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4. Metodologia

4.2 Instrumentos e procedimento de coleta de dados

4.2.1 O instrumento de coleta de palavras da língua inglesa utilizado com

Para a verificação dos padrões silábicos de interlíngua produzidos pelos falantes do sul do Brasil, elaboramos um instrumento de coleta de dados que continha palavras da língua inglesa com as seqüências consonantais que pretendíamos analisar no presente estudo, bem como palavras encerradas, em codas simples, pelos segmentos consonantais que compunham as codas complexas cuja aquisição investigamos. A obtenção dos dados a partir deste instrumento possibilita responder às Questões Norteadoras de 1 a 5, de caráter empírico, apontadas no capítulo introdutório.

O instrumento de coleta de palavras da língua inglesa caracteriza-se por um teste de leitura, em voz alta, de palavras da L2, apresentadas de forma isolada de um contexto frasal. O instrumento conta com quatro tokens para cada um dos types analisados neste estudo. A

listagem completa das palavras investigadas, coletadas a partir do instrumento, pode ser encontrada no Anexo A.

A seleção das palavras do instrumento se deu de fevereiro a abril de 2005. Para a escolha dos vocábulos, utilizamos o dicionário eletrônico Macmillan American English

Dicitonary in CD-ROM. A utilização do CD-ROM se mostrou de grande importância para

esta fase do estudo, uma vez que a versão eletrônica desse dicionário disponibiliza o recurso chamado Sound Search. Por meio desse recurso, podíamos solicitar listagens de todas as palavras do dicionário encerradas por uma dada seqüência consonantal específica da L2.

A partir das listagens fornecidas pelo dicionário eletrônico, a seleção das quatro palavras a serem incluídas no instrumento foi baseada em critérios pré-estabelecidos pelo pesquisador. Procurávamos selecionar palavras monossilábicas, de modo que fossem evitados efeitos de variáveis como número de sílabas e posição do acento tônico na palavra-alvo38. Isso, entretanto, não se fez possível em palavras encerradas pelas seqüências [ps] (ex. eclipse) e [kst] (ex. context), uma vez que a busca eletrônica apontou um número menor do que quatro palavras monossilábicas para cada uma dessas seqüências.

Do conjunto de palavras que obedeciam a esses dois pré-requisitos, quatro delas eram, então, adicionadas ao instrumento, de modo a incluirmos aquelas que acreditávamos ser do conhecimento do aluno. Para isso, foi feita uma verificação do material didático utilizado pelos aprendizes nas duas universidades pesquisadas (Headway English Course vols. 1 e 2), para que, sempre que possível, fossem selecionados itens vocabulares a que os aprendizes já tivessem sido expostos.

38 Uma vez que o presente estudo não se voltou à investigação de palavras polissilábicas, dado o seu caráter de delimitação, julgamos necessário ressaltar a importância de pesquisas futuras que verifiquem a produção de seqüências consonantais em palavras com diferentes números de sílabas, e com acento primário em distintas posições, para que o papel dessas variáveis na produção dos aprendizes brasileiros seja detalhada.

O instrumento conta com o número total de 350 vocábulos39. Dada a grande quantidade de palavras a serem produzidas, o que poderia tornar a coleta longa e enfadonha e, conseqüentemente, afetaria as produções dos aprendizes, o instrumento em questão é dividido em duas partes, a serem aplicadas em dois dias distintos de coleta. O intervalo entre a primeira e a segunda ocasião de coleta não poderia ser maior do que sete dias40. Assim, a primeira parte do instrumento, a ser aplicada no primeiro dia de coleta, apresenta 200 palavras, e a segunda parte contém 150 vocábulos.

A aplicação do instrumento se dava individualmente. Os aprendizes recebiam folhas de papel que continham as palavras a serem lidas. Como tarefa de distração, para que o informante não concentrasse todo o seu foco de atenção na produção fonética das palavras, os participantes eram solicitados a ler as palavras de cada linha do instrumento (4 vocábulos no instrumento aplicado no primeiro dia e 3 no segundo) em ordem alfabética. Os aprendizes eram instruídos a prosseguir a leitura caso viessem a errar a ordem, porém eram solicitados a ler todos os itens da lista.

Os sujeitos eram solicitados, ainda, a realizar uma pausa entre a produção de uma palavra e outra. Além disso, para evitar que a ordem de aparecimento do vocábulo na lista (mais ao seu início ou mais ao seu final) exercesse influência sobre os resultados obtidos, os instrumentos dos dois dias foram organizados em quatro versões – Formas A, B, C e D, respectivamente. A diferença entre cada uma das versões diz respeito à ordem dos conjuntos de palavras apresentados nas folhas. Assim, uma palavra como put, por exemplo, que, no

39 Dado o nosso objetivo de constituir um banco de dados que se mostrasse útil não somente para esta Tese, mas também para a realização de outros trabalhos, o instrumento contou, também, com palavras cuja produção não foi analisada neste estudo, como, por exemplo, seqüências finais bimorfêmicas, codas sonoras e logatomas. A relação completa das palavras utilizadas no instrumento pode ser encontrada nos anexos B e C. Dentre os estudos que fizeram uso do instrumento em questão para a verificação de outras questões de investigação, podemos citar Alves (2005, 2007 a,b,c) e Zimmer & Alves (2007). Fica explicado, assim, o grande número de palavras coletadas por meio do instrumento em questão.

40 A estipulação do período de intervalo máximo de sete dias teve por objetivo evitar que, no segundo momento de coleta, os aprendizes já se encontrassem em um estágio desenvolvimental mais avançado do que aquele em que se encontravam no primeiro dia de obtenção dos dados. Uma vez que os acadêmicos cujas produções foram investigadas assistem a cinco aulas semanais de língua inglesa, acreditávamos que um intervalo maior do que uma semana poderia caracterizar um avanço no grau de adiantamento interlingüístico do aprendiz.

instrumento aplicado no primeiro dia de testes, é apresentada ao final da listagem de palavras na forma D, pode ser encontrada como uma das primeiras palavras na forma A. A versão do instrumento a ser empregada com cada sujeito seguia o ordenamento da coleta de dados; dessa forma, o Sujeito 1 recebeu a forma A (em ambos os dias de testes), o Sujeito 2, a B, o 3, a C, o sujeito 4, a D e o sujeito 5 novamente a A, seguindo-se sempre essa ordem. As folhas de testes fornecidas aos alunos em ambos os dias, em sua forma A, são apresentadas nos Anexos B e C.

As gravações foram realizadas com um gravador de voz digital (marca ‘Gama Power’ – modelo GP-161DVR), que armazenava a voz dos aprendizes em arquivos wav, o que facilitou o trabalho de análise acústica realizado posteriormente.

4.2.2 O instrumento de coleta de palavras do português

O instrumento de coleta de palavras do português surgiu da necessidade de verificação de palavras que, conforme hipotetizado a partir da leitura de Bisol (1999) e Collischonn (2002), são passiveis de serem produzidas, no sul do Brasil, com uma seqüência consonantal, constituída de um segmento plosivo seguido pela fricativa alveolar.

Conforme já discutimos no Capítulo 2, a verificação da produção, ainda que variável, de seqüências tais como [ps] e [ks] mostra-se de grande importância para o entendimento e a análise dos dados de aquisição de L2. Caso seja verificada a produção dessas seqüências, poderemos afirmar que a aquisição de palavras do inglês como lapse e fix implica, apenas, a estabilização de um padrão variável na L1. Poderemos, também, interpretar tais seqüências como segmentos africados, conforme sugerido por Bisol (1999) e Collischonn (2002), o que terá conseqüências bastante importantes para a análise via OT que iremos realizar.

Assim, foram verificadas as produções de palavras que poderiam ser realizadas, ainda que variavelmente, com as seqüências [ps], [ks] e [ts] finais em sílaba átona, tais como em

bíceps e tórax. O instrumento contou, também, com palavras encerradas pelo morfema ‘-s’,

como morfema de plural (ex. botes), o que possibilitou a verificação da possível emergência da seqüência [ts], que, ao contrário de [ps] e [ks], não é obtida a partir da presença de uma seqüência consonantal no input, uma vez que a produção de tal seqüência decorre do apagamento do segmento vocálico que separa /t/ de /s/. A relação das palavras verificadas, organizadas em função da seqüência consonantal, pode ser encontrada no Anexo D.

O instrumento de coleta foi elaborado com base em Hogetop (2006). As palavras eram apresentadas em um contexto de frase, em posição medial ou final de palavra41. Os aprendizes recebiam uma folha com as frases em questão, e então lhes era solicitado que lessem cada uma das frases em silêncio. Após a leitura silenciosa de cada uma das frases, os alunos deveriam repeti-las duas vezes, sem olhar para o papel. Acreditamos que tal procedimento não somente diminua o grau de monitoração dos aprendizes com a própria pronúncia (uma vez que se mostram preocupados, também, com a memorização da frase em si), mas também garanta a produção das frases com uma maior naturalidade, o que facilitaria a produção de seqüências consonantais.

As frases criadas não possuíam vínculo com a realidade. Os enunciados que continham as seqüências-alvo consistiam em seqüências de 6 a 8 palavras. A coleta das produções em língua portuguesa também foi organizada em duas seções. Na primeira, foram lidas 22 frases e, na segunda, 23. Do número total de 45 frases, 9 apresentavam caráter de distração, com o objetivo de impedir o aprendiz de se dar conta de qual aspecto fonético-fonológico estava

41 Após a transcrição dos dados, verificamos que a produção das palavras em posição medial sofre uma

influência considerável do segmento consonantal que as segue, sobretudo se esse for sonoro. Como não é nosso objetivo verificar os efeitos da consoante seguinte, dado o fato de o instrumento não contar com um número tal de palavras capaz de levar a um estudo dos efeitos exercidos por tal variável, optamos por verificar a possibilidade de produção apenas das seqüências consonantais em final de frase, antecedendo a pausa fonética.

sendo verificado. As frases foram apresentadas aos aprendizes em duas folhas de papel, em quatro diferentes versões – Forma A, Forma B, Forma C e Forma D, de modo que o que diferencia cada uma dessas versões é a ordem em que as frases são apresentadas nas folhas. Tínhamos, com isso, novamente a intenção de neutralizar os possíveis efeitos do ordenamento das frases no instrumento. As folhas de testes fornecidas aos alunos em ambos os dias (Forma A) encontram-se nos Anexos E e F.

As gravações das frases foram também realizadas com o gravador digital (marca ‘Gama

Power’ – modelo GP-161DVR). Em ambos os dias, o teste de produção de frases em língua

portuguesa era aplicado após a coleta das palavras em inglês.

4.2.3 O instrumento de coleta de palavras da língua inglesa utilizado com falantes americanos

Conforme apontamos no Capítulo de Introdução, mais especificamente na Questão Norteadora 1, o presente trabalho pretende não somente realizar uma descrição das formas de saída características da interfonologia português-inglês na produção das codas da L2, mas, também, mostrar quais dessas formas podem ser consideradas semelhantes ao falar nativo.

Nesse sentido, especial atenção deve ser dada à questão da soltura dos segmentos plosivos em posição final. Conforme discutimos no Capítulo 2, a literatura da área aponta para o fato de que a plosiva final pode ser produzida, no falar nativo, tanto sem soltura como com soltura de ar audível. No capítulo em questão, discutimos, também, a afirmação de autores como Pennington (1996), que reconhecem a possibilidade de plosivas surdas finais serem produzidas com uma soltura de ar exagerada, ou, conforme explica a autora, “aspiração”. Entretanto, pouco é dito por esses autores acerca do quão freqüente é esse

fenômeno, tampouco são fornecidas informações acerca do intervalo de tempo de soltura mínimo para que possamos considerar a plosiva final como “aspirada”.

A necessidade de verificarmos se plosivas produzidas com uma soltura exagerada devem ser consideradas como diferentes do falar nativo é reforçada ao verificarmos a proposta de Goad & Kang (2002), que considera a soltura exagerada em posição final, nas manifestações de interlíngua dos aprendizes de inglês, como formadora de uma nova sílaba, em que tal soltura compartilha tanto o onset como o núcleo da sílaba seguinte, conforme vimos no Capítulo 2. Uma vez que casos de soltura longa foram bastante comuns nos dados de nossos aprendizes, sentimos a necessidade de realizar uma coleta de dados, junto a falantes nativos do inglês42, para verificarmos os índices de produção de plosivas finais com soltura exagerada no inglês como L1.

O instrumento de coleta de dados de palavras do inglês utilizado com falantes americanos continha exatamente os mesmas vocábulos apresentados no instrumento de coleta utilizado com os participantes brasileiros. Diferenciava-se, entretanto, na maneira de apresentação dessas palavras. Ao contrário do instrumento utilizado com brasileiros, em que todas as palavras eram apresentadas aos aprendizes em uma folha de papel, o instrumento em questão foi apresentado através de arquivos de apresentação de slides em powerpoint (arquivo do tipo .ppt), em um computador laptop. As palavras eram apresentadas uma em cada slide, havendo um intervalo de dois segundos para a mudança automática de um slide para outro. Através desse procedimento, conseguimos evitar o problema com o qual havíamos nos deparado na coleta dos dados produzidos pelos sujeitos brasileiros, realizada em 2005. Na coleta em questão, em alguns casos os aprendizes não realizaram uma pausa fonética entre a leitura de uma palavra e outra, o que nos impedia de considerar a produção da palavra que não

42 Maiores detalhes acerca dos participantes americanos serão fornecidos na seção seguinte, referente à descrição dos sujeitos do estudo.

havia sido seguida de silêncio. Através da apresentação de um item em cada slide, o problema foi, assim, evitado.

As palavras apresentadas aos falantes nativos foram organizadas em 4 arquivos de

slides do extensão .ppt, de modo que fossem fornecidos intervalos de tempo, para descanso,

entre a leitura do conteúdo de cada um dos arquivos. A coleta de dados se deu no mês de julho de 2007, oportunidade em que o pesquisador se encontrava em estágio de doutorado- sanduíche na University of Massachusetts-Amherst, local onde foram realizadas as gravações. A obtenção do material de áudio se deu através do software Adobe Audition 2.0, previamente instalado no laptop do pesquisador, e da utilização do headset (microfone+fone de ouvido) da marca Sony, modelo DR-220.