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O Gabinete de Intervenção Disciplinar (GID)

No documento Os conflitos entre alunos e professores (páginas 94-101)

 MISSÃO E VISÃO

1.3.1 O Gabinete de Intervenção Disciplinar (GID)

Optámos por fazer um enquadramento histórico sobre os conflitos entre alunos e professores, recorrendo a dados oficiais (relatórios do GID de 2009/2010; 2010/2011; 2011/2012; 2012/2013 e 1º período de 2013/2014, vide anexos VI a X) focando-nos no 9ºano da Escola Secundária D. João II, em Setúbal.

A larga incidência de conflitos de natureza de vária ordem maioritariamente no 7ºAno e 8ºAno, parece-nos indicar que existe de algum modo uma dificuldade na transição

72 do 6ºAno para o 7ºAno, de uma escola básica 2,3 para uma escola secundária. Essa dificuldade é visível tanto na aquisição de conteúdos programáticos, como na capacidade de estar ao nível da exigência programática nas várias disciplinas. Além disso, também na questão social, na abordagem socializante do aluno, na sua adaptação ao novo espaço físico, social e psicológico se revelam alguns problemas/dificuldades de transição / inserção.

De facto verifica-se que a incidência de casos disciplinares é mais elevada no 7º e 8ºAnos decrescendo no 9ºAno. Possivelmente pode-se explicar este facto pelo aumento do nível da maturidade dos alunos, crescimento físico e psicológico, pelo conhecimento mais profundo dos seus colegas de turma e dos seus professores (melhor integração) que, regra geral, dão cumprimento a uma gradual continuidade pedagógica. Outra possível explicação, poderá eventualmente residir no facto de o 9ºAno concluir-se com as provas finais a Português e Matemática e a necessidade de ultrapassar este obstáculo ser importante para a sua realização pessoal e profissional, além da pressão inevitável das famílias e encarregados de educação.

Mas a escola, tal como outras instituições socializantes e locais de trabalho diversos, constitui um local propício a conflitos. Pela diversidade, formação académica e pessoal dos elementos que a compõem (professores, pessoal não docente, encarregados de educação), pela sua dinâmica interna (situações diárias próprias do dia a dia) e pela dimensão externa (legislação governamental, atuação de pais e encarregados de educação, …).

Por outro lado, a escola possui uma especificidade geográfica e física. O seu espaço físico coloca um desafio a todos os elementos da comunidade escolar: salas de aula e laboratórios, biblioteca escolar, pavilhão desportivo, disposição de edifícios, espaços verdes. Cada local com a sua especificidade de comportamento e regras inerentes. A atitude e comportamento dentro do laboratório não é a mesma que dentro do pavilhão desportivo ou sala de aula normal. Existem as normais contingências de segurança e procedimentos inerentes a cada valência dentro da escola.

A opção por alunos de turmas de 9ºAno permite efetuar uma análise por coortes relativamente aos três anos anteriores. Os alunos que frequentam o 9ºAno no ano letivo 2013/2014 são os alunos que frequentaram o 8ºAno em 2012/2013 e o 7ºAno em

73 2011/2012. Os gráficos dos relatórios finais e por período do Gabinete de Intervenção Disciplinar (GID) evidenciam que os problemas disciplinares vão progressivamente diminuindo ao longo da escolaridade. Provavelmente fruto da inegável maturidade e do maior conhecimento dos colegas e professores ao longo de três anos de escolaridade. Além disso, o fator de retenção de alguns alunos pode eventualmente diminuir o nível de conflitualidade no ano seguinte. Ou seja, um grupo de alunos que fique retido no 7ºAno poderá eventualmente originar um menor grau de conflitualidade no 8ºAno. Progressivamente, um outro grupo de alunos que fique retido no 8ºAno poderá eventualmente originar um menor grau de conflitualidade no 9ºAno. Contudo, os mesmos alunos retidos poderão eventualmente originar um maior grau de conflitualidade no 7º e 8ºAno. Os dados do Gabinete de Intervenção Disciplinar evidenciam precisamente este facto: a forte incidência de presenças no GID e de processos disciplinares maioritariamente no 7º e 8ºAno de escolaridade.

Os dados do Gabinete de Intervenção Disciplinar (GID) confirmam que os problemas disciplinares, com os processos disciplinares inerentes, estão praticamente no ensino básico, fundamentalmente no 7ºAno e vão diminuindo no 8º e no 9ºAnos. “Recebemos alunos no 7º Ano com distúrbios a nível comportamental. Esses desvios comportamentais vão diminuindo à medida que os alunos transitam de ano.” (Apêndice II, pág. 3) Tal sucede muito provavelmente porque existe alguma proporcionalidade ao aumento da maturidade. Repare-se na incidência de procedimentos disciplinares:

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2009-2010 2010-2011 2011-2012

C..GID R.R. P.D. C.GID R.R. P.D. C.GID R.R. P.D.

7ºAno 71 4 10 146 20 17 199 32 4

8ºAno 47 3 7 95 14 6 80 12 7

9ºAno 25 0 2 18 2 7 18 1 2

C.GID – comparências no GID; R.R.- repreensões registadas; P.D.- processos disciplinares

Quadro nº 2 - Situações disciplinares 2009-2010, 2010-2012 e 2011-2012

Repare-se que, à exceção dos processos disciplinares (PD) do 9ºAno em 2010-2011 e do 8ºAno em 2011-2012, ambos com valor absoluto de 7, todos os valores decrescem ao longo dos anos de escolaridade.

O relatório final do GID de 2011-2012 (Anexo VIII) refere: “Os casos de indisciplina são notórios no Ensino Básico, essencialmente no 7º Ano, que representam 65,25% (199) das presenças no GID; seguem-se o 8º Ano com 26,23% (80), o 9º Ano com 5,9% (18), o 11º Ano com 1,64% e o 12º Ano com 0,98%. Em oposição é de realçar o bom comportamento dos alunos do ensino secundário, particularmente do 10º ano, com 0% de presenças no GID. É de salientar, também, uma maior presença de alunos do sexo masculino no GID (80,33%) em detrimento dos alunos do sexo feminino (19,67%).” De facto, ao longo dos anos, a incidência de questões disciplinares (comparências no GID, repreensões registadas e processos disciplinares) no sexo masculino é predominante em todo o ensino básico.

Analisados os livros de ponto verifica-se que o 7ºAno possui 469 referências, o 8ºAno tem 395 referências, enquanto para o 9ºAno são assinaladas 93 referências.

75 2012-2013 2013-2014 1º Período C.GID R.R. P.D. C.GID R.R. P.D. 7ºAno 82 Competência do professor na sala de aula 44 85 1 2 8ºAno 56 14 78 6 11 9ºAno 22 8 20 4 0

Quadro nº 3 - Situações disciplinares 2012-2013 e 1º período 2013-2014

O relatório final do GID de 2012-2013 (Anexo IX) refere: “Os casos de indisciplina são notórios no ensino básico, essencialmente no 7ºAno, que representam 46,85% (82) das presenças no GID; segue-se o 8ºAno com 29,71% (56), o 9ºAno com 12,57% (22), o 10ºAno com 4.57%, o 11ºAno com 2.85% e o 12ºAno com 1.14%.

Ao nível dos processos disciplinares instaurados no ensino básico registe-se que o 7ºAno representa 63,76% (44) do número total de processos disciplinares; segue-se o 8º Ano com 20,28% (14) e com 11,59% surge o 9ºAno (8). No ensino secundário apenas o 10ºAno surge em cena com 4,34%, não tendo o 11ºAno ou o 12ºAno qualquer representação.

É de salientar, também, uma maior presença de alunos do sexo masculino no GID (60%), em detrimento dos alunos do sexo feminino (40%). Nesse ano, as repreensões registadas passaram a ser da competência do próprio professor, sempre que a situação disciplinar ocorra dentro da sala de aula, fruto da alteração legislativa (Estatuto do Aluno e Ética Escolar).

Os dados do 1º período de 2013-2014, período no qual foram realizados os inquéritos aos alunos das turmas de 9ºAno, continuam a evidenciar o decréscimo ao longo dos anos de escolaridade e a predominância do sexo masculino nas questões disciplinares em todo o ensino básico, não significando que as situações disciplinares ocorridas com elementos do sexo feminino sejam menos graves ou densas, mas isso poderá constituir

76 matéria para um posterior estudo e investigação. O relatório do GID do 1º período 2013- 2014 (Anexo X) refere que: “Os casos de indisciplina são notórios no ensino básico, essencialmente no 7ºAno, que representam 41.06% (85) das presenças no GID; segue-se o 8ºAno com 37.68% (78), o 9ºAno com 9.66% (20), o 10ºAno com 7.73%, o 11ºAno com 2.9% e o 12ºAno com 0.97%. Em oposição é de realçar o bom comportamento dos alunos do ensino secundário, particularmente do 12º ano, com duas presenças no GID.” Ao nível dos processos disciplinares o sexo masculino predomina com 16 processos disciplinares contra apenas 2 do sexo feminino. Quanto à comparência no GID as presenças masculinas (72.46%), são largamente superiores em detrimento dos alunos do sexo feminino (27.53%).

2009 – 2014 Processos Disciplinares

Total

Sala de aula Escola

7ºAno 62 15 77

8ºAno 36 9 45

9ºAno 15 4 19

Total 113 28 141

Quadro nº 4 - Processos disciplinares sala de aula vs. Escola

Relevante nesta análise desenvolvida neste gabinete (GID) é a constatação de que aproximadamente 80% dos processos disciplinares ocorrem com base em conflitos e situações dentro da sala de aula, enquanto cerca de 20% se referem a situações ocorridas dentro da escola, mas fora da sala de aula. A sala de aula assume, assim, uma centralidade absoluta no ato educativo e na urgência de se cimentarem bem as relações inter e intrapessoais. Veja-se o que o coordenador do GID menciona na entrevista: “Quando as aulas estão bem preparadas, com estratégias bem definidas, apoiadas por material adequado (fichas, apresentações power point, filmes, …), minimiza-se o risco de conflito

77 dentro da sala de aula. Não significa, no entanto, que apesar de tudo estar bem preparado, não surjam conflitos.” (Apêndice II, pág. 9)

Este dado indica que é verdadeiramente na preparação e capacitação de professores para lidar com o conflito dentro da sala de aula que devemos engendrar instrumentos e focar a formação de professores. O forte desgaste psicológico e físico dos professores, comprovado pelas baixas médicas e psiquiátricas, leva-nos a considerar este esforço até para evitar onerar o sistema nacional de saúde (SNS). Por outro lado, os alunos - “A maioria dos alunos atendidos no GID, responsáveis por conflitos (agressões, bullying), está medicada.”- Apêndice II, pág. 14 - também evidenciam um desgaste na sua saúde e com consequências para o seu processo educativo: “Múltiplos estudos de revisão de jovens com comportamentos autolesivos e atos suicidas mostram que registam insucesso ou abandono escolar, problemas de comportamento e isolamento escolar.” (Plano Nacional de Prevenção do Suicídio, 2013-2017, p. 70)

78 CAPÍTULO IV – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS

1. ALUNOS

No documento Os conflitos entre alunos e professores (páginas 94-101)