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Capítulo 5. Os resultados

5.5. A descrição da atividade

5.5.1. O início do corte

Para iniciar a operação, como mostra o fluxograma 1, o operador precisa posicionar a máquina dentro da linha (ou rua) de cana a ser colhida, realizando inclusive manobras, caso seja necessário. Em seguida, o operador aciona todos os implementos da máquina e somente quando for iniciar o corte deve aumentar a aceleração:

“Tem que fazer a manobra em 1500 rpm, abaixo disso força a máquina. (...) E a de 2000 é a de trabalho, é só pra cortar”.

Cabe ressaltar que o despontador é acionado por um botão que permite a escolha da sua rotação tanto para o lado direito, quanto para o lado esquerdo. Assim, dependendo da posição em que a máquina está o operador aciona o despontador de modo que as pontas da cana sejam sempre jogadas para o lado já colhido:

“Fica ruim jogar a palha pro lado da rua que eu ainda vou cortar porque depois eu pego ela de volta, não vai conseguir limpar tudo (...) fica muita palha na hora que vai colher”.

Se necessário, o operador também realiza ajustes nos mecanismos da máquina. Estes ajustes ocorrem quando há transferência de talhão, quadras ou mesmo níveis, em casos onde a idade e as características da cana plantada variam.

O operador ajusta a inclinação (ântero-posterior) e altura dos divisores de linha de modo que possibilite levantar a cana acamada/ deitada da linha a ser cortada e também de modo a separar os colmos emaranhados das outras linhas de cana.

“Os pirulitos dependem da cana, porque se ela tiver em pé, a gente nem usa, né? Agora se tiver deitada pros dois lados, coloca os dois [pirulitos]. Se não, por exemplo, caída pra um lado só, usa só um lado. Porque a função do pirulito é levantar e desembaraçar a cana. (...) E tem dois juntos, né? Os de fora, que joga pra fora a outra linha e os de dentro, que joga pra dentro, levanta a cana e o cortador pega”.

Além disso, os divisores precisam ser regulados de forma que os divisores apenas toquem o solo, pois senão eles sulcam o solo pegando terra:

“Os divisores não podem ficar pegando terra, carcando no chão, tem só que riscar o chão, relando nele, porque ele ajuda a mandar terra pra usina, ele joga terra pra dentro da máquina”.

“Os divisores tem só que flutuar. Porque se você deixar ele muito no chão, ele vai fazer uma leira de terra, dos dois lados e a hora que passar pelo corte de base ali, o disco vai puxar tudo a terra”.

Também ajusta a altura do despontador, de modo que corte apenas as folhas da cana, preservando o máximo do colmo, e, portanto, descartando o mínimo possível do palmito:

“Não pode abaixar muito porque no palmito já tem cana, então tem que cortar bem na parte de que só tem folha, se não, joga cana fora”.

Ainda, o operador também ajusta a altura do corte de base, o qual é permitido pelas suspensões presentes na parte anterior da máquina. Este último é crucial, pois a parte do colmo mais próxima do solo é a mais rica em sacarose por isso, o corte deve ser realizado, de preferência, rente ao solo.

Para saber se altura do corte está ideal, o operador se baseia em uma régua numerada de 1 a 8, com um óleo em seu interior, que acusa o nível de elevação da frente da máquina: quanto maior o número, mais elevada e menor a pressão de corte. Neste momento o operador aumenta a aceleração e realiza tentativas de corte, que de certa forma, podem ser cada vez mais acertadas de acordo com a experiência. Assim, o operador colhe uma quantidade de cana como teste, dá ré e observa se a altura da touceira deixada está satisfatória:

“Por exemplo: aqui nesse terreno eu vou entrar pra cortar no 3, aí eu corto um pouco, levanto a máquina, dou ré e olho o que eu cortei pra ver se tá ficando bom. Se tá bom, eu vou no 3; se o sepo tá muito alto, eu tô errado, aí eu abaixo mais um pouco, no 2, e corto mais um pouco, aí de novo levanto e afasto pra ver se tá bom, se tá, dá pra ir assim”.

“Os 10 metros que você corta de teste antes de começar você tem uma noção. Por exemplo: eu tô no terreno, eu não sei como que tá o terreno, então faz esse teste. E não adianta também, às vezes você pulou o nível, você tem que fazer esse teste, porque as linhas de baixo pode estar diferente, pode ser uma variedade diferente de cana, né? Pode ser feito sulcado diferente também, preparo diferente, então esses 10 metros são sempre indicado pra você ver se o serviço tá ficando bom ou não”.

Esta análise da altura do corte é realizada de dentro da cabine (figura 14) e através de uma representação que o operador detém sobre o tamanho ideal da touceira:

“Daqui de cima a gente tem uma noção mais ou menos da altura... tem usina que tem tolerância de até 3 dedos pro toquinho, porque aí você não tá perdendo cana”.

Figura 14. Análise da altura de corte de base de dentro da cabine (em destaque: touceira deixada após o corte)

Além disso, com será descrito adiante, a determinação da altura do corte varia de acordo com as características da cana, terreno e do tipo de solo em questão.

Depois de ajustar a altura do corte, o operador buzina para o tratorista, sendo este o sinal para iniciar a colheita com o deslocamento simultâneo de ambas as máquinas. A fim de evitar colisões, o operador só gira o elevador posicionado sua saída sobre o transbordo após se certificar de que o transbordo já está em posição de receber os rebolos de cana.

Caso o transbordo ainda não esteja posicionado, o operador corta a cana e acumula os rebolos no cesto sem acionar a esteira do elevador (figura 15). Entretanto, os espelhos retrovisores não mostram o cesto, logo, os operadores desenvolvem uma representação da quantidade de cana a ser cortada sem entupir o cesto, ou “embuchar o bojo”:

“A gente se baseia mais ou menos... Se cortar demais sem ligar a esteira, entope o bojo, aí tem que desligar a máquina e descer desentupir. (...) A gente não tem visão do bojo, tem que basear mesmo...”.

Figura 15. Acúmulo de rebolos de cana no cesto do elevador

Este conhecimento também é utilizado enquanto os operadores acertam a altura do corte, após as manobras e também no corte de linhas de cana curtas, descrito mais adiante.

Quando o operador percebe que o transbordo já está posicionado, ele gira o elevador sobre o transbordo e então simultaneamente, aciona a esteira para iniciar a descarga dos rebolos e segue cortando aquela linha de cana (figura 16). Cabe ressaltar que, em caso de terrenos com declividade, que será descrito posteriormente, o elevador já fica posicionado sobre o transbordo para o equilíbrio da máquina.