Parte III – Prática Pedagógica em contexto de Jardim de Infância II
3.1 Reflexão sobre o vivenciado em Jardim de Infância II
3.1.2 O meu percurso em contexto de Jardim de Infância II
Ao longo deste contexto em Jardim de Infância II deparei-me com inúmeras situações com as quais
ainda não tinha contactado e que de início foram uma dificuldade para mim, mas que com o passar
do tempo e com as estratégias que fui utilizando para as colmatar consegui transformá-las em
aprendizagens significativas.
Um aspeto que considero bastante diferente neste contexto foi o facto de neste contexto as crianças
realizarem mais atividades, ou seja, o tempo era utilizado e aproveitado de uma maneira diferente.
Assim, por dia, realizavam-se várias atividades e a dinâmica era muito rápida e intensa, o que
considero um aspeto bastante positivo. De início foi um pouco complicado perceber como realizar
tantas atividades e ao mesmo tempo conseguir dar atenção necessária às crianças, mas ao longo do
tempo, tornei-me mais flexível, e o que ao início parecia algo difícil de fazer, depois foi algo normal
e rotineiro e neste momento acharia estranho manter um ritmo mais lento.
Considero que este contexto foi bastante desafiante, principalmente por ter crianças de idades
diferentes. Ao início desta Prática Pedagógica tinha estado com grupos de crianças com a mesma
idade, e inicialmente foi difícil compreender qual deveria ser o meu papel de modo a poder orientar
todas as crianças e conseguir simultaneamente estimulá-las positivamente. Nem sempre foi fácil,
mas com o passar do tempo consegui cativar todo o grupo e responder às necessidades das
diferentes crianças.
Uma dificuldade bastante sentida no início desta Prática Pedagógica estava relacionada com o não
conseguir orientar mais do que três crianças simultaneamente numa atividade, ou seja, propunha
atividades em pequeno grupo, no máximo com três crianças, e raramente planificava atividades em
grande grupo, como demonstra o extrato seguinte:
num momento fiquei a auxiliar sozinha três crianças. Ainda sinto muita insegurança quando estou sozinha com um grupo de três ou mais crianças. Como educadora terei de o fazer, e por vezes com grupos muito maiores, e como tal, sei que é uma das dificuldades que tenho que batalhar muito e tentar ultrapassar (Anexo VII – Reflexão 2 em Contexto de Jardim de Infância II).
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Este foi um aspeto pelo qual batalhei muito pois tinha noção que como futura educadora tinha que
conseguir orientar todo o grupo de crianças sozinha, e mesmo que estivesse a orientar uma atividade
em pequeno grupo, tinha que conseguir não perder de vista as restantes crianças de modo a criar um
ambiente calmo na sala. Para combater esta dificuldade foi fundamental o apoio da educadora que
me incentivou a optar por atividades em grande grupo, de modo a desenvolver esta competência, e
nos momentos de trabalho em pequeno grupo, constantemente me relembrava a necessidade de não
esquecer o restante grupo. É importante valorizar as atividades em grande grupo pois possuem
oportunidades para as crianças.
Com o passar do tempo deixou de ser necessário a educadora alertar-me pois já conseguia orientar
todas as crianças. Esta foi uma grande vitória conseguida, pois num grupo muito heterógeno
consegui realizar diversas atividades em grande grupo como também em pequeno sem nunca
desvalorizar e esquecer-me das restantes crianças.
Ao longo de toda a Prática Pedagógica foi necessário realizar o exercício de observação pois as
crianças estavam em constante desenvolvimento, e o que elas eram num dia, passado algum tempo,
já não correspondia à verdade. De modo a proporcionar atividades significativas à criança o
educador deve observá-la constantemente para perceber o que a criança necessita ou que já adquiriu
ou desenvolveu.
Observar o que as crianças fazem, dizem e como interagem e aprendem constitui uma estratégia fundamental da recolha de informação. Porém, essa observação não se pode limitar às impressões que os/as educadores/as vão obtendo no seu contacto diário com as crianças, existindo um registo que lhes permita contextualizar o que foi observado e situar essas informações no tempo (Silva et al., 2016, p. 13).
Através da observação que fui realizando, fui constatando a necessidade de arranjar mais estratégias
para cativar a atenção das crianças e como tal, consciencializei-me que era no decurso da Prática
Pedagógica que tinha oportunidade de experimentar o máximo de estratégias possíveis, para depois
refletir sobre o ocorrido ou sobre como poderia ter sido feito para obter outros resultados. Assim,
mais do que nos outros contextos, experimentei estratégias diversificadas.
Um momento onde apliquei diferentes estratégias foi na hora do conto. Desde o início que sentia
que este era um ponto fraco, pois lia sempre a história da mesma forma, o que por vezes não
cativava as crianças. Ao dinamizar as histórias de diferentes maneiras os resultados foram muito
positivos, e refletindo agora considero que alterando a dinâmica da hora do conto as crianças
sentiam-se sempre motivadas, curiosas e interessadas.
Uma das estratégias utilizadas foi contar a história através de um avental de histórias (Fotografia
41). Nunca tinha tido oportunidade de contar uma história deste modo e penso que foi uma forma
interessante de cativar as crianças. Sentia-me bastante receosa pois não sabia como as crianças
iriam reagir mas o extrato seguinte mostra que as crianças participaram ativamente no momento:
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Era um momento para o qual estava bastante receosa uma vez que se tratava de uma forma de contar a história em que não teria nenhum suporte para me guiar. Para precaver alguma situação treinei várias vezes o conto da mesma. Na minha opinião correu bem e as crianças mostraram-se entusiasmadas e curiosas por se tratar de algo diferente. Ao longo da história as crianças iam dando as suas dicas e eu tentei aproveitar e integrar na história a maior parte delas (Anexo VII – Reflexão 5 em Contexto de Jardim de Infância II).
Para além desta estratégia também foi utilizado o contar a história através da observação de imagens
retiradas do livro, sem ler o texto do mesmo e as crianças fazerem o reconto da história tendo por
base o estendal de imagens da história (Fotografia 42), contar a história através de um teatro de
sombras (Fotografia 43), contar a história utilizando um projetor (Fotografia 44), dramatizar a
história, utilizar dedoches, entre outras. Para além de contar a história de formas diferentes existiram
situações onde percebi que bastava alterar a disposição da sala, ou alterar a posição das crianças
para lhes cativar a atenção.
De todas estas estratégias a que gostei mais de realizar foi a do teatro de sombras, pois deste modo
as crianças mantiveram-se concentradas do início ao fim. Tudo isto envolvia magia o que para as
crianças criava um sentimento de curiosidade sobre o que iria acontecer em seguida.
É importante existir tempo para a exploração deste tipo de estratégias pois,
A observação de diferentes manifestações teatrais contribui para a apreciação da arte dramática ou teatro e para o desenvolvimento da sensibilidade estética das crianças. Proporciona ainda um diálogo no grupo, que permite explorar a especificidade dos meios e linguagens do teatro e de confrontar diferentes interpretações e apreciações, facilitando a emergência de uma opinião crítica (Silva
et al, 2016, p. 53).
Na hora do conto, surgiu, ainda, outro ponto que considero que foi uma
aprendizagem bastante significativa para mim. Por vezes, depois de eu ou a
minha colega contarmos a história de forma dinâmica, as crianças mostravam
interesse em contarem elas o conto às outras crianças, tal como aconteceu
na dramatização da Lenda de São Martinho (Fotografia 45) ou na história
com dedoches (Fotografia 46). A primeira vez que surgiu o interesse, por
parte das crianças, de contarem a história, não foi dada importância a esse
interesse o que foi errado. Depois de conversar com a educadora,
compreendi que era importante valorizar esse desejo, e se as crianças
Fotografia 41 - Avental de histórias
Fotografia 42 - Estendal de histórias Fotografia 43 - Teatro de sombras Fotografia 44 - História através de projetor
Fotografia 45 - Dramatização pelas crianças
Fotografia 46- Teatro com dedoches
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demonstrarem interesse em realizar a dramatização devemos dar oportunidade para que elas o
façam. Assim, nas vezes seguintes, sempre que as crianças mostravam este interesse foi-lhes dado
esse espaço. Nunca nenhuma criança foi obrigada a contar a história, mas todas as que quiseram
fazê-lo era-lhes dada oportunidade de o realizar, e assim, algo que nem me ocorria ser importante,
passou a fazer parte da planificação.
Relativamente às crianças representarem, foi a maneira de ir ao encontro dos seus interesses e de as começar a habituar a estas situações. Quando questionei as crianças sobre quem queria representar quase todas responderam afirmativamente, existindo poucas que disseram que não, (…). Demos oportunidade às crianças de decidir se queriam ou não, não as obrigando a fazer algo que não queriam. Foi muito interessante observar como as crianças mais novas todas quiseram representar (Anexo VII – Reflexão 7 em Contexto de Jardim de Infância II).
Outro aspeto que considero muito significativo relativo às minhas aprendizagens realizadas neste
contexto foi o facto de valorizar muito os interesses das crianças. Como tal, por diversas vezes, não
se seguiu o planificado para se poder ir ao encontro do que as crianças queriam e que tinha
significado para elas no momento. É importante o educador ter esta flexibilidade, pois a planificação
é um instrumento de auxílio mas não é algo que deve ser seguido à letra. Ao longo de toda esta
Prática Pedagógica este foi um cuidado que esteve sempre presente, e sempre que as crianças
mostravam interesse numa situação não planeada e que considerássemos importante para elas,
abdicávamos do planificado. Nestas situações o que não se concretizava num dia era sempre
realizado noutra altura, e o interesse das crianças era aproveitado no momento que lhes fazia
sentido. É possível constatar este cuidado em dois extratos de reflexão, um de uma situação ocorrida
no início desta Prática Pedagógica, e outra situação ocorrida no final da mesma.
No extrato da Reflexão 4 é possível constatar que:
alterámos o que tínhamos planificado. Na minha opinião faz sentido realizar essa alteração porque no momento foi o rumo que a atividade levou e as crianças estavam entusiasmadas, sendo importante aproveitar esse entusiasmo. Não estava planificado logo no momento da manhã as crianças colocarem a sua fotografia no mês correspondente, mas criou-se um momento de magia com a caixa, de onde saiam as fotos, e proporcionou-se então desta forma (Anexo VII – Reflexão 4 em Contexto de Jardim de Infância II).
Já num momento mais avançado da prática,
surgiu um momento em que deixámos de parte aquilo que tínhamos planificado para ir ao encontro dos interesses das crianças. (…) Deste interesse que as crianças mostraram, decidimos deixar de parte o que tínhamos planificado e realizar então o que as crianças nos pediam. (…) Para mim este foi um momento importante pois não nos podemos manter completamente fiéis à planificação, ou seja, temos que ter capacidade de ser flexíveis e seguir os interesses das crianças, nomeadamente quando estes surgem (Anexo VII – Reflexão 12 em Contexto de Jardim de Infância II).
Refletindo sobre toda esta Prática Pedagógica, existiram momento que me fizeram pensar e
questionar, e que me criaram oportunidades de aprendizagem. Um aspeto que neste momento
considero muito importante para a criança é ao final do dia realizar um momento em grande grupo,
onde se relembra o que foi feito nesse dia, o que se aprendeu, auxiliando, assim, as crianças a
consolidarem as suas aprendizagens. É importante que neste recordar do que aconteceu ao longo do
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dia todas as crianças tenham oportunidade de pensar e participar. Este aspeto foi algo que eu própria
aprendi nesta Prática Pedagógica e foi refletido como é demonstrado no seguinte extrato:
realizei também uma aprendizagem muito importante. Se no final do dia conversarmos com as crianças sobre o que fizeram nesse dia e o que aprenderam torna-se mais fácil para elas interiorizarem essas aprendizagens. Para tal, é importante utilizarmos mais uma vez o quadro para registarmos as aprendizagens das crianças, registarmos o que elas nos dizem (Anexo VII – Reflexão 5 em Contexto de Jardim de Infância II).
O registo feito em grande grupo foi outra situação que inicialmente foi uma dificuldade sentida mas,
com o passar do tempo, fui compreendendo a sua importância até chegar ao momento em que eu
própria senti necessidade de o fazer. Quando cheguei a este contexto, deparei-me com a educadora
a registar frequentemente as ideias de todas as crianças do grupo, o que para mim não era uma
prática comum. Nas primeiras semanas sempre que existia um levantamento de ideias eu não sentia
necessidade de realizar esse registo, o que levava a educadora a chamar-me a atenção para a
importância do mesmo. Com o tempo, fui tentando sempre interiorizar esta ideia, e pude mesmo
constatar que as crianças sentiam prazer ao perceber que a sua ideia ficava registada. Finalizada a
prática, posso afirmar que neste momento, sempre que existe um levantamento de ideias sinto
automaticamente necessidade de fazer o registo. Para mim, esta foi uma das aprendizagens que me
permitiu crescer.
A minha flexibilidade não evolui somente em relação ao grupo de crianças, mas também na
dinamização e na utilização dos espaços. É importante o educador conseguir tirar o melhor partido
dos espaços que tem, tanto interior como exterior. Inicialmente estava muito presa à sala, mais
precisamente ao local da manta. Com o tempo, fui conseguindo utilizar os outros espaços e também
utilizar diferentes espaços como estratégia de cativar a atenção das crianças. Segundo Craidy &
Kaercher (2001), o espaço físico e social é fundamental para o desenvolvimento das crianças, na
medida em que ajuda a estruturar as funções motoras, sensoriais, simbólicas, lúdicas e relacionais
(Craidy & Kaercher, 2001, p. 73).
Para além de todas as aprendizagens que tive oportunidade de realizar, existiu também espaço para
consolidar e ampliar outras que já tinha aprendido previamente, como foi o caso da relação com a
família e da sua importância para o desenvolvimento da criança.
Tal como referi, nem sempre a relação com as famílias foi fácil mas é necessário que os pais
entendam por que lhes perguntamos coisas a respeito de seu filho e dos próprios pais, para que
não o vejam como uma invasão, nem como uma avaliação da sua tarefa educativa (Bassedas,
Huguet & Solé, 1999, p. 292-293).
Tive a oportunidade de assistir a uma reunião de pais, o que para mim foi um fator muito
importante para o meu desenvolvimento como futura profissional de educação. Foi a segunda vez
que tive esta oportunidade, tratando-se, no entanto, de um contexto muito diferente, o que
modificou o tipo de reunião. Para mim, estas reuniões foram algo que me suscitou dúvidas, na
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forma como falar, o que dizer, sobre o que falar, como abordar os pais, entre outros. Como tal, esta
oportunidade permitiu-me explorar um pouco esse aspeto e observar como posso no futuro agir.
Todos os passos do processo da reunião serão devidamente planificados, mas com flexibilidade como tónica (…) quanto melhor preparada for uma reunião, mais natural ela aparecerá aos olhos de quem nele participa (Rigolet, 2006, p. 23).
Para mim, tal como refiro no extrato da Reflexão 12:
esta oportunidade é uma mais valia, pois este é um momento raro e podermos assistir para ver como é muito importante. Esta interação com as famílias é algo que existe sempre, mas nem sempre é fácil. Foi importante para mim observar de que modo se deve conduzir uma reunião deste tipo, de que forma abordar os pais, quais as questões a colocar entre outros aspetos (Anexo VII – Reflexão 12 em Contexto de Jardim de Infância II).