um esporte másculo. Para tanto, esse fato pode ser evidenciado a partir da resposta de uma das estudantes: “já sim e foi chato e fiquei muito triste ouvindo um monte de meninos me chamando de maria machão futebol é pra homem e não pra mulher[...] (Aluna 02). Diante de tais evidências, torna-se lícito concordar com Rigo et al. (2008, p. 185), o qual afirma que:

Apesar de o futebol feminino brasileiro ter deixado de ser alvo de interdição, sua consolidação continua sendo um desafio. Boa parte da

67% 16%

17%

5. Você já sofreu, ou conhece alguém que já

sofreu preconceito por jogar futebol?

Já sofreu e conhece alguém Já sofreu e não conhece alguém Nunca sofreu, mas conhece alguém

(34)

34 discriminação e dos preconceitos que ele continua enfrentando, certamente, tem a ver com os 30 anos de proibição e de desqualificação que ajudaram a construir uma moral sexista alicerçada no discurso de que mulher não combina com futebol.

Ainda, a aluna 03, abriu portas para o próximo tópico mostrando outro ponto de vista, dizendo em sua colocação: “Eu nunca deixei as pessoas me atrapalharem então nunca sofri preconceito [...]”. Por tudo isso, a fim de manter a discussão, na pergunta seguinte, foi questionado se as meninas já haviam deixado de jogar futebol alguma vez pelo fato de serem mulheres. No gráfico abaixo podemos visualizar os resultados.

Gráfico 6 – Questão 6 do questionário aplicado

Fonte: Elaborado pela autora, 2019

Diferentemente do futebol masculino, o futebol feminino não usufrui das mesmas condições de visibilidade e do mesmo reconhecimento social devido a relações conflituosas de gênero, decorrentes da inserção da mulher no espaço esportivo, culturalmente considerado como masculino (FRANZINI, 2005; GOELLNER, 2003).

Como se pôde ver, apesar de a maior parte das entrevistadas terem afirmado não ter deixado de jogar futebol pelo fato de serem mulheres, ainda encontramos uma porcentagem que assegurou o contrário, o que faz perceber que vários preconceitos e estereótipos ainda cercam a prática das mulheres desta modalidade, tais como a associação de sua imagem à homossexualidade ou os perigos do choque da bola para sua saúde reprodutiva (GOELLNER, 2005). Ainda segundo a autora, a prática do futebol por mulheres parece desestabilizar o terreno criado e mantido sob domínio masculino cuja justificativa, assentada na biologia do corpo e do sexo, deveria atestar a superioridade deles em relação a elas. Além disso, Azzarito et al. (2006) percebe que as

33% 67%

6. Você já deixou de jogar alguma vez pelo fato

de ser mulher?

(35)

35 meninas gostam de jogar futebol, entretanto, as condições de agressividade, impostas geralmente pelos próprios meninos, contribuem para o desinteresse de sua prática.

Não obstante, a resistência para se manter praticando a modalidade vem sendo observada na contemporaneidade. Tivemos como exemplo o discurso supracitado, da aluna 03, assim como outras menções, correspondentes a pergunta em questão, cujas respostas dizem: “Não, nunca e até por que eu tenho orgulho de ser mulher” (Aluna 01); “Não nunca deixei pois futebol é pra homem e pra mulher são muitos os preconceitos mais eu nunca deixei de jogar.” (Aluna 02).

Dessa maneira, é pertinente dizer que, desde o início, ser mulher e jogar futebol significa, simultaneamente, praticar um esporte concebido como fenômeno social e estar à margem daquilo considerado “central” para o sexo feminino (LOURO, 2012). No entanto, apesar de um histórico de interdição e reiteradas representações femininas que tendem a afastar as mulheres do universo de alguns esportes, dentre eles, o Futebol, o sexo feminino tem se feito presente nos estádios, assistindo aos campeonatos, treinando, arbitrando, competindo, etc. (GOELNNER, 2005a), demonstrando persistência na busca por se manter firmes na modalidade.

Face ao exposto, as alunas foram questionadas em seguida sobre qual a opinião de seus pais frente à prática do futebol pelas mesmas, onde, de acordo com as respostas, foi possível perceber que 50% das garotas tem o apoio dos familiares, enquanto as demais praticam a modalidade contra a vontade dos parentes, conforme podemos visualizar no gráfico abaixo:

Gráfico 7 – Questão 7 do questionário aplicado

Fonte: Elaborado pela autora, 2019

50% 50%

7. Qual a opinião dos seus pais sobre você

jogar futebol?

(36)

36 Esses dois parâmetros podem ser ainda melhor ilustrados a partir dos relatos feitos pelas Alunas 02 e 03 em suas entrevistas, as quais expõem respectivamente: “eles mim apoia e fica muito feliz quando ver eu jogando”, “Eles gosta muito de mim ver jogar eles nunca tiveram preconceito com isso”. Além disso, novamente, surgem caminhamos em direção à importância que o esporte apresenta quando relacionado às relações sociais das pessoas que o praticam, a partir do que explicita o discurso a seguir: “minha mãe acha ótimo, as vezes eu tô em casa e ela diz: vai jogar bola não? Pelo menos você sai um pouco de casa, se diverte um pouco” (Aluna 04).

Esse relato confere que a influência comunicativa da família e também a influência cultural, podem definir a socialização como o processo pelo qual as crianças aprendem a comportar-se de uma maneira aceitável e a se relacionar com os demais, definido este comportamento pela cultura à que pertencem seus familiares (SILVA, 2015).

Logo, Marques (2000) afirma que a família contribui para o desenvolvimento de motivações, autoestima e construção de valores, e auxilia no processo de construção de identidade da criança. Para mais, se refere também ao que discute o autor Souza (2004), sobre a necessidade de se trabalhar o futebol como um esporte que busca o desenvolvimento, a formação e que tem como objetivo o desenvolvimento social das crianças, onde diz que, além de ter um bom nível de desenvolvimento motor e cognitivo, as crianças terão através da prática do futebol uma grande capacidade de socialização, ficando evidente a necessidade da interação com as demais crianças.

De forma contrária, as meninas que mencionaram não ter o apoio dos pais apresentaram duas vertentes. A primeira se firma no discurso de que futebol não é para mulheres, que, além da estrutura social que dificulta a inserção e a permanência das mulheres no futebol, elas se deparam com a barreira do preconceito familiar, por vezes, representado pela figura materna (KNIJNIK, VASCONCELOS, 2003), como cita a aluna 06: “Minha mãe dizia pra mim não joga por que era coisa de homem”.

Com isso, é pertinente dizer que esse discurso vai de encontro a um ideal proposto num passado até bem recente - mais exatamente, há 40 anos - o futebol, no Brasil, ainda era considerado, por decreto, uma prática inapropriada para mulheres, conforme menciona Andréa Martinelli, Jornalista e editora sênior no HuffPost Brasil, em seu texto: “Há 40 anos, mulheres ainda eram proibidas de jogar futebol no Brasil”. Assinado por Getúlio Vargas em 14 de abril de 1941, durante a ditadura do Estado Novo, o artigo 54 do decreto-lei 3.199, afirmava que ”às mulheres não se permitirá a

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