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O homem piauiense e os enunciadores da cultura popular

CAPÍTULO 03 A PIAUIENSIDADE ESCRITA: Cultura popular, ecologia e etnografia em

3.1 O homem piauiense e os enunciadores da cultura popular

O Piauí está situado na região Nordeste, apesar de formar uma sub-região distinta em problemas, em potencialidades econômicas e em estágio de desenvolvimento. Possui características físico-geográficas diferentes, tendo condições naturais que o colocam em posição relativamente favorável. É o estado limite entre a caatinga do Nordeste semi-árido e as terras úmidas e florestas equatoriais da Amazônia.1 (Grifos nossos)

Na “Introdução histórico-geográfica” da obra Folclore Brasileiro: Piauí, Noé Mendes demarca logo o seu estado como pertencente a região Nordeste, singular em suas características naturais, e tendo como principal diferenciação, o seu caráter de fronteira entre esta região e a Amazônia. Tais princípios geográficos seriam uma das marcas sintetizadas pelas características históricas de ocupação e colonização do Estado.

1 OLIVEIRA, Noé Mendes de. Folclore Brasileiro: Piauí. Rio de Janeiro: MEC, DAC, FUNARTE, CDFB.

Nas terras em que “tudo emanava do curral, inclusive o comércio e as finanças”, como afirmou o historiador Odilon Nunes, o Piauí teve em sua formação o devassamento de populações indígenas e o desenvolvimento de um sistema econômico marcado pelo setor de subsistência, ou seja, uma área de criatório extensivo de gado entre os séculos XVII e XVIII, cuja economia “assegurasse a satisfação das necessidades dos que viviam na fazenda”.2 Essa caracterização, torna exclusivo o processo de formação histórico do estado, configurando lhe um contorno geográfico específico, bem como sua constituição econômica e social, já discutidas em outros trabalhos,3 além da passagem acima citada por Noé Mendes.

O que singulariza Mendes e o destaca na sua aposta é que essa marca geográfica constitui uma das definições propícias para o desenvolvimento de uma cultura piauiense, como veremos mais adiante. Tendo essa definição-limite sido apontada pelo historiador Raimundo Santana, que caracterizou o Piauí como uma área de transição administrativa em razão das terras terem pertencido à Capitania do Maranhão e a de Pernambuco, e que, segundo ele, “dentro desse quadro, bastou que o homem tangesse o gado e se fizesse vaqueiro”.4 Nestes termos, continua o historiador:

A fazenda de criar por muito tempo no Piauí constitui-se em estabelecimento único de exploração econômica em base da sociedade, em formação e centro de relações étnicas e de cultura [...] Utilizando o couro, por processos manuais ou instrumentos rudimentares a indústria familiar preparava os grosseiros artefatos com que satisfazia-se as necessidades internas das fazendas [...] dentro desse ‘complexo rural’, o gado caracterizou de igual modo os hábitos de vestuário, de habitação, os utensílios de uso doméstico ou profissional.5

O Piauí teria sido marcado por uma “época do couro” que para Santana foi a síntese da economia de subsistência ou economia de necessidade, bem como a gestora do “complexo rural” base da sociedade e, consequentemente, formadora da cultura na qual se originariam os costumes tradicionais do entorno das fazendas.

Enquanto a formação social do Piauí era apresentada pela via econômica para Santana, Noé Mendes apresenta a síntese do piauiense como a mistura das três raças, nos moldes da formação do brasileiro, ao afirmar que:

2 SANTANA, R. N. Monteiro de. Evolução Histórica da Economia Piauiense. 2ª Ed. Teresina: APL, Banco do

Nordeste. 2001, p. 44.

3BAPTISTA, João Gabriel. Geografia física do Piauí. Teresina: COMEPI, 1971. BRANCO, Renato Castelo. O

Piauí: a terra, o homem, o meio. São Paulo: Quatro Artes Editora, 1970. NUNES, Odilon. Devassamento e conquista do Piauí. Teresina: COMEPI, 1972. NUNES, Odilon. Pesquisas para história do Piauí. 2 ed. Rio de Janeiro: Artenova, 1975; SANTANA, R. N. Monteiro de. Perspectiva histórica do Piauí. Teresina: Edições Cultura, 1965.

4 SANTANA. op. cit. 2001, p. 21. 5 Idem., p. 44.

A população piauiense é, basicamente, o resultado da miscigenação de portugueses, índios e africanos. Os primeiros documentos de nossa historiografia falam de uma população de brancos, negros, índios e mamelucos [...] A presença dos mamelucos, contudo, foi muito significante e marcou fortemente nosso povo. Daí a existência generalizada e tipos com crânios arredondados, olhos oblíquos ou amendoados, denotando o lastro sanguíneo do indígena. Se por um lado a característica indígena é patente, deve-se admitir, também, que a nossa negritude é um fato permanente [...] A nossa formação étnica constitui a base do universo cultural piauiense. Este fator não se explica, no entanto, toda a dimensão cultural da região. As condições mesológicas, bem como toda a estrutura sócio-econômica, são, também, condicionamentos importantíssimos para dimensionar culturalmente o Piauí. Deste conjunto de elementos resultou uma sociedade rural fechada, ligada à pecuária extensiva, à agricultura de subsistência e ao extrativismo vegetal. 6 (Grifos nossos).

A obra na qual Noé Mendes apresenta esta definição - Folclore Brasileiro: Piauí – é formada por um conjunto de textos elaborados por ele ao longo da primeira metade da década de 1970, sobretudo como parte de seu livro de estreia, Folclore no Piauí, publicado em 1972, pela Secretaria de Educação e Cultura em parceria com a Empresa Piauiense de Turismo (PIEMTUR). Completamente esquecida, esta não fora reeditada, garantindo assim que aquela ganhasse destaque, sobretudo pelo caráter nacional em razão das finalidades que a Série organizada pela Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro objetivava, em dar conhecimento e comparar o folclore do país.

Podemos ler a obra de Noé Mendes como um compilado de textos que apresenta os componentes da cultura piauiense em seu caráter tido como popular7. Mas é preciso ir além desse simples olhar, é necessária uma exegese desses textos, reunidos em formato de livro para percebermos como Mendes apresenta uma ideia de povo e cultura encontrados no Piauí, como parte da brasileira. Para isso é preciso identificar os diálogos intertextuais percebidos na obra, sobretudo aqueles que durante a década de 1970 foram sendo retomados, apropriados, e (re) construídos sob novos aspectos na escrita desse folclorista.8

O primeiro diálogo que percebemos é a caracterização do Piauí como “sub-região” e as suas “condições mesológicas” assinaladas pelo folclorista nas citações anteriores. Tais

6 OLIVEIRA, Noé Mendes de. op. cit. 1977, p. 07 - 08.

7 O conceito de popular já apresentados nos capítulos anteriores, retorna ainda sob a ideia de adjetivo que

qualifica uma grande quantidade de coisas pertencentes ao povo ou relativas a ele.

8 Entendemos a apropriação segundo o conceito utilizado por Roger Chartier, no qual estabelece os processos de

recepção de obras, ao criar práticas que se apropriam de modo diferente dos materiais que circulam em determinada sociedade. Segundo o historiador, as práticas que deles se apoderam são sempre criadoras de uso ou de representações que não são de forma alguma redutíveis à vontade dos produtores de discursos e normas. Podendo ser compreendido ainda nas diferenças de uso partilhado daquilo que for apropriado, organizadas pelas estratégias de distinção ou de imitação e que os empregos diversos dos mesmos bens culturais (ou marcadores aqui trabalhados por nós), se enraízam nas disposições do habitus de cada grupo. Para mais detalhes conferir: CHARTIER, Roger. A história cultural entre práticas e representações. 2ª Ed. Algés, Portugal: Difel, 2002.

marcadores geográficos – que caracterizam a identidade local piauiense a partir de um determinismo geográfico, uma influência do meio – foram também apontados por uma das referências intelectuais de Noé Mendes, a obra do escritor piauiense Renato Castelo Branco, celebre pelo seu livro A Civilização do Couro – escrito na década de 1940 em pleno regime ditatorial de Getúlio Vargas, no Estado Novo – e patrocinado pelo Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda (DEIP) sob o comando do interventor Leônidas Melo. Castelo Branco, nesta obra, assim define o Piauí:

Quem sobe a costa do Brasil do Sul para o Norte, e percebe o crescente escurecer da pelle humana, passando do branco para o preto, para se abrir em breve hiato e recomeçar cambiante no sentido do vermelho, compreende, por este só fator, a necessidade de analyse separada, das diversas sub-regiões. Acrescente-se a isto a diversificação mesológica e a variação dos meios de produção, e ter-se-á a compreensão absoluta desta necessidade.9 (Grifos

nossos).

Em sua obra, Renato Castelo Branco nos apresenta a matriz de seu pensamento ao definir o homem piauiense conforme as representações do sertanejo de Euclides da Cunha na obra Os Sertões:

Parodiando Euclydes da Cunha, poderíamos dizer que o piauhyense é, antes de tudo, um vaqueiro! Por imperativos do meio, da origem e da tradição [...] Neste instantâneo feliz de Euclydes da Cunha, o vaqueiro nos apparece como uma perfeita traducção moral dos agentes physicos que o cercam. É o batalhador permanentemente combalido e exhausto, perennemente audacioso e forte; preparando-se sempre para um recontro em que não vence e em que não se deixa vencer; passando da máxima quietude à máxima agitação, da rêde preguiçosa e commoda para o lombilho duro, que o arrebata, como um raio pelos arrastadores estreitos, em busca das malhadas. Reflecte, nestas aparências que se contrabatem, a própria natureza que o rodeia – passiva ante o jogo dos elementos e passando, sem transição sensível, de uma estação à outra, da maior exhuberancia à penúria dos desertos incendidos, sob o reverberar dos estios abrasantes.10

A referência principal de Castelo Branco, a obra Os Sertões de Euclides da Cunha, é marcada pelo evolucionismo, o determinismo climático e biológico além do positivismo clássicos de sua época. No entanto, apesar de todas as compreensões pejorativas que o homem do sertão carregava e era caracterizado, é possível admitirmos que o homem piauiense apresentado pelo autor, ao referenciar a obra euclidiana, se faz por meio da imagem mítica do vaqueiro como elemento no qual viabiliza uma ideia genuína de sertanejo brasileiro. Vejamos as descrições euclidianas:

9 CASTELO BRANCO, Renato. A Civilização do Couro. Teresina: DEIP. 1942, p. 13. 10 Idem. p. 41,56.

Ora, além destes motivos, sobreleva-se, considerando a gênese do sertanejo no extremo norte, um outro: o meio físico dos sertões em todo o vasto território que se alonga do leito do Vaza-Barris ao do Parnaíba, no ocidente [...] O seu aspecto recorda, vagamente, à primeira vista, o de guerreiro antigo exausto da refrega. As vestes são uma armadura. Envolto no gibão de couro curtido, de bode ou de vaqueta; apertado no colete também de couro; calçando as perneiras, de couro curtido ainda, muito justas, cosidas às pernas e subindo até as virilhas, articuladas em joelheiras de sola; e resguardados os pés e as mãos pelas luvas e guarda-pés de pele de veado — é como a forma grosseira de um campeador medieval desgarrado em nosso tempo.11

Carlos Borges, ao analisar A Civilização do Couro em sua dissertação, afirma que a motivação de Renato Castelo Branco para a elaboração da obra “era conseguir através de análises sobre o povo, a terra, e a civilização piauienses, visualizar e interpretar aquilo que ele chamava de ‘alma das populações’”.12 Para Borges, a obra “era a convicção da existência de um caráter particularizado da cultura e da sociedade piauienses, que distinguia o Piauí e sua civilização dos demais Estados brasileiros”.13 Neste caso a ideia de alma das populações parece próxima da ideia do “caráter” de determinado povo, basta lembrarmos da grande massa rural sertaneja referida por Silvio Romero “na qual palpita mais forte o coração da raça”14, elaboração comum nos escritos dos autores da época.

Ao tomar “a civilização do couro” como uma designação social, Castelo Branco enuncia o piauiense como o vaqueiro euclidiano, sendo este a síntese que congrega, a partir de sua constituição histórica em reação ao meio, uma sub-região (o Piauí), no seu isolamento do “complexo rural”, como definiu Raimundo N. M. de Santana ou como “sociedade rural fechada” na acepção de Noé Mendes.

Depois de referenciada a matriz cultural do povo piauiense, Noé Mendes apresenta também a síntese desse povo segundo a imagem euclidiana do vaqueiro. Aqui identificamos um segundo diálogo intertextual com Castelo Branco. No entanto, diferentemente deste último autor, Noé acrescenta outros elementos mais identificados com o contexto temporal no qual estava imerso:

O Piauí de hoje é, repetimos, a resultante dos diversos componentes de sua formação histórica, étnica, social e econômica, aliada fortemente a elementos físico-geográficos. Somente considerando estas coordenadas básicas, poderar-se-á atingir a realidade global do povo piauiense e tentar definir seu universo cultural. A marca profunda destes elementos básicos está na casa de taipa coberta de palha de babaçu, carnaúba ou buriti, e na

11 CUNHA, Euclides da. Os Sertões. São Paulo: Três, 1984, p. 47,56.

12 BORGES, João Carlos de Freitas. A construção d’A Civilização do Couro: Renato Castelo Branco e o Piauí

em tempos de Estado Novo. 178 f. Dissertação de Mestrado em História do Brasil, Universidade Federal do Piauí, 2014, p. 81.

13 Idem. p. 82.

fazenda de gado do sertão ou serrado. Está na jangada do litoral, no carro de boi, nas balsas do Parnaíba, no engenho de madeira puxado a boi, na casa de farinhada e no roçado de mandioca e feijão. Está na figura ‘euclidiana’ do vaqueiro que povoa o Piauí de norte a sul, na quebradeira de coco babaçu, no tirador de palha de carnaúba, na tecedeira de rede e de labirinto e no oleiro que modela o barro, criando panelas, alguidares e potes, tais como os fizeram seus antepassados índios e escravos.15

Os elementos citados por Noé Mendes, tentam sugerir a proximidade do piauiense na figura do vaqueiro euclidiano, como representação do homem sertanejo. As figuras empregadas ao homem nordestino enquanto elemento do meio histórico e social utilizadas por esses autores, nos faz refletir até que ponto essa representação significa de fato ao sertanejo piauiense.

Estudos mais recentes na historiografia piauiense, permitem rever essas concepções elaboradas anterior à década de 1970, como o trabalho Balaios e bem-te-vis: a guerrilha sertaneja, da professora Claudete Dias16, que em sua análise sobre o movimento social da Balaiada, durante o período regencial no século XIX, teve importantes reflexos nas terras piauienses.

A autora a partir de sua reflexão sobre a luta travada entre balaios e representantes do governo das províncias do Piauí e do Maranhão, nos sugere quem eram os “vaqueiros piauienses”, tendo sido estes, integrantes também do movimento da Balaiada. Vejamos:

O trabalhador livre das fazendas do Piauí era geralmente o vaqueiro – categoria de fundamental importância na organização social. Não sendo assalariado era uma espécie de ‘sócio’ do proprietário, parceiro de produção. O vaqueiro tinha direito a um bezerro de cada quatro crias, sistema conhecido como ‘quarta’, o que lhe possibilitava a acumulação de alguns bens e a se tornar sitiante ou mesmo fazendeiro. Não era um trabalhador comum e o ‘status’ de vaqueiro atraía a todos: tornar-se vaqueiro era a maior aspiração.17

Nessa concepção o Piauí, por ser uma terra de transição, conforme indicado por Raimundo Santana, Noé Mendes e outros, tornou-se palco de conflitos em decorrência da ocupação de terras, e conforme afirma Claudete Dias, esse palco de disputas, não esteve isolado do restante das outras capitanias, “sendo um importante elo de ligação com vários pontos do país, desde os tempos colônias”.18

Essa narrativa sucessiva encarna construções imaginárias de um espaço, o Piauí, seguido de um tipo étnico que é visto como o sertanejo, especificamente o vaqueiro piauiense.

15 OLIVEIRA, Noé Mendes de. op. cit. 1977, p. 08.

16 DIAS, Claudete Maria Miranda. Balaios e Bem-te-vis: a guerrilha sertaneja. Teresina: FCMC, 1995. 17 Idem., p. 51.

A proximidade de ambos os intelectuais - Renato Castelo Branco e Noé Mendes de Oliveira - com a obra euclidiana é de fato um dado importante a ser considerado nesta análise. Entretanto, o que gostaríamos de aprofundar é a retomada destes marcadores identitários para o Piauí, constantemente presente nas obras publicadas ao longo da década de 1970, contexto ligado à nossa personagem, sobretudo por ser nesse período que ele escreve sua obra Folclore Brasileiro: Piauí.

Este capítulo deve ser lido como desdobramento do anterior, em razão da importância do tema. Assim a apreciação aqui proposta privilegia os dispositivos adotados por Roger Chartier quanto à análise de textos e impressos e os seus processos editoriais, ao afirmar que:

Não existe nenhum texto fora do suporte que o dá a ler, que não há compreensão de um escrito, qualquer que seja que não dependa das formas através das quais ele chega ao seu leitor. Daí a necessária separação de dois tipos de dispositivos os que decorrem do estabelecimento do texto; das estratégias de escrita, das intenções do autor; e os dispositivos que resultam da passagem a livro ou a impresso produzido pela decisão editorial [...] tendo em vista leitores ou leituras que podem não estar de modo nenhum em conformidade com os pretendidos pelo autor.19

Como já apresentamos no capítulo anterior as regras editoriais (a escolha dos autores, decisões dos editores, sumário e seleção dos textos) da Série Folclore Brasileiro, cabe focarmos a escolha das manifestações caracterizadas como populares e os sentidos sobrecarregados a elas na medida em que a ideia de homem piauiense vai sendo apresentada conforme esses marcadores. Para tanto recuemos alguns anos antes da publicação de Folclore Brasileiro: Piauí, quando, no início do governo Alberto Silva, foi constituída uma comissão para elaboração do Plano Editorial do Estado em 1972.

A finalidade da Comissão era realizar um levantamento do acervo bibliográfico de autores piauienses, ou de obras relativas ao Piauí, selecionando, justificadamente, os que deveriam ser incluídos no Plano Editorial do Estado, além de selecionar obras inéditas dos autores do estado.20

A Comissão formada por membros escolhidos pelo próprio governador Alberto Silva, foi presidida pelo secretário de educação e cultura, professor Wall Ferraz, composta por representantes das principais entidades culturais do Estado, como Odilon Nunes do Conselho Estadual de Cultura, o professor Noé Mendes da Universidade Federal do Piauí, o jornalista Deoclécio Dantas Ferreira, pela Companhia Editora do Piauí, o professor Casimiro Távora

19 CHARTIER. op. cit. 2002, p. 127.

20 DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DO PIAUÍ. Decreto nº 1416, de 17 de janeiro de 1972. Cria a Comissão

Ramos Filho do Departamento Estadual de Cultura, o Desembargador Manoel Felício Pinto, da Academia Piauiense de Letras e o Dr. Armando Madeira Basto, da Assessoria de Imprensa do Palácio do Governo.21

As primeiras obras reeditadas pelo Plano foram Lira Sertaneja, de Hermínio Castelo Branco e os quatros volumes das Pesquisas para a História do Piauí, de Odilon Nunes.22 A primeira de caráter literário e a segunda, histórica. Para Iara Moura, que analisou as relações entre escrita histórica e instituições político-culturais no Piauí na segunda metade do século XX, “o critério utilizado para a escolha das obras literárias e históricas, era a identificação no perfil autorizado pelo Estado, isto é, obras que abordassem os principais eventos ocorridos no Piauí, com a finalidade de discutir as raízes da piauiensidade, construindo uma história patriótica, que exaltasse os feitos de seus ‘heróis’”.23

Em 1972 quando da reedição da obra Lira Sertaneja, Celso Pinheiro Filho - membro da Academia Piauiense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico Piauiense - assim considerando a obra e seu autor, Hermínio Castelo Branco, como aquele que:

[...] conseguiu fundir, em seus versos, a paisagem humana na [paisagem] da natureza, não como imagens superpostas, mas como um todo. Na descrição dinâmica de uma vaquejada e de uma farinhada, ninguém o iguala, e dificilmente poderá ainda ser igualada [...] Cada um de nós se sente parte integrante no vaqueiro e no lavrador de Hermínio.24

A descrição e a importância dadas ao texto de Hermínio Castelo Branco foram ainda destaque do jornalista e historiador Clodoaldo Freitas em sua crítica à Lira Sertaneja, feita no

21 Idem.

22 Obras publicadas pelo Plano Editorial do Estado: Obras Literárias Canções de hoje-Canções de outrora, de

Cristina Leite; Lira sertaneja, de Hermínio Castelo Branco; Tombador, Fontes Ibiapina; Epopeia camoniana, Martins Napoleão; Antologia de sonetos piauienses, Félix Aires; O Piauí na poesia popular, Félix Aires; Vila de Jurema, William Palha Dias; Nas ribas do Gurguéia, Artur Passos; Viagem ao Dicionário, A. Tito Filho; Esmaragdo de Freitas, homens e episódios, Tito Filho; Deus e a Natureza em José Coriolano, Tito Filho; Zito Baptista, o poeta e o prosador, Tito Filho; Lima Rebelo, o homem e a substância, Tito Filho; Perfis, J. Miguel de