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2. DA PENA

2.3 A execução da pena no Brasil

2.3.3 O instituto da reabilitação

A imposição de uma pena, mesmo depois de cumprida, gera diversas consequências para o condenado, inclusive de ordem social e moral. Assim, a reabilitação é um instituto jurídico que objetiva garantir ao condenado o gozo de determinados direitos atingidos pela condenação, de modo a facilitar sua reinserção na sociedade.

De acordo com Romeu Falconi45,

O conceito de reabilitação criminal deve estar, entre outras coisas, comprometido com um critério honesto e sincero de solidariedade. Aquele que recorre ao Estado, pleiteando a reabilitação, deixa transparecer uma clara intenção de viver em paz com

44 BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. Tradução de Paulo M. Oliveira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011. p. 121.

seus iguais, seus pares. Então, por que não acreditar nessa primeira e espontânea

manifestação de reconciliação social? É como se o reabilitado quisesse dizer: “chega de contendas; chega de perseguições”.

A reabilitação se revela como um instituto autônomo, sendo disciplinada em um Capítulo próprio no Código Penal, nos artigos 93 a 95. Está disciplinada, ainda, nos artigos 743 a 750 do Código Processo Penal, vigorando neste caso o que não contrariar o disposto no Código Penal.

Ela pode ser utilizada independentemente de qual tipo de pena tenha sido aplicada - privativa de liberdade, restritiva de direitos ou multa- revelando-se como um verdadeiro direito do sentenciado.

É importante salientar que, para requerer a reabilitação, é necessário possuir capacidade postulatória, e o juízo competente para apreciar o pedido é sempre o de primeira instância, ou seja, o que julgou o processo de conhecimento. Além do mais, o condenado deve satisfazer os requisitos elencados no art. 94 do CP, dentre eles estão o decurso do prazo de dois anos contados do cumprimento ou extinção da pena imposta e a demonstração de bom

comportamento.46

A reabilitação tem como objetivo garantir ao condenado o sigilo do processo e de

sua condenação, e ainda, poderá atingir os efeitos da condenação previstos no art. 92 do CP47,

sendo vedada, contudo, a reintegração na situação anterior nos casos estabelecidos pelos

incisos I e II do artigo mencionado.48

Para facilitar o sigilo quanto ao processo e a condenação penal, além do instituto

da reabilitação, foi previsto no artigo 202, da Lei de Execução Penal49, que, após o

cumprimento da pena, o crime não poderá constar de qualquer certidão, salvo quando for necessária para instruir processo pela prática de nova infração penal ou outros casos estabelecidos em lei.

46 BRITO, Alexis Couto de. Execução Penal. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011. 47 Art. 92 - São também efeitos da condenação:

I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:

a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;

b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos. II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado;

III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso.

Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença.

48 BRASIL. Decreto-Lei nº 2848, de 7 de Dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm >. Acesso em 17 mar 2015.

49 Idem. Lei 7210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm>. Acesso em 17 mar 2015.

De acordo com Rogério Greco50, é bem mais vantajoso recorrer ao art. 202 da Lei de Execução Penal do que aguardar o decurso do prazo de dois anos previsto como requisito para requerer reabilitação, ensejando, assim, uma verdadeira inaplicabilidade prática do art. 93 do Código Penal, pois o art. 202 da LEP regula a mesma situação sem ter a necessidade de esperar transcurso de tempo, constituindo-se como um instituto muito mais benéfico e menos burocrático para o ex-apenado.

Guilherme de Souza Nucci51, compartilhando a mesma ideia de Greco, afirma que

o art. 202 da LEP acabou esvaziando a função da reabilitação, não sendo mais necessário ao condenado recorrer a este instituto para apagar os registros criminais em sua folha, ao menos para fins civis, objetivando, assim, preservar de forma mais célere o processo de reintegração do egresso à sociedade.

Já é pacífico, no Superior Tribunal de Justiça, o entendimento segundo o qual as anotações concernentes a inquéritos policiais e ações penais não farão parte da Folha de Antecedentes Criminais, nem de certidão extraída dos livros do juízo, nas hipóteses em que ocorrer a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva, arquivamento, absolvição ou reabilitação. Contudo, os referidos dados não podem ser excluídos dos arquivos do Instituto de Identificação, já que, em virtude, da regra prevista no art. 748 do Código de

Processo Penal52, tais informações podem ser requisitadas pelo Juízo Criminal.53

Além do mais, mesmo para os casos de condenação definitiva e cumprida, ou, ainda, de prescrição da pretensão executória, em que a parte interessada não tenha feito o pedido de reabilitação, o sigilo da Folha de Antecedentes para fins civis é assegurado pelo art.

202 da Lei n.º 7.210/84.54

Percebe-se, portanto, que o próprio ordenamento jurídico brasileiro busca proteger a intimidade do condenado, de modo a garantir o sigilo em relação à condenação pela prática do crime e, assim, facilitar a sua ressocialização após o cumprimento da pena.

50 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 15 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2013. p. 668. 51 NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais comentadas. 7. ed. rev. atual e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. p. 363.

52 Art. 748. A condenação ou condenações anteriores não serão mencionadas na folha de antecedentes do reabilitado, nem em certidão extraída dos livros do juízo, salvo quando requisitadas por juiz criminal.

53 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Ordinário em Mandado de Segurança n. 37503/SP. Quinta Turma. Relator: Ministra Laurita Vaz. Brasília,11 fev 2014. Diário da Justiça Eletrônico. Brasília, 22 fev.

2014. Disponível em: <

https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=33511632&num_re gistro=201200612672&data=20140228&tipo=91&formato=PDF> Acesso em 25 abr. 2015

Diante do que foi exposto, pode-se, inclusive, concluir que tais institutos representam manifestações legais de garantia do direito ao esquecimento, que será melhor abordado no próximo capitulo.

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