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O Intérprete de Língua Gestual Portuguesa na Escola

No documento Tese Susana Barbosa (páginas 108-118)

Efetivamente, em Portugal, e com a instituição do ensino bilingue para os alunos surdos através do Despacho n.º 7520/98, o intérprete de língua gestual portuguesa é também integrado na equipa de educação especial nas escolas onde se inserem os alunos surdos. Surge “da necessidade dos alunos surdos terem acesso ao conhecimento em contexto académico, preparando-se para uma participação crítica e ativa na sociedade” (Moreira

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´intérprete educacional`, visto que a considera como sendo um veículo de mal- entendidos. Segundo a autora, e apesar de estes intervirem no espaço educativo, não podem nem devem ser confundidos com educadores, pois estes atuam, de facto, como mediadores da comunicação entre surdos e ouvintes, tanto a nível do âmbito escolar como em qualquer outro contexto em que a sua presença se verifique como fulcral. Apesar de não terem o papel de educar, o intérprete de língua gestual é visto como algo positivo para toda a comunidade escolar, sendo que a sua presença na escola deve ser, de facto, encarada como uma mais-valia para todos, uma vez que se trata de um profissional com capacidades para estabelecer uma comunicação entre pessoas que não partilham a mesma língua. No entanto, a presença do intérprete no contexto escolar não garante a plenitude da inclusão dos alunos surdos dentro da mesma, tal como é argumentado por Lacerda (2010).

Não obstante, a equipa educativa, e principalmente os docentes, devem saber que o trabalho do intérprete de língua gestual não é um trabalho fácil, por requerer trabalhar entre duas línguas e providenciar as interpretações mais fiéis e adequadas possíveis. Por conseguinte, é bastante importante que exista um trabalho colaborativo entre toda a equipa educativa, de modo a que se possa alcançar o objetivo primordial da educação, que é o sucesso do aluno surdo (Brunson, 2005).

Bettencourt e Santos (2015, pp. 79-80) referem que “já diferentes autores perceberam que o trabalho colaborativo entre os membros da equipa educativa é fundamental no contexto educativo e proporciona, tanto aos docentes como aos intérpretes educacionais, um trabalho mais eficiente e com mais benefícios para os alunos surdos”. Contudo, consideramos que, e para melhor clarificar o papel do intérprete de língua gestual, este deverá estar presente na escola desde o começo do ano letivo, o que de facto muitas vezes não acontece. Mas, e na realidade, o intérprete não pode cingir-se exclusivamente ao trabalho realizado em sala de aula, pois não deve apenas interpretar os conteúdos. Deve sim, e em adição ao que foi referido anteriormente, trabalhar com o docente como estratégia para tornar todos os conceitos o mais compreensíveis possível e participar ativamente em reuniões com os docentes, procurando uma interação constante com os mesmos, antes e durante as atividades letivas. Relativamente ao facto de o intérprete de língua gestual, em algumas escolas, trabalhar sozinho, seria importante considerar a realização de workshops e ações de consciencialização para a comunidade escolar das

necessidades dos alunos surdos, bem como uma explicação das reais funções do intérprete de língua gestual (Almeida et al., 2012; Barker & Huff, 2009; Rex, 2007). De facto, o trabalho do intérprete de língua gestual nas escolas é uma atividade complexa, sendo este muitas vezes um mediador entre a comunidade escolar e a comunidade surda presente nessa mesma instituição de ensino, tal como foi mencionado anteriormente. Não obstante, este papel de mediador pode colocar o intérprete em risco, uma vez que são testados os seus limites de ação e as suas escolhas podem ser interpretadas como algo que vai para além das suas funções (Mélo, 2012; Pereira, 2011).

Assim, a interpretação educativa é bastante característica no próprio contexto escolar, uma vez que o intérprete necessita de se familiarizar com questões e conteúdos académicos específicos dos diferentes níveis de ensino em que pode atuar, devendo ser realizado um trabalho de colaboração entre intérprete e docente. No entanto, constata-se que é também importante que este profissional adapte a sua interpretação prática, devido ao facto de não se poder limitar apenas a transmitir os conteúdos académicos (Albres, 2012; Almeida et al., 2012; Lacerda, 2006).

Dependendo ainda dos alunos com quem trabalha, o intérprete de língua gestual, e seguindo a filosofia de que não deve apenas interpretar os conteúdos mas sim torná-los compreensíveis, vê-se por vezes na necessidade de auxiliar o aluno surdo na compreensão dos conteúdos, recorrendo por vezes à mímica, e/ou a exemplos do quotidiano para tal. Colabora também em tarefas escolares inerentes ao ensino, funcionando assim como um auxiliar e não como um profissional que apenas teria de transmitir a mensagem de uma língua para a outra (Bizzozero, 2012; Kotaki & Lacerda, 2011; Russo, 2009).

Assim, o intérprete de língua gestual deverá estar preparado para que tal possa acontecer, sendo do seu interesse conhecer os aspetos culturais e linguísticos do aluno surdo, uma vez que a língua gestual no contexto escolar poderá não ser suficiente ou eficaz para a transmissão dos conteúdos programáticos, pois os alunos surdos apresentam diferentes níveis de domínio nesta língua. É importante também que o intérprete auxilie na resposta a todas as necessidades educativas dos alunos surdos, quer a nível material, metodológico ou cultural. Contudo, considera-se importante ressalvar que apesar da proximidade deste profissional ao aluno surdo, a responsabilidade

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máxima do ensino é do docente, devendo o intérprete de língua gestual ser considerado apenas como uma mais-valia para a aprendizagem do aluno surdo, uma vez que a sua formação é de interpretação e não de ensino (Almeida et al., 2012; Brunson, 2005). Tal como é possível verificar, e desde a sua entrada no mundo escolar, o intérprete de língua gestual possibilita não só que os alunos surdos tenham acesso a conteúdos escolares como também a oportunidades de inserção e interação social no espaço escolar, ajudando ainda na promoção de respeito para com o aluno surdo e com as suas condições linguísticas e socioculturais. Neste contexto, o profissional, além de intérprete, tem ainda um olhar ativo para com os alunos surdos, a nível linguístico e pedagógico, estando presente em inúmeras situações que não envolvem uma interpretação pura, desenvolvendo, por conseguinte, muito mais do que a mera função de ponte comunicacional que lhe é atribuída (Almeida et al., 2012).

Em suma, considera-se que o intérprete de língua gestual no contexto educativo seja um elemento fulcral no seio da comunidade escolar pelo apoio que presta a todos os elementos constituintes da mesma e, essencialmente, no apoio a alunos/as surdos/as e suas respetivas famílias nas diferentes situações pedagógicas e sociais que enfrentam no seu dia-a-dia. (Pereira, 2011, p. 42)

No entanto, Quadros (2002) salienta uma questão bastante pertinente, visto que considera fulcral que o intérprete de língua gestual que trabalha no contexto educativo seja especialista nessa mesma área e que tenha um perfil que possibilite a intermediação nas relações entre os professores e os alunos, bem como entre os colegas surdos e os colegas ouvintes. Porém, reconhece que, de facto, as suas competências e responsabilidades são difíceis de ser determinadas, devido aos problemas de ordem ética que surgem como consequência do tipo de trabalho que exerce no contexto da sala de aula. Assim, e como consequência desta dificuldade, defende a existência de um código de ética específico para os intérpretes de língua gestual que trabalhem na área da educação.

Todavia, e apesar da dificuldade que se verifica na determinação das competências e das responsabilidades do intérprete de língua gestual portuguesa na escola, Quadros (idem) refere que nos Estados Unidos da América essa discussão já foi realizada, sendo, portanto, clarificado o que será antiético exigir-lhe por não constar nas suas funções: proceder à tutoria dos alunos, seja em que circunstância for; apresentar informações

sobre o seu desenvolvimento; acompanhá-los; discipliná-los e realizar atividades gerais fora das aulas.

Atualmente, em Portugal, o que está estipulado sobre o trabalho do intérprete de língua gestual portuguesa na escola, no Decreto-Lei n.º 3/2008, é que lhe compete de facto realizar a interpretação da língua portuguesa oral para a língua gestual portuguesa, e vice-versa, das atividades que, na escola, envolvam o processo de comunicação entre os alunos surdos e os ouvintes, bem como a interpretação de todas as aulas lecionadas pelos docentes, das reuniões, das ações e dos projetos que resultam da própria comunidade educativa na qual se insere.

Apesar de ser já mais frequente a presença do intérprete de língua gestual nas comunidades escolares, a aceitação deste profissional como um elemento pertencente às mesmas ainda não é bem conseguida, visto que este é ainda encarado como um mero prestador de serviços que tem como única função a interpretação das aulas. Efetivamente, o intérprete tem de estar inserido na equipa educativa, devendo ser claro qual o seu papel no que toca à integração e aprendizagem do aluno surdo, e devendo as suas opiniões ser ponderadas como a de qualquer outro membro da equipa, uma vez que o intérprete conhece bem o aluno e a sua língua gestual. É de ressalvar ainda a importância do trabalho em parceria com os docentes de forma a promover as melhores condições de aprendizagem para o aluno surdo (Lacerda, 2006).

Contudo, é importante acrescentar que os adolescentes e os adultos aceitam, de facto, de uma melhor forma a presença do intérprete de língua gestual na sala de aula, uma vez que já possuem uma maior perceção de que a presença deste profissional é fundamental para estabelecer a ponte comunicacional com os seus demais. Não obstante, é de ressalvar que conforme aumenta o nível do ensino, também a preparação e conhecimentos do intérprete têm obrigatoriamente de aumentar, de modo a poder ser realizada uma interpretação compatível com o grau de exigência do nível de ensino. A título de exemplo, e uma vez que existem termos de Biologia, Química, Física, entre outros de diversas áreas científicas, que não apresentam qualquer tipo de gesto, é de facto fundamental conhecer o seu significado para se poder facilitar uma interpretação mais explicitadora do conteúdo (Mélo, 2012; Silva, 2012).

Em suma, é crucial que o intérprete de língua gestual faça parte da comunidade escolar, uma vez que traz grandes benefícios para a educação. No entanto, deve reter-se que “o

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espaço de atuação (…) não se resume apenas à sala de aula, mas a todos os espaços que constituem o espaço educativo e onde os surdos (professores e alunos) podem estar presentes (…)” (Moreira et al., 2013, p. 21). Efetivamente, este profissional participa ativamente no processo de ensino-aprendizagem, realizando, para tal, uma adaptação da sua interpretação aos diferentes níveis de ensino. Não obstante, é também o intérprete de língua gestual que ajuda os outros profissionais da educação, através da troca de informações e em reuniões, a compreender as necessidades e dificuldades do público- alvo de forma a serem feitos todos os ajustes para a construção de uma forte prática pedagógica adequada ao aluno surdo e para que se possa responder de forma eficaz às necessidades especiais educativas que esses mesmos alunos apresentem devido à sua condição (Kotaki & Lacerda, 2011; Lacerda, 2006; Rodríguez, 2004).

Como o trabalho do intérprete de língua gestual portuguesa, na escola, é de facto desenvolvido na sala de aula, e ainda que não seja exclusivamente neste espaço, a sua atividade principal será a interpretação das aulas lecionadas pelos docentes (Decreto-Lei n.º 3/2008). Porém, é verdade que a presença do intérprete de língua gestual na sala de aula pode originar alguns conflitos éticos. Efetivamente, um dos conflitos que advém da sua presença na sala de aula está relacionado com o facto de o seu papel ser, por vezes, confundido com o do professor, visto que muitas vezes os alunos surdos lhe dirigem as suas dúvidas e comentários, ou discutem com ele os temas abordados, em vez de o fazerem diretamente com o professor, por ser com o intérprete de língua gestual portuguesa que se sentem mais à vontade devido ao constante contacto direto. Outras vezes, é o próprio professor que procura delegar ao intérprete de língua gestual portuguesa a responsabilidade da transmissão dos conteúdos aos alunos surdos ou da regulação do comportamento deles, ou procura obter, através dele, informações sobre o desenvolvimento desses mesmos alunos (Quadros, 2002). Na realidade, e ao assumir todos esses papéis, o intérprete de língua gestual portuguesa não só ficaria sobrecarregado, como acabaria por confundir o seu papel naquele contexto, sendo que Rosa (2008, p. 175) lembra, de facto, que “ser educador é uma atividade profissional que exige diversos requisitos, entre eles formação científica em uma determinada disciplina”, formação essa que o intérprete de língua gestual portuguesa não tem. Por conseguinte, cabe, então, ao professor a tarefa de organizar as situações de aprendizagem de modo a conseguir desafiar o aluno para a elaboração de um novo conhecimento.

Por outro lado, mesmo quando o intérprete de língua gestual portuguesa restringe a sua atuação unicamente à interpretação do que é dito na aula, podem surgir problemas, tanto para o próprio, como para os alunos surdos. A tradução literal – ou seja, a mera substituição de uma palavra pelo gesto equivalente – do que o professor transmite, pode ter como consequência a não compreensão pelos alunos surdos, pois o seu sentido poderá ser outro em língua gestual portuguesa (idem). No entanto, e para proceder a uma interpretação correta, o intérprete de língua gestual tem, necessariamente, de compreender o discurso do professor, o que pode exigir dele um elevado grau de especialização. Por isso, consideramos que o trabalho do intérprete de língua gestual portuguesa na sala de aula para intervir na interação entre o professor e o aluno é uma responsabilidade que exige qualificação específica na área da interpretação e nas áreas de conhecimento envolvidas.

Outro problema que decorre da modalidade vísuo-espacial da língua gestual portuguesa é o facto de muitas vezes requerer detalhes que não existem na língua oral. Tomando, por exemplo, uma aula em que o professor descreve uma maqueta de uma casa, se o intérprete de língua gestual portuguesa não obtiver por parte do professor as pistas corretas sobre a localização de cada uma das componentes da maqueta, não conseguirá, de facto, estabelecer a localização de cada uma no espaço, o que irá confundir os alunos surdos quando compararem o que lhes foi descrito com o objeto. Uma das formas de evitar este tipo de situações, que levam a uma interpretação pouco eficaz, será a preparação da aula em conjunto com o professor (Marschark, Sapera & Convertino, 2005) ou, então, o acesso prévio aos conteúdos a transmitir nas aulas, de modo a que o intérprete de língua gestual possa preparar a sua interpretação (Almeida, 2010b; Quadros, 2002).

Como exemplo destas realidades mencionadas anteriormente, é importante atentar no estudo realizado por Marcon (2012), cuja amostra se caracteriza como uma turma de quarenta alunos ouvintes do segundo ano do ensino médio, na disciplina de língua portuguesa, em que existia um aluno surdo e um intérprete de língua gestual. Assim, e analisando a interação entre o intérprete e o aluno surdo, foi possível concluir-se que existem informações que o aluno surdo não detém, o que compromete o processo de comunicação. Por conseguinte, cabe ao intérprete utilizar métodos e estratégias que possibilitem uma minimização dos obstáculos na realização do ato comunicativo.

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Tal como foi referido previamente, as opiniões do intérprete de língua gestual devem ser consideradas e ouvidas como as de qualquer outro profissional, destacando-se que devido à partilha de uma língua em comum, a língua gestual, o intérprete apresenta uma maior proximidade comunicativa com o aluno surdo, podendo, assim, facilitar a construção de estratégias de ensino. Assim, compreende-se como sendo importante que o docente e o intérprete trabalhem em conjunto, visto que é o que irá facilitar quer o processo de ensino por parte do docente, quer o ato de interpretação por parte do intérprete de língua gestual. A proximidade entre estes profissionais oferece, efetivamente, uma maior amplitude de abertura para discussões sobre possíveis adaptações, bem como a possibilidade de uma relação onde cada um possa sugerir ideias ao outro relativamente ao trabalho a desenvolver em plena sala de aula. É desta forma que ambos os profissionais se podem ajudar mutuamente, o que facilita em simultâneo a procura de novos caminhos para uma melhor lecionação, interpretação e aprendizagem do aluno surdo (Almeida et al. 2012; Brunson, 2005; Kotaki & Lacerda, 2011; Lacerda, 2006; Lacerda, 2007; Russo, 2009).

Assim, na escola, o intérprete de língua gestual trabalha de uma forma direta com todos os docentes, visto que a sua presença proporciona ao aluno surdo a possibilidade de aquisição dos conteúdos escolares a partir da sua língua natural. Em termos sucintos, a presença destes dois profissionais na sala de aula pode, e deve, ser aproveitada da melhor forma (Mélo, 2012), desenvolvendo, assim, um trabalho colaborativo, tal como foi preconizado anteriormente.

Por conseguinte, alguns intérpretes de língua gestual com formação específica utilizam técnicas de interpretação em diversas situações, colaborando também com os docentes na partilha de informações e observações acerca da melhor metodologia a utilizar com o aluno surdo no que toca à sua aprendizagem (Kotaki & Lacerda, 2011).

Destaca-se ainda a importância do intérprete de língua gestual explicar as características inerentes à interpretação para a língua oral, isto é, o docente deve ter conhecimento de que quando o intérprete de língua gestual tem que realizar a interpretação para a língua oral, esta pode não ocorrer em simultâneo ao discurso gestual devido às complexidades dessa língua em termos de construção de significado. O docente deve ter ainda conhecimento de que irá existir sempre um tempo de latência entre o que é dito e o que é gestualizado e vice-versa, devido ao facto de as duas línguas terem estruturas

gramaticais diferentes, sendo necessário, por parte do profissional de interpretação, realizar alguns ajustes para se obter uma interpretação o mais exata possível (Brunson, 2005).

É de salvaguardar que, e tal como afirma Pereira (2008), o intérprete de língua gestual portuguesa não pode apenas transmitir a informação de uma língua para a outra sem qualquer tipo de envolvimento da sua parte e sem sequer manifestar a sua própria subjetividade. De facto, o intérprete deve ser também um aliado e fazer com que a pessoa surda assuma o seu papel nas interações, que peça esclarecimentos diretamente ao seu interlocutor ouvinte, e não apenas a si, e que levante a sua mão quando quiser falar e sem que lhe peça a ele que o faça por ela. Só quando se dirigirem diretamente, tanto aos professores, como aos colegas ouvintes, é que os alunos surdos poderão beneficiar verdadeiramente da sua integração em turmas de ouvintes, pois estabelecem a comunicação de forma ativa desenvolvendo e adquirindo novos conceitos e conteúdos (Lacerda, 2006; Marschark et al., 2005).

Assim, deve ficar claro que o intérprete de língua gestual é um dos “(…) elementos que garantem a acessibilidade” (Neto & Gasparini, 2007, p. 6) do aluno surdo à informação que está a ser apresentada oralmente, através da língua gestual e vice-versa, não devendo ser encarado como uma ´ferramenta` de alunos surdos e professores, mas sim como uma peça chave para a implementação das ferramentas da interpretação (Spencer, 2001).

Pelo facto de o intérprete de língua gestual não cingir a sua função à interpretação em sala de aula, e tal como foi mencionado anteriormente, o seu trabalho está relacionado com tudo o que está ligado com os alunos surdos na escola, interagindo dentro e fora de aula, facilitando a interação e comunicação entre os pares, bem como com a equipa educativa. O trabalho do intérprete de língua gestual nas escolas é, pois, uma atividade complexa, sendo que muitas vezes este profissional é considerado como um mediador entre a comunidade escolar e a comunidade surda presente na escola (Mélo 2012; Pereira, 2011; Russo, 2009).

Embora seja exigido que o serviço do intérprete de língua gestual portuguesa seja desempenhado por técnicos com formação profissional adequada, à semelhança do que ocorre com os terapeutas da fala, por exemplo, e contrariamente ao que foi considerado por Almeida (2010a), o Decreto-Lei n.º 3/2008 não prevê a sua participação na equipa

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multidisciplinar que acompanha os alunos surdos, reduzindo a sua presença nas diversas “atividades que na escola envolvam a comunicação entre surdos e ouvintes” (art.º 23.º n.º18), além das aulas, reuniões, ações e projetos escolares, à interpretação da língua portuguesa para a língua gestual portuguesa e vice-versa.

De facto, o intérprete de língua gestual portuguesa, por norma, não participa nas equipas de avaliação das crianças referenciadas, nem na elaboração ou na revisão do Programa Educativo Individual dos alunos surdos, excetuando se for necessária a sua mediação entre surdos e ouvintes e apenas para esse fim. Deste modo, não é requerido ao intérprete de língua gestual portuguesa que contribua com informações ou sugestões sobre estratégias visuais a ser adotadas no decorrer das aulas com alunos surdos, nem

No documento Tese Susana Barbosa (páginas 108-118)