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36 Esses dois parâmetros podem ser ainda melhor ilustrados a partir dos relatos feitos pelas Alunas 02 e 03 em suas entrevistas, as quais expõem respectivamente: “eles mim apoia e fica muito feliz quando ver eu jogando”, “Eles gosta muito de mim ver jogar eles nunca tiveram preconceito com isso”. Além disso, novamente, surgem caminhamos em direção à importância que o esporte apresenta quando relacionado às relações sociais das pessoas que o praticam, a partir do que explicita o discurso a seguir: “minha mãe acha ótimo, as vezes eu tô em casa e ela diz: vai jogar bola não? Pelo menos você sai um pouco de casa, se diverte um pouco” (Aluna 04).

Esse relato confere que a influência comunicativa da família e também a influência cultural, podem definir a socialização como o processo pelo qual as crianças aprendem a comportar-se de uma maneira aceitável e a se relacionar com os demais, definido este comportamento pela cultura à que pertencem seus familiares (SILVA, 2015).

Logo, Marques (2000) afirma que a família contribui para o desenvolvimento de motivações, autoestima e construção de valores, e auxilia no processo de construção de identidade da criança. Para mais, se refere também ao que discute o autor Souza (2004), sobre a necessidade de se trabalhar o futebol como um esporte que busca o desenvolvimento, a formação e que tem como objetivo o desenvolvimento social das crianças, onde diz que, além de ter um bom nível de desenvolvimento motor e cognitivo, as crianças terão através da prática do futebol uma grande capacidade de socialização, ficando evidente a necessidade da interação com as demais crianças.

De forma contrária, as meninas que mencionaram não ter o apoio dos pais apresentaram duas vertentes. A primeira se firma no discurso de que futebol não é para mulheres, que, além da estrutura social que dificulta a inserção e a permanência das mulheres no futebol, elas se deparam com a barreira do preconceito familiar, por vezes, representado pela figura materna (KNIJNIK, VASCONCELOS, 2003), como cita a aluna 06: “Minha mãe dizia pra mim não joga por que era coisa de homem”.

Com isso, é pertinente dizer que esse discurso vai de encontro a um ideal proposto num passado até bem recente - mais exatamente, há 40 anos - o futebol, no Brasil, ainda era considerado, por decreto, uma prática inapropriada para mulheres, conforme menciona Andréa Martinelli, Jornalista e editora sênior no HuffPost Brasil, em seu texto: “Há 40 anos, mulheres ainda eram proibidas de jogar futebol no Brasil”. Assinado por Getúlio Vargas em 14 de abril de 1941, durante a ditadura do Estado Novo, o artigo 54 do decreto-lei 3.199, afirmava que ”às mulheres não se permitirá a

37 prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza [...]” (MARTINELLI, 2019), estando incluso dentre esses, o futebol.

A jornalista traz ainda o discurso da historiadora Giovana Capucim e Silva, autora do livro Mulheres Impedidas: A proibição do futebol feminino na imprensa de São Paulo: “É reiterada na década de 1960 a ideia de que essa „natureza feminina‟ é ser mãe. Isso é muito forte no discurso do Vargas: essa ideia da mulher como alguém que deve cuidar da família, que deve gerar os „filhos fortes da nação”, explicam. Além disso, “As mulheres são associadas com o que é belo, feminino, maternal, delicado. E, nenhum desses adjetivos, tem a ver com esporte”, diz Silva. “O ideal que se tem de esporte, de atleta, e o ideal que se tem de mulher são ideais que se confrontam, que não se encaixam de modo algum” (MARTINELLI, 2019).

Já a segunda vertente, foi vista a partir da seguinte resposta: “Pra eles eu não posso jogar por causa dos óculos” (Aluna 05). Conforme discutido também na entrevista em grupo focal, essa última questão elucida um valor de proteção dos pais para com a adolescente, alegando que, pelo fato dela utilizar óculos de grau, não poderia jogar futebol, pois correria riscos tanto de danificar o acessório, quanto de prejudicar a integridade física da menina.

Nesse contexto, o fato de as meninas praticarem a modalidade mesmo sem o apoio dos pais nos permite acordar que “geralmente na infância a criança segue a orientação da família, e à medida que vai se desenvolvendo vai aumentando o seu repertório de escolhas em função da inter-relação com os diferentes grupos” (CASTANHEIRA, 2008, p. 97). Em face do que foi apresentado, é possível perceber ainda mais a importância do PROFESP, por oportunizar e democratizar o acesso à prática e à cultura do esporte, que influencia direta e indiretamente na formação integral das pessoas, revelando efeitos socioculturais essenciais à realidade das mesmas, demonstrando, dessa forma, que os programas centrados no esporte são fundamentais para a vida ativa e positiva de um jovem (UNESCO, 2002).

A oitava pergunta do questionário indagou às alunas sobre o que o ambiente do futebol mais proporcionava para as mesmas. De acordo com os resultados obtidos, foi possível perceber que a questão dos vínculos de amizade foi o resultado mais comum encontrado nas respostas das garotas, como podemos contemplar no gráfico a seguir:

38 Gráfico 8 – Questão 8 do questionário aplicado

Fonte: Elaborado pela autora, 2019

Podemos observar que as respostas percorrem três diferentes rumos, em que o primeiro e o mais significativo se relaciona com às amizades, como podemos ver em uma das menções das garotas: “as amizades, conheci várias pessoas incríveis através do futebol” (Aluna 04), concordando que a socialização é um dos mais importantes fatores que envolvem atividade física para crianças (SOUZA, 2004, p. 31), “[...] a importância da prática esportiva em nossa sociedade vai além dos benefícios na saúde física do homem”. Assim, “É possível perceber-se o desenvolvimento das relações socioafetivas, a comunicabilidade, a sociabilidade, ajustando socialmente esse homem ao meio que vive” (BURITI, 2001, p.49).

A segunda vertente constata que o meio em que permeia o futebol proporciona mais incentivos à prática do mesmo, como afirmaram, respectivamente, as Alunas 05 e 06, ambas de 14 anos de idade: “A ser goleira”; “Me faz joga mais”, nesse sentido, podemos acordar com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN‟s), que dizem:

O desenvolvimento de habilidades e o estímulo ao surgimento de novas aptidões tornam-se processos essenciais, na medida em que criam as condições necessárias para o enfrentamento das novas situações que se colocam [...] (Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Médio, 2000, p. 15).

Partindo desse, Huizinga (2007) pergunta: o que leva o jogador ao jogo contínua e repetidamente? Ele responde, claramente: a intensidade, os poderes de fascinação do jogo não têm respostas racionais. Como ele ultrapassa a esfera da vida humana (quem já não viu cachorro brincando?), não se baseia em elementos racionais. É na própria

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8. O que o ambiente do futebol mais te

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