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Análise do investimento chinês no mundo entre 2005 e 2018

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INSTITUTO DE ECONOMIA

CAROLINE HESSA MARQUES DE OLIVEIRA

ANÁLISE DO INVESTIMENTO CHINÊS NO MUNDO

ENTRE 2005 E 2018

Campinas

2020

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

CAROLINE HESSA MARQUES DE OLIVEIRA

ANÁLISE DO INVESTIMENTO CHINÊS NO MUNDO

ENTRE 2005 E 2018

Profº. Dr. Fernando Sarti – orientador

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do título de Mestre em Ciências Econômicas.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA CAROLINE HESSA MARQUES DE OLIVEIRA E ORIENTADA PELO PROFº. DR. FERNANDO SARTI.

Campinas

2020

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

CAROLINE HESSA MARQUES DE OLIVEIRA

ANÁLISE DO INVESTIMENTO CHINÊS NO MUNDO

ENTRE 2005 E 2018

Profº. Dr. Fernando Sarti – orientador

Defendida em 01/07/2020

COMISSÃO JULGADORA

Profº. Dr. Fernando Sarti - PRESIDENTE

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Profº. Dr. Célio Hiratuka

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Profª. Dra. Isabela Nogueira de Morais

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

A Ata de Defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica da aluna.

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Dedico este trabalho a minha família, em especial à minha mãe, que sempre me encorajou na realização dos meus sonhos, e ao meu companheiro de vida Thiago, que foi minha fortaleza em todos os momentos dessa jornada.

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Agradecimentos

Agradeço imensamente a todas e todos que colaboraram com a minha trajetória profissional, acadêmica e pessoal. Não seria possível nomear tantas pessoas que me ajudaram direta e indiretamente a realização desse trabalho.

Agradeço à minha família, em especial a minha mãe, que me incentivou a buscar um sonho que pareceria impossível: a primeira pessoa da família a chegar à etapa de mestrado. Aos meus irmãos Jonata e Estefane, que por vezes me ajudaram de diversas formas nessa jornada.

Ao meu companheiro de vida, Thiago, a quem devo não só agradecimentos pelo apoio, paciência e carinho, como por sua dedicação em revisar meus trabalhos, me aconselhar, e ser a força contínua e meu maior estímulo em seguir em frente. Sempre.

Ao Prof. Dr. Fernando Sarti, meu orientador, agradeço imensamente o trabalho, os conselhos, os comentários e sua disposição em me ajudar a realizar e concluir esta dissertação.

Agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo suporte financeiro ao meu projeto de mestrado.

Aos funcionários, professores e ao corpo docente e discente da UNICAMP, agradeço o trabalho prestado e toda contribuição que me deram em tempos difíceis para esta universidade. Nossa dedicação é um sopro de esperança para o país.

Às amigas e amigos muito queridos, agradeço: Camila, Murilo, Bruna, Lucas e Jhonathan; vocês foram parte importante dessa etapa, e me apoiaram com seu humor, sua confiança e suas palavras de incentivo em momentos que precisei.

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Resumo

OLIVEIRA, Caroline Hessa Marques de. Análise do investimento chinês no mundo entre 2005 e 2018. Campinas, 2020. Dissertação (Mestrado em Economia) – Instituto de Economia. Universidade Estadual de Campinas, 2020.

A China se tornou a segunda maior economia, em um processo de crescimento e desenvolvimento econômico fortalecido após as reformas de 1979. A internacionalização das empresas chinesas tem um papel importante nesse processo, que se acelera na década de 2000. Neste trabalho busca-se compreender quais os setores mais investidos, o tipo de empresa chinesa envolvida, os países mais importantes de cada região, entre outros fatores, que possam elucidar os principais objetivos da internacionalização chinesa e como essa se desenvolve na estratégia de modernização do país. Por internacionalização, é utilizado o investimento em todas as regiões do mundo na base China Global Investment Tracker (CGIT) como medida principal para a interpretação dessa experiência. É verificado que nos primeiros anos após 2005 a China investe em segurança energética e de insumos, e no pós-crise de 2008 o foco muda para a modernização da economia chinesa, com grandes aquisições na Europa e EUA, e na realização da Belt and Road Initiative (BRI).

Palavras-chave: internacionalização chinesa; Investimento Direto Estrangeiro; China; greenfield; fusões e aquisições.

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Abstract

OLIVEIRA, Caroline Hessa Marques de. Analysis of Chinese Investment in the world from 2005 to 2018. Campinas, 2020. Dissertation (Msc in Economics) – Institute of Economics. State University of Campinas, 2020.

China has become the second largest economy, in a process of growth and economic development strengthened after the 1979 reforms. The internationalization of Chinese companies plays an important role in this process, which accelerated in the 2000s. This work seeks to understand which sectors are the most invested, the type of Chinese company involved, the most important countries in each region, among other factors, which may elucidate the main objectives of Chinese internationalization and how it develops in the country's modernization strategy. By internationalization, investment in all regions of the world in the China Global Investment Tracker (CGIT) base is used as the main measure to interpret this experience. It is verified that in the first years after 2005 China invests in energy and inputs security, and in the post-crisis of 2008 the focus shifts to the modernization of the Chinese economy, with major acquisitions in Europe and USA, and the development of the Belt and Road Initiative (BRI).

Keywords: Chinese internationalization; foreign direct investment; China; greenfield investment; mergers and acquisitions.

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Índice de ilustrações

Gráfico 1 – Valor acumulado e fluxo de investimento China (incluídos Taiwan, Macao e Hong Kong), em bilhões de dólares ... 42

Gráfico 2 – Investimento chinês na Europa em fluxo em milhões de dólares e em número de operações, de 2005 a 2018 ... 81

Gráfico 3 – Fluxo e valor acumulado de investimento chinês nos EUA em US$ milhões ... 85

Gráfico 4 - Investimento chinês nos EUA em número de operações e fluxo em bilhões de dólares ... 87

Gráfico 5 – investimento chinês no Leste Asiático e Oceania, em fluxo em US$ milhões, e em número de operações ... 93

Gráfico 6 - Investimento chinês no Oeste Asiático, em fluxo em US$ milhões, e em número de operações ... 98

Gráfico 7 - Investimento chinês na América do Sul, em fluxo anual em US$ milhões e em número de operações... 103

Gráfico 8 - Investimento chinês na América do Sul, por valor acumulado em US$ milhões e em número de operações ... 105

Gráfico 9 - Investimento chinês na África Subsaariana, em fluxo anual em US$ milhões e em número de operações ... 116

Gráfico 10 – Investimento chinês na África Subsaariana, por participação relativa (%) e por país ... 119

Gráfico 11 - Investimento chinês na América do Norte, em fluxo em US$ milhões e número de operações ... 124

Tabelas

Tabela 1 - Perfil das empresas estatais chinesas, em valor e participação (em US$ milhões e %, respectivamente) ... 49

Tabela 2 - Empréstimos para investimento chinês em relação ao total de investimento por setor, de 2002 a 2012, em milhões de dólares ... 51

Tabela 3 – Total recebido de investimento chinês por período em milhares de dólares e média anual por período em milhares de dólares ... 58

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Tabela 4 - O investimento chinês no mundo, por setor, em US$ milhões ... 60 Tabela 5 - Tabela 5 - Investimento chinês por região, caracterizado por não-greenfield e greenfield, em US$ milhões ... 63

Tabela 6 - Investimento chinês em operações do BRI, em fluxo anual em US$ milhões e em número de operações... 66

Tabela 7 - Gráfico 13 - Fluxo acumulado de investimento chinês caracterizado como parte do BRI, em US$ milhões ... 67

Tabela 8 - Investimento chinês no BRI total, em US$ milhões e participação em % ... 72

Tabela 9 - IDP chinês na Europa, de 2005 a 2018 (soma dos períodos 2005 a 2008 e 2009 a 2012), em milhões de dólares e participação relativa (%) ... 76

Tabela 10 – As 10 maiores operações de investimento chinês na Europa ... 80 Tabela 11 - Investimento chinês nos EUA, por distribuição setorial do fluxo em US$ milhões e em participação de investimento chinês em % ... 86

Tabela 12 – As dez maiores operações de investimento chinês nos EUA ... 90 Tabela 13 - Investimento chinês no Leste Asiático e na Oceania, por setor e participação no total de fluxo acumulado ... 94

Tabela 14 - As dez maiores operações de investimento chinês no Leste Asiático e Austrália ... 97

Tabela 15 - Investimento chinês no Oeste Asiático, em fluxo em US$ milhões, e em participação (%) ... 99

Tabela 16 - As dez maiores operações de investimento chinês no Oeste Asiático ... 101

Tabela 17 - Investimento chinês na América do Sul, por setor e participação no total investido ... 104

Tabela 18 - As 10 maiores operações de investimento chinês na América do Sul ... 106

Tabela 19 – Investimento chinês no Brasil (soma dos períodos de 2009 a 2010 e de 2011 a 2012), em milhões de dólares e participação relativa (%) .... 109

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Tabela 20 - Investimento chinês no Oriente Médio e no Norte da África, em fluxo em US$ milhões e participação relativa por setor ... 114

Tabela 21 - As 10 maiores operações de investimento chinês no Oriente Médio e Norte da África ... 115

Tabela 22 - Investimento chinês na África Subsaariana (soma dos períodos de 2006 a 2009 e de 2010 a 2012), em milhões de dólares e participação relativa (%) ... 120

Tabela 23 - As 10 maiores operações de investimento chinês no Oriente Médio e Norte da África ... 122

Tabela 24 - Investimento chinês na América do Norte (excluindo EUA), em fluxo anual em US$ milhões e em participação relativa (%), por setor ... 125

Tabela 25 - As dez maiores operações de investimento chinês na América do Norte ... 127

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SUMÁRIO

1. O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DAS FIRMAS E O CONTEXTO

CHINÊS ... 19

1.1 As teorias de internacionalização das firmas ... 21

1.2 Transnacionais e acumulação capitalista ... 24

1.3 A China pós-revolução: exportadora e receptora de IDP ... 30

2. O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DAS FIRMAS CHINESAS ... 40

2.1 Principais determinantes do investimento chinês... 43

2.2 O papel das empresas estatais ... 47

2.3 Financiamento e endividamento das empresas chinesas ... 50

2.4 O portfólio chinês: escolha da base CGIT ... 52

3. ANÁLISE E COMPARAÇÃO DE DADOS DO INVESTIMENTO CHINÊS NO MUNDO ... 56

3.1 Investimento chinês no mundo ... 57

3.2 O megaprojeto “Belt and Road Initiative” (BRI) e o investimento chinês ... 64

3.2.1 Tendências e oposição ao BRI ... 72

3.3 O interesse chinês na Europa ... 74

3.3.1 Caracterização das empresas chinesas na Europa ... 79

3.3.2 Tendências atuais e as restrições regulatórias ... 82

3.4 O interesse chinês nos EUA ... 84

3.4.1 Caracterização das empresas chinesas nos EUA ... 88

3.4.2 Tendências e o futuro das relações China-EUA ... 91

3.5 O investimento chinês no Leste Asiático e na Oceania ... 92

3.5.1 Caracterização das empresas chinesas no Leste Asiático e na Oceania .. 96

3.6 O investimento chinês no Oeste Asiático ... 98

3.6.1 Caracterização das empresas chinesas no Oeste Asiático ... 100

3.7 O investimento chinês na América do Sul ... 102

3.7.1 Caracterização das empresas chinesas na América do Sul ... 105

3.7.2 O investimento chinês no Brasil ... 108

3.7.3 Tendências do investimento chinês na América do Sul ... 111

3.8 O investimento chinês no Oriente Médio e no Norte da África ... 112

3.8.1 Caracterização das empresas chinesas no Oriente Médio e Norte da África ... 115

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3.9.1 Caracterização das empresas chinesas na África Subsaariana ... 121

3.10 O interesse chinês na América do Norte (excluindo os EUA) ... 123

3.10.1 Caracterização das empresas chinesas na América do Norte ... 126

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 128

5. BIBLIOGRAFIA ... 133

6. APÊNDICE ... 144

6.1 Regiões e países correspondentes países ... 144

6.2 Países desenvolvidos (PD) e Países em desenvolvimento (PED) ... 145

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INTRODUÇÃO

A República Popular da China se tornou a segunda maior economia do mundo, com cerca de metade do PIB dos EUA, diferença que se reduz quando avaliada pela paridade do poder de compra. O país é um dos maiores players do setor de manufaturados, dos transportes e um grande demandante de matérias-primas e extração mineral de países emergentes. A influência chinesa também tem atingido os setores de tecnologia e inteligência artificial, e as grandes compras de empresas estratégicas em diversos países tem suscitado preocupação, principalmente nos países desenvolvidos. Em decorrência da crise de 2008, e da desaceleração da economia mundial, o acirramento da concorrência em manufaturados de média e alta complexidade colocou a China como centro de disputas comerciais e empresariais, alterando o jogo de forças global.

A China também é o terceiro maior país investidor do mundo e o segundo com maior atração de investimento. O país é o primeiro em número de empresas públicas com afiliadas internacionais, conforme o World Investment Report, de 2017 (UNCTAD). Também é um dos países com maior perspectiva de alta em atração de investimento, ao contrário da tendência dos países em desenvolvimento como um todo, que enfrentam queda de 10% em 2017. Também é líder nos investimentos em países menos desenvolvidos (least developed countries, ou LDC), a frente de países como Japão e EUA.

As crescentes dificuldades do modelo de crescimento chinês, concentrado em infraestrutura urbana e industrial abriram novas possibilidades para o capital doméstico, limitado internamente pelo excesso de capacidade instalada e por pressões de mudança da dependência por aumento constante da formação bruta de capital (HIRATUKA, 2018). A internacionalização do capital chinês após a crise de 2008 pode ser considerada uma das consequências da necessidade de extravasar a acumulação de capital, em que a procura por maiores ganhos e a diversificação de investimentos inauguraria um novo momento para diversos projetos fora da China.

A abundância de investimento chinês fortalecida após 2008 se mostra consistente em regiões como a Europa e o Sudeste Asiático, assim como nos Estados Unidos. Na América Latina, a importância da China no balanço de pagamentos relativa

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ao boom de commodities nos anos 2000 é largamente conhecida, provendo aos países da região grandes superávits comerciais oriundos da importação chinesa; porém nos últimos anos a região tem lidado com a emergência de operações e projetos chineses em áreas estratégicas, geralmente apoiados pelo know-how e financiamento de bancos estatais.

A profunda influência do Estado chinês na economia, desde a Revolução de 1949, que inaugura o período socialista, se torna algo indissolúvel da vida econômica, política e social do país. As reformas de planificação, os controles de preços, a estatização da terra são alguns dos fatores-chave para a compreensão do permeável poder que a cúpula do Partido Comunista exerce sobre todos os aspectos da nação em 70 anos de revolução. Estabelece-se neste trabalho como premissa este poder e alcance como elemento indissociável das decisões econômicas e financeiras dos agentes chineses, e da difusa, e de certo modo, confusa, divisão entre entes públicos e privados.

O investimento, como elemento importante da estratégia das empresas na literatura tradicional, é aqui abordado como parte da estratégia de desenvolvimento chinesa, contextualizado pelos eventos modernos, históricos e políticos que marcam a ascensão chinesa. A busca é por um referencial que cruze os elementos da internacionalização com o grande projeto chinês de modernização, sendo a primeira um instrumento da realização do segundo elemento.

A hipótese central do trabalho é de que a China utiliza a internacionalização como estratégia de desenvolvimento econômico, a fim de modernizar o país, acumular capital e obter uma posição vantajosa no jogo de forças global. Além disso, a China diferencia os países em desenvolvimento dos desenvolvidos, investindo no primeiro grupo nos setores de recursos naturais e infraestrutura, e no segundo grupo em ativos de maior valor estratégico (finanças, tecnologia, serviços), evidenciando maior variabilidade dos investimentos entre os setores.

Este trabalho tem como objetivo examinar os dados relativos ao Investimento Direto Estrangeiro (investimento) chinês, em quatro regiões selecionadas: América Latina, Ásia, Europa e Estados Unidos, por contabilizarem a maior parte do investimento chinês em valor das operações. Devido ao papel de

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destaque que o Brasil tem como principal destino de investimento chinês na América Latina, os fluxos remetidos ao Brasil serão examinados, em comparação com os resultados encontrados nas outras regiões analisadas.

Ao utilizarmos dados de todas as regiões para realizar uma comparação entre os fluxos destinados a estas, pretende-se identificar se há características distintas entre os processos de internacionalização das empresas chinesas nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Além disso, propõe-se analisar a trajetória do investimento chinês realizado nos diferentes setores e subsetores investidos, buscando ultrapassar a dicotomia que confronta países desenvolvidos e em desenvolvimento, e entender a estratégia que leva a China a coordenar um grande e custoso esforço de internacionalização nas diferentes regiões do globo e quais as características principais do investimento realizado chinês.

A análise do tipo de fluxo remetido, assim como setores e subsetores privilegiados, pode apontar para diferentes padrões de inserção regional do investimento chinês, e a possibilidade de que o investimento seja tratado de forma distinta na estratégia de internacionalização chinesa. A caracterização de valor acumulado e fluxo das regiões mais significativas tanto em valor quanto em quantidade de operações pode indicar aspectos importantes para a estratégia chinesa, e pode indicar a tentativa de capturar vantagens comparativas nesses países.

O caráter peculiar da inserção chinesa levanta questões que são respondidas de forma insuficiente pelas teorias de internacionalização tradicionais. Abordagens que assumem o caráter diferenciado que as empresas transnacionais (ETN) de países em desenvolvimento podem adicionar mais robustez ao debate sobre as motivações da rápida internacionalização de empresas chinesas, assim como sobre suas implicações em uma economia global com menor crescimento, e maior acirramento de questões políticas, econômicas e comerciais entre as economias desenvolvidas, em especial os Estados Unidos, e a crescente influência da China nessas questões. As ETN de países emergentes têm objetivos e atuação diferentes das de países desenvolvidos, e no caso chinês, o envolvimento do governo no financiamento e nas políticas de incentivo à internacionalização tem papel importante na identificação de padrões de internacionalização em determinadas regiões.

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A análise de um possível padrão de internacionalização das empresas chinesas se refere aos anos de 2005 a 2018. O ano de início é justificado pelo período em que internacionalização chinesa começa a despontar nos fluxos globais, e que crescem rapidamente ao longo dos anos. O setor energético é um dos mais importantes na internacionalização chinesa a partir da análise dos dados, e será discutido as razões dessa preferência, e de outras características que o fluxo dos investimentos podem demonstrar na estratégia chinesa.

Em vários países, estes investimentos têm levantado questões tanto econômicas, quanto regulatórias e estratégicas. A importância de cada região no portfólio de investimentos chinês ainda é difícil de ser mensurada, já que o país asiático é pouco transparente com relação aos fluxos e a forma de entrada. Ao analisarmos os setores que apresentam maior participação no total investido globalmente, destacam-se setores como energia, nas modalidades de petróleo e gás, e energia elétrica, metais, e infraestrutura, especialmente nos países em desenvolvimento.

Nos países desenvolvidos, o fluxo também é direcionado ao setor energético, mas a distribuição entre diferentes áreas da economia é maior, assim como a parcela investida em serviços financeiros, tecnologia e informação, e ativos do mercado imobiliário. Pretende-se entender de que forma a entrada do investimento chinês é fruto de uma estratégia de internacionalização ligada à necessidade de garantir insumos como alimentos, energia e minerais necessários ao desenvolvimento econômico chinês, assim como de acessar mercados e tecnologias não disponíveis no país que contribuam para o avanço do projeto de modernização do país.

No primeiro capítulo serão abordados os aspectos teóricos da internacionalização de empresas e das principais críticas às abordagens tradicionais. O contexto histórico que contribuiu para a ascensão chinesa e sua posterior internacionalização também serão analisados. No segundo capítulo, aspectos metodológicos das bases de dados utilizadas nesse trabalho serão analisados, assim como características importantes das empresas chinesas que lideram o processo a ser discutido. No terceiro capítulo, a análise tem foco em identificar os principais aspectos da inserção chinesa em cada uma das regiões (setores, subsetores e tendências do investimento) com uma última seção tratando da iniciativa “Belt and

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Road” e os impactos desse projeto na mensuração do investimento chinês e na

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1. O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DAS FIRMAS E O

CONTEXTO CHINÊS

Neste capítulo, há uma revisão da literatura das principais teorias de internacionalização pelo ponto de vista das empresas, com o objetivo de contrapor a trajetória das ETN dos países desenvolvidos (PD) e das de países em desenvolvimento (PED), e comparar as características dissimilares da recente experiência chinesa. Além disso, será considerado as importantes diferenças do processo de internacionalização chinês e como este ocorre como parte da estratégia de crescimento e desenvolvimento econômico comandado pelo Estado chinês.

Um ponto importante a considerar no processo de internacionalização das firmas chinesas, além da dimensão nacional, é a perspectiva de decisão das firmas em investir recursos em outros países. A literatura sobre o tema é vasta e inclui diferentes visões sobre os mecanismos de incentivo à saída de capital produtivo e o processo decisório no interior das firmas sobre as vantagens de uma determinada região, setor ou empresa específica a ser adquirida.

Além disso, será apresentado um breve histórico de algumas mudanças ocorridas tanto nos países desenvolvidos quanto na China que possibilitaram a internacionalização das empresas, assim como a dinâmica do investimento global. O contexto histórico que levou às mudanças em diversas políticas e na orientação do Estado comunista chinês será brevemente abordado, em virtude de sua importância na liberalização e na relativa abertura do mercado após 1979.

Antes de adentrarmos às seções deste primeiro capítulo, é essencial definirmos o que é o investimento e como este elemento do investimento é mensurado. De acordo com a sexta edição do Balance of Payments Manual (BPM6) do FMI (Fundo Monetário Internacional), o investimento é:

[…] a category of international investment that reflects the objective of a resident in one economy (the direct investor) obtaining a lasting interest in an enterprise resident in another economy (the direct investment enterprise). The lasting interest implies the existence of a long-term relationship between the direct investor and the direct investment enterprise, and a significant degree of influence by the investor on the management of the enterprise. (FMI, 2007, p. 101).

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A participação mínima em ações ordinárias para ser considerada investimento é de 10%, e o investidor obtém poder de voto na empresa por meio dessas ações (relacionamento direto) ou possui participação em outra empresa que tenha poder de voto na primeira (relacionamento indireto). O investimento é distinto de outras formas de investimento, pois envolve certo poder e/ou controle de influência do investidor sobre a empresa investida, geralmente por vários períodos, podendo envolver trocas de know-how e recursos financeiros (FMI, 2003). O investimento se divide em dois componentes: a Participação no Capital e as Operações Intercompanhia. A Participação no Capital se refere ao investimento de estrangeiros no capital de uma empresa, e as Operações Intercompanhia envolvem empréstimos de empresas estrangeiras a empresas residentes do país que pertencem a um mesmo grupo econômico (BCB, 2018).

As principais formas de investimento são as Fusões e Aquisições (F&A, ou

Mergers and Acquisitions, em inglês) e greenfield. As F&A são operações de compra

e venda de participações em empresas e ativos já existentes. Como já mencionado, órgãos como o FMI e a OCDE consideram o investimento a partir da compra de 10% do controle da empresa ou ativo estrangeiro. Já o greenfield corresponde à criação de subsidiárias em outro país, como a construção de novas plantas ou escritórios, ou novas estruturas produtivas (CALDERÓN et al., 2002).

A importância do aumento da concentração de mercado tem por principal motivo a concorrência oligopolista que rege a oferta mundial. As ETN e seu portfolio extenso de produtos e serviços competem pela lucratividade em todos os mercados que operam. A competição por preço ainda se faz presente, porém a concorrência por P&D em tecnologia e inovação schumpeteriana envolve esforços constantes na internacionalização do capital, na aquisição de plantas de menor custo (ou associação com firmas menores em PED, como na Ásia), e em incessante pressão por downsizing operacional. A pressão política e o crescente poder financeiro da China ainda contribuem para a influenciar as operações de investimento, que são fatores que há décadas EUA e Europa impõem a outros países.

A pressão por resultados operacionais e valorização do valor atribuído pelos acionistas, a chamada maximização do valor do acionista, também cria as condições necessárias para a incorporação de outras empresas menos lucrativas ou

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com menor potencial de valorização. A legitimidade das operações de F&A contribuiu para a maior naturalidade com que esses negócios ocorriam, apesar do recente movimento de maior resistência aos takeovers de firmas chinesas em países desenvolvidos.

1.1 As teorias de internacionalização das firmas

Parte significativa dessa literatura é baseada em estudos empíricos e de casos da internacionalização de firmas de países desenvolvidos, especialmente EUA, Japão e Europa. Estudos mais recentes têm tratado das particularidades dos países emergentes, sendo a China um dos casos que melhor representa a insuficiência das explicações baseadas nas experiências dos conglomerados dos países centrais (ACIOLY, 2011).

Dunning (1988) descreve o paradigma eclético como alternativa às teorias tradicionais de internacionalização, como a de Heckscher-Ohlin, analisando os conceitos de vantagens de O (ownership advantages), L (locational advantages) e I (internalisation advantages). O modelo OLI é proposto como forma de explicar as motivações das empresas no processo de internacionalização. O motivo ownership se refere às vantagens obtidas na propriedade do ativo; locational se refere aos benefícios associados com a localização e internalisation se relaciona com as vantagens obtidas com a internalização dos ativos. Dunning também descreve os diferentes motivos que levam a escolha da firma ETN pela internacionalização:

resource seeking, relativo à atração de investimento por recursos naturais e de

infraestrutura; market seeking, relacionado a acesso a mercados; efficiency seeking, ou estratégia vertical de eficiência em custos de produção; e strategic assets seeking, que se refere a ativos de inovação e tecnologia que possam oferecer vantagens à firma.

Algumas críticas são direcionadas a este arcabouço teórico, especialmente pela dificuldade de utilizarmos o paradigma eclético para descrever os motivos ligados à internacionalização de firmas em países emergentes. As dificuldades das ETN nos emergentes tem características diversas às de países desenvolvidos, ligada às questões de menor desenvolvimento das instituições e falhas de coordenação (KEDIA et al., 2012). As motivações que levam essas empresas a se internacionalizarem

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geralmente estão mais ligadas a especificidades de vantagens comparativas entre países do que as vantagens entre firmas, como menores custos com mão-de-obra, recursos, acesso à tecnologia não disponíveis no país de origem, por exemplo.

Mathews (2006) discute a trajetória diferenciada que a ETN de um país emergente tem em contraste à experiência mais tradicional das oriundas de países desenvolvidos, e que contradiz a visão de Dunning em sua abordagem OLI. Sua análise parte do exemplo de algumas ETN da região da Ásia-Pacífico como Acer e Lenovo, ambas chinesas, que careciam de várias das vantagens dos líderes de mercado, como a proximidade dos grandes centros internacionais, falta de habilidades e conhecimentos específicos ligados à tecnologia de produtos e serviços e marcas pouco conhecidas; e que emergiram à liderança mundial em seus setores. Após uma primeira onda de ETN asiáticas se internacionalizarem em busca da superação da rigidez e limitação de seus mercados domésticos, uma segunda onda de empresas saiu em busca de mercados e atualização tecnológica.

Este arcabouço se difere de abordagens mais tradicionais pois enfatiza a busca das ETN emergentes por links (ligações) com outras empresas e plantas no exterior, e o aprendizado e aquisição de habilidades com estas, ao invés de internacionalizar com o objetivo de explorar recursos e vantagens comparativas mais explícitas. A ascensão destas empresas ocorreu devido sua rápida internacionalização, com a adição incremental de um país em seguida de outro; a abordagem mais global e agressiva não foi comum para estas ETN. A inovação organizacional também é apontada por Mathews como um dos fatores de sucesso; o exemplo da Acer em estabelecer múltiplas divisões razoavelmente independentes umas das outras evitou problemas das grandes subsidiárias de modelos tradicionais de ETN (DELIOS & BEAMISH, 2001). A maior liberdade da tomada de decisões e rapidez na comunicação e implementação de inovações contribuiu para a liderança da empresa.

Outro fator apontado para o êxito das ETN asiáticas foi a inovação estratégica, por meio de provisão de serviços a empresas maiores, de joint-ventures e associações. A inovação mais direcionada oferece vantagens a estas firmas em aproveitar os pontos fortes das empresas mais tradicionais em outros países, reforçando o caráter da complementaridade nas estratégias para expandir no mercado

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global.

A crítica de Mathews sobre a abordagem OLI de Dunning (1981;1988) se estabelece sobre o caso das multinacionais tradicionais dos países desenvolvidos que exploram vantagens em outros países como recursos e mercados, mas que primordialmente possuem poder e escala e escopo em seus locais de origem, o que difere da experiência tardia de várias empresas asiáticas, que por vezes se internacionalizaram para viabilizar o acesso a recursos que não lhe eram disponíveis sem esse processo.

O autor propõe o arcabouço LLL como alternativa, que significa “Linkage,

Leverage, Learning”. “Linkage” se refere a ligação das ETN emergentes com

empresas mais maduras por meio de parcerias e joint-ventures, reduzindo o risco que a internacionalização significaria para uma empresa nova no mercado global (WELLS, 1998). “Leverage” se relaciona como a empresa pode aproveitar os recursos por meio dessas parcerias, ou quão transferível ou substituível é esse recurso, como por exemplo tecnologias e conhecimento, nas redes de produção e comércio formadas pelas firmas internacionais (HAMEL & PRAHALAD, 1993). “Learning” ou aprendizado ocorre quando as duas primeiras etapas são realizadas, estando a empresa cada vez mais apta para atuar em uma região, setor e/ou serviço. O aprendizado por meio de melhorias em P&D, a difusão de conhecimentos obtidos em laboratórios para o mercado consumidor, serviços de pós-venda, são atividades essenciais para o sucesso da ETN asiática crescer rapidamente e adquirir mais ativos no exterior, explorando recursos que só poderiam lhe ser acessíveis por meio da internacionalização.

A literatura sobre o processo de internacionalização das ETN emergentes também abarca os chamados “born globals”, teoria mais recente que busca explicar o fenômeno das empresas que buscam o comércio e a produção fora de seu país de origem mesmo em estágios iniciais de sua constituição (CATANZARO et. al., 2011). Startups do setor de informática e tecnologia, geralmente com um core de habilidades específicas, e com conhecimento que se torna rapidamente obsoleto, buscam na internacionalização formas de capturar recursos indisponíveis no próprio país, assim como participar de redes de fornecedores e distribuidores em nível global. (LINDQVIST, 1997; BELL, 2001). O caso chinês é peculiar, pois a inovação

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estratégica está imbricada na dinâmica estatal e em seus recursos. Financiamento, incentivos fiscais e tributários, presença de clusters de inovação e tecnologia, e políticas industriais revalidam a posição privilegiada das startups chinesas, apesar de estas não serem os atores mais importantes do processo de internacionalização.

Luo e Tung (2007) afirmam que os motivos principais que levam as ETN de PED a se internacionalizarem são: (1) asset-seeking e (2) opportunity-seeking. As vantagens de asset-seeking se referem a ativos estratégicos que possibilitam o acesso à tecnologia e processos de inovação que de outra forma não lhe seriam disponíveis, recursos humanos, experiência gerencial, carteira de clientes, serviços logísticos e de distribuição, marcas, e recursos naturais. Os objetivos principais que abarcam os motivos asset-seeking dizem respeito ao fortalecimento da estratégia de desenvolvimento do país de origem, e da superação de deficiências de competências que a firma tenha. Nas empresas estatais, esses dois objetivos se entrelaçam e formam um caráter duplo da internacionalização.

Para o motivo opportunity-seeking, os autores citam diversos motivos para a ETN de PED buscar oportunidades internacionais, como acessar mercados de nicho, aumentar o tamanho e a reputação da empresa, superar ou diminuir barreiras tarifárias, round-tripping, acesso a mercados com potencial de valorização nos PD, driblar restrições no mercado doméstico e explorar vantagens comparativas de custos de mão de obra e recursos naturais em outros PED.

1.2 Transnacionais e acumulação capitalista

Chesnais (1996) argumenta sobre a importância das ETN como eixo centralizador da economia nas últimas décadas, tanto no comércio internacional quanto nas finanças. A ETN é o eixo centralizador de recursos, insumos e produtos da economia global, e exerce seu poder com o objetivo de maximizar seu lucro e minimizar seus custos, utilizando o investimento produtivo como ferramenta para realizar esse objetivo. A acumulação de capital e a busca incessante pelas vantagens de mercado reforçam a concorrência entre os grandes grupos internacionais, que competem em âmbito global de forma cada vez mais concentrada, por meio do “processo contraditório do capital na busca de rentabilidade”. (CHESNAIS, 2015, p.13).

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A “Tríade” dos países desenvolvidos (EUA, Europa e Japão), que organiza e investe o capital, forma a parte superior da hierarquia que controla e se apropria da riqueza global, dos lucros das empresas, dos juros dos bancos e dos aluguéis do mercado imobiliário. A lógica de investimento produtivo e financeiro em mercados cada vez mais acelerados e desregulamentados escolhe determinadas regiões em detrimento de outras, onde a maximização do lucro possa florescer de forma mais segura. A introdução da China nessa lógica não é total, não só pelas diferenças fundamentais que o rígido controle estatal exerce sobre a grande empresa chinesa, mas porque o país ainda não atingiu o grau de maturidade dos mercados que a Tríade levou décadas (ou séculos) para conquistar.

Porém, a presença do Estado como articulador não é inaugurada pela China, pois os países desenvolvidos da América do Norte, Europa e Ásia (Japão e Coreia do Sul) se beneficiaram dos incentivos de proteção dados às suas indústrias nacionais, dos financiamentos bancários, e de várias políticas que foram estendidas à produção industrial e comercial. As ETN se beneficiaram duplamente dos incentivos para a conquista de plantas e mercados internacionais, primeiro em seus países de origem, e depois pelos países receptores dos investimentos, muitas vezes oferecendo incentivos fiscais, tributários, e mão de obra barata e em precarização.

Posteriormente, a liberalização e desregulamentação dos mercados financeiros inaugurou uma nova fase do capitalismo, com a liderança inconteste dos Estados Unidos e a permanência da Europa e do Japão como eixos principais do capital global e investidor, concentrando a maior parte dos fluxos de investimento financeiro e produtivo. A ascensão da China não significa que os requisitos ou fatores que levaram ao desenvolvimento dos países ricos foram facilitados, mas antes, atestam a grandiosidade dos investimentos requeridos para a industrialização e da dificuldade em ascender economicamente, em um período em que a necessidade de acumulação de capital e coordenação seriam ainda maiores do que em décadas passadas.

A grande empresa utiliza também a mobilidade do capital e de suas estruturas para mudar suas operações para países em que a mão de obra é mais barata, e os recursos e insumos são mais abundantes relativamente, assim como as redes de produção, para captar parte significativa dos lucros de empresas menores,

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que realizam diversas etapas dessa produção e assumem maiores riscos. Sobre isso, Chesnais (2016) argumenta:

Simultaneamente os grupos industriais do setor fabril, como da grande distribuição ou de serviços, também sabem fazer uso do “poder do mercado” que lhes confere sua grande dimensão, para captar, através de contratos de termos leoninos, frações do valor dos produtos das firmas menores ou de capacidade de negociação a preços mais baixos. O grande grupo monopoliza o valor criado em outras estruturas que não as suas, assim como produz dentro de seus próprios muros. A organização dos grupos em “firmas-redes” traduz a perturbação das fronteiras entre o lucro e a renda, na formação dos resultados de exploração de grupos, bem como o peso crescente das operações que dependem da apropriação de valores já criados por meio de levantamento monetário sobre a atividade produtiva e o excedente de outras empresas. (CHESNAIS, 2015, p.21)

A China, como já discutido, incorpora algumas dessas estratégias utilizadas pelos países desenvolvidos e se integra progressivamente no mercado internacional utilizando a globalização e a liberalização dos mercados limitadamente, inundando o comércio global com seus produtos competitivos em preço enquanto barra a expansão das transnacionais em vários setores no interior de sua economia. O amplo apoio dado às estatais no processo de internacionalização atesta a dualidade chinesa em se apropriar dos mercados mundiais e de sua entrada à OCDE para continuar intervindo extensivamente não somente em sua economia, mas exercer seu crescente poder econômico e financeiro para ampliar sua fatia de renda na economia global.

A participação do país no sistema econômico e financeiro global indica o interesse do Estado em mudar a posição da China nesse contexto, modificando o papel de mero fornecedor de matérias-primas e insumos de baixo custo (como mão-de-obra e terras), e se tornar a segunda maior economia em valor do PIB. O objetivo era de utilizar o avanço nas cadeias produtivas e da acumulação de capital para desenvolver o país, coordenando diferentes forças e agentes internos e externos à China para realizar esse projeto. A tarefa hercúlea de aumentar a renda per capita de mais de um bilhão de pessoas, em pouco mais de meio século, não deriva de um conjunto de ações individuais de agentes maximizadores, e sim de um esforço concentrado e centralizado do Estado, sua burocracia e seu conjunto de autarquias, órgãos e províncias, unidas por um propósito maior.

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A internacionalização dos grupos nacionais é um componente decisivo na estratégia chinesa. É comumente discutido que o investimento penetra as regiões ricas para a captura de rendas, carteiras de clientes e negócios, ciência e tecnologia. Nos PED, por outro lado, supõe-se que a busca é pelo mercado consumidor para o escoamento de exportações, e por recursos naturais necessários à produção, como o petróleo e minerais. No caso chinês, será analisado se essas suposições valem para a estratégia do país. (YANG, 2016). Em virtude das grandes diferenças entre a internacionalização dos países ricos em comparação à China, é importante recuperar como essa diversidade ocorre na literatura para que possamos separar as características dissimilares do investimento chinês.

Quando se pensa em ETN, algumas de suas funções são dignas de menção no contexto da internacionalização. Chesnais retoma a valorização do capital no interior das cadeias de produção industrial, ou ‘cadeias de valor’, em que a esfera de circulação do capital existe crescentemente com menor valor capturado pela esfera da produção e maior valor transferido aos elementos ligados à distribuição. O conflito pela aquisição da mais-valia entre as diferentes firmas envolvidas na produção, distribuição e circulação é afetado por diversos fatores, como a participação no mercado e o poder de barganha da firma, os graus de monopólio e monopsônio em determinados setores, e os bancos e instituições financeiras envolvidos na estrutura de capital das empresas. A ETN, como agente centralizador desses processos, constantemente se modifica a fim de capturar o máximo de valor dessas cadeias.

Além disso, a ETN se organiza nas estruturas proprietárias dos recursos naturais, em especial em regiões ricas em petróleo e minerais, em que a presença de operações de novas plantas greenfield, se relaciona tanto à natureza da exploração de recursos naturais quanto ao ambiente regulatório menos complexo dos países em desenvolvimento, que são os principais fornecedores desse tipo de insumo. A exploração desses recursos possibilita a minimização dos custos envolvidos na produção e captura de mais-valia, por meio de intensa exploração da mão de obra, cobrança de aluguéis e na posterior venda do produto.

No caso chinês, as características de suas ETN podem se assemelhar principalmente pelos meios de exploração, porém os objetivos (ou fins) estão também relacionados à garantia de insumos necessários ao crescimento e desenvolvimento

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econômico. A grande dependência de importação de petróleo, por exemplo, coloca o país em constante negociação com os maiores produtores, como os países a Arábia Saudita e o Irã, Rússia, Venezuela, entre outros. A dependência do petróleo tem impacto nos preços praticados por esses países, assim como a oferta; promover a segurança dos insumos mais utilizados pela China é um dos objetivos do governo em promover a internacionalização.

Dicken (2011) argumenta que as ETN guardam características comuns entre si, sendo estas: a habilidade de coordenar a grande complexidade entre as cadeias de valor e as redes de produção; o poder de extrair vantagens de acordos e negócios em diferentes localidades do globo, e a crescente flexibilidade de ser desvincular de ativos e mudar seus escritórios e plantas para regiões que oferecem maiores vantagens. As mudanças sofridas pelas ETN (e concomitantemente provocada por elas) após a década de 90 reforçam o caráter de flexibilização da produção por meio das redes, e seu poder de organizar a crescente complexidade da produção e distribuição, ao mesmo tempo que se concentram em etapas com maior potencial de valorização.

A forma como a ETN chinesa atua é dessemelhante ao atestado nas teorias de internacionalização baseadas nas firmas dos países ricos. Primeiro, a aquisição de ativos estratégicos pelos conglomerados chineses visa a contribuição para a legitimidade e o conhecimento de normas e valores em mercados internacionais. Em segundo lugar, as firmas chinesas buscam a aprovação das instituições governamentais e dos órgãos das províncias; a disciplina em seguir os objetivos e regras do Partido Comunista é parte importante tanto da recompensa quanto da punição que essas empresas enfrentam ao participar do esforço de internacionalização da estratégia “Going Global”. Por fim, o investimento internacional possui maior relação com o país receptor do que com as condições domésticas da China. Vantagens econômicas e financeiras, acesso a mercados e condições favoráveis ao investimento chinês são alguns dos fatores que influenciam a escolha por determinadas regiões, setores e firmas (DENG, 2009).

As ETN de PED têm diversos obstáculos a internacionalização: escassez de financiamento, dificuldade em conhecer os mercados potenciais, inexperiência, instabilidade econômica e/ou política em seus países de origem, entre outros fatores

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que dificultam a concorrência dessas empresas, em especial em setores mais tradicionais tomados pelas companhias de PD. Nesse sentido, a relativa estabilidade da estrutura política chinesa e a grande capacidade de financiamento colocam o país em vantagem em comparação com a internacionalização de PED como Brasil e Índia (KENJI, 2013). E estas duas vantagens se relacionam diretamente com a presença de empresas estatais no processo de internacionalização.

A definição de empresa estatal segundo a OCDE (2017) é a de uma firma que o governo exerce controle e propriedade sobre.

A state-owned enterprise is any corporate entity recognized by national law as an enterprise and in which the central level of government exercises ownership and control. This includes joint stock companies, limited liability companies and partnerships limited by shares. In addition, statutory corporations, whose legal personality is established through specific legislation, should be considered as SOEs if they engage in economic activities, either exclusively or together with the pursuit of public policy objectives. (OCDE, 2017, p. 13).

Luo e Tung (2007) argumentam que por razões históricas e político-econômicas, parte importante das ETN de PED são estatais.1 Os chamados “agentes transnacionais” (transnational agents), são ETN estatais ou de capital misto de PED que atuam como centralizadores de setores estratégicos, sendo objeto de intervenção política. O acesso a financiamento e contratos prioritários contribuem para o crescimento dessas empresas, e para a posição privilegiada que estas têm em relação a outras firmas domésticas em relação à internacionalização.

A segunda categoria de ETN estatais de PED são as “especialistas comissionadas” (commissioned specialists), que são firmas que atuam principalmente em seus mercados domésticos, com acesso a outras regiões por meio de comissões designadas pelos governos em situações em que suas competências estratégicas tenham relevância. Sua atuação é limitada a alguns países em que possam lucrar com a expertise, enquanto realizam missões comissionadas para o Estado.

1 Para uma caracterização mais completa das ETN de PED realizada pelos autores, ver Luo

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O caráter diferenciado das empresas estatais, tanto em relação ao comportamento mais propenso a operações de maior risco quanto a possibilidade de estender o período de retorno do investimento, advém da relação complexa com os entes governamentais e institucionais, e o acesso privilegiado a financiamento a taxas atrativas. As estatais chinesas têm um papel importante pois são as primeiras a realizar grandes operações de investimento, e detém um relacionamento mais direto com a burocracia estatal que auxilia a internacionalização, como o governo das províncias, os órgãos de diplomacia e relações internacionais, e o próprio sistema bancário, que é em sua maioria também estatal. Setores estratégicos como fornecimento de energia, alimentos e tecnologia são de particular interesse para o Estado chinês, e as empresas estatais ou de capital misto têm maior penetração nestes setores.

Antes de prosseguirmos à próxima seção, é importante diferenciar investimento (Investimento Direto Estrangeiro), já definido na primeira seção do capítulo, e IDP (Investimento Direto no País). Esta metodologia está explicitada nos estudos realizados pelo BCB (Banco Central do Brasil) e que diferenciam a saída de capital do país (investimento), ou posição de ativos, e a entrada de recursos, ou posição de passivos (IDP). Essa diferenciação contribui para maior clareza da análise, já que se analisa tanto o histórico do IDP recebido pela China ao longo das décadas, e que contribuiu no desenvolvimento econômico do país, quanto da perspectiva do investimento, que é o objeto principal de exame deste trabalho.

1.3 A China pós-revolução: exportadora e receptora de IDP

Poucas vezes na história humana o esforço de desenvolvimento econômico foi uma trajetória linear e sustentada. Dificilmente outro esforço foi maior do que o chinês. No contexto da internacionalização, a análise da estratégia de desenvolvimento surge como driver da saída de investimento ao exterior. Porém, como podemos enquadrar esta inédita experiência nas teorias de investimento e internacionalização, baseadas em perspectivas anglo e eurocêntricas? A resposta pode estar à margem destas teorias, na perspectiva histórico-política do país.

A revolução de 1949 trouxe enormes oportunidades e desafios para a China primordialmente agrária. A planificação da economia e o controle de preços, e

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de forma mais extensa, a tentativa de seguir o receituário soviético, guiaram parte das primeiras décadas pós-revolução. O objetivo era modernizar o país e recolocá-lo em lugar de destaque entre as grandes nações. O Partido Comunista realizou uma série de reformas ligadas aos Planos Quinquenais, que levaram ao rápido estabelecimento de grandes indústrias. Porém, a estatização e a baixa produtividade do setor agrário impactaram a oferta de alimentos e insumos, apesar do crescimento econômico. Eram necessários ajustes para que o objetivo da modernização fosse alcançado.

Após as reformas de 1979, intenso processo de conflitos políticos e sociais, o pragmatismo econômico adotado no período repercutiu em vários eixos do sistema. Diferentemente de outras economias que aderiram o liberalismo quase que irrestrito nas décadas de 80 e 90, o Estado chinês promoveu as reformas enquanto manteve o controle de setores prioritários, implementando ajustes para possibilitar a estabilidade e o crescimento (LIN, 2013).

O objetivo primordial da estratégia de desenvolvimento chinesa é o de elevar a posição chinesa ao destaque internacional, como nova (e ao mesmo tempo, antiga) potência econômica e política, capaz de influenciar diplomacia, comércio, finanças e outros eixos do poder internacionalmente. O desenvolvimento chinês coordenado pelo Estado pode ser situado nas experiências de industrialização atrasada como a da Coreia do Sul, Alemanha e Japão, porém com algumas particularidades da experiência chinesa. A importância de manter o controle político de Taiwan e influência sobre a ex-colônia inglesa Hong Kong torna necessário a política do “um país, dois sistemas”, no qual a China continental se insere num contexto de pouca abertura ao exterior, fortemente controlada pelo Estado, utilizando Hong Kong como principal plataforma financeira e comercial, e sendo seu contato com o mundo.

Para organizarmos o histórico das reformas, utilizamos uma periodização por década, ressaltando as principais características da China que influenciaram o desenvolvimento econômico e os impactos deste na estratégia de internacionalização.

a) Pós-1979 e década de 80

A partir de 1979, as reformas visam realizar este objetivo primordial, atingindo diversos setores econômicos e esferas da sociedade. As reformas mais

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importantes são: as mudanças no campo, de estímulo à produtividade agrícola; a orientação de parte importante da produção industrial para a exportação, com supressão do consumo interno e manutenção de vantagens comparativas em setores de mão de obra intensiva; atração intensa de IDP nas Zonas Econômicas Especiais (ZEE), com controle estatal; relaxamento de planejamentos centrais, visando maior autonomia das empresas estatais, enquanto ainda seguindo as metas centralizadas da burocracia; e a presença de um sistema de preços mistos, com o convívio de preços livres e controlados. (MEDEIROS, 1999)

O crescimento econômico chinês, progressivamente maior que de outras economias por quatro décadas, é parte importante do entendimento da estratégia de desenvolvimento e modernização, não somente como fim em si mesmo. O aumento da produtividade no campo e nas cidades, do investimento nas indústrias leves e pesadas, e das exportações, são os principais eixos que possibilitam esse crescimento. O investimento em bens exportáveis aumenta a disponibilidade de divisas, que por sua vez, possibilita a importação de bens que não eram acessíveis às empresas chinesas, como máquinas e equipamentos, e o ciclo se retroalimenta.

O desenvolvimento de grandes plantas voltadas à manufatura ocorreu especialmente nos setores têxtil e de eletrônicos, além de vários outros, e parte da produção mundial foi realizada em condições de aproveitamento de vantagens de escala e escopo, utilizando elevados contingentes de trabalhadores chineses em atividades voltadas a etapas menos complexas das cadeias das ETN (SARTI & HIRATUKA, 2015). As ETN continuavam a realizar atividades relacionadas a marketing, desenvolvimento de produto, design e promoção de marca, transferindo a parte manufatureira para os países asiáticos, sendo a China o principal destino de IDP entre os países em desenvolvimento por vários anos, especialmente com foco em manufatura.

O crescimento econômico acelerou, puxado pela produção industrial, com maior produtividade agrícola e as exportações, porém a limitação de divisas estrangeiras era um entrave ao desenvolvimento, já que reduzia a importação disponível ao país, e que possibilitaria a modernização de forma mais ampla. Na década de 80, a importação de máquinas e equipamentos é reforçada, tornando as exportações insuficientes para segurar o déficit na balança comercial. O balanço de

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pagamentos era compensado pela entrada forte de investimento estrangeiro oriundo de ETN de EUA, Europa e Japão.

No eixo das ZEE, as zonas costeiras serviram como plataforma de importação e de promoção das exportações, com presença de capital e empresas estrangeiras. No caso do interior do país, controles de preço e altas tarifas sobre importações limitavam o comércio com o exterior, predominando políticas de protecionismo do mercado interno. A política de incentivo das exportações também contou com a desvalorização do yuan, o que adiciona maior competitividade e passa a gerar mais divisas, que seriam usadas para a modernização do país.

As políticas de incentivo à entrada de capital estrangeiro foram parte importante do esforço de acumulação de divisas e de capacitações industriais e manufatureiras. O aproveitamento de vantagens comparativas em produtos trabalho-intensivo e a possibilidade de grandes escalas de produção foram fatores que contribuíram para o sucesso das políticas, atraindo empresas transnacionais interessadas em menores custos de produção, na crescente especialização dos ainda nascentes módulos de produção das redes asiáticas. Muitas dessas políticas reforçavam a obrigação das empresas internacionais de fazer parcerias e joint-ventures com empresas locais, que obtinham benefícios especiais do governo chinês. (MEDEIROS & CINTRA, 2015).

Parte importante da produção industrial permaneceu em poder das empresas estatais, que ocupavam os setores estratégicos como o energético (elétrico, petróleo e gás, e carvão), máquinas e equipamentos, e a indústria pesada de modo geral. A consolidação das empresas estatais como eixo do crescimento e do desenvolvimento se dá por meio da ligação direta com a burocracia do governo central e de sua presença nas províncias, coordenadas diretamente às metas estabelecidas pelo Partido, o acesso a linhas de financiamento oficiais e facilidades na importação.

b) Anos 90

Nos anos 90 a entrada de investimento na China mudou de patamar. A combinação de políticas favoráveis ao capital estrangeiro, grande mercado consumidor com aumento de poder de compra e economia em crescimento contribuem para explicar a magnitude e a quantidade das operações realizadas no

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período. A distribuição geográfica é desigual, e a costa oeste do país foi uma das mais privilegiadas no processo de internacionalização das ETN; cidades como Pequim e Shanghai obtém facilidades como infraestrutura local mais avançada e acesso ao mercado consumidor, qualidades valorizadas na escolha de qual região investir, em detrimento de províncias mais distantes da costa (ALI & GUO, 2005). As razões que atraem determinados tipos de IDP se distinguem; capital para atividades relacionadas à exportação de produtos frequentemente é atraído por políticas fiscais favoráveis e mão de obra mais barata; no caso de ETN atraídas pelo acesso a mercados, a proximidade do mercado local e mão de obra qualificada são alguns dos drivers condicionantes (ZHANG, 2000).

Ressaltar o papel central do Estado chinês no processo é importante para qualificar a entrada de investimento como um instrumento que foi usado para o projeto de desenvolvimento e crescimento econômico. A coordenação desses investimentos para certas regiões do país, o direcionamento prioritário para o setor de tradables, a acumulação de reservas estrangeiras e as políticas voltadas ao controle do capital entrante, com o objetivo de induzir parcerias de firmas estrangeiras com outras domésticas; todas essas ações não são triviais e partem de um esforço de Estado para utilizar o capital estrangeiro como meio de desenvolver e modernizar o país (ACIOLY, 2005).

A emergência da China como grande polo exportador ocorreu em decorrência tanto das políticas de abertura comercial após 1979, quanto das políticas industriais e macroeconômicas que o governo adotou para industrializar o país. Além disso, as condições que permitiram que os países desenvolvidos transferissem parte da manufatura realizada em seus países para outros com menores custos de mão de obra, outsourcing e terceirização de atividades não core contribuíram para que o Estado chinês utilizasse o capital estrangeiro para importar produtos necessários aos processos de urbanização e industrialização.

A criação das Zonas Econômicas Especiais (ZEE) marcou a divisão regional da produção de manufaturas para exportação, desenvolvendo links de coordenação regional e possibilidade de atração de capital estrangeiro, em um ambiente regulado pelo governo central chinês, e ao mesmo tempo, de forte autonomia econômica das províncias. (WALL, 1993). As reformas de abertura

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comercial e de entrada de capitais obtiveram sucesso em dinamizar a economia, permitindo a constituição de empresas privadas e a competição de empresas estatais, e gradualmente retirando o controle de preços, assim como diminuindo as barreiras ao comércio.

As empresas estatais continuavam sendo parte essencial do sistema, porém progressivamente passam a se concentrar em setores estratégicos, enquanto reduções nos controles de preços contribuíram para atrair mais investimento internacional (WATSON, 1994). A criação das Zonas Econômicas Especiais (ZEE), zonas voltadas ao incentivo de atividades industriais comerciais nas regiões de costa da China, coincidem com políticas de permissão do estabelecimento de joint ventures entre empresas chinesas e estrangeiras, o que tornava essas regiões de particular interesse tanto para o capital internacional quanto para empresas nacionais.

As reformas com o objetivo de modernizar a economia ocorrem em quatro frentes: agricultura, ciência e tecnologia, defesa e indústria (MEDEIROS, 1997). A reorganização da economia foi progressivamente alcançada com a implementação de algumas reformas liberalizantes, como a descentralização dos órgãos responsáveis pela administração das empresas estatais e a permissão de entrada de capital estrangeiro em vários setores da economia, visando a modernização dos mesmos e aumento da produtividade. Ressalta-se que essa entrada de capital era controlada pelo Estado, assim como sua saída, visando o desenvolvimento econômico doméstico.

A China conseguiu aproveitar sua abundância em mão-de-obra barata e a produção de manufaturas de baixo valor agregado para acumular moeda estrangeira e importar. A acumulação de capital relacionada à urbanização e à industrialização permitiu que a economia chinesa crescesse a taxas bem mais altas que a mundial, e a diversificar sua base produtiva (MEDEIROS & CINTRA, 2015). Investimentos na indústria de bens de capital e construção civil, e a grande demanda por bens de consumo para as cidades impulsionaram o processo de crescimento naquele momento, aliado a fatores como baixos salários e uma grande reserva de trabalhadores.

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Algumas mudanças significaram a ampliação da pauta de produtos exportados. A concentração da industrialização trabalho-intensiva progressivamente deu lugar a mercadorias de capital-intensivo nos anos 90, havendo crescimento da produção de manufaturados de média e alta complexidade. A concentração de empresas estatais era massiva, e diminuiu ao longo dos anos, com a crescente abertura da economia, e o controle do Estado passou a ser mais indireto.

Grandes conglomerados industriais progressivamente acumularam capital financeiro e produtivo, atuando sob a vigilância do governo e participando das diretrizes para o crescimento e desenvolvimento (MILARÉ, 2011). A estratégica chinesa para possibilitar esse desenvolvimento não se restringiu a um só instrumento, mas incluiu diversas políticas de coordenação e direcionamento de recursos e incentivos tanto para a entrada de investimento estrangeiro quanto interno, direcionados para estabelecer capacidade produtiva e exportadora, conforme Araújo, Brandão & Diegues:

Outras estratégias com mesmo intuito foram: atração de investimento, que além de trazer o capital externo produtivo, atraía know-how; o incentivo à cópia e à engenharia reversa; a manutenção do câmbio artificialmente desvalorizado; financiamento estatal para novos empreendimentos a taxas de juros menores; altas taxas de investimento, entre outras. Tratava-se de estratégias elaboradas pelo Estado que viabilizavam a presença do mercado sem a perda da autonomia nacional. Essa atuação participativa do Estado chinês no comando do processo de industrialização e desenvolvimento econômico do país pode ser entendida pela ótica de que a convergência de renda entre os países industrializados e os não industrializados não se trata de um resultado natural da dinâmica econômica. (ARAÚJO, BRANDÃO & DIEGUES, 2018, p. 12).

Os incentivos à entrada de IDP também foram escolhidos pelo governo chinês em decorrência do perfil de maior comprometimento desse tipo de investimento no país receptor, em detrimento de outras formas de ingresso de capital financeiro como as de curto prazo, que são mais propensas a grandes flutuações de entrada e saída, e menor impacto tanto nas estruturas produtivas quanto no mercado de trabalho.

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Diversos fatores influenciaram o avanço do desenvolvimento econômico do país, como a expansão do mercado interno, e do emprego nas cidades. Porém, estas variáveis começaram a encarecer a mão-de-obra no país nos anos 2000. Quanto maior os salários médios dos trabalhadores, maior o custo de vida, implicando em diminuição da competitividade chinesa. Um dos caminhos de compensação para este movimento é o avanço na cadeia de valor, com a produção de bens com maior valor agregado, conhecimento e P&D. O investimento sustentado e prioritário da burocracia estatal em inovações tecnológicas, tanto de uso civil quanto militar, garante o desenvolvimento de capacidades, demonstrado pelo crescimento no número de patentes, no percentual importante de gastos com P&D nas empresas e nas instituições de pesquisa e universidades.

Porém, a oferta de recursos e produtos manufaturados não era suficiente para a população de mais de um bilhão de habitantes, e do dinamismo das grandes empresas estatais e privadas. A importação de alimentos, energia e manufaturados, principalmente de média e alta complexidade constituiu uma saída viável para o problema de demanda abundante da economia chinesa. A combinação entre necessidade de importação de bens de consumo e de insumos para a produção, assim como o tamanho da China e seu rápido crescimento, impactaram a demanda nos mercados globais de commodities de forma substancial. (FAROOKI & KAPLINSKY, 2009). Neste momento, a China expandiu seu papel de ofertante de produtos para o mercado internacional, e passou a demandar grande quantidade de matérias-primas e insumos.

A demanda de energia também cresceu rapidamente. Mais de metade da oferta de petróleo do país atualmente é proveniente de importações, o que coloca o país como dependente da oferta e dos preços no mercado internacional. A indústria, em especial a pesada, é grande demandante de petróleo e gás, assim como a indústria automobilística. O crescimento das cidades, estradas, ferrovias, prédios comerciais e residenciais rapidamente se torna um dos principais vetores do próprio crescimento econômico, com o fortalecimento do investimento como variável importante de demanda.

O processo de urbanização adiciona maior pressão por oferta de energia, o que a torna um setor estratégico dentro da modernização chinesa. Países

Referências

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