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O INÍCIO DA TESHUVAH E A DENOMINAÇÃO CONGREGAÇÃO

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Foi na Igreja de Deus (7° Dia) do Brasil22, em sua sede localizada na cidade de Curitiba, que em 2004 iniciou-se o processo de Teshuvah (retorno às raízes judaicas). Tal processo tem como marco a chegada de Periclis de Souza, um jovem estudioso da cultura e religiosidade judaicas, que foi convidado por Altair Junqueira, para ensinar em sua congregação danças judaicas e a língua hebraica. Nascia assim, uma parceria muito profícua entre líderes que combinavam experiência e juventude. Este encontro desencadeou na Igreja de Deus (7° Dia) do Brasil o processo de Teshuvah, que perfaz uma década com consequências marcantes para toda a comunidade.

A adesão à Teshuvah foi aprovada pela maioria dos líderes da IDSD do Brasil, mas não foi uma decisão unânime, o que levou a um processo de cisão que deu origem a outro segmento. A facção dissidente, por não aceitar a Teshuvah, afasta-se da instituição e mais tarde funda A União Nacional das Igrejas de Deus (7º

Dia) no Brasil (UNID). “Organizada em data de 30 de dezembro de 2005, com sede

e foro na cidade de Curitiba Paraná”. 23 Tal grupo explica que a cisão e a criação de outra organização religiosa foram consequências da imposição da Teshuvah, a qual pejorativamente rotula de “judaização”. Os dissidentes também criticam a forma como a adesão à Teshuvah foi conduzida, reputando-a como uma manobra irresponsável promovida pelos dirigentes da Igreja de Deus (7° Dia) do Brasil.

Surgiu de maneira irresponsável, o anseio de alguns em aderir a doutrina da judaização no ano de 2004. Irresponsável, pois não houve estudos diligentes que o caso exigia. Uma doutrina totalmente estranha de quando os primeiros fiéis foram batizados. [...] os verdadeiros adoradores de Deus não ficaram omissos e com coragem os detentores da mensagem que chegara ao Brasil de maneira pura e irrepreensível continuaram com a mensagem da verdade.24

Esta mesma fonte alude a outros momentos de dissidências, indicando que a Igreja de Deus (7º Dia) do Brasil, tal como a Igreja de Deus (7º Dia) dos Estados

22 A comunidade da Igreja de Deus (7º Dia) de Curitiba, que atualmente se identifica como

Congregação Israelita da Nova Aliança, é composta por profissionais liberais, geralmente classificados como classe média.

23 Disponível em: http://www.igrejasdedeus7dia.com.br/quemsomos.php. 24 Disponível em: http://www.igrejasdedeus7dia.com.br/quemsomos.php.

Unidos, está se caracterizando pelo pluralismo, como consequência dos reiterados processos de cisões e divisões.

Em 2004, o motivo alardeado para a cisão foi a Teshuvah. O grupo liderado por Altair Junqueira e Periclis de Souza, a favor do retorno às raízes judaicas, constituía ampla maioria, por isto manteve a posse do patrimônio da instituição e o direito de continuar usando a denominação “Igreja de Deus (7º Dia) no Brasil”. Mas com o avançar do processo de Teshuvah esta comunidade passou a identificar-se, cada vez mais, com a religiosidade e tradição judaicas. Assim, considerando que o nome “Igreja de Deus (7º Dia)” não mais representava adequadamente a comunidade nesta nova fase, considerou-se necessária uma mudança no seu título de divulgação. Então, em 2007 oficializou-se a nova denominação: Congregação Israelita da Nova Aliança (CINA).

Foi através do Programa Israelita da Nova Aliança que a CINA conseguiu fazer simpatizantes e membros em diversas regiões do Brasil. Durante cerca de oito anos, este programa foi transmitido para todo o país, via satélite, sendo captado pelas antenas parabólicas. Neste espaço na TV aberta foram divulgados ensinos e interpretações da Bíblia. Com marcas explicitamente exclusivistas, o conteúdo era exposto com um tom provocativo e irônico, desafiando telespectadores que pertenciam a outras denominações religiosas. Através do Programa Israelita da Nova Aliança e de outras formas modernas de divulgação, a CINA conquistou prosélitos em vários estados brasileiros e países vizinhos. O programa mostrava, no intervalo dos estudos bíblicos divulgados, as imagens dos batismos (Tevilot) realizados em várias cidades. Esta expansão de forma difusa pelo território brasileiro criou a demanda de uma logística complexa para o atendimento da membresia.

Hoje, a CINA não mais transmite o programa pela TV aberta. Seus investimentos estão sendo concentrados no sistema de transmissão dos serviços religiosos ao vivo. É a TV Israelita, que por transmitir via internet tem alcance mundial. Esforços estão sendo despendidos em promover a Teshuvah a grupos religiosos da África, Caribe, Europa e Estados Unidos.

A Congregação Israelita da Nova Aliança – Administração Nacional em Curitiba-PR conta com cerca de 150 representações em todo o país e com um sistema centralizado que visa atender a todos os grupos, congregações,

membros isolados e pessoas interessadas em conhecer e unir-se ao povo e ao D’us de Israel.25

As questões relativas ao governo da instituição têm sido afetadas pelo processo de retorno às raízes judaicas. A concentração das decisões administrativas na sede de Curitiba intensificou-se com a Teshuvah. A centralização e a burocratização da instituição representam um rompimento com a tradição de suas origens. A Igreja de Deus (7º Dia), instituição na qual começou o processo de

Teshuvah, tem historicamente uma tradição autonomista em que as congregações

locais possuem independências políticas, administrativas e financeiras. A opção pela racionalização e burocratização institucionais parece buscar atender ao interesse dos sacerdotes em avançar com o processo de Teshuvah em território nacional e outras regiões do mundo.

A liderança da Congregação Israelita da Nova Aliança não divulga o número de seus membros, apenas faz referência a cento e cinquenta representações que abrangem Beit (Casa), congregações e grupos de estudos. Em uma Beit vigora o sistema sinagogal, há estrutura e pessoal capacitados, instruídos e autorizados para ministração dos ritos judaicos. Já as congregações têm um funcionamento mais semelhante ao de uma igreja e nem toda ritualística judaica pode ser realizada. Os grupos de estudos são formados por poucos membros e interessados. Reúnem-se, principalmente, para assistir as transmissões dos serviços, direto de Curitiba, e para receberem instruções visando o processo de Teshuvah. A CINA possui também membros isolados em várias regiões do país que são atendidos por um sofisticado sistema de transmissão dos cultos ao vivo, via internet.

Atualmente (2012) somos cerca de 150 representações, entre grupos e congregações espalhadas por todo o Brasil e nosso propósito é a promoção da teshuvah (retorno às raízes judaicas) e a divulgação do único e verdadeiro Deus, O Deus de Israel. [...] Além do Brasil, a convite, estamos atuando entre nossos amigos aliados líderes religiosos de diversos países, como os Estados Unidos, Ilhas do Caribe, Kenia, Sudão, Nigéria, África do Sul, Inglaterra, Portugal, etc., ajudando-lhes no processo de teshuvah. 26

Em Goiânia a Congregação Israelita da Nova Aliança conta com uma congregação que se reúne em prédio próprio, local onde foram feitas observações

25 Disponível em: http://www.israelitas.com.br/home/colabore.php. 26 Disponível em: http://www.israelitas.com.br/institucional/quem.php.

sobre a ritualística, filosofia e cotidiano deste segmento religioso que serão apresentadas, especialmente, na última parte deste trabalho.

Depois de conhecer um pouco da história e particularidades desta expressão religiosa é possível avançar com relação às questões fundamentais desta pesquisa: em que consiste a Teshuvah, como se pode caracterizar este processo que já dura uma década? De que maneira uma comunidade, pertencente ao contexto da cultura ocidental brasileira, está assimilando os mitos, símbolos, ritos e tradições do judaísmo? E quais os impactos deste processo na vida cotidiana dos seus adeptos?

3 A TESHUVAH, A REDEFINIÇÃO DA IDENTIDADE E OS MECANISMOS DE LEGITIMAÇÃO DOS ISRAELITAS DA NOVA ALIANÇA

Este capítulo visa caracterizar a experiência nomeada como Teshuvah, vivenciada pelos membros da Congregação Israelita da Nova Aliança. Inicialmente apresentando os elementos que envolvem a construção de uma identidade, pretensamente judaica, que vem sendo estabelecida a partir da Teshuvah, para em seguida, promover uma reflexão sobre os mecanismos que a comunidade tem acionado no intuito de legitimá-la.

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