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O IMPACTO DAS DIFICULDADES FINANCEIRAS: A BUSCA POR MEDIDAS

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CAPÍTULO 3 PROJETOS COMUNITÁRIOS E DESENVOLVIMENTO DE NOVAS

4.11 O IMPACTO DAS DIFICULDADES FINANCEIRAS: A BUSCA POR MEDIDAS

Nos primeiros anos, o Colégio Santa Teresa se matinha financeiramente com a ajuda de algumas doações, mensalidades irrisórias, trabalho voluntário e o acordo firmado com a COLONE, responsável por contribuir no pagamento de alguns professores.

Quando os irmãos iniciaram seu trabalho, conseguiram uma valorosa colaboração da Congregação Lassalista, que também lhes davam uma remuneração mensal para o sustento pessoal.

Embora a escola cobrasse uma mensalidade simbólica, as famílias, a exemplo da minha, dependiam das lavouras para obter algum tipo de renda. O que os meus pais plantavam na roça, era suficiente apenas para o nosso sustento, e, além disso, o fato de sermos seis irmãos dificultava o pagamento das mensalidades. Mesmo assim, todos nós permanecemos lá até concluirmos o magistério. Geralmente, meu pai só conseguia quitar as mensalidades no final do ano. Essa era, portanto, a realidade na qual vivia a maioria dos moradores.

Com o crescente número de alunos, e tendo em vista as dificuldades financeiras das famílias, aumentar a mensalidade estava fora de cogitação. Por isso, apesar de toda a ajuda prestada, o que se arrecadava mal dava para cobrir os gastos e despesas da escola.

A sobrevivência da escola sempre foi difícil. Os alunos, na medida das possibilidades dos pais, têm pago taxas, geralmente simbólicas. A Província Lassalista de Porto Alegre tem contribuído para cobrir normalmente algo mais de 50% dos gastos realizados na escola. Os irmãos, para poderem fazer face às suas despesas ordinárias, costumavam receber um suplemento mensal, enviada pela Província Lassalista de Porto Alegre, conforme uma previsão orçamentária enviada à sede cada início do mês. (THIEL e WOLLMANN, 2000, p. 102).

Em 1988, a COLONE retirou a sua contribuição, situação que comprometeu ainda mais o orçamento do colégio. As seis professoras que o órgão pagava, mesmo ciente das condições, ou seja, de que o Colégio Santa Teresa não poderia lhes pagar melhor salário, escolheram e decidiram permanecer, dando continuidade ao trabalho docente.

Ao início a comissão de Moradores contava com um Convênio com a COLONE para ajudar no pagamento de alguns professores da escola. Em 20 de outubro de 1988, a referida Comissão escrevia à direção da Província Lassalista informando que a COLONE havia despedido as seis professoras que mantinha na instituição junto com outros 174 da região. Que as mesmas havia cinco meses estavam trabalhando sem salário. E informava mais: “Há pouco, recusaram proposta do Prefeito que lhes

ofereceu emprego até o fim do ano em troca de voto e do engajamento político com seus candidatos corruptos e exploradores. Aceitar esta proposta seria romper com a Comunidade de Base e dos moradores da vila. Preferiam a fidelidade e a fome a trair seu povo e sua comunidade, digo, sua consciência. Assim continuam na Escola e nós não queremos abandona-las, pois elas não nos abandonaram”. Em decorrência, a Comissão dos Moradores apelava para a ajuda da Província para manter essas professoras pelo menos até o fim do ano. (THIEL e WOLLMANN, 2000, p. 102). Ainda com esses impasses “procurou-se sempre conservar as instalações físicas e até ampliá-las (por exemplo, acrescentou-se mais uma sala de pré) e incrementar a qualidade do ensino, pela introdução de recursos técnicos mais modernos (por exemplo, em 1996, através do programa TV-Escola, o Governo Federal)”. (THIEL e WOLLMANN, 2000, p. 102).

Com a criação do município, os irmãos procuraram o prefeito José Soares Monte Neto e o fizeram a proposta de que este fornecesse subsídios e apoio ao colégio, deixando clara a condição de sua autonomia administrativa, ou seja, sem intervenção do poder público ou a municipalização. O prefeito por entender que a direção interviu na campanha eleitoral, formando oposição a ele, não recebeu de boa vontade o pedido de ajuda. Após rever, aceitou doar um percentual de bolsas, em que a distribuição ficou a critério dos Irmãos Lassalistas. Porém, o repasse era feito diretamente da prefeitura para os pais ou responsáveis de alunos.

Olha, quando aqui passou à cidade, quando foi desmembrado de Santa Luzia, a escola teve um sério problema entre a prefeitura e a escola. A administração achava que a escola fazia um trabalho de oposição à administração, que não era isso. A escola tinha uma visão diferente das coisas, e aí com muita luta, muito jogo de cintura por ambas as partes houve uma ajuda da parceria da prefeitura com a escola pra doar algumas bolsas para os alunos mais carentes. (Professor Coimbra, depoimento 75).

Um grupo de ex-alunos, que já estavam formados e empregados, baseados no espírito de solidariedade e na expressão viva do lema do colégio, teve a iniciativa de adotar financeiramente aqueles que não podiam pagar a mensalidade, conforme a professora Mariazinha confirma em seu depoimento.

Olha, a escola Santa Teresa, ela era uma escola de comunidade, então os pais eram quem pagava a escola. Tinha pai que tinha muito filho e não tinha condição de pagar pra todo mundo todo mês, aí ficava se atrasando, né? [...] a escola Santa Teresa teve muita ajuda. De bolsas...Muitas pessoas ajudavam. Meu filho, Paulo, quando ele se formou que ele ganhou o emprego dele, nos primeiros anos ele deu dois anos de bolsa pra escola. Dez bolsa pra escola. E muitas pessoa dava bolsa, merenda, quando não tinha merenda. Porque quando a Colone fechou, [...] Que acabou a parte da educação, então aquela merenda se acabou, então ficou difícil dar merenda pros

75 Professor Antônio Ferreira Coimbra (conhecido como Professor Coimbra) em Presidente Médici em 28 de janeiro de 2016.

alunos. Aí a gente era que tinha que arranjar. Tinha que fazer bingo, essas coisas, pra comprar merenda, aquela dificuldade... (Professora Mariazinha, depoimento76).

Outra tentativa de superar o déficit se deu por meio de um contrato firmado em 2001, com o prefeito Sebastião Guimarães (conhecido pelo nome popular de Sebastião Falafina) que se dispôs a solucionar o problema. A escola manteve sua independência e a prefeitura assumiu os custos do aluguel do prédio e a folha de pagamento dos funcionários. Com a isenção das mensalidades, o número de alunos deu um salto significativo, e houve a necessidade de construir mais duas salas de aula.

No mandato seguinte, o prefeito Antônio Pinho (Antônio da Paraense), prosseguiu com o contrato por mais dois anos, até a finalização da edificação do novo colégio municipal, que recebeu o nome de “Unidade Integrada Municipal Santa Teresa”. Basicamente os professores que trabalhavam no Colégio Santa Teresa foram transferidos para a escola, pois muitos estavam concursados ou eram contratados públicos.

Nesse período, os irmãos entregaram a direção do Colégio Santa Teresa para a Associação de Moradores e construíram uma sede própria e começaram a atuar nela. Onde oferecem hoje, oficinas e cursos diversos para a comunidade.

O irmão Reinaldo Oliveira assumiu o cargo de diretor e coordenador pedagógico na escola do município, já citada até 2010, quando saiu para trabalhar em Moçambique, na África. E no governo da prefeita Gracélia Holanda, o Irmão Glicério foi convidado a ocupar o cargo em 2013, no qual permaneceu por um ano. Depois disso, os irmãos se dedicaram integralmente ao Centro Educacional La Salle.

A escola, ainda tentou sobreviver oferecendo somente o segundo grau, buscando, estabelecer convênios com o governo estadual, tentativa frustrada, de pouco êxito, e com o trabalho voluntário de alguns professores. Essas medidas não foram suficientes para conseguir manter o colégio funcionando por muito tempo. Além de verbas para pagar os funcionários, custear materiais didáticos e pedagógicos, o prédio precisava de uma ampla reforma. Em dezembro de 2015, sem possibilidades financeiras de se sustentar, o colégio não viu outra saída, senão, fechar as portas.

76 Professora Maria do Carmo da Silva Lima (conhecida como professora Mariazinha) em Presidente Médici no dia 27 de janeiro de 2016.

4.12 O COLÉGIO NO ALVO DAS DISPUTAS POLÍTICO-PARTIDÁRIAS: TROPEÇOS

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