• Nenhum resultado encontrado

1.2 A ABORDAGEM NEOINSTITUCIONAL

1.2.6 O Institucionalismo Sociológico

Hall & Taylor (1996), no desenvolvimento da sua análise acerca dos três institucionalismos ressaltam que, paralelamente ao desenvolvimento da Ciência Política, um neoinstitucionalismo desenvolveu-se na Sociologia. Os autores lembram que o institucionalismo sociológico surgiu no quadro da teoria das organizações, sendo que esse movimento remonta ao fim dos anos 70, no momento em que certos sociólogos contestaram a distinção tradicional entre a esfera do mundo social, vista como o reflexo de uma racionalidade abstrata de fins e meios (de tipo burocrático) e as esferas influenciadas por um conjunto variado de práticas associadas à cultura.

Conforme os autores supracitados, os neoinstitucionalistas começaram a sustentar que muitas das formas e dos procedimentos institucionais utilizados pelas organizações modernas não eram adotadas simplesmente porque fossem as mais eficazes, tendo em vista as tarefas a cumprir, como implica adotar a noção de uma “racionalidade” transcendente. Segundo eles, essas formas e procedimentos deveriam ser consideradas como práticas culturais, comparáveis aos mitos e às cerimônias elaborados por numerosas sociedades.

Conforme Scott (2013) na sociologia, durante o século XX, o papel dos sistemas simbólicos como produto de atividades conjuntas e na forma como o institucional interage com as identidades individuais, foi sendo enfatizado. Scott destaca a importância da influência de Durkheim com as suas contribuições iniciais sobre o caráter variável das bases da ordem social, bem como acerca do papel exercido pelos sistemas simbólicos, a autoridade moral, os sistemas de conhecimento e de crença, identificados como instituições sociais, resultantes da interação humana, elementos estes que estariam bastante próximos das proposições básicas do institucionalismo. Conforme Scott, Weber apesar de não ter utilizado o termo e o conceito de “instituição”, aprofundou-se, também na influência das normas culturais e na importância do caráter histórico das estruturas econômicas e sociais.

De acordo com Carvalho et al (2001) na área institucional, Selznick foi um dos precursores, uma vez que lançou as bases para um modelo institucional que interpreta as organizações como uma “expressão estrutural da ação racional”que ao longo do tempo são sujeitas às pressões do ambiente social e transformam-se em sistemas orgânicos (SELNICK, 1972).

Mas foram os estudos de Berger & Luckmann (2004), acerca da investigação da natureza e da origem da ordem social, em que defenderam que a ordem social está fundamentada na “construção social da realidade”, que lançaram as bases para o desenvolvimento da vertente sociológica da abordagem institucional. Este trabalho de Berger & Luckmann, abriu as portas para o surgimento do novo institucionalismo com trabalhos diversos com profunda relevância para a o neoinstitucionalismo, especialmente para a vertente sociológica (MEYER & ROWAN, 1977); Zucker (1977), Meyer & Scott (1983); Dimmaggio & Powell, 1983), todos, em princípio, a partir do conceito de instituição desenvolvido por Berger e Luckmann (2004).

Com efeito, esta nova orientação propôs que a estrutura organizacional refletia não apenas demandas técnicas e dependências de recursos, mas também que era moldada por forças institucionais, incluindo mitos racionais, conhecimento legitimado, a opinião pública e a lei, sendo a ideia central, a de que as organizações estão profundamente inseridas em ambientes sociais e políticos e as práticas e estruturas organizacionais são frequentemente reflexões ou respostas a regras, crenças e convenções incorporadas ao ambiente mais amplo (POWELL, 2007).

Os argumentos enfatizaram a importância dos sistemas simbólicos, dos scripts culturais e dos modelos para moldar os efeitos institucionais, mas eram um pouco vagos quanto aos mecanismos pelos quais a cultura e a história cimentaram a ordem social e restringiram escolhas organizacionais (POWELL, 2007).

Hall & Taylor (1996) destacam algumas características do institucionalismo sociológico que lhe conferem originalidade relativamente às outras variações do neoinstitucionalismo, a saber: os teóricos dessa escola tendem a definir as instituições de maneira muito mais global do que os pesquisadores em Ciência Política, incluindo não só as regras, procedimentos ou normas formais, mas também os sistemas de símbolos, os esquemas cognitivos e os modelos morais que fornecem “padrões de significação” que guiam a ação humana, rompendo a dicotomia conceitual que opõe “instituições” e “cultura”, levando-as à interpenetração.

Conforme Zucker (1977), essa abordagem tende a redefinir a “cultura” como sinônimo de “instituições”. Conforme Hall & Taylor (1996) na abordagem sociológica do neoinstitucionalismo, as instituições exercem influência sobre o comportamento, tanto em relação ao que se deve fazer, como o que se pode imaginar fazer num contexto dado, ou seja, as instituições influenciam não apenas os cálculos estratégicos dos indivíduos, como sustentam os teóricos da escola da escolha racional, mas também suas preferências mais fundamentais.

Conforme os autores, numerosos institucionalistas enfatizam a natureza altamente interativa das relações entre as instituições e a ação individual, na qual cada pólo constitui o outro. Quando agem conforme uma convenção social, os indivíduos se constituem simultaneamente como atores sociais, ou seja, empreendem ações dotadas de significado social e reforçam a convenção a que obedecem, sendo portanto, um corolário fundamental dessa visão das coisas, a ideia de que a ação está estreitamente ligada à interpretação.

DiMaggio e Powell (1991) ressaltam que a teoria neoinstitucional é caracterizada por quatro elementos principais: a) rejeição aos modelos de ator- racional; b) interesse em instituições como variáveis independentes; c) movimento em direção a explicações cognitivas e culturais; d) interesse em unidades de análise supra-individuais.

Por fim, conforme Hall & Taylor (1996) os neoinstitucionalistas sociológicos distinguem-se pela sua maneira de tratar o problema da explicação do surgimento e da modificação das práticas institucionais. Em oposição aos teóricos do institucionalismo da escolha racional que explicam o desenvolvimento de uma instituição, referindo-se à eficácia com a qual ela serve às finalidades materiais daqueles que a aceitam, os institucionalistas sociológicos sustentam que as organizações adotam, com freqüência, uma nova prática institucional por razões que têm menos a ver com o aumento da sua eficiência do que com reforço que oferece à sua legitimidade social a à de seus adeptos.

Hall & Taylor (1996) ressaltam que os teóricos do institucionalismo sociológico, não raro, estão em melhor posição para esclarecer as dimensões (comportamento/ intencionalidade/ instituições), tendo em vista que por um lado, suas teorias definem as vias pelas quais as instituições podem influenciar as preferências ou identidades subjacentes dos atores, que os institucionalistas da escolha racional têm que aceitar como dadas. Por outro lado, eles nos ensinam que mesmo um ator fortemente utilitário pode escolher estratégias em repertórios dotados de uma especificidade cultural, exprimindo aspectos do impacto das instituições que talvez sejam uma preliminar necessária à ação instrumental.

Conforme Carvalho et al. (1999), o enfoque preferencial do chamado novo institucionalismo – desenvolvido por Meyer, DiMaggio, Scott, Powell e Rowan – sublinha o papel dos processos cognitivos e os sistemas simbólicos cuja importância é confirmada por Scott e Christensen (1995 apud Carvalho et al., 1999, p. 9) ao sustentar que “o estímulo do ambiente deve ser cognitivamente processado pelos atores – interpretado pelos indivíduos empregando sistemas simbólicos socialmente construídos – antes de que possam reagir”.

Para Meyer e Rowan (1977), as organizações possuem tendência a utilizar linhas de ação, conhecidas e racionalizadas na sociedade que permitirá encontrar legitimidade para o exercício de suas atividades e a defesa da sua sobrevivência independente da eficiência ou da demanda de seus produtos, colocando acima do

mercado ou dos aspectos tecnológicos, o contexto, as regras e os significados institucionalizados nas estruturas.

É fato que o institucionalismo sociológico tem como cerne a questão da legitimidade, tendo em vista que os autores desta corrente teórica defendem que a própria emergência de instituições se constitui em um processo de legitimação. Conforme ressaltam Hall & Taylor (1996), o institucionalismo sociológico tem seu foco na dimensão cognitiva do impacto das instituições, concentrando- se na forma como as instituições influenciam o comportamento ao pautarem esquemas, categorias e modelos cognitivos que são indispensáveis à ação, pois sem eles, seria impossível interpretar o mundo e o comportamento dos outros atores.

De acordo com Peres (2008) a retomada das instituições como objeto central de investigação política ocorreu, em grande parte, em função da contraposição de vários cientistas sociais em relação às propostas e às premissas comportamentalistas. Isso se deu, fundamentalmente, devido à concepção de que aquelas, de alguma maneira, moldam ou condicionam o comportamento dos indivíduos, seja por meio de constrangimentos ou mediante restrições. Peres (2008) ressalta ainda que, no caso da Sociologia, o termo mais apropriado é “constrangimento”, na medida em que os desvios às normas sempre são “punidos” por algum tipo de reprimenda moral, quando não, sanção penal.