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O massacre e suas repercussões em Benjamin Constant na historiografia e

Nesta subdivisão apresento as repercussões do massacre de Capacete no município de Benjamin Constant, bem como os trabalhos produzidos pela historiografia e etnologia na história do tempo presente sobre o ocorrido.

O massacre contra os indígenas Tikuna ocorreu no dia 28 de março de 1988, ao fim do regime militar que acabou em 1985, mas, de fato, a promulgação da Constituição Federal de 1988 foi um marco oficial para o fim desse período, reestabelecendo o estado democrático de direito e assegurando garantias que tinham sido excluídas no período de exceção.

O episódio vitimou vários indígenas entre crianças, jovens, adultos e anciões, levando alguns a óbitos e ferindo outros. Versões que serão trabalhadas no capítulo seguinte dão conta dos motivos que teriam se desenrolado, sendo estes: disputas territoriais entre os Tikuna e madeireiros da região; possíveis conflitos culturais, ponderando que as famílias locais com fortes poderes econômicos retratavam os Tikuna como povo sem cultura, inferior e “selvagem”; pela identificação de indianidade dos Tikuna; os conflitos de terras pelos madeireiros; pelo sumiço do boi da Igreja da Santa Cruz da Comunidade de São Leopoldo e por esta religião através dos pais dos jovens indígenas não aceitarem o consumo de bebidas alcoólicas que eram vendidas no comércio de Oscar Castelo Branco, às margens do igarapé de Capacete; econômicos pela extração e comercialização de madeira, caça e peixes pelos não indígenas nos territórios Tikuna.

Oscar Castelo Branco foi identificado como mandante do crime através das testemunhas na sentença proferida pela Justiça Federal, pois teria orientado treze capangas, que trabalhavam em suas terras, a fazerem as atrocidades contra os

Tikuna que se faziam presentes no território a fim de realizarem uma reunião para tratar dos conflitos, mais especificamente na casa do indígena Flores.

Havia muitas denúncias feitas pelos Tikuna contra Oscar, que invadia seus territórios para a extração de madeira, como retrata Frederico Santos (2017):

As notícias davam conta que embora Castelo Branco extraísse da terra de indígena, de forma recorrente, toras de cedro, louro e jacareúba, os índios foram se contrapondo às extrações, até que, no ano de 19887, um ano antes do massacre da “ Boca do Capacete”, eles apreenderam 900 toras de cedro extraídas ilegalmente de suas terras, o que abalou os interesses comerciais de Castelo Branco, e ao mesmo tempo, tornou bastante difícil a sua relação com os índios, motivando-o a reclamar, inclusive, indenização (FREDERICO SANTOS, 2017, p. 123).

A partir desse enredo introdutório, consumou-se o massacre de Capacete e seu desfecho, levando a mortes, desaparecimentos e lesão de indígenas Tikuna de diferentes comunidades, como: São Leopoldo, Porto Espiritual, Porto Lima e Bom Pastor. Dias depois do massacre, as repercussões foram amplamente divulgadas em níveis nacionais e internacionais por diversos jornais41, dos quais destaco aqui: o Diário do Amazonas, A Crítica, Correio do Brasil, o Globo e o Estado de São Paulo, além de outros dos continentes da Ásia, Europa, África, América do Sul e América Central. Desta forma, tratou-se da magnitude do acontecimento na imprensa mundial (FREDERICO SANTOS, 2017; ROLLA et al., 1988a).

Com todas as atrocidades e os traços cruéis de violência noticiadas pelos jornais da época, o mundo ficou estarrecido, preocupado e aflito pelo acontecido com os Tikuna. Rolla et al. (1988a) retratam a realização de uma vigília fronte à embaixada brasileira em Londres, tendo à frente do ato a Organização Internacional de Defesa dos Direitos dos Indíos que pedia a apuração do crime e a prisão dos acusados.

As repercussões a nível nacional também foram intensas. Na capital Brasília, a FUNAI presssionava, no início, juntamente com os Tikuna, as autoridades brasileiras para qualificarem o crime como genocídio. O Ministro da Justiça, Paulo Brossard, o Ministro do Interior, João Alves, o Procurador Geral da República, Sepúlveda Pertence, e o Presidente da FUNAI, Romero Filho, haviam garantido a prisão e punição dos culpados (FREDERICO SANTOS, 2017; ROLLA et al., 1988a).

Próximo da promulgação da Carta Magna de 88, as lideranças Tikuna se deslocaram até a Congresso Nacional para exigirem providências do Governo

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Federal. Na ocaisão foram recebidas pelo deputado federal e presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Ulisses Guimarães, o qual denunciou no plenário do Congresso o genocídio de madeireiros contra os Tikuna (FREDERICO SANTOS, 2017; ROLLA et al., 1988a).

No contexto local de Benjamin Constant, as repercussões também foram intensas. A população estava abalada pelo massacre e pelo medo de que os Tikuna fizessem justiça com as próprias mãos. O clima tenso afligia a região, principalmente porque as autoridades locais (prefeito e vereadores) afirmavam que os indígenas ameaçavam a família de Oscar Castelo Branco, reforçavam que este era inocente e alegavam que, no momento do ocorrido, ele não estava na localidade, bem como a terra seria de sua propriedade.

As autoridades, que poderiam promover a apuração dos fatos e corroborar para a punição dos culpados, estava mais preocupada em defender Oscar, tendo em vista as alianças familiares e os interesses da política local. A FUNAI também consolidava a negação dos fatos. No município de Tabatinga, o coordenador local, Valmir Torres, garantiu à imprensa que não havia indígenas mortos no conflito. Outros discursos sobre as vítimas desaparecidas circulavam através de afirmações de que estariam refugiadas em comunidades próximas, sendo que muitas até os dias atuais jamais foram encontradas (ROLLA et al., 1988a). Aqueles que deveriam pedir apurações com veemência eram os primeiros a distorcerem os fatos.

Ouvi muitos comentários durante o campo, sem aprofundamento, que davam conta que, logo após o massacre, os Tikuna realizaram, em Benjamin Constant, uma grande reivindicação pela prisão dos acusados. Este ato teria acontecido na Praça Frei Ludovico, tendo embate com uso de violência física entre os indígenas e a polícia militar local.

Uma interlocutora não indígena, que vivenciou esta época, relatou-me sobre outra repercussão:

Os índios nessa época estavam bastante revoltados, as pessoas da cidade tinham medo deles entrarem em suas casas para matar alguém por conta do massacre; a gente fechava a casa cedo [...]. Até os produtos que eles vendiam como farinha, banana, frutas, eles aumentaram tudo por conta disso (informação verbal).

A fala acima, embora carregada de preconceitos e estereótipos construídos sobre os Tikuna, demonstra elementos importantes para pensar o medo que a sociedade local tinha em relação à magnitude do episódio e, especialmente, de uma

possível punição social imposta pelos Tikuna à sociedade local, aumentado o preço de seus produtos. Cabe explicar que esses indígenas realizam, há muitos anos, esse comércio na cidade a partir de uma política não indígena, nos moldes capitalistas para atender suas necessidades de sobrevivência, ainda visto hoje.

Há de se mencionar a maneira como o episódio foi tratado nas escolas: sem um aprofundamento da questão por parte dos professores. Isso acarretou em considerações e interpretações vazias e etnocêntricas por parte dos alunos, fortalecendo a noção de que o indígena é selvagem a ponto de sair matando as pessoas, situações que são reproduzidas nas salas de aula e nos livros didáticos.

Uma professora que lecionava na Escola Estadual Imaculada Conceição, no período que ocorreu o massacre, falou que muitos dos alunos não indígenas estavam bastante preocupados com a presença dos estudantes indígenas na sala de aula, porque a versão que eles tinham sobre a história era que os Tikuna teriam atacado os madeiros, ficando estes alunos apreensivos.

Eu, como professora, tentava fazer o possível na sala de aula para interagir os estudantes da cidade com os Tikuna, mas sempre os alunos da cidade se recusavam, ficavam no canto, apreensivos, com medo, pelo ocorrido em Capacete [...]. Na época, como eu não sabia de muita coisa, explicava para os alunos que os Tikuna tinham sido vítimas de pessoas cruéis que mataram alguns Tikuna. [...] Os alunos sempre questionavam, falando: não professora foram eles que atacaram [...]. Foram tempos difíceis, porque ninguém sabia o que fazer, a gente não tinha nenhuma capacitação para lidar com isso (informação verbal).

A maioria das versões que estes alunos tiveram sobre o massacre foi ouvida a partir de seus pais que reproduziam as falas das autoridades locais. Ainda que a fala da professora sobre o genocídio tentasse demonstrar os Tikuna como vítimas, nas dimensões institucionais de ensino, as versões tradicionalmente apresentam como culpados aqueles que, no entanto, foram vítimas. Estas estratégias discursivas fortalecem um cenário de preconceito, segregação cultural e, principalmente, de exclusão dos Tikuna em sala de aula, reforçando o pensamento eurocêntrico (que indígena tem que morar em sua comunidade longe do convívio da cidade).

O cenário de repercussão que marcava Benjamin Constant, na época do massacre, se dava nos termos de contradições nas versões do sentimento de justiça e jogo político em defesa dos interesses da região, principalmente com relação a extração de madeira que sustentava em grande parte a economia local.

Após a prisão dos acusados e a morosidade do processo, os indígenas novamente voltam a se mobilizar, fazendo uso da imprensa para acelerar o

andamento do processo. Assim, conseguiram mais visibilidade para o massacre, e, principalmente, obtiveram aliados importantes em campanhas a favor da condenação dos réus, como a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), Conselho Indigenista Missionário e o ISA.

As repercussões do massacre na historiografia e etnologia, se deram na academia a partir da publicação em 1988, logo após o massacre, da obra Rü Aü I

TicunagüArü Wu ‘I (A lágrima Tikuna é uma só). Esta em parceria com

pesquisadores do Museu Nacional da UFRJ, em especial o antropólogo João Pacheco de Oliveira que atuava no Centro de Documentação e Pesquisas do Alto Solimões, vinculado ao Museu Indígena Magüta. O livro aborda com profundidade o episódio de Capacete, ressaltando número de vítimas, versões, óbitos, desaparecimentos, noticiários, luta por justiça, entre outros aspectos, privilegiando- se as memórias dos sobreviventes.

A partir dos diálogos com os indígenas Tikuna que geraram esta publicação, se deu ainda mais visibilidade e repercussão a nível nacional do massacre. Fato que levou o Presidente da FUNAI, Romero Jucá42 a proibir em todo território brasileiro a entrada dos pesquisadores do Museu Nacional e do Centro de Documentação e Pesquisas do Alto Solimões nas terras indígenas.

FIGURA 16 – DOCUMENTO PROÍBE A ENTRADA DE PESQUISADORES EM TERRAS INDÍGENAS Figura 16

FONTE: Rolla et al. (1988a)

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O Jornal do Povo, durante a repercussão do massacre de Capacete, noticiou em 06 de abril de 1988 a matéria intitulada Genocidio de Ticunas poderá responsabilizar até a FUNAI, nunca se matou tanto índio quanto na gestão de Jucá Filho (apud ROLLA et al., 1988a, p. 77). A gestão de Romero Jucá frente a FUNAI correspondeu aos anos de 1986 as 1988, no mandato do então presidente da república José Sarney. Jucá atualmente é senador pelo estado de Roraima, vinculado ao partido Movimento Democrático Brasileiro (MDB), um dos apoiadores do golpe que levou ao impeachment de Dilma Rousseff, responde por crimes de lavagem de dinheiro e corrupçao passiva no STF, além de ser contra a entrada de imigrantes venezuelanos na fronteria com Roraima.

Foram emitidas ordens ao Departamento de Polícia Federal em Brasília para que fossem tomadas todas as providências (ROLLA et al., 1988a). A imagem retratada na página anterior apresenta a mensagem do presidente da FUNAI, emitindo à Polícia Federal a ordem de proibição dos pesquisadores que se encontravam impedidos de entrarem em terras indígenas no âmbito do território nacional. Destaco os nomes dos professores João Pacheco de Oliveira e Jussara Gruber, estes tendo grande atuação entre os Tikuna, sobretudo na assessoria das demarcações de terras, na realização de estudos e nas ações para dar visibilidade ao massacre dentro e fora da academia.

Romero Jucá, o então presidente da FUNAI entendia que os pesquisadores e o CDPAS estavam violando as ações e diretrizes da FUNAI, assim, estaria a “proteger os indígenas” (ROLLA et al., 1988a) ao proibi-los de entrar nas terras indígenas. Essa situação foi gerada principalmente em razão das constantes denúncias dos pesquisadores à FUNAI pelo mau posicionamento e condução dos trabalhos no processo de Capacete, não mostrando interesse algum na condenação dos acusados.

Aconteceram várias tentativas de culpabilizar e punir antropólogos que atuavam na região (o CIMI juntamente com CDPAS-MAGÜTA), pois os dirigentes da FUNAI acreditavam que estes agentes estariam incentivando os Tikuna à luta armada contra os madereiros pelo território de Capacete, conforme retratado pelo Jornal O Liberal de Belém do Pará, em 05/04/1988:

O chefe de Gabinete da FUNAI, Francisco Alves, detalhou o ocorrido e colocou a responsabilidade do incidente numa entidade denominada ‘MAGÜTA’ e que é ligada ao CIMI-Norte e marca sua presença na área com a participação da Universidade Católica do Rio Grande do Sul e também com o convênio firmado com o Ministério da Cultura. Disse Francisco Alves que a entidade é integrada, em sua maioria, por pessoas ligadas ao CIMI- NORTE, inclusive alguns deles são ex-funcionários da FUNAI, como é o caso do Sr. João Pacheco e D. Jussara Gomes (ROLLA et al., 1988a, p. 78, grifo nosso).

Nos tempos em que a criminalização de antropólogos e pesquisadores, por exercerem suas pesquisas com grupos minoritários (indígenas, quilombolas e outros), é evidenciada pelos indiciamentos do relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da FUNAI/INCRA da Câmara dos Deputados Federais à luz de uma perspectiva sobre o Estado, o exemplo citado anteriormente representa o cenário que academia passa hoje no contexto de Brasil. Isto é uma forma de intimidar, interromper e criminalizar tais profissionais, fazendo-nos pensar

nos limites de nosso campo e das interferências e influências do estado sobre o mesmo, ao tempo que demonstra uma resistência desses pesquisadores com o exercício pleno de seu ofício.

Outro órgão bastante perseguido por suas posições de defesa aos Tikuna foi o Conselho Indigenista Missionário, também proibido pela FUNAI de adentrar em terras indígenas.

A seguir, evidencio outros trabalhos que abordaram o massacre de Capacete a partir de estudos sob perspectiva cronológica, histórica e etnológica. Na coletânea

Povos Indígenas no Brasil 1987/88/89/90, os pesquisadores Pacheco de Oliveira e

Souza Lima (1991), apresentam em um dos artigos, a partir de uma análise histórica, o Massacre de Capacete e a cronologia do inquérito judicial desse evento até meados da década de 90:

28/03/88 - dia do massacre.

29/03/88 - tem início o inquérito policial.

05/04/88.-.uma comissão de 6 Ticuna viaja a Brasília para buscar providências.

06 a 07/04/88 - tomados os depoimentos dos agressores.

19/04/88.-.decreto de prisão preventiva de Oscar Castello Branco e os 10 outros envolvidos no conflito.

21/04/88. -. PF prende apenas 7 agressores; Castello Branco e outros 3 estão desaparecidos.

17/05/88.-.advogado de defesa impetra habeas-corpus em favor dos acusados.

17/06/88 - é concluído o Inquérito Policial e remetido para a Justiça Federal no Amazonas.

23/06/88 - a Justiça Federal se declara incompetente e remete os autos do Inquérito Policial para a Justiça do Estado do Amazonas. O advogado de defesa reconduz Amazonas o pedido de habeas-corpus à Justiça do Estado do Amazonas.

12/08/88 - O Ministério Público do Estado do Amazonas formaliza denúncia contra os acusados e arrola testemunhas de acusação (fase instrutória do Processo).

Em junho de 1989, o Processo saiu de sua fase instrutória, onde foram ouvidas as testemunhas de defesa e as de acusação.

Em meados de 1990, já tendo ouvido as vítimas, os acusados foram pronunciados, mas não recorreram.

O promotor já ofereceu o libelo, isto é, o resumo da acusação que vai ser feita no tribunal do júri que, até agora, ainda está sendo intimado (dez/90). (PACHECO DE OLIVEIRA; SOUZA LIMA,1991, p. 242).

Terra Magüta: A luta pela demarcação das Terras Tikuna no Alto

Solimões, lançada em 198843

, publicação motivada pelo massacre de Capacete, retrata a história de luta do povo Tikuna pelo território até 1988. Os artigos de Pacheco de Oliveira, Gruber, Cavuscens e Paolielo (1988) narram os primeiros conflitos, as mobilizações e as invasões no artigo intitulado Notícias do Magüta. De

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maneira geral, a obra faz alusão ao protagonismo político de luta dos Tikuna entre várias décadas até o momento do massacre de Capacete.

Em 1998, sob a coordenação do antropólogo João Pacheco de Oliveira, é lançado o Atlas das Terras Tikuna, trazendo informações sistematizadas dos territórios e do processo de reconhecimento a partir do aprofundamento de documentos de homologação das terras do Alto Solimões. Embora Capacete não seja reconhecida como terra indígena até a atualidade, o atlas apresenta informações importantes sobre o contexto da região, visto historicamente como território indígena, além de apresentar o histórico de demarcação da terra de Porto Espiritual. Algumas dessas contribuições já se encontram inseridas no corpo deste trabalho.

No contexto internacional, a repercussão do massacre de Capacete no campo da etnologia foi abordada nos trabalhos do antropólogo Jean Pierre Goulard (2003), no artigo intitulado Indios de la frontera, fronteras del indio. Una sociedad

indígena entre tres estados-naciones: los Ticuna, parte do dossiê sobre Lo transnacional, Instrumento y desafío para los pueblos indígenas, sob

organização de Françoise Morin e Roberto Santana (2003).

Goulard (2003) ao traçar um panorama histórico de uma sociedade indígena Tikuna em contexto de fronteira e as relações de dominação que esta sofre, aponta em linhas gerais o massacre de Capacete:

Em 1988, “14 indios ticuna são massacrados por madeireiros”. Diez años después, uma campaña de afiches, organizada bajo los auspícios de vários organismos indigenistas brasilños (COIAB-CIMI), recueda que estas exacciones han quedado impunes y pide “justicia y encarcelación para los asesinos” quienes todavia siguen sin juicio, ni tampoco há sido detenidos. Al final de los años 70, otros ticuna habían sido asesinados y sus autores nunca fueron investigados. La masacre de 1988 tuvó lugar em la ciudad de São Leopoldo en Brasil, em contra de la reacción indígena rechazando la ocupación de sus tierras por una ganadero, el cual organizo uma expedición punitiva com su gente, en la ocurrencia madereros a su servicio [...] (GOULARD, 2003, p. 51).

O antropólogo Jean Pierre Goulard (2003), na citação acima, evidenciou a luta Tikuna pela condenação dos culpados, além da morosidade do judiciário para julgar o crime. Desta forma, deu visibilidade ao massacre a partir do contexto acadêmico internacional.

Em 2017, o Procurador Federal da República na área criminal, Carlos Frederico Santos, que instruiu a denúncia junto à Justiça Federal sobre o massacre de Capacete como crime de genocídio, publicou a partir de seus estudos o livro

Genocídio Indígena no Brasil, uma mudança de paradigma (2017), retratando de

forma eloquente entre a perspectiva histórica e processual sobre o crime de genocídio em Capacete, traçando apontamentos importantes de sua experiência de “dentro”. Apresenta ainda, os jogos jurídicos e os discursos políticos que permearam o desfecho processual.

No contexto atual, a partir de levantamentos bibliográficos durante a pesquisa, notei a falta de etnografias do tempo presente que retratem com profundidade o massacre de Capacete e suas implicações na atualidade. Existe, sem dúvida, uma enorme quantidade de produções acadêmicas sobre os Tikuna, destacadamente, João Pacheco de Oliveira, Jussara Gruber, Priscila Faulhaber, Regina Ethal, Cláudia Leonor Lopés, Jean Pierre Goulard e outros. Igualmente há os pesquisadores Tikuna produzindo suas etnografias em contextos colonizantes, tais como: Mislene Metchacuna Mendes, Josiane Otaviano Guilherme, João Bento Ramos, Salomão Inácio e outros.

Ao ponderar a repercussão do massacre no contexto atual de Benjamin Constant, pela sua dimensão e pelo envolvimento de uma das famílias mais poderosas da região, as pessoas não costumam retomar as lembranças desse episódio. Constatei que pouco é falado ou lembrado pela sociedade local, estando no calendário das escolas indígenas do município a referência da data do ocorrido e sendo feriado para os povos indígenas da região, mas não se faz nenhuma homenagem ou manifestação no dia 28 de março pelas autoridades locais. Para a