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CAPÍTULO 2. EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO DO DEFICIENTE AUDITIVO

2.2 O INÍCIO DA EDUCAÇÃO DOS SURDOS NO BRASIL

Como aconteceu na Europa e nos Estados Unidos, o Brasil também reconheceu a necessidade do surdo em ter uma educação especial, voltada para suas necessidades, e foi através do olhar visionário do então imperador do Império do Brasil, que teve início a história da educação de surdos em nosso país.

Apesar de tal fato não ter sido confirmado, Segundo Strobel (2008, p.89), “deduz-se que o imperador D. Pedro II se interessou pela educação dos surdos devido ao seu genro, o Príncipe Luís Gastão de Orléans, (o Conde d’Eu), marido de sua segunda filha, a princesa Isabel, ser parcialmente surdo”.

Convidado por Dom Pedro II, Ernest Huet, um professor surdo francês e sua esposa chegam ao Brasil, em 1855, com o objetivo de fundar uma escola para surdos. Em 26 de setembro de 1857, no Rio de janeiro, é criado o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos no Rio de Janeiro, hoje conhecido como Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Lá surge a LIBRAS, uma mistura da língua francesa de sinais com o sistema utilizado em várias regiões do Brasil (Strobel, 2009, p. 24).

O pedagogo Ernest Huet, após cinco anos, afasta-se do Instituto Nacional de Educação de Surdos, em 1861. O Instituto foi administrado por três diretores que ficaram por pouco tempo, à exceção de Manoel de Magalhães Couto, e institui um regulamento provisório. (Rocha, 2007, p. 35)

Em 1868, o Dr. Tobias Leite, exonera Manoel Magalhães depois de constatar que lá não havia ensino, mas funcionava como um asilo aos surdos; assim assume o Instituto interinamente pelo período de 1868 a 1872, passando a favorecer a educação dos surdos, efetivado em 1896, permanecendo até sua morte.

Foi ainda, na gestão do Dr. Tobias que, em 1875, Flausino José da Gama, surdo “repetidor”, ex-aluno do Instituto, aos 18 anos, publica a Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos, o primeiro dicionário de língua de sinais no Brasil. Tornando-se uma das figuras mais importante para a constituição da língua brasileira de sinais por intermédio de sua produção. (Sofiato & Reily, 2011, p. 626)

Por todo o Brasil, inúmeros surdos destacavam-se em várias atividades. No ano de 1932, o escultor surdo, Antônio Pitanga, formado pela escola de Belas Artes, foi vencedor dos prêmios, Medalha de prata e de ouro e o prêmio viagem à Europa. Em 22 de setembro de 1951, o surdo, Vicente de Paulo Penido Burnier foi ordenado como padre.

Em 06 de julho de 1957, por Decreto imperial, Lei 3.198, o “Imperial Instituto dos Surdos-Mudos” passou a chamar-se “Instituto Nacional de Educação dos Surdos” – INES. Nesta época a Ana Rímola de Faria Daoria, assessorada pela professora Alpia Couto assumiu a direção do INES, tendo por primeiro ato proibir a língua de sinais nas salas de aula. Apesar da proibição, os alunos surdos continuaram usá-la nos corredores e nos pátios da escola.

Os surdos e ouvintes engajados na educação da LIBRAS, passaram a se organizar, e no ano de 1977 foi criada a Federação Nacional de Educação e Integração dos Deficientes Auditivos (FENEIDA), formada por ouvintes compromissados com a problemática da surdez. Em 1994 foi fundada a CBDS, Confederação Brasileira de Desportos de Surdos, em São Paulo- Brasil.

A partir do período de 1980 até 1990, renasce no Brasil o uso dos sinais, mais precisamente a filosofia educacional chamada de Comunicação Total, (Ciccone, 1996, p. 06-08). As escolas especiais iniciaram, paulatinamente, o uso de sinais, já que elas estavam enraizadas no oralismo. Aos surdos se deu voz e os professores ouvintes passaram a aprender os sinais com seus próprios alunos. A

língua de sinais no Brasil ainda não era oficial, além de não ser entendida legalmente como uma Língua. (Mori & Sander, 2015, p.11)

A evolução das normativas assegurando os direitos dos surdos teve início, com o advento da Constituição Federal de 1988, nos artigos 205 e 208, bem como a LDB – Lei de Diretrizes e Bases, nos artigos 4º, 58, 59 e 60, afiançaram às pessoas surdas o direito a igualdade de oportunidade no processo educacional. Contudo, isso não tem sido uma realidade nas nossas escolas brasileiras.

Outras normas foram surgindo a Lei nº 10.098 de 19 de dezembro de 2000, ainda em vigor, refere à educação de todas as pessoas com deficiência, estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas deficientes ou com mobilidade reduzida; aparece pela primeira vez, alguns termos da língua que são usados até hoje: intérprete, língua de sinais, guia intérprete.

Outro marco jurídico importante é o Decreto nº 5.626/2005 que regulamenta a Lei n°10.436 de 24 de abril de 2002, trata de um documento específico sobre o uso e a difusão da LIBRAS, como uma língua oficial no país. A língua portuguesa deve ser estudada para ser lida, interpretada e escrita por parte dos surdos, porém, não falada. (Mori & Sander, 2015, p. 8-12)

Este diploma traz aspectos de extrema relevância a LIBRAS: dá-lhe o status de língua, e como tal deverá ser estudada; ministrada como uma disciplina obrigatória em todos os cursos de licenciatura do ensino superior e fonoaudiologia; criou cursos superiores de letras-LIBRAS e de formação para tradutores/intérpretes e garante o acesso à educação, saúde e aos cursos de formação para pessoas surdas. (Mori & Sander, 2015, p. 8-13)

Expressivo progresso trouxe a Lei Brasileira de Inclusão - Lei n. 13.146/2015 assegurando a cidadania das pessoas com deficiência ao tratar de

questões relacionadas à acessibilidade, à educação, o trabalho, o combate ao preconceito e à discriminação. No âmbito da inclusão escolar, a Lei obriga as escolas privadas a acolher os estudantes com deficiência no ensino regular e a adotar as medidas de adaptação necessárias; por conseguinte esta medida fomenta a valorização do tradutor- intérprete no meio acadêmico.

Foram grandes conquistas, se considerarmos que no Brasil até o ano de 2001, os surdos eram privados de seus direitos como cidadão, situação que perdurou até o fim da vigência do antigo Código Civil Brasileiro, em 2002, que considerava os surdos absolutamente incapazes (Moura & Lodi & Hanrison, 2005, p. 341-363).

Todos os Diplomas legais voltados à inclusão dos deficientes foram documentos históricos inolvidáveis para a educação, para a cidadania, para a cultura e identidades surdas em nosso país. O Brasil alcançou notável evolução no campo da educação e dos direitos das pessoas surdas, pois possui uma legislação moderna, aberta, democrática e que contempla as necessidades desta comunidade.