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Figura 1: localização do território da Amazônia Tocantina

Fonte: Pró-OTIMA-UFPA, Cametá - 2018.

A Amazônia Tocantina caracteriza-se como um território heterogêneo, cuja expressão se materializa nas diversas formas de produção e reprodução da existência, nas relações que se estabelecem com a natureza, nas relações entre as diferentes classes sociais e nas diversas expressões identitárias da população que habita esse território. Tais características imprimem significados que nos levam a compreendê-la como território, diverso, tenso, complexo e contraditório, movido por relações sociais solidárias e conflitivas. É por expressar essa totalidade de relações que o território é entendido, no dizer de Fernandes (2006), como multidimensional.

Como uma particularidade da Amazônia, a Amazônia Tocantina apresenta formas tradicionais de trabalho e de reprodução da vida que se dinamizam em torno da terra, do rio e da floresta e se desdobra nas atividades como “a agricultura, no trabalho com a terra, o

extrativismo realizado na floresta, e a pesca nos rios, incluindo todas as suas expressões materiais e simbólicas” (HAGE, 2014, p. 1178). Essas atividades desenvolvidas pelos sujeitos ribeirinhos, extrativistas, assentados, pescadores, quilombolas, agricultores e outros trabalhadores existentes no território são contrastadas com modos de produção e interesses de classes alinhados à lógica capitalista.

O antagonismo entre os diferentes interesses leva a sobreposição de uma classe sobre a outra. Os grandes empreendimentos capitalistas ao imporem sua lógica produtiva sobre os produtores familiares, impactando sobre seu modo de ser, de viver e de produzir, geram relações conflituosas e provocam os trabalhadores a organizarem-se. Estes, ao criarem e recriarem estratégias de resistências constroem identidades coletivas, por meio de associações, cooperativas e movimentos sociais, somando forças na luta pela defesa de seus territórios.

Dentre os diversos coletivos existentes na Amazônia Tocantina, destacamos o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadores Rurais (STTR), Movimento Atingidos por Barragens (MAB), Cooperativa Agrícola Resistente de Cametá (CART), Cooperativa Agroindustrial e Extrativista das Mulheres do Município de Cametá (COOPMUC), Associação de Pescadores e Pescadoras Artesanais do Município de Cametá (APAMUC), Associação das Mulheres do Ajo (AMA), colônia de pescadores de Z16, Associação Remanescente Quilombola de Mupi (ARQUIM), Associação dos Ribeirinhos de Cametá (ARC); e Cooperativa Agrícola dos Empreendedores Populares de Igarapé-Miri (CAEPIM).

Estes coletivos, cotidianamente, tentam re-existir contra as perversidades provocadas pelos grandes negócios que se apropriam dos rios, da terra e da floresta para o avanço do capitalismo. À medida que estes coletivos se organizam e se mobilizam para propor e protagonizar formas alternativas de produzir, bem como denunciar o modelo produtivo devastador da natureza e seus impactos socioculturais e ambientais, eles desenvolvem práticas educativas, constituindo-se em sujeitos educativos e de práxis.

A existência expressiva desses coletivos, localizados na Amazônia Tocantina atribui sentido e relevância à formação de educadores do campo, na LEDOC, no tocante a dimensão das práticas educativas populares, visto que esses espaços se configuram como campo de atuação profissional dos sujeitos educadores.

A definição da Amazônia Tocantina como território de pesquisa ocorreu em função da participação no OBEDUC, em decorrência das reflexões acerca do Curso de Licenciatura em Educação do Campo da UFPA/Cametá, por ocasião do planejamento da pesquisa sobre a Expansão da Educação Superior do Campo, vinculada a Rede de Estudos Universitas-BR. O

acesso aos documentos orientadores da formação que expressavam uma atenção significativa, na formação dos educadores do campo, no que tange a dimensão das práticas educativas populares e o protagonismo dos movimentos sociais na consolidação do curso, motivou-nos na escolha desse território, como lócus de pesquisa.

Além disso, a participação no Observatório da Educação Superior do Campo (OBEDUC) nos possibilitou ampliar, atualizar e sistematizar as produções existentes para a delimitação da pesquisa e as possíveis teorias que nos possibilitassem a compreender as categorias do objeto, a priori. O fato de integrar o observatório nos oportunizou ainda realizar um curso na Universidade de Brasília (UnB), em novembro de 2017, sobre o Materialismo Histórico Dialético, o qual nos municiou de um suporte teórico fundamental que serviu de base para referenciar a produção desta tese.

A fase exploratória dessa pesquisa foi iniciada em 2016, por ocasião da primeira disciplina7, por mim ministrada, no Curso de Licenciatura em Educação do Campo, pelo campus de Cametá, como docente colaboradora e que depois se ampliou em função de outras disciplinas. Esse contato inicial, permitiu-nos uma relação mais próxima com o curso e a extensão desse contato nos levou a um diálogo mais efetivo com o coletivo da Faculdade de Educação do Campo – FECAMPO. Fato que favoreceu o conhecimento com mais detalhamento da dinâmica do curso, de sua proposta pedagógica e curricular.

Para Minayo (2014, p. 196), essa fase deve preceder o trabalho de campo em si, pois possibilita conhecer o espaço da pesquisa, o grupo que se pretende pesquisar, os critérios da amostra de determinado grupo e estabelecer estratégias para inserção no trabalho de campo propriamente dito. Sendo assim, essa fase nos permitiu maior aproximação com a Amazônia Tocantina, como lócus de nossa pesquisa, e delimitar nosso recorte de estudo diante da totalidade de turmas ofertadas pela LEDOC e os devidos critérios de escolha.

Delimitamos, como recorte de estudo, a turma 2014, dos discentes no Campus de Cametá. Essa escolha ocorreu em função de ser uma das primeiras turmas da LEDOC, ofertada pela UFPA/Cametá, logo estaria integralizando os componentes curriculares do curso, o que tornaria possível analisar a contribuição desses componentes na formação dos educadores do campo, no contexto das práticas educativas populares, articulada à concepção dos sujeitos. Nota-se que as nossas reflexões se ampliaram, no tocante à materialidade da formação, sobre as experiências desenvolvidas nas demais turmas que iniciaram em 2014.

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A disciplina Educação do Campo e Pedagogia da Alternância, foi ministrada na turma de 2016 da FECAMPO, no polo de Igarapé-Miri.

Nesse sentido, o nosso estudo se concentra em analisar as contribuições da LEDOC na construção de práticas educativas populares, por isso destacamos os componentes curriculares que articulam a formação desta perspectiva, a saber: Estudos de Práticas Educativas em Organizações Populares e os Estágios em Organizações Populares. Ambos os componentes são ofertados no 7º semestre do curso, logo a escolha de tal turma tornaria viável essa dimensão da pesquisa.

Após definição do lócus de pesquisa e delimitação do objeto de estudo, o investimento no trabalho de campo exigiu a utilização de estratégias e de vários instrumentos, os quais objetivavam fazer a mediação entre o marco teórico-metodológico e a realidade empírica pesquisada (MINAYO, 2014). Sendo assim, a inserção no nosso campo de pesquisa, para analisar as contribuições da LEDOC na construção de práticas educativas populares na formação do educador do campo demandou a utilização de diversos instrumentos de coleta de dados, que serão explicitados no item seguinte.

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