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3.2 OS DIREITOS FUNDAMENTAIS AO MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO

3.2.3 O Meio Ambiente Equilibrado no Rol dos Direitos Fundamentais

O Estado Democrático de Direito, como visto, é fundado nos direitos fundamentais, de modo que no estágio atual do constitucionalismo, não há que se

11 Immanuel Kant (1724-1804), filósofo alemão, fundador da filosofia crítica.

12 Cf. a distinção entre os princípios da fraternidade e solidariedade em Brito e Antoniazzi [?]. In: BRITO,

Rafaela Silva; ANTONIAZZI, Maria Terezinha. Os princípios da fraternidade e da solidariedade

como vetores na aplicabilidade do direito ambiental. Disponível em <http://www.academus.pro.br/

falar em Estado de Direito sem o respeito a estes direitos, havendo uma "intima e indissociável vinculação entre os direitos fundamentais e as noções de Constituição e Estado de Direito" (SARLET, 2011, p.58)

O direito ao meio ambiente equilibrado ou à integridade do meio ambiente, como um direito fundamental de terceira dimensão – direito de solidariedade, de fraternidade ou dos povos, conforme Farias (1999, p.222) –, foi proclamado como tal, pela primeira vez, pela Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em 1972 (SCANTIMBURGO, 2011, p.63).

A positivação do direito ao meio ambiente equilibrado ocorreu de forma gradativa na ordem internacional e sua relevância decorre da constatação de que está atrelado à vida, que vai além da mera integridade física, mas se relaciona à qualidade de vida, ou seja, à vida digna (FARIAS, 1999; MILARÉ, 2009; FIORILLO; RODRIGUES, 1996; 1997; FIORILLO, 2009). E, de forma mais ampla, por ser condição do exercício dos demais direitos fundamentais (TRINDADE, 1993; FIORILLO; RODRIGUES, 1997; COELHO, 2010; GAIO, 2012).

A Carta da Terra, concluída em 2000, por meio da qual foram firmados 16 princípios de proteção ambiental, reforça o meio ambiente como direito fundamental e permitem exigir a atuação do Estado, para de forma coerente, garantir-lhe a eficácia (MILARÉ, 2009).

Ademais, é para Canotilho (2003) e Mendes (2012) um direito subjetivo fundamental, na medida em que, para este último, outorga aos seus "titulares a possibilidade de impor os seus interesses em face dos órgãos obrigados." E, que asseguram a autodeterminação individual, com um espaço livre de interferências indevidas do Estado, que no contexto das sociedades globalizadas tendem à despersonalização. (BARROS, 2009).

Há uma dupla faceta no direito fundamental ao meio ambiente: um direito negativo, que impõe abstenção por parte do Estado e dos particulares quanto à prática de atos nocivos, ao lado de um direito positivo, que implica para o Estado "defender e controlar as ações de degradação ambiental, impondo-lhe as correspondentes obri- gações políticas, legislativas, administrativas e penais." (CANOTILHO; MOREIRA, 2007).

A Constituição brasileira, nessa perspectiva, consagrou-o, em seu art. 225, como um direito fundamental da pessoa humana. Com efeito, no caso brasileiro, o Estado Constitucional contempla o meio ambiente em tal intensidade, com um elenco de princípios reitores das relações jurídico-ambientais, a ponto de alguns autores o denominarem de Estado de Direito Ambiental (CANOTILHO, 2003; 2010; CANOTILHO; LEITE, 2008) ou, ainda, Estado Socioambiental de Direito (SARLET, 2011).

E, sua tutela jurídica, nos termos em que conferida na Constituição brasileira, chamada por Milaré (2009) de Constituição Verde, abarca todas as formas de vida, e não apenas os seres humanos, em que pese estes serem os seus principais destinatários. Esta proteção da vida que não seja humana, em uma visão antropocêntrica, somente tem sentido na medida em que implica garantia da sadia qualidade de vida do homem (FIORILLO; RODRIGUES, 1996; 1997; FIORILLO; 2007; FIORILLO;FERREIRA, 2009; FREITAS, 2012)

Estado ambiental proposto por Canotilho (2010, p.10-12) é aquele que atua de modo a proteger o meio ambiente e a garantir o direito fundamental, nas diversas dimensões essenciais da juridicidade ambiental, resumidas como: (i) dimensão garantístico-defensiva - defesa contra ingerências ou intervenções do Estado e demais poderes públicos; (ii) dimensão positivo-prestacional - atuação do Estado e demais entidades públicas para assegurar a organização e os processos para concretização do direito do ambiente; (iii) dimensão jurídica que irradia a todo o ordenamento e vincula as entidades privadas a respeitar o direito dos particulares ao ambiente; iv) dimensão jurídico-participativa, que inclui os cidadãos e a sociedade civil na defesa dos bens e direitos ambientais.

O Estado de direito, hoje, só é Estado de direito se for um Estado protector do ambiente e garantidor do direito ao ambiente; mas o Estado ambiental e ecológico só será Estado de direito se cumprir os deveres de juridicidade impostos à actuação dos poderes públicos. (CANOTILHO, 2010, p.13)

O Poder Judiciário, acerca do tema, por meio do Supremo Tribunal Federal (STF) por ocasião do voto no Mandado de Segurança n.º 22.164-0/SP, grifou o reconhecimento direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito de terceira geração, de índole social, calcado no princípio da solidariedade, já na década de 1990, em que o relator foi o Ministro Celso Mello (BRASIL, Supremo..., 1995).

O Estado brasileiro, ademais, em vista da redação do art. 225 da Lei Maior, adotou o meio ambiente ecologicamente equilibrado como um direito difuso, segundo Fiorillo (2007), Foltz (2009) e Machado (2010), visto que não é possível individualizar seu sujeito. Nesse sentido, esse direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é de todos, o que abarca as atuais gerações, assim como as futuras e impõe Estado e da sociedade o dever de defendê-lo e preservá-lo (FARIAS, 1999; SILVA, 2009; FIORILLO, 2007; FIORILLO; FERREIRA, 2009; SILVA JÚNIOR, 2011; FERREIRA, 2012; FREITAS, 2012).

Contudo, o direito fundamental ao meio ambiente equilibrado, como qualquer outro, pode estrar em rota de colidência com os demais. E, para que se efetive o Estado de Direito Ambiental ou do Bem Estar Ambiental, faz-se necessário compatibilizá-lo com os outros direitos constitucionais. (FOLTZ, 2009). O que, de acordo com a tese perfilhada neste trabalho, deve ser solucionado por meio da adequada ponderação, que afasta a prevalência apriorística de qualquer deles, devem-se avaliar em face do caso concreto, qual deverá preponderar.