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Capítulo 2. A cultura da cana-de-açúcar e o corte mecanizado

2.3. A máquina colhedora de cana-de-açúcar

2.3.1. Surgimento da máquina colhedora de cana-de-açúcar

Segundo Ripoli e Ripoli (2004), as primeiras máquinas que surgiram para o corte de cana foram chamadas de cortadoras, depois vieram as cortadoras-enleiradoras, as cortadoras- amontoadoras e finalmente, as colhedoras. As cortadoras são máquinas caracterizadas por realizar apenas o corte basal (algumas também podem fazer o corte apical) e deixar o material cortado sobre o terreno. As cortadoras-enleiradoras realizam o corte basal dos colmos e cortam também o ponteiro, depositando então os colmos no terreno na forma de esteira para facilitar o carregamento mecânico. Já as cortadoras-amontoadoras diferenciam-se das anteriormente citadas com relação ao depósito dos colmos, que é feito em montes, espaçados uns dos outros, ao invés de esteiras. Por fim as máquinas colhedoras de cana picada, também denominadas de combinadas, realizam o corte basal, promovem a limpeza da cana através da insuflação (pela ação de ventiladores e/ou exaustores), e picam os colmos em rebolos de 15 a 40 cm de comprimento (em média) descarregando-os sobre uma unidade de transporte ou transbordo.

A primeira cortadora foi patenteada em 1854 no Hawai, era tracionada por um par de mulas e além de cortar a cana, removia folhas e palhas dos colmos com uma escova de arame (FURLANI NETO, 1984 apud CARVALHO FILHO, 2000). Foi também no Hawai onde a

primeira cortadora auto-propelida foi introduzida, por Henry G. Giancana em 1906. Esta região se destacou no desenvolvimento de máquinas devido à elevada escassez de mão-de-obra e dos altos custos do corte manual, uma vez que em 1925 foram encontrados pelo comitê da Associação de Usineiros do Hawai 286 tipos diferentes de máquinas para cortar, desfolhar e limpar a cana (HUMBERT, 1974 apud LEÓN, 2000). Assim, em 1942, 67% da safra já era colhida por seu sistema adaptado, constituído por lâminas em “V” que cortavam os colmos e os empurravam, formando grandes montes, recolhidos por máquinas equipadas com grades em garras ou dentes (ALVES et al, 1997 apud VEIGA FILHO, 1998). E, em meados de 1950, juntamente com a Louisiana, o Hawai atingiu a mecanização completa do corte (VEIGA FILHO, 1998).

A Austrália também enfrentou escassez na mão-de-obra, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, em 1945, que forçou os fornecedores a inventar colhedoras para colher suas próprias lavouras de cana-de-açúcar (NEVES, 2003). Foi então que os irmãos Haroldo e Colin Toft iniciaram a produção de colhedoras na Austrália (SEVILLA, 2010). As primeiras máquinas produzidas pelos irmãos Toft colhiam cana inteira (wholestalk harvesters semelhante às em uso nos EUA e Cuba) e formavam montes de 750 a 1000 kg para serem carregados (VEIGA FILHO, 1998; NEVES, 2003). A produção de várias colhedoras de cana inteira de uma e duas linhas pelos irmãos Toft seguiu durante os dez anos seguintes até que em 1968 a empresa lançou na Austrália a primeira colhedora de cana picada: a CH200 (NEVES, 2003). Essa colhedora construída no conceito chopper harvesters, representou uma evolução frente às colhedoras de cana inteira e permitiu juntar em um único processo as operações de corte e carregamento, princípio utilizado atualmente no Brasil (NEVES, 2003; BRAUNBECK; OLIVEIRA, 2006).

As primeiras experiências de mecanização do corte no Brasil ocorreram no início dos anos 50 com a importação de máquinas dos EUA, do tipo cortadoras de cana inteira (VEIGA FILHO, 1998). Entretanto, sua difusão não foi bem sucedida, pela grande oferta e baixos custos da mão-de-obra, pelos altos investimentos envolvidos, juntamente com a sua inadequação técnica face às características da cana cultivada em São Paulo e sua baixa eficiência em solos acidentados (VEIGA FILHO, 1998). A Santal Equipamentos S/A (primeira empresa a fabricar colhedoras de cana no país) inclusive projetou um modelo de colhedora de cana inteira, porém esta só colhia cana em pé, queimada e sem chuvas ou ventos (MORENO, 2010). Por todos estes

fatores, o início do processo de mecanização da colheita de cana-de-açúcar no Brasil costuma ser localizado em 1973 no estado de São Paulo, quando a Santal lançou em escala comercial a colhedora Santal 115, adaptada do modelo australiano (RIPOLI; VILLANOVA, 1992; MORENO, 2010).

Em 1977 a Toft introduziu a série 1000 (Toft 4000 e Toft 6000), que mudou completamente o conceito de colhedora de cana-de-açúcar, substituindo todos os mecanismos mecânicos por mecanismos hidráulicos (NEVES, 2003). E em 1985, frente à necessidade de se colher cana verde, a Toft já com o nome Austoft lançou a série 7000 inovando no aumento da boca da colhedora em 50%, no rolo picador rotativo e nos sistemas de limpeza, que permitiram colher em cana crua (sem queimar) uma matéria-prima bastante limpa (NEVES, 2003).

Paralelamente nos EUA, a Cameco (atualmente John Deere) lançou em 1994 a colhedora CH2500, com projeto similar ao da Austoft, sendo apenas uma máquina mais robusta, mais reforçada e equipada com um circuito hidráulico para serviço de campo mais pesado, o que permitia menos manutenção em seus componentes durante a colheita (NEVES, 2003). Da mesma forma, a Santal, desde o lançamento da Santal 115, continuou desenvolvendo várias máquinas, apesar da John Deere e da CASE-CHN (como a Austoft é chamada atualmente) serem as principais líderes no mercado brasileiro de colhedoras de cana.

Portanto, à medida que as colhedoras foram sendo desenvolvidas, suas capacidades operacionais de trabalho foram aumentando: rolos picadores com diâmetro maior, introdução de 4 facas picadoras ao invés de 3, ventilador do extrator primário com 4 pás, triturador de pontas em substituição ao despontador convencional, aprimoramento dos circuitos e componentes elétricos e hidráulicos (NEVES, 2003). Assim, dependendo das condições gerais de trabalho, as máquinas podem cortar, picar, limpar e carregar cerca de 30 a 70 t/h operacional de trabalho em cana crua e/ou queimada (RIPOLI; RIPOLI, 2004).

Além disso, as condições de operação também foram aprimoradas, o que pode ser muito bem evidenciado pela figura 7, que mostra uma máquina de 1920, e pela figura 8, que mostram uma das colhedoras atuais. Estas tem cabines isoladas acusticamente, assentos reguláveis com suspensão a ar, joysticks, direção hidráulica, espelhos retrovisores, botões de comando e ajustes, ar condicionado, copiador de solo, displays de temperatura, pressão do corte e até piloto automático.

Figura 7. Máquina colhedora de 1920 (Fonte: KERR; BLYTH, 1993)

Figura 8. Máquina colhedora atual em operação (Fonte: CASE, 2009)