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O lugar das estratégias no ensino de leitura

2 O COMPLEXO UNIVERSO DA LEITURA

2.3 O ENSINO DE LEITURA

2.3.2 O lugar das estratégias no ensino de leitura

Para esta seção, objetivamos apresentar, a partir de alguns estudiosos, estratégias que serviram como meios para facilitar o ensino da leitura e sua compreensão. Além disso, buscamos mostrar que essas estratégias poderão aprimorar a prática de leitura em sala de aula, bem como minimizar as dificuldades dos alunos em ler e compreender textos. Como a leitura faz inúmeras solicitações simultâneas ao cérebro, Garcez (2001, p. 27), afirma que

[...] é necessário desenvolver, consolidar e automatizar habilidades muito sofisticadas para pertencer ao mundo dos que leem com naturalidade e rapidez. Trata-se de um longo e acidentado percurso para a compreensão efetiva e responsiva, que envolve:

1. Decodificação de signos.

2. Interpretação de itens lexicais e gramaticais. 3. Agrupamento de palavras em blocos conceituais. 4. Identificação de palavras-chaves.

5. Seleção e hierarquização de ideias. 6. Associação com informações anteriores. 7. Antecipação de informações.

8. Elaboração de hipóteses. 9. Construção de inferências. 10. Compreensão de pressupostos.

11. Controle de velocidade. 12. Focalização da atenção.

13. Avaliação do processo realizado.

14. Reorientação dos próprios procedimentos mentais.

Com relação às estratégias, a autora acrescenta, também, que nas atividades de leitura é preciso compreender simultaneamente: a) o vocabulário e a organização das frases; b) identificar o tipo de texto e o gênero; c) ativar as informações antigas e novas sobre o assunto; d) perceber os implícitos, as ironias, as relações estabelecidas com o nosso mundo real.

Nessa direção, Silveira (2005, p. 63) salienta que se torna necessário esclarecer o conceito de estratégia de leitura, tendo em vista que é um dos aspectos mais importantes para o estudo e o processamento da leitura. Daí, afirmar que “estratégias de leitura traduzem bem a natureza cognitiva e mentalista do ato de ler, pois seu conceito relaciona-se, em princípio, às questões mentais que o leitor realiza ao lidar com a informação, na busca da compreensão do texto”. A autora ressalta ainda, que nos modelos de leitura na linha da Psicolinguística e do processamento da informação o leitor passa a ser concebido como “um construtor”, haja vista que “o sucesso da compreensão vai depender da sua atividade durante o ato de ler”. (SILVEIRA, 2005, p. 66). Daí, entendemos que o leitor competente é aquele que sabe selecionar a atividade mais adequada ao texto que está lendo e ao objetivo de sua leitura.

Nesse mesmo sentido, Leffa (1989, p. 16) assevera que o uso de estratégias propicia ao leitor a capacidade de avaliar sua própria compreensão, tendo em vista que leitura não é uma atividade mecânica, mas um processo no qual constrói o significado dos textos lidos. A partir deste entendimento o autor, apresenta alguns critérios para o reconhecimento de um leitor proficiente, quais sejam:

1. Estabelecer um objetivo para cada tipo de leitura que realiza. 2. Avaliar o próprio comportamento durante o ato de ler.

3. Aprender a detectar ambiguidades e incoerências no texto lido.

4. Aprender a resolver problemas de compreensão selecionando as estratégias adequadas.

5. Adotar diferentes estilos de leitura para diferentes materiais e para atingir diferentes objetivos.

6. Questionar o que lê.

Ao referir-se às atividades de leitura, Kato (1985, p. 40) apresenta dois tipos de leitores, a saber, top down e bottom up. No primeiro tipo encontram-se aqueles que usam o

processamento descendente ou top down - quando o leitor centra nas experiências de mundo, nas predições baseadas no conhecimento de esquemas, relacionando o texto ao próprio conhecimento e experiências, partindo do todo para as partes. Neste tipo de processamento os leitores a) apreendem facilmente as ideias gerais e principais do texto; b) são fluentes e velozes; c) fazem muitas adivinhações, que muitas vezes, não são confirmadas; d) não dão importância à leitura ascendente; e) privilegiam o uso do conhecimento prévio em detrimento da informação contida no texto. O segundo que usa o processamento ascendente ou bottom up – quando o leitor constrói o sentido do texto partindo das partes para o todo, apresentando as seguintes características: a) constroem o significado a partir dos dados contidos no texto; b) observam detalhes, detectando até erros de ortografia; c) tendem a não tirar conclusões apressadas d) são vagarosos e pouco fluentes; e) sentem dificuldades de sintetizar as ideias do texto por não saberem separar as principais das secundárias.

Todavia, considera que estes tipos de processamento não são excludentes, mas complementares, haja vista que o leitor proficiente é aquele que utiliza as duas formas adequadamente e no momento necessário. Nesse aspecto, Kato (1985, p. 88) salienta que o “leitor poderá escolher o tipo de estratégia que melhor se ajuste aos seus objetivos e que vários fatores podem influenciar esta escolha, tais como: a) maturidade do leitor; b) a natureza do texto; c) o lugar onde o leitor se encontra na frase ou no texto; d) o propósito da leitura”.

Segundo Kato (1985, p. 102) há dois tipos básicos de estratégias de leitura, a saber:

Estratégias cognitivas – relacionadas aos princípios que regem o comportamento automático inconsciente do leitor e Estratégias metacognitivas – relacionadas aos princípios que regulam a desautomatização consciente do processo (estratégias cognitivas).

Assim, percebemos que as estratégias de leitura são recursos aplicáveis que têm como proposta primordial facilitar a compreensão de textos em Língua Portuguesa ou em qualquer outra língua. Dessa forma, a melhor maneira para se tornar apto à leitura de textos em Língua Portuguesa não é decorando vocabulário e regras gramaticais, mas lendo frequentemente, uma vez que se aprende a ler, lendo muito, pois há uma considerável evidência de que a melhor forma de aprender a ler é através da leitura extensa.

Além disso, notamos que as estratégias de leitura apresentam papel fundamental na interpretação e compreensão de textos, pois fazem com que os alunos aumentem o nível de consciência sobre as ideias principais contidas em um texto e possibilitam a exploração e a

organização do mesmo. Logo, as estratégias de leitura podem ser definidas como planos para resolver problemas encontrados na construção do significado do texto.

Sendo assim, desenvolver estratégias de leitura torna-se de grande ajuda aos alunos, pois é necessário que eles, em algum ponto da vida acadêmica, passem do patamar onde aprendem a ler para um nível onde leem para aprender. Vale destacar que um dos aspectos relevantes para que a tarefa de ensino tenha sucesso é que o uso e/ou a forma da língua em foco estejam contextualizados. Somente sabendo para que serve determinada expressão ou estrutura linguística, em que situação utilizá-la e praticando é que os alunos poderão atribuir sentido ao que está sendo exposto.

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