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7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

7.5 O Laboratório de Gestão e a contribuição para a formação de gestores

A AG surgiu devido à necessidade de unir teoria e prática e abrange conhecimentos variados como habilidades interpessoais, técnicas financeiras, marketing e estatísticas (BURGOYNE; REYNODS, 1997; FOX, 1997).

Dentre as opções de cursos oferecidos no contexto da AG, os MBA´s são os mais procurados (SILVA; GODOY, 2016). No entanto, foram muito criticados a partir dos anos 2000 devido principalmente às seguintes lacunas: conexão entre teoria e prática, pesquisas para comprovar o efeito dos cursos sobre a performance profissional posterior (MINTZBERG, GOSLING, 2002; PFEFFER, FONG, 2003), incentivo à responsabilidade moral (GHOSHAL, 2005), estímulo à criatividade e inovação (DUNNE; MARTIN, 2006), integração multidisciplinar (NAVARRO, 2008) e relevância dos conteúdos aprendidos para a prática (MINTZBERG, 2004).

Os resultados da pesquisa desenvolvida para esta dissertação contribuem para a discussão de alguns desses tópicos. Em relação à falta de conexão entre teoria e prática

110 (MINTZBERG, GOSLING, 2002; PFEFFER, FONG, 2003), os alunos entrevistados relataram situações em que conteúdos teóricos aprendidos durante o Laboratório de Gestão e em outros momentos diversos, inclusive conhecimentos advindos da prática profissional, foram praticados. Esse resultado contribui inclusive para a integração de conteúdos teóricos da academia com o ambiente de trabalho conforme apontado como uma necessidade educacional recente por Jackson (2015).

Além disso, os estudantes relataram a utilização de conhecimentos adquiridos em disciplinas anteriores durante o curso de graduação em Administração como: financeiros, regras econômicas do JE vivenciado, contábeis e etc. Dessa forma, os dados apoiam a multidisciplinaridade possível por meio do Laboratório de Gestão.

Ocorreram também, segundo opinião dos discentes, oportunidades de criar novos conhecimentos por meio da análise dos resultados das tomadas de decisão. Esse resultado contribui para a discussão do artigo de Brown e Kuratko (2015) sobre a inovação por meio da aprendizagem vivencial. Esses autores defendem a inovação como resultado da identificação de um problema antes da reflexão sobre possíveis soluções.

Portanto, o Laboratório de Gestão, enquanto abordagem educacional utilizada para o planejamento e execução de disciplinas, mostrou ser ambiente próspero para pesquisas com foco na formação de gestores. Isso porque, de acordo com a opinião dos discentes, ocorreram oportunidades para: integração de conteúdos teóricos, destes com experiências profissionais inclusive; inovação por meio da criação de novos conhecimentos e prática da multidisciplinaridade.

Dessa forma, os dados apoiam o Laboratório de Gestão enquanto ambiente de aprendizagem vivencial, de prática coletiva dos conhecimentos acadêmicos conforme concebido por Sauaia (2008, 2010, 2013). No entanto, os alunos destacaram como limitação da abordagem a falta de qualidade do envolvimento pessoal no processo de ensino- aprendizadem. Esse aspecto, de acordo com Rogers (1972) é primordial para o aprendizado no contexto da aprendizagem vivencial.

Outra limitação, durante o processo de ensino-aprendizagem por meio do laboratório, foi o fato de que nem todos os alunos alcançaram o nível mais complexo do domínio cognitivo: a criação de conhecimentos por meio da metacognição. A partir da análise dos relatos, apenas os entrevistados das equipes 2, 3, 5 e 6 afirmaram ter ocorrido a criação de projetos organizacionais e/ ou planilhas de suporte à decisão. Entretanto, não foram todos os integrantes desssas equipes que se envolveram no processo de criação.

111 Além disso, poucos identificaram problemas de pesquisa durante a vivência por meio da reflexão sobre os resultados das tomadas de decisões. A maioria dos discentes elaborou o problema científico apenas após a conclusão das rodadas do JE. Durante as entrevistas e grupos de foco, apenas o entrevistado 3 citou a formulação do problema de pesquisa como resultado da análise dos resultados das tomadas de decisão durante o JE. Os demais escreveram o relatório técnico-científico sobre temas diversos aos resultados das decisões ou identificaram o problema de pesquisa para o relatório técnico-científico após todas as rodadas.

Por esse motivo, a seção a seguir se dedica a discutir a convergência teórica entre os modelos de AV de David Kolb e a Taxonomia Revisada de Bloom. A presente dissertação sugere a utilização desta para observar o processo de evolução cognitiva dos alunos durante o Ciclo de Kolb e, se necessário, intervir para estímulo da reflexão crítica, autonomia e integração da teoria com a prática.

A convergência teórica discutida na próxima seção visa inclusive subsidiar próximas pesquisas sobre o Laboratório de Gestão enquanto abordagem educacional inserida na proposta da aprendizagem vivencial. A intenção é contribuir para que a educação gerencial tenha como alicerce esta teoria.

7.5.6 A Convergência teórica

A literatura indica ser primordial, durante o processo de ensino-aprendizagem, o vínculo entre reflexão e ação (MCGILL; BROCKBANK, 2004; SILVA; SILVA, 2011). Este, inclusive, é citado como primordial para o contexto educacional na formação dos gestores, pois permite o foco tanto na maior produtividade enquanto consequência da aquisição de conhecimentos como na formação do pensamento crítico e ético (CUNLIFFE, 2016).

Nesse sentido, o modelo teórico de Kolb (1984) é reconhecido como um dos mais influentes (ARMSTRONG; MAHMUD, 2008). Entretanto, pesquisadores como Kakouruis (2015) e Matsuo (2015) sugerem investigar os objetivos educacionais enquanto propiciadores da reflexão crítica, principalmete durante as fases de OR e CA do Ciclo de Kolb.

Portanto, a pesquisa desenvolvida para esta dissertação, situada nesse contexto teórico, analisou a evolução no domínio cognitivo por alunos de acordo com a Taxonomia Revisada de Bloom. Esta estabele objetivos educacionais com possibilidade de auxiliar a compreensão do desenvolvimento, em termos de aprendizagem, pelo discente durante abordagens educacionais com foco na aprendizagem vivencial.

112 Como resultado da pesquisa, discute-se a convergência teórica entre a Taxonomia Revisada de Bloom e o Ciclo de Kolb. O encontro desses dois modelos teóricos é ilustrado na Figura 13.

Apenas para fins didáticos, a convergência será discutida a partir da EC. Entretanto, na teoria da aprendizagem vivencial de Kolb (1984), o processo de aprendizagem pode iniciar em qualquer uma das quatro fases.

Dessa forma, após a EC, momento no qual ocorre a tomada de decisão inicial, o aluno analisa os resultados. A OR está associada à fase na qual há a identificação de conceitos, teorias, modelos, experiências profissionais e/ ou acadêmicas necessários para compreender os resultados da decisão inicial. Nesse instante, o aluno depara-se com as dimensões do conteúdo factual e conceitual da Taxonomia Revisada de Bloom que incluem os seguintes verbos relacionados ao processo de aprendizagem no domínio cognitivo: recordar e entender.

Em seguida, após a identificação da teoria e/ ou experiências anteriores relevantes para a análise dos resultados, o discente aplica os conceitos e alcança a CA. Os conceitos utilizados podem ser encontrados tanto na disciplina, que estão cursando no momento, quanto em outras situações educacionais e/ ou profissionais. Portanto, os discentes se deparam com as dimensões do conteúdo procedimental e matacognitivo. Os verbos do processo de aprendizagem associados a tais dimensões são: aplicar e analisar.

Se os conhecimentos aplicados foram apreendido durante a disciplina, logo o discente alcançou a dimensão do conteúdo “procedimental”. Entratanto, se ocorreu a busca autônoma por conteúdos em outras fontes, logo há o alcance da dimensão “metacognitiva”.

Por fim, se torna possível compreender os resultados alcançados em decisões anteriores após a reflexão crítica. Esta ocorre após completar as fases de OR e CA e permite a avaliação da situação organizacional, dos objetivos iniciais, bem como das políticas anteriores.

Como consequência, o estudante alcança a EA. Nesta fase, então, é possível tomar novas decisões diante do histórico de decisões e análises sobre estas. Portanto, o discente se torna capaz de criar novos conhecimentos por meio de projetos, planilhas de suporte à decisão e relatórios técnico-científicos. Estes, quando escritos com um problema de pesquisa identificado durante o JE, revela a prática do método científico durante o laboratório educacional.

A proposta de convergência teórica aqui apresentada se refere a uma sugestão sobre como analisar o processo de aprendizagem dos discentes durante a participação em

113 laboratórios educacionais, mais especificamente por meio do Laboratório de Gestão. Este concebido por Sauaia (2008, 2010, 2013) como abordagem educacional situada na proposta de AV de David Kolb. Portanto, abordagem passível de impulsionar a reflexão crítica e a evolução no domínio cognitivo por parte dos alunos.

Figura 13: Convergência Teórica AV de David Kolb e Taxonomia Revisada de Bloom

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