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O interesse chinês na América do Norte (excluindo os EUA)

3. ANÁLISE E COMPARAÇÃO DE DADOS DO INVESTIMENTO CHINÊS NO

3.10 O interesse chinês na América do Norte (excluindo os EUA)

O investimento chinês na América do Norte, excluindo os fluxos destinados aos EUA, representou cerca de 5% do valor total investido globalmente. Na base CGIT, contempla-se nesta região os países da América Central, e o México e Canadá, ambos da América do Norte propriamente definida. O Canadá recebeu a maior parte do investimento na região, e é o sexto país mais investido pela China, com cerca de 4,7%. O México recebeu apenas 0,2% de valor acumulado de investimento chinês na base.

Em relação aos fluxos anuais destinados a essa região, destaca-se a grande variabilidade entre os anos, com pequenas entradas beirando US$ 100 milhões, e um pico em 2012, quando houve fluxo de mais de US$ 21 bilhões, como plotado no gráfico abaixo:

Gráfico 11 - Investimento chinês na América do Norte, em fluxo em US$ milhões e número de operações

Fonte: The Heritage Foundation (2019). Elaboração própria.

No ano de 2012, a aquisição da empresa canadense do setor energético Nexen pela CNOOC totalizou US$ 15 bilhões, a maior da região em todo o período. Após o pico, o fluxo acumulado das negociações não passou da faixa de US$ 5 bilhões, e a tendência não é de aumento nos próximos anos, já que a América do Norte não participa efetivamente do megaprojeto BRI, e outras regiões mais envolvidas tem ganho mais representatividade no investimento chinês.

A tabela abaixo mostra que o setor mais importante foi o energético, com quase 74% do investimento acumulado. O Canadá concentra majoritariamente o valor recebido, com cerca de 89% do investimento, e é o sexto país mais investido pela China na base. A maior parte dos fluxos direcionados à energia foi para operações envolvendo empresas canadenses, especialmente nos subsetores de petróleo e gás. O país tem uma das maiores reservas de petróleo bruto do mundo, e o alto custo de extração era compensado pela demanda americana. O crescimento da oferta de gás de xisto nos EUA reduziu a procura pelo petróleo bruto canadense, e abriu oportunidades para a negociação com as gigantes petrolíferas chinesas.

Outros países investidos na região, como México e nações caribenhas, como Cuba e Panamá, juntas representaram pouco mais de 10% de todo o investimento

0 2 4 6 8 10 12 14 - 5.000 10.000 15.000 20.000 25.000 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Núm ero de op eraç õe s F lux o em US $ m ilhõ es

recebido na região. O México é o segundo país mais investido, porém bem abaixo do patamar do Canadá, com 3,7% do investimento entrante na região. Pouco mais de US$ 2 bilhões foram investidos no país em 6 operações, e metade desse valor foi destinado ao subsetor de petróleo, em uma só operação realizada pela CNOOC em 2016. Nos demais países, os valores acumulados foram ainda menores, e nenhuma operação foi registrada em 2017 e 2018.

Tabela 24 - Investimento chinês na América do Norte (excluindo EUA), em fluxo anual em US$ milhões e em participação relativa (%), por setor

Fonte: The Heritage Foundation (2019). Elaboração própria.

Bem abaixo do patamar das operações de energia, o setor de metais foi o segundo mais demandado, com 11% do valor acumulado no período, e novamente o Canadá concentra a maior fatia do valor das negociações. O país atrai investimento pela exploração de cobre e aço, metais procurados pela China em outras regiões. O

2005 a 2008 2009 a 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total

Valores (US$ milhões)

Setores 1.170 39.270 470 4.940 1.590 5.160 2.390 5.170 60.160 Energia 250 34.460 300 3.520 170 2.310 550 2.830 44.390 Metais 920 3.200 - - - 300 - 2.180 6.600 Mercado Imobiliário - 100 - 1.060 1.000 - - - 2.160 Finanças - 250 170 - - 900 220 160 1.700 Transporte - - - - 120 900 510 - 1.530 Químicos - - - - - - 1.110 - 1.110 Outros - 140 - - - 750 - - 890 Agricultura - 360 - 180 - - - - 540 Tecnologia - 300 - 180 - - - - 480 Entretenimento - - - - 300 - - - 300 Logística - 260 - - - - 260 2009 e 2010 2011 e 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total Participação relativa (%) Setores 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Energia 21,4 87,8 63,8 71,3 10,7 44,8 23,0 54,7 73,8 Metais 78,6 8,1 0,0 0,0 0,0 5,8 0,0 42,2 11,0 Mercado Imobiliário 0,0 0,3 0,0 21,5 62,9 0,0 0,0 0,0 3,6 Finanças 0,0 0,6 36,2 0,0 0,0 17,4 9,2 3,1 2,8 Transporte 0,0 0,0 0,0 0,0 7,5 17,4 21,3 0,0 2,5 Químicos 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 46,4 0,0 1,8 Outros 0,0 0,4 0,0 0,0 0,0 14,5 0,0 0,0 1,5 Agricultura 0,0 0,9 0,0 3,6 0,0 0,0 0,0 0,0 0,9 Tecnologia 0,0 0,8 0,0 3,6 0,0 0,0 0,0 0,0 0,8 Entretenimento 0,0 0,0 0,0 0,0 18,9 0,0 0,0 0,0 0,5 Logística 0,0 0,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,4

perfil buscado pela nação asiática é similar ao encontrado em países em desenvolvimento, como sul-americanos e africanos, apesar do Canadá ser um país desenvolvido (JAGODA et.al., 2018). No caso do Canadá, houve menor estímulo para a entrada de empresas estatais chineses em setores estratégicos, tendo o governo canadense influenciado tanto no prazo das operações quanto em sua taxa de sucesso.

A escalada da guerra comercial entre China e EUA também impactou a capacidade de investimento chinesa na América do Norte em geral, em decorrência da queda de preços de commodities americanas, que concorrem com as canadenses, e a desaceleração do crescimento chinês em virtude das tensões comerciais. É possível que o conflito entre as duas potências perdure, e influencie a possibilidade de novas operações realizadas por empresas chinesas.

3.10.1 Caracterização das empresas chinesas na América do Norte A concentração das operações no Canadá também se dá pela observação do perfil das dez maiores operações da região, em que todas ocorreram no país e a elevada participação que estas dez obtiveram no acumulado entrante na América do Norte. Na tabela abaixo, é possível perceber a participação das dez maiores negociações foi de 58% sobre o valor acumulado, nos setores de energia e metais. Apenas três das dez maiores operações foram greenfield, mesmo em setores tradicionalmente conhecidos pelo investimento em novas plantas como os de recursos naturais, o que pode indicar que a procura pelas empresas de petróleo e gás canadenses podem estar ligadas a know-how tecnológico, mão de obra e proximidade aos grandes mercados consumidores de Canadá e EUA.

Tabela 25 - As dez maiores operações de investimento chinês na América do Norte

Fonte: The Heritage Foundation (2019). Elaboração própria.

As grandes estatais chinesas também estão envolvidas nas maiores operações, sendo elas Sinopec, CNOOC e CNPC, nos subsetores de petróleo e gás. É interessante perceber o alcance dessas empresas no investimento, em todas as regiões. O esforço de coordenação estatal no processo de internacionalização perdura, apesar de mudança de perfil em operações recentes no Canadá, de menor valor e risco, e realizadas por empresas privadas. Isso pode ser um fator adicional ao explicar a queda dos fluxos, já que o perfil de investimento privado no Canadá está ligado principalmente ao setor terciário, como o mercado imobiliário e transporte, com menores fluxos que as grandes operações estatais em recursos naturais.

Ano Investidor Valor em US$ milhões Part.%

Parceiro da

transação Setor Subsetor País

Modo de ingresso

2012 CNOOC 15.100 Nexen Energia Canadá

2010 Sinopec 4.650 9% ConocoPhillip Energia Petróleo Canadá

2018 CNPC 2.830 15% Shell Energia Gás Canadá Greenfield

2012 CNPC 2.180 49% Encana Energia Gás Canadá Greenfield

2011 Sinopec 2.100 100% Daylight Energy Energia Canadá

2011 CNOOC 2.040 100% Opti Canada Energia Petróleo Canadá

2009 CNPC 1.740 60% Athabasca Oil Corp Energia Petróleo Canadá

2012 CNPC 1.510 50% TransCanada Energia Petróleo Canadá Greenfield

2009 CIC 1.500 17% Teck Resources Metais Cobre Canadá

2018 Zijin Mining 1.410 100% Nevsun Metais Cobre Canadá

Total de participação top 10 35.060 58,3% Total América do Norte 60.160 100,0%