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O menino Pedro e o idoso Joaquim: falando de amor na escola

No documento O cotidiano escolar em cartas que se narram (páginas 56-69)

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Rio de Janeiro, 12 de janeiro de 2018. Querida professora Alessandra,

ecentemente fui ao Centro da cidade do Rio de Janeiro e precisei entrar no prédio da Santa Casa da Misericórdia, que fica localizado no Castelo. Assim que comecei a andar pelos corredores da Santa Casa, percebi o abandono e a destruição em todas as partes do prédio. A iluminação natural deixava aparente a marca de insatisfação do povo que necessita do atendimento médico prestado pela instituição e que foi suspenso pelo governo.

Eram frases como: “até quando?”, “ladrões, vocês queimarão no fogo do inferno” e outras que não consegui anotar pela inibição diante do funcionário do lugar que circulava curioso com a minha presença.

O prédio antigo, imponente, mostrou-se tão frágil à medida que avançava pelos caminhos que conduziam as salas de atendimento médico. Havia algumas sacadas com portas altas e largas e foi em uma delas que parei e avistei algumas plantas. Elas estavam escurecidas pela poluição da área e a terra seca mostrava a sede e a distância de mãos cuidadosas. Foi impossível não lembrar de você e da imagem que ficou gravada em mim quando me contou como e onde fazia suas refeições diárias.

Antes de prosseguir, quero fazer um desvio para rememorar o dia em que nos conhecemos. Você, Alessandra, entrou pela porta da sala 515, no bloco D, da Faculdade de Educação, vinda da cidade de Goiás, berço de Cora Coralina. Sentou em uma cadeira quase em frente a minha, portanto no sentido oposto em que eu estava. E naquele dia de estudos, em que nos reunimos para falar da educação, do cotidiano, da metodologia e tantos outros fios entrelaçados a estes temas, entre as brechas ouvimos sua história em uma narrativa empolgada da professora Carmen Pérez.

Diante de mim uma professora universitária, da Universidade Federal de Goiás, linda, jovem e cheia de sonhos. Deixava sua terra para realizar seu projeto: fazer seu doutorado, desejosa por pesquisar com as pessoas do campo e não mais sobre elas. Começava ali nossa história, ainda no silêncio fomos nos conhecendo e aos poucos em outros encontros nas aulas e reuniões de orientação coletiva vieram os abraços, os sorrisos, as leituras compartilhadas, as

poucas fugas para um caldo verde após as aulas, as trocas pelas redes sociais, por histórias de nossos cotidianos.

E foi depois de uma atividade na Universidade Federal Fluminense que nós fomos almoçar, algo não muito fácil para nós duas, não é verdade? Foram momentos agradáveis em que trocamos experiências das nossas rotinas de estudantes. Durante a conversa você me contou que fazia suas refeições em uma mesa colocada de frente à janela e que ao abri-la todas as manhãs a paisagem era composta de uma natureza deslumbrante com árvores, flores, frutos e pássaros. Conversamos acerca das nossas realidades atuais, das nossas carências afetivas e das ideias a respeito do amor.

Essas imagens da sua casa e do nosso almoço, Alessandra, ficaram guardadas, pude refletir acerca das mesmas após caminhar pelos corredores sombrios da Santa Casa de Misericórdia, lugar que as pessoas buscam assistência médica, procuram a cura e a saúde, rememorando uma outra história que se deu em densos encontros.

No ano de 2016 conheci um menino, Pedro e um idoso, Joaquim, no mesmo dia, mas em condições, momentos, horários e situações distintas.

Começarei pelo menino, Pedro, e como se deu nosso encontro.

Estava na SMEDC (Secretaria Municipal de Educação de Duque de Caxias) aguardando o atendimento do advogado responsável pela liberação do processo que havia protocolado. Estava ansiosa e determinada a ficar naquela sala até concederem o meu direito que era de usufruir da licença para estudos. A resistência era imprescindível à continuidade dos estudos, portanto à pesquisa que desejava realizar com as crianças.

Procurei me posicionar na sala de modo a incomodar e me tornar visível. Não costumo ter essas atitudes, julguei naquele momento ser minha única saída. E, sentada no sofá que fica próximo a sala do Secretário Municipal de Educação observei a porta de vidro se abrindo e um menino de passos firmes, em nada apressados, avançar pela sala em busca de um funcionário que pudesse atendê-lo.

O menino alcança seu objetivo inicial e é conduzido para um local reservado, uma saleta, que tem uma mesa e outra porta de vidro (menor). A porta é o que o separava das pessoas que estavam sentadas no sofá aguardando outros atendimentos.

Fiquei intrigada com aquela imagem e com a cena que sucedeu após sua entrada na sala de espera. Passei a observá-lo, me senti mal com tamanha indiscrição, mas minha curiosidade deixou meus sentidos em posição de alerta. Percebi mais tarde que ali o sangue da professorapesquisadora estava ávido pela tinta de uma caneta.

O menino conversou tranquilamente com o assessor do secretário (soube só depois o conteúdo da conversa) e ao terminar o assunto retornou à sala de espera e se juntou as outras pessoas que ali aguardavam para resolver seus problemas.

Olhei-o atentamente, não para ver sua aparência, mas para compreender sua ousadia. Fiquei impressionada com o que vi estampado no seu corpo, enquanto ele parecia que não tinha me notado.

Ele, menino jovem, usava um uniforme escolar. Cada peça do seu uniforme apontava a geografia de um lugar. Rio de Janeiro, Nova Iguaçu, Belford Roxo... Mas por que um menino vai à escola vestido daquele jeito? Como não percebem os uniformes de municípios distintos atrelados em seu corpo?

A camisa do uniforme trazia a cor e o emblema do município de Nova Iguaçu, a calça era de uma escola de ensino fundamental II do Estado do Rio de Janeiro, o jaleco azul escuro da FAETEC (instituição do estado), a mochila do município do Rio de Janeiro e o tênis do município de Belford Roxo.

Fiquei bastante incomodada porque meus olhos não conseguiam se desprender daquela imagem e a cena que se criava diante da minha arrogância. Repito, sou uma pessoa discreta, minha educação não me permite certas ações, quer por receios ou inconveniência neste fazer. Mas burlei as regras aprendidas, internalizadas.

Aproximei-me do menino abrindo mão do lugar que havia definido ao sentar no sofá. Puxei um assunto e o menino aceitou conversar. No entanto, não quis prolongar o assunto e empenhei-me na objetividade. Algo muito difícil para mim. Não sou objetiva nas questões que proponho, sou prolixa na fala, um defeito para uns e qualidade para outros, mas não quero entrar nessa discussão, talvez outro dia.

O menino para minha surpresa não mostrou incômodo com as minhas perguntas, minha curiosidade o afetava positivamente. Isso me deixou ainda mais intrigada. Assim como o detetive sempre está atrás de pistas, o cotidiano me ofertava algumas e meus olhos teimavam em me enganar.

Alessandra, talvez você esteja se perguntando: “quem é o menino?”... “por que estava vestindo uniformes de várias redes municipais e estadual?”... “o que desejava falar com o secretário municipal de Educação?”... “o que disse?”... “o que o fez ser escutado pelo assessor?”. De fato, não sei se você sentiu o desejo de fazer essas perguntas ao menino enquanto lia o início desta carta, mas eu senti e o fiz.

Minha grande surpresa foi que ao perguntar o menino respondeu deixando como dever de casa outras tantas questões a ser pensadas. Pensamentos mais reflexivos e críticos acerca dos meninos e meninas das escolas.

Não sei dizer o momento exato em que o punhal acertou meu coração e me fez sentir tanto amor pela escola e pela educação. O menino antes de bater as asas e sair voando contou muito mais que uma história, me fez viver uma experiência que tatuada no meu corpo, transborda pelas mãos e se faz nesta carta.

O menino se chama Pedro e me contou que a escola que estuda estava em greve. É uma escola do Estado (FAETEC), localizada no bairro de Marechal Hermes, município do Rio de Janeiro. E onde ele mora? Próximo ou distante da escola? Ele mora nas ruas e conseguiu um jeito de sobrevir através de maneiras de fazer seu cotidiano. As astúcias que desenvolveu deixam qualquer cientista tradicional desprovido de argumentos.

Mas, prossigamos. Após fugir de casa por motivos diversos que vão desde a falta de comida, espaço físico, incompreensão, violência familiar e solidão, o menino viu na escola uma maneira de sobreviver, reinventando a própria vida.

Ele precisou sair do município que morava, Belford Roxo, para se afastar do sofrimento que carregava. Seu desejo era e, ainda é, vencer através dos meios corretos: estudando e trabalhando (segundo seu discurso e convicção). Começou a andar pelas ruas. Matriculado em uma escola municipal próxima da casa que vivia, conseguiu transferência para outra escola com auxílio de alguns adultos (principalmente uma mulher que trabalhava dentro da unidade escolar, mas que não chamou de professora).

Estudava meio período e começou a levar potes dentro da mochila para guardar um pouco da merenda com intuito de se alimentar a noite. Sempre caminhando foi desbravando os municípios que são vizinhos ao que morava e passou a conhecer as escolas de alguns destes locais. De dia estudava e fazia sua pesquisa das ruas e das pessoas do local e a noite escolhia a rua que julgava mais tranquila para descansar seu corpo.

Conhecendo as escolas e suas rotinas compreendeu que poderia entrar e sair de cada local se tivesse seu passaporte. E assim, começou a entrar nas escolas e pedir uniformes. Sabe Alessandra, não duvidei de suas palavras, porque diversas vezes presenciei responsáveis de alunos solicitando a entrega de uniformes a seus filhos que não estudavam mais nas unidades escolares e sendo atendidos.

Bendito seja o uniforme, tão bem utilizado por esse menino. Ele reinventa o uso, dá outro sentido ao que carrega no corpo. Usa o passaporte para vencer as dificuldades impostas

pela vida e dá um nó naquilo que certamente colocaríamos no patamar de atitude errada. Que ideia fantástica do menino, quanta sabedoria em seus gestos, quanto amor pela vida.

E foi dessa maneira, de modo astucioso que Pedro conseguia entrar nas escolas. Misturando-se aos outros estudantes e com seu passaporte em dia, frequentava o contraturno, estudando nas bibliotecas, salas vazias, campinhos e se alimentava antes de retornar às ruas.

Havia uma regra que mencionou não infringir: nunca dormir em rua próxima as escolas que frequentava. Andava bastante e escolhia locais que parecessem não oferecer riscos. Em alguns destes locais fez amizade com algumas pessoas que o ajudaram, mas que também tinham muita desconfiança e assim ele procurava não criar laços.

Qual era o objetivo de Pedro na secretaria municipal, Alessandra? Era pedir ao secretário de educação a liberação de uniforme e material escolar, porque ele havia sido assaltado enquanto dormia e as poucas roupas que tinha foram levadas. Ele falava e era possível perceber como estava com sono, cansado. Desta vez, como viveu uma situação diferente, precisou contar com detalhes sua realidade, e fez isso ao assessor do secretário.

Escutei atentamente aquela história e questionei Pedro ainda mais, sobre sua família e experiências na rua. Ele me respondeu com sorrisos, parecia curioso. Perguntei seu nome completo. Ele sussurrou e me deixou uma pista de como encontra-lo na rede social (facebook).

Neste momento ele muda a direção de nossa conversa e passa a falar da escola.

Alessandra, será que este menino se tornou (in)visível no cotidiano, para sociedade? Todas as pessoas que passavam pela porta ficavam presas na sala de espera. Era difícil não notar a chegada ou saída de alguém. O próprio espaço físico, ocupado com um jogo de sofás e algumas cadeiras, obrigava o deslocamento de nossas pernas para ceder a passagem às pessoas, um lugar estreito, pequeno e apertado.

Ele morador nas ruas, caminhando de cidade em cidade é prova viva do que Michel de Certeau (1998) afirma em seus trabalhos acerca das astúcias que os praticantes usam para burlar e vencer o instituído. Desejoso para completar o Ensino Médio e poder trabalhar como garçom, graças ao curso realizado na instituição que está, é Amante da escola, dos livros, do conhecimento.

Pedro não sabia, mas lançou uma bomba dentro do meu peito. A dor que senti ao ver o rosto daquele jovem, um menino repleto de sonhos, lidando com as durezas da vida, mostrando conhecer sua realidade e suas capacidades, me trouxe à memória as escolas que trabalhei, no município do Rio de Janeiro e em Duque de Caxias. Quantos meninos e meninas, como ele, existiam nesses cotidianos, quantos ainda estão por lá?

Como Pedro imerso em tantas dificuldades percebeu o caminho da transformação da sua realidade?

Durante a narração de sua história ele falou de seus receios e sentia medo de ceder às tentações das drogas e da violência, de não conseguir seu objetivo de ter uma casa e construir uma família. Sentia medo de perder a escola.

E prosseguiu falando de seus professores. Quando perguntei se alguém da escola sabia da sua condição, a resposta foi vaga, ele disse apenas “que havia muitos professores legais”. Inclusive “alguns deles liberaram a senha do „wifi‟ para que ele pudesse realizar pesquisas na sala de informática”. Foi dessa maneira que ele conseguiu criar um perfil na rede social (facebook) e enviava currículos às empresas que contratam garçons. Apesar de ter menos de 18 anos, algumas empresas o contrataram para realização de pequenos eventos.

E o menino se foi, nosso tempo foi encerrado com o retorno do assessor do secretário. Ele chamou o menino e colocou em suas mãos: duas canetas, dois lápis, uma borracha, um apontador e um caderno. O uniforme, ele não cedeu. E o menino partiu, sabendo que terá que enfrentar uma longa caminhada.

Nos despedimos com o silêncio e o gesto de olhar e no olhar, essas foram as nossas palavras finais, seu rosto e meu rosto, um encontro.

A história, apesar de longa, foi marcante na minha vida, Alessandra. Uma experiência que exige outras palavras.

Desejo retomar um ponto na narração de Pedro que ficou como uma provocação. Ele falou em amor. Um amor declarado à escola, aos professores e a educação. Tanto amor que não permite que a negativa do assessor do secretário o paralise e coloque um ponto final no seu objetivo. Ele saiu daquela sala, daquele prédio, com a cabeça erguida e provavelmente com novos elementos para conseguir o uniforme negado. Como o menino Pedro tão machucado pelas desigualdades e imposições da vida conheceu o amor? Com quem aprendeu a amar? Será que foi na escola, com seus amigos e professores?

A vida na escola se dá na “existência enquanto humano no meio de humanos que falam, que amam, que escutam, que todos os dias recriam a vida em sua diversidade de possibilidades. Sabemos que na escola, diariamente, práticas de surdez tentam silenciar essas vozes. Mas existe o amor”(MELLO, 2017, p.20).

O amor existe e resiste na escola. Esse amor que Pedro expressa é um tema que sempre aguçou minha curiosidade. Afinal, falamos de tantas coisas dentro (fora também) da escola. Nossos assuntos giram em torno de palavras como: aprendizagem, aluno, reprovação, planejamento, ensino, descaso, família, fracasso, atividades, valores, hábitos, identidade,

desenvolvimento e tantas outras relacionadas ao nosso fazer e ao nosso saber. Mas, ainda falamos pouco de amor, e quando expressamos nossos sentimentos com relação às crianças, às críticas trazem sempre consigo a carga de falta de controle, da ordem e do poder sobre o outro.

De fato fui deixando essa ideia de lado, Alessandra, comecei a me perceber como problema no grupo. Como meus argumentos se mostravam frágeis devido a insegurança e ao rótulo de „romântica‟, fui silenciando e guardando meus pensamentos, na realidade parei de insistir.

Aprendi recentemente que: diante do medo, seja do que for, é preciso que, primeiro, nos certifiquemos, com objetividade, da existência das razões que nos provocam o medo. Segundo, se existentes, realmente, compará-las com as possibilidades de que dispomos para enfrentá-las com probabilidade de êxito. Terceiro, no que podemos fazer para, se for o caso, adiando o enfrentamento do obstáculo, nos tornemos mais capazes para fazê-lo amanhã.

As palavras acima são ideias de uma carta de Paulo Freire (1997) em que suas reflexões se dão em torno do medo que ronda o leitor frente ao desafio que a leitura de um determinado texto assume. Não entender um texto é um risco e uma possibilidade que pode gerar a paralisia ou a busca de uma disciplina de estudos. Esse foi um fio tecido pelo autor, desejo puxar outro fio da mesma tessitura, a fim de ampliar nossa conversa; que se refere ao medo do outro, ou seja, aquele para quem dirigimos nossas ideias.

As razões que provocaram o medo já foram expostas: medo de não ser aceita pelo grupo, da incompreensão, da exclusão, da fragilidade do próprio discurso e da pouca fundamentação teórica, o que torna visível a implicação na própria formação.

Essa ideia ficou guardada desde 2016 quando tentei escrever um texto em que a questão da pesquisa deveria vir à tona. Não consegui sucesso na empreitada, porque o medo me silenciou. Copiei uma pequena parte do antigo ensaio e desejo compartilhar com você:

O texto que aqui inicio é um convite à liberdade, que teimosa rompe os tempos e espaços contidos abrindo suas asas em movimentos ainda não conhecidos. Carrega em seu voo um fundamento, o amor, e, que escrito em uma palavra tão pequena, tem no seu ventre o maior de todos os princípios. Com apenas quatro letras, organizadas e ordenadas lado a lado se faz no ato e direciona se assim quiserem os homens.

Mas por que esse começo? Como e por que falar de ato, liberdade, amor?... Para dizer que foram tantas as linhas escritas, tantos textos postos em hibernação, tantas ideias tolhidas,

massacradas, defendidas, rejeitadas, amaldiçoadas, ignoradas... Sim, este começo se fez assim, de muitos e muitos abandonos, de mergulhos de uma amadora, com pretensões, mas na desordem. E, enquanto a escrita da ideia se contorcia na folha, a palavra, tão bela e simples, saltava-me aos olhos, ainda molhados da dor.

Houve nesse pequeno intervalo a revelação dos inícios, a resposta àquela pergunta, que passeando em meus pensamentos nos últimos meses criou com suas garras uma grande habitação. Antes da revelação o medo dominou minhas mãos, cegou meus olhos e agravou meus ouvidos. Escrever, ver e ouvir pareceu ser impossível.

Com a habitação construída a moradora se instalou e trouxe consigo convidadas e numa afronta constante, lançava sua provocação. Sua construção bem sólida, com tijolos bem cimentados não permitia a curiosidade dos aventureiros, a saída mostrava-se cada vez mais distante.

Felizmente a constatação antecipada, desta que escreve ansiosa por descobertas, por retornos, não percebe na existência das questões comuns sua resposta. Os olhos percorrem as folhas e numa pequena fresta quatro letras juntinhas mostram o que estava escondido na busca pela criação. A palavra tão pequenina num sussurro responde: “AMOR: eu sou o X da questão”.

Os olhos se abrem em sorrisos, a mão pulsa mais forte, o motivo sempre foi esse: “amor pelo mundo”, “amor pelos homens”, “amor pela vida”. Compreendo que todos os começos tentaram me avisar, “o amor é compromisso com os homens. Onde quer que estejam estes, oprimidos, o ato de amor está em comprometer-se com sua causa. A causa da sua libertação” (FREIRE, 2016, p.111)/(Caderno pessoal de textos, 2016).

Enquanto estava paralisada pelos meus receios tenho na imagem do rosto de Pedro uma postura contrária a minha. Ele mostrou uma coragem diante das questões da vida surpreendentes. O único medo que ele disse ter é de não atingir seus objetivos, o que não o paralisa, pelo contrário, o motiva ainda mais.

E foi este menino, Pedro, que animou meu pensamento e me deu a ver outros modos de caminhar na dura estrada. Ele ao dialogar comigo, não fez exigência alguma, sua ousadia encarnou em minhas ideias como este pensamento partilhado por Rubem Alves: “Nietzsche diz que para se aprender a pensar, é preciso aprender a dançar. O pensamento são as ideias

No documento O cotidiano escolar em cartas que se narram (páginas 56-69)