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da rotina, do ambiente estressante e possivelmente assediado do trabalho é de grande valia e de efeito reparador á saúde do trabalhador. O direito ao lazer encontra-se elencado no rol dos direitos sociais, os quais, por sua vez, compõem os direitos fundamentais. A busca pelo esclarecimento e a disseminação da importância e da eficácia imediata do direito ao lazer nas relações de trabalho, o que compõe a conjugação do interesse social hipotético com o real.

É importante que a sociedade e o poder público busquem praticar a eficácia horizontal imediata do direito ao lazer nas relações de trabalho, conjugando assim o interesse social hipotético com o real. A tutela do direito ao lazer constitui, por si só, um instrumento para o acesso à dignidade humana, a qual engloba tanto o desenvolvimento de relações familiares e sociais, praticando a igualdade e a cidadania, quanto o desenvolvimento da criatividade, da liberdade e da personalidade humanas.

A alta produtividade industrial dos últimos tempos têm sugado o vigor e a disposição do trabalhador, o que tem ocasionado cansaço físico e mental, representados na forma de estresse e depressão, em quantidades alarmantes. Desse diapasão entre a crescente (e exigente) demanda laboral com a “vista grossa” ao princípio da dignidade da pessoa humana, surge um novo olhar sobre a necessidade do lazer, do descanso e do ócio na atualidade. Assim, esses elementos constituem ferramentas para efluir a pressão exercida do poderio do capital sobre o hipossuficiente trabalhador na cobrança de metas, prazos, e alta produtividade (leia-se rentabilidade/lucratividade) em prol do empregador.

Para efeitos de embasamento legal, o direito ao lazer está elencado no rol dos direitos fundamentais, nos artigos 6º; 7º, inciso IV; 217, § 3º; e 227, caput, da Constituição da República de 1988. A busca, com o amparo das bases legais in verbis, é no intuito de dar mais condições para a propagação e, especialmente, para a execução do direito ao lazer, o qual é inerente à vida humana.

Em complemento, pode-se apontar a Declaração dos Direitos do Homem, em seu artigo 4º, onde se têm que apresenta, entre outros fatores, o direito à vida englobando

(a) um direito a um trabalho reduzido o bastante para deixar lazeres suficientemente remunerados, a fim de que todos possam participar amplamente do bem-estar que os progressos da ciência e da técnica tornam cada vez mais acessíveis e que uma repartição equitativa deve e pode garantir a todos; e (b) o direito ao pleno cultivo intelectual, moral, artístico e técnico das faculdades de cada um (...). (SOUZA, 2012, p. 02).

No mesmo sentido, lembra Patrícia Borba de Souza que:

No Pacto Internacional Relativo aos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de 1966 (ratificado pelo Brasil): Artigo 7º: Os Estados integrantes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa de desfrutar condições de trabalho justas e favoráveis, que garantam sobretudo: (...) d) O repouso, os lazeres, a limitação razoável da duração do trabalho [...].(SOUZA, 2012, p. 02).

E prossegue:

No Protocolo de San Salvador (Protocolo Adicional à Convenção Interamericana Sobre Direitos Humanos em Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais), ratificado pelo Brasil e com vigência interna a partir de 16 de novembro de 1999 nos termos do Decreto 3.321/99: Artigo 7º: Condições justas, equitativas e satisfatórias de trabalho. Os Estados Partes neste Protocolo reconhecem que o direito ao trabalho, a que se refere o anterior, pressupõe que toda pessoa goze do mesmo em condições justas, equitativas e para o que esses Estados garantirão em suas legislações, de maneira particular: g) Limitação razoável das horas de trabalho, tanto diárias quanto semanais. As jornadas serão de menor duração quando se tratar de trabalhos perigosos, insalubres ou noturnos; h) Repouso, gozo do tempo livre [...].(SOUZA, 2012, p. 02). (grifo do autor).

Nesse sentido, cabe destacar que o direito ao lazer, como é evidente, largamente estabelecido por lei e tratados internacionais, precisa ser incentivado, propagado, divulgado, espraiado e (difícil, mas não impossível)

patrocinado pelos gestores públicos, pelos governantes, na busca por uma melhor qualidade de vida. O empregador ou tomador dos serviços também precisa se conscientizar de que, o lazer, como de ímpeto essencialmente benéfico ao trabalhador, também o é para si, o que perfaz a ideia de que “o que é bom para o outro também é para mim (empregador)”.

O apontamento que faria um fechamento adequado ao tópico em tela poder-se-ia utilizar de Patrícia Borba de Souza, levando-se em conta a sua postura essencialmente humanista, de proteção à um direito atinente à dignidade da pessoa humana que esteja esquecido:

[É pertinente salientar a importância de uma] mudança na visão do trabalho, resgatando os conceitos de trabalho e de ócio da Antiguidade Clássica, com características bem mais humanas do que as características mercantilistas que operam no nosso mundo [...]. Importante se faz a proteção jurídica ao lazer do trabalhador, como já explicitado neste trabalho, porém fundamental é a percepção humana da realidade de exploração do trabalho, da compra e venda das almas humanas para retroalimentar a máquina mercantilista e a conscientização de que o lazer não se restringe ao descanso para novo turno de trabalho ou ao consumo para alívio da alma, mas sim a plena utilização deste tempo para alimentar o espírito com valores que realmente engrandecem o ser humano, como convívio social, cultura e reflexão. (SOUZA, 2012, p. 03). (grifo do autor).

Observa-se que o lazer é de função elementar á manutenção da vida humana, mas não somente isso. A sua prática deve ser destinada, a priori, para o trabalhador, em atividades lúdicas ou não, recreativas, reflexivas, de atividade física, entre outras possibilidades. A função do lazer deve ser vista como um fator inerente á vida humana, em prol de si mesma, buscando satisfazer-se, e de certa forma recompor o desgaste físico e emocional desencadeado pelo exercício de atividade laboral.

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