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O material didático

No documento taniamariamenesesfariasbarbosa (páginas 101-103)

2.2 Performance curricular do PAV

2.2.2 O material didático

Os livros didáticos – dois livros contendo as disciplinas da matriz curricular do PAV - foram elaborados especificamente para o projeto, com abordagem interdisciplinar dos conteúdos58. Além desse material, focado nas atividades dos alunos, são disponibilizados, para o desenvolvimento do trabalho em sala de aula, dois livros para o professor, e guias de organização dos conteúdos e orientação metodológica para a prática docente. No entanto, por mais que se verbalize a neutralidade de concepções pessoais na ação profissional, ela não se concretiza na prática.

A forma pela qual os professores interpretam e traduzem a proposta curricular do PAV no momento de sua implementação sinaliza que este processo não é caracterizado apenas por uma luta de poder na qual de um lado está aquele que a formula e, do outro, aquele que irá colocá-la em prática. Políticas públicas não são impermeáveis; compreende-se, com Ball (2007, apud MAINARDES & MARCONDES, 2009), que elas são influenciadas e modificadas no contexto da prática. Portanto, na absorção das ideologias, interesses, propósitos e concepções – próprios da subjetividade dos diversos atores –, se recriam e ganham novo formato. Assim, um novo currículo do PAV é implementado na Escola Delta.

Como diria Forquin (1993), as diferentes práticas pedagógicas podem ocorrer em detrimento do cumprimento efetivo de um currículo proposto, já que:

A prática é composta de muito mais do que a soma de uma gama de políticas e é tipicamente investida de valores locais e pessoais e, como tal, envolve a resolução de, ou luta com, expectativas e

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requisitos contraditórios – acordos e ajustes secundários59 fazem-se necessários (BALL apud MAINARDES & MARCONDES, 2009, p. 305).

Esta abordagem sobre a execução da política no contexto da prática permite a compreensão do posicionamento dos professores do PAV na resistência ao uso dos livros didáticos do projeto, que justificam a decisão, pela sua inadequação à necessidade dos alunos. Por meio da observação direta e pelas entrevistas na Escola Delta, foi possível confirmar que os professores não utilizam os livros didáticos específicos do PAV. Estes são substituídos pelos livros do ensino regular. Para o 1º período são utilizados os livros do 6º e 7º anos e para o 2º período os livros do 8º e 9º, trabalhando com um livro a cada semestre. Nas entrevistas todos relataram que os livros do PAV são inadequados, com justificativas variadas, seja por apresentar propostas direcionadas a outras regiões, pelos textos densos, pela presença de “palavrões”, entre outras.

O posicionamento da EEB que atuou no PAV à época de sua implantação não difere dos professores. Segundo ela, “os livros do PAV estavam muito fora da realidade aqui. [...] O livro foi baseado nos problemas vividos naquela região60. Teve textos que foram até criticados” (E4, 2012).

O livros foram distribuídos apenas no primeiro ano de implantação do projeto nas escolas da SRE/SJDR e o número foi insuficiente para todos os alunos, sendo necessário nos anos posteriores fazer remanejamento para escolas que estavam iniciando a implementação. Este foi também um problema citado pelos professores. “Teve turma que nem recebeu os livros” (E6, 2012).

A coordenadora regional do PAV confirmou que os livros didáticos foram disponibilizados para as escolas somente em 2009 e foram insuficientes. Nos anos posteriores não houve reposição. Mas, segundo ela, parece que a falta dos livros não era um problema para as escolas, pois os professores avaliaram de forma negativa este material didático, alegando que os textos eram muito acima da capacidade de compreensão dos alunos, e mesmo as escolas que receberam não usaram (ANE1).

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Denominação atribuída por Riseborough (1992) ao nível de associação entre a política e a cultura da escola. Informações sobre a abordagem do ciclo de políticas. Lista de obras de S. J. Ball e de pesquisas brasileiras que empregam suas ideias. Elaboração: Jefferson Mainardes – PPGE/UEPG.

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Vale ressaltar que o julgamento quanto à inadequação dos livros didáticos do PAV e a decisão por não utilizá-los, substituindo-os pelos livros do ensino regular, partiu da decisão coletiva dos professores que atuavam no projeto no ano de sua implantação na Escola – conforme informado pela EEB responsável pelas turmas do PAV e sua coordenação em nível local juntamente com o diretor da escola – tornando-se desde então, um procedimento incorporado pela Escola.

Na aplicação dos questionários aos alunos ficou também evidente o desconhecimento sobre a existência de livros específicos do projeto, percebido, por exemplo, pelo estranhamento à questão referente a percepção que têm sobre estes livros, com o seguinte enunciado: “O PAV tem 2 livros didáticos específicos, sendo um englobando a Língua Portuguesa e a Matemática e o outro de Temas englobando Geografia, História, Inglês, Ciências e Artes”. Após explicação sobre o material didático do projeto, foi por eles revelado que nunca tiveram acesso a estes livros e, portanto, não havia como saber se eram bons ou ruins. Esta revelação indica que não houve uma tentativa de utilização dos livros para obtenção de algum retorno dos alunos que pudesse ratificar a decisão dos professores e, nem mesmo a capacitação realizada em 2010 – objetivando motivar a prática docente dos professores com oficinas pedagógicas de trabalho interdisciplinar com a utilização dos livros do projeto – foi suficiente para envolver os professores nesta perspectiva pedagógica.

A opinião dos professores em relação ao livro didático do PAV é legitimada pela direção da escola e pelas demais EEBs, podendo esta afirmativa ser confirmada nas entrevistas com estes profissionais. Contudo, a inaceitação dos livros didáticos do projeto não é uma característica peculiar à Escola Delta, conforme foi constatado nas entrevistas realizadas com os profissionais da SRE. Cada um deles atende a um setor com cerca de quatro a seis escolas, e dentre estas, uma ou mais implementam o PAV. Foi unânime o relato de que os professores não utilizam os livros específicos, substituindo-os por aqueles do ensino regular, e em poucos casos implementam proposta curricular elaboradas por eles próprios.

No documento taniamariamenesesfariasbarbosa (páginas 101-103)