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4. Metodologia

4.4 Transcrição e levantamento estatístico dos dados

Nesta seção, descreveremos o trabalho de análise acústica dos dados, cujo resultado será expresso no próximo capítulo. Novamente, por terem ocorrido em momentos distintos do estudo, descreveremos, primeiramente, o trabalho de transcrição dos dados obtidos dos falantes brasileiros. Logo após, discutiremos como se deu o trabalho de análise acústica das palavras do inglês produzidas pelos falantes americanos.

4.4.1 Os dados dos sujeitos brasileiros

Os dados de produção dos aprendizes brasileiros, tanto em palavras do português como do inglês, foram submetidos à análise acústica através do programa de análise PRAAT Version

4.4.22 (BOERSMA & WEENINK, 2006), trabalho esse que se desenvolveu de junho de 2006

a janeiro de 2007. Conforme aponta Bettoni-Techio (2005), o uso do PRAAT se revela como uma ferramenta importante pelo fato de o programa permitir a verificação isolada da palavra/som alvo e a medição do intervalo de tempo entre a produção de uma palavra e outra, permitindo ao pesquisador a integração de informações auditivas e visuais para uma transcrição fonética com mais alto grau de exatidão.

A verificação dos espectrogramas, através do PRAAT, propiciou um maior grau de acuidade nos trabalhos de transcrição e subseqüente contabilidade dos dados, sobretudo no que diz respeito à possibilidade de “aspiração”, ou ainda de palatalização, na produção dos segmentos plosivos finais.

De todas as palavras produzidas pelos aprendizes incluídos no estudo, foram apenas consideradas, para a análise estatística, aquelas cujas consoantes finais não eram seguidas

pelo segmento inicial de outra palavra em um intervalo de tempo menor do que 350 ms. Conforme aponta Zsiga (2000), esse é o limite de tempo máximo entre dois sons para que ainda possam ser sentidos os efeitos de coarticulação. Assim, foram contabilizadas apenas aquelas produções que não sofreriam a influência de um segmento consonantal seguinte, para que pudéssemos caracterizar, efetivamente, a pausa fonética como contexto seguinte de todas as produções.

Ainda que os aprendizes tivessem sido instruídos a realizar pausas entre a leitura de uma e outra palavra, verificamos que, sobretudo nos aprendizes de maior grau de proficiência na L2, muitas vezes o período de 350 ms de silêncio não era respeitado, o que era responsável pela exclusão do dado44. Foram excluídas, também, produções em que a análise acústica pudesse vir a ser prejudicada em função de algum ruído de fundo, apesar do nosso esforço para realizar as gravações em ambientes em que fosse preservado o silêncio.

Os tokens foram organizados em grupos pelo pesquisador, em função do grau, na escala de sonoridade, das codas em questão. Após isso, os dados foram enviados a uma professora com experiência na área de estatística e aquisição fonológica de segunda língua, para que tal profissional pudesse realizar testes que apontassem diferenças, nos dados empíricos, em função do tipo de coda a ser adquirida, ou, ainda, do grau de proficiência dos aprendizes. A organização dos dados em grupos, bem como os resultados das verificações estatísticas, serão discutidos no capítulo seguinte.

44 Conforme já discutimos na seção 4.2.3, o instrumento utilizado com falantes americanos impossibilitou a ocorrência desse problema, uma vez que as palavras eram apresentadas individualmente na tela do computador, o que garantia uma pausa fonética entre uma palavra e outra.

4.4.2 Os dados dos sujeitos americanos

As produções, por parte dos sujeitos americanos, das seqüências cuja aquisição é o foco deste estudo foram submetidas à análise acústica através do software PRAAT em agosto de 2007. Dado o número menor de tokens produzidos pelos falantes americanos, em função do número reduzido de participantes, a análise acústica das codas encerradas por plosivas contou, também, com a medição do tempo de soltura de ar dos segmentos plosivos finais. Conforme já afirmamos, ainda que autores como Pennington (1996) reconheçam a possibilidade de um intervalo de tempo longo de soltura da plosiva final entre falantes nativos do inglês, maiores informações são necessárias no que diz respeito ao intervalo de tempo mínimo que corresponderia a um período longo de soltura. Nesse sentido, através da análise acústica, pudemos não somente apontar quais palavras foram produzidas com uma soltura mais longa do que 80 ms (limiar por nós adotado para considerar a “aspiração” em coda, conforme expresso no Capítulo 2), mas também descrever o tempo médio de soltura das plosivas finais produzidas pelos sujeitos estrangeiros.

Os resultados da análise acústica acima descrita serão apresentados no capítulo que segue, de Descrição e Discussão dos Dados. No capítulo em questão, constataremos que os falantes nativos do inglês chegaram a produzir plosivas finais com solturas superiores a 100ms, o que corresponde a uma “soltura exagerada”, semelhante àquela que constitui o padrão predominante entre os informantes brasileiros.

4.5 Considerações finais

Cientes de que uma boa análise lingüística apresenta, como pré-requisito, cuidados metodológicos bem delineados no que diz respeito à coleta e ao tratamento dos dados, descrevemos, neste capítulo, os principais critérios adotados para a constituição do corpus do presente estudo. A obediência dos pré-requisitos apontados ao longo do capítulo teve como conseqüência uma diminuição considerável no número de sujeitos e, também, nos dados a serem aproveitados para a análise.

Acreditamos, entretanto, que os cuidados metodológicos adotados foram importantes para que possamos afirmar que: a) todos os sujeitos brasileiros apresentam o mesmo dialeto do português; b) ainda que os aprendizes se encontrassem cursando o mesmo grau acadêmico, esses se apresentam em diferentes níveis de adiantamento na L2; c) todas as palavras analisadas foram produzidas com o mesmo contexto seguinte, a pausa fonética; d) a transcrição dos dados com o amparo da análise acústica, além de inspirar maior confiabilidade, permite a descrição de detalhes fonéticos que podem ter conseqüências importantes para a análise lingüística a ser desenvolvida.

Os cuidados acima explicitados atribuem um maior grau de confiabilidade aos dados da pesquisa, permitindo-nos descrevê-los e analisá-los com mais segurança. A Descrição dos Dados será feita no capítulo que segue.