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O meio urbano na AML

No documento FractalCity: the city amid policies (páginas 120-123)

Para responder a este conjunto de questões propõe-se o desenvolvimento e aplicação de uma metodologia apoiada na informação georreferenciada dos Censos (Base Geográfica de Referenciação de Informação (BGRI)) à escala da AML. Neste sentido, a metologia é desenvolvida através da fundamentação dos métodos de processamento a aplicar: a filtragem e a desagregação por amostragem e observação.

A informação de base a utilizar justifica-se porque esta corresponde ao resultado das “operações estatísticas mais complexas e dispendiosas que qualquer país pode realizar” (INE, 2013, p. 7), apesar de ter um carácter estático (refere- se à realidade espacial observada num determinado tempo/contexto) e estar relativamente desactualizada (dados de 2011). Nesta medida, a análise permite “uma caracterização detalhada da população e do parque habitacional até à escala da freguesia, secção ou subsecção estatística” (INE, 2013, p. 7). A principal vantagem está na escala territorial que é extremamente detalhada:

A subsecção estatística [é uma] unidade territorial que identifica a mais pequena área homogénea de construção ou não existente dentro da secção estatística [que consiste numa área territorial continua com pelo menos 300 alojamentos]. Corresponde ao quarteirão nas áreas urbanas, ao lugar ou parte do lugar nas áreas rurais ou a áreas residuais que podem ou não conter unidades estatísticas (INE, 2013, p. 28; INE, 2014, p. 15).

A opção por esta base informativa responde ainda directamente a um dos principais objectivos, institucionalmente assumidos, aquando da estruturação e divulgação dos dados dos censos por via de uma base geográfica, conforme menciona Geirinhas (2001):

A estrutura criada [BGRI] dá resposta ao objectivo de dispor de um potente suporte para difusão de informação com um elevado nível de desagregação geográfica, permitindo georreferenciar finalmente os dados a obter pelos Censos 2001, produzir estatísticas de pequenas áreas, delinear produtos e serviços de elevado valor acrescentado, representar o comportamento espacial de fenómenos socioeconómicos através de mapas temáticos, elaborar estudos especializados recorrendo a metodologias de análise territorial e potenciar a sua utilização generalizada por terceiros (p. 68).

Para trabalhar a informação em bruto (conforme é disponibilizada na fonte) é necessário utilizar métodos de processamento devidamente fundamentados. Um primeiro pressuposto é o de que a base de dados contém informação a mais ou elementos que interessa remover da análise. A designação de “área metropolitana” indica que a unidade espacial

agregada corresponde a uma secção de território densamente povoada (considerando a escala nacional ou continental onde está inserida), porém, a superfície, na sua totalidade, não tem uma densidade homogénea. Neste sentido, por hipótese, existem conjuntos de subsecções que são mais povoados do que outros e existem subsecções para as quais não existe informação (ou seja, não existem nem edifícios nem população residente). A validação desta hipótese confirma que a informação em bruto contém elementos que não explicam, de todo, as características da população residente e da habitação dentro desta região - por outras palavras, existem conjuntos de subsecções que têm características que são comuns a muitos espaços não-metropolitanos e que por esta razão, não explicam a atribuição deste desígnio a esta região. A filtragem consiste assim na selecção da informação que melhor explica este desígnio.

Este processo decorre em duas fases sequenciais. A primeira consiste na identificação e remoção das subsecções que, em simultâneo, não têm nem edifícios nem indivíduos residentes (subsecções sem informação estatística para lá da superfície geográfica ou seja “subsecções vazias”). Com este filtro, o número de registos (subsecções) é reduzido de 34.937 para 32.872 (-5,91%).

A segunda fase corresponde ao destaque das “subsecções residuais”, que por definição constituem um conjunto de elementos, que apesar de disporem de alguma informação, estes não são, contudo, úteis para descodificar as características metropolitanas da região. Para identificar estes elementos é necessário empregar um critério: remover as subsecções que tenham, ao mesmo tempo, uma área superior a 10 hectares e uma densidade populacional inferior a 10 habitantes por hectare (valor próximo da densidade média registada na AML). Este critério procura limpar a maioria das subsecções de solo rural/natural, embora também possa incluir alguns elementos com características urbanas (parques florestais, equipamentos e infraestruturas, centros comerciais, parques de escritórios e parques industriais), partindo do pressuposto de que as subsecções urbanas equivalem ao quarteirão e que por esta razão, terão, em regra, uma menor dimensão quando comparados com as subsecções rurais ou naturais, que por sua vez, são maioritariamente constituídas por parcelas agrícolas e/ou florestais delimitadas por caminhos públicos ou vedações (Geirinhas, 2001; INE, 2013). O critério da densidade é justificado pela componente empírica, visto que a formação de um assentamento e a respectiva dimensão têm sempre associados critérios de concentração/dispersão populacional (Stone, 1972). Neste caso, o “urbano” que se pretende destacar corresponde ao sub-sistema formado pelos múltiplos lugares onde as pessoas residem, dentro do contexto metropolitano. Assim, a remoção de subsecções de acordo com o critério proposto significa que apenas serão descartadas as parcelas (sem arruamentos nem caminhos públicos) com uma extensão superior a 10 hectares, nas quais residem menos de 100 pessoas.

A execução desta última fase gera uma nova camada: o conjunto das subsecções residuais. A filtragem fica concluída com a subtracção do conjunto formado pelas subsecções vazias e residuais a partir da informação de base, gerando assim uma nova camada constituída pelas subsecções com características urbanas, considerando o tipo de informação disponível.

Grupos Subsecções Edifícios Alojamentos Famílias Indivíduos Área (Hectares) Subsecções Vazias 2.065 0 0 0 0 32.653

Subsecções Residuais 2.818 49.506 60.479 40.473 109.482 216.459

Residuais Subsecções Urbanas 30.055 399.451 1.427.379 1.107.302 2.712.394 51.079 Subsecções em Bruto (AML - Totais) 34.938 448.957 1.487.858 1.147.775 2.821.876 300.190 % Subsecções Vazias 5,91% 0% 0% 0% 0% 10,88% % Subsecções Residuais 8,07% 11,03% 4,07% 3,53% 3,88% 72,11% % Somatório Vazias e Residuais 13,98% 11,03% 4,07% 3,53% 3,88% 82,98% % Subsecções Urbanas 86,02% 88,97% 95,94% 96,47% 96,12% 17,02%

Tabela 3 Resultados quantitativos do processo de Filtragem. Fonte: Autor, Adaptado de INE (2011).

A Tabela 3 mostra os resultados gerados pelo processo de filtragem, explicando a relação entre a representatividade de cada uma das três camadas distinguidas em relação ao todo (BGRI, AML). Esta representatividade é aferida através do peso relativo de variáveis-chave: edifícios, alojamentos, famílias, indivíduos e superfícies. As subsecções urbanas representam 86,02% do total, mas apenas 17,02% da superfície da AML, o que valida a observação baseada na dicotomia entre o urbano e o rural/natural, confirmando, que, em média, as subsecções urbanas têm uma dimensão muito mais reduzida que as subsecções com características rurais ou naturais (Geirinhas, 2001; INE, 2013); os 51.079 hectares das subsecções urbanas concentram 88,97% dos edifícios, 95,94% dos alojamentos, 96,47% das famílias e 96,12% dos indivíduos. Em conclusão, estes números validam os métodos e as opções empregues. Estes resultados demonstram que a caracterização da população residente e da habitação na AML pode ser explicada através de uma análise centrada sobre uma superfície equivalente a um quinto do total (Figura 1).

No documento FractalCity: the city amid policies (páginas 120-123)