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2.3 Argumentação e a natureza das tarefas

3.1.1 O modelo corpuscular

Os registos mais antigos de um modelo corpuscular remontam ao século V a.C. com Demócrito e Leucipo (Tsaparlis & Sevian, 2013b; S. S. Zumdahl & S. A. Zumdahl, 2007). Estes modelos, contudo, estavam fundamentados mais em conceções filosóficas e do que em evidências experimentais (Chalmers, 2009, citado por Tsaparlis e Sevian, 2013). O modelo corpuscular tal como é conhecido atualmente é uma construção do século XX. Só neste século, por exemplo, se registaram as primeiras evidências da existência de protões e neutrões. São também do século XX, os modelos vigentes que explicam a constituição dos átomos e as interações entre eles.

Quadro 3.2: Massa e carga elétrica das partículas constituintes do átomo Partícula Massa (kg) Carga (C)

eletrão 9,109× 10−31 −1,602 × 10−19

protão 1,673× 10−27 +1,602× 10−19

neutrão 1,675× 10−27 0

por sua vez são constituídos por um núcleo rodeado por uma nuvem eletró- nica. O núcleo atómico é constituído por protões e neutrões (coletivamente designados por nucleões). A nuvem eletrónica é a zona do espaço onde há probabilidade de encontrar os eletrões que fazem parte do átomo. No qua- dro 3.2, apresentam-se a massa e a carga de cada um dos constituintes do átomo.

A massa de um eletrão é cerca de duas mil vezes menor do que a de um nucleão, o que explica que a massa do átomo seja determinada principalmente pela massa do seu núcleo. Como se indicou no quadro 3.1, Z corresponde ao número de protões do átomo, e distingue cada elemento químico. Os materiais que se encontram na natureza são constituídos por menos de uma centena de elementos diferentes.

O número de nucleões é designado por número de massa e representa- -se habitualmente pela letra A. Átomos de um mesmo elemento, contendo diferente número de neutrões designam-se por isótopos. Cada isótopo é ca- racterizado pelo número de massa e pelo número atómico (ou pelo símbolo químico2). Uma porção de uma substância elementar é normalmente cons-

tituída por uma mistura de vários isótopos do elemento químico correspon- dente.

Um isótopo pode ser transformado noutro, do mesmo elemento ou de outro elemento químico, por meio de uma transformação nuclear. Se esta transformação for espontânea, o isótopo diz-se radioativo. Uma amostra de uma substância elementar não radioativa pode considerar-se constituída

(Retirado de http://www.ciaaw.org)

Figura 3.1: Tabela periódica mostrando, a amarelo, os elementos com isóto- pos estáveis.

apenas por isótopos estáveis, isto é, aqueles para os quais não há evidências experimentais de decaimento radioativo (IUPAC, 2013). A determinação do peso molar de um elemento é realizada com base na composição isotópica média das amostras do elemento, encontradas na natureza. Na figura 3.1 apresentam-se os símbolos correspondentes aos elementos que compõem a matéria, destacando, a branco, aqueles que não têm isótopos estáveis conhe- cidos.

A massa de uma porção de qualquer substância, é igual à soma das mas- sas de todas as entidades moleculares que a compõem. O volume de uma substância dependerá do estado de agregação das entidades moleculares que a compõem e, portanto, da distância média entre estas.

Teoricamente, as nuvens eletrónicas estendem-se infinitamente, pelo que não é possível calcular o volume de um átomo isolado. Na prática, a nuvem eletrónica de um dado átomo está limitada pelas dos átomos que a rodeiam, uma vez que os eletrões se repelem mutuamente. Então como se pode de- terminar o raio de um átomo? O seu valor pode ser estimado de várias ma- neiras, dependendo do elemento, e da natureza das interações entre o átomo em questão e outros átomos, do mesmo elemento, que o rodeiam. Algumas estimativas comuns são o raio covalente, o raio de van der Waals e o raio

Quadro 3.3: Estimativas do raio atómico de acordo com a natureza das interações: definições de Housecroft e Sharpe (2005)

Raio Definição

covalente Para o átomo de um elemento X, o valor do raio corres- pondente a uma ligação covalente simples, rcov, é igual

a metade da distância internuclear média, numa ligação homonuclear simples X−X.

de van der Waals O raio de van der Waals, rv, de um elemento X é igual

a metade da distância mínima de aproximação de dois átomos de X não ligados.

metálico O raio metálico é igual a metade da distância média en- tre o átomo central e os núcleos vizinhos mais próximos, numa estrutura cristalina sólida, e depende do número de coordenação do átomo central. Quando o número de coordenação é 12, esta grandeza costuma representar-se por r12.

metálico. As definições, dadas por Housecroft e Constable (2006), para cada uma destas estimativas, são apresentadas no quadro 3.3. Determinado deste modo, o diâmetro de um átomo tem um valor próximo de 10−10m, também

designado por 1 ˚A. O diâmetro do núcleo atómico é, no entanto, da ordem dos 10−15m, de onde resulta que o tamanho de um átomo é determinado

essencialmente pelos seus eletrões, como referido no quadro 3.1.

Excluindo todos os fenómenos que implicam transformações nucleares, as interações entre entidades moleculares, que explicam as propriedades ma- croscópicas da matéria, são apenas eletromagnéticas e gravíticas. Ao nível atómico, contudo, as interações relevantes são essencialmente as eletromag- néticas, uma vez que a interação gravítica entre partículas atómicas é muito reduzida3. São as interações eletromagnéticas que explicam a formação de

3Para ter uma ideia da diferença, a força de atração gravítica entre dois eletrões se-

moléculas, iões, radicais, complexos, etc., bem como os estados de agregação das partículas. O campo gravítico terrestre, em conjunto com as interações eletromagnéticas, explica também alguns dos comportamentos macroscópi- cos dos materiais, como por exemplo: o facto dos líquidos se ajustarem à forma do recipiente em que se colocam; as partículas sólidas precipitarem numa mistura heterogénea ou existir um gradiente de pressão na atmosfera terrestre. Por outras palavras, sem campo gravítico, os líquidos não se ajus- tariam à forma dos recipientes, nenhuma partícula sólida precipitaria numa mistura heterogénea, nem haveria atmosfera.

Antes de analisar de que modo as forças eletromagnéticas explicam as in- terações entre entidades moleculares, é importante considerar o movimento destas. Os fenómenos macroscópicos observados, resultam tanto das carac- terísticas das entidades moleculares, como dos seus movimentos. Os núcleos atómicos estão sempre em movimento, sendo o seu movimento acompanhado pelas nuvens eletrónicas. Nas entidades moleculares constituídas por mais de um núcleo atómico, estes mantêm posições fixas entre si, podendo vibrar dentro de certos limites. Há interações entre entidades moleculares, quando há choques entre as nuvens eletrónicas de diferentes entidades. Contudo, não se devem imaginar os choques ao nível subatómico de modo análogo aos choques observados ao nível macroscópico, porque as entidades moleculares, como se referiu atrás, não têm contornos bem definidos.

Alguns dos choques podem resultar em transformações químicas, se a composição ou a estrutura da entidade molecular sofrer alterações. Em trans- formações físicas, não se altera a estrutura das entidades moleculares, mas apenas o seu estado de agregação ou de movimento. Em qualquer caso, do choque de entidades moleculares, resultam sempre transferências de energia de umas para outras.

Embora, como se referiu atrás, as interações eletromagnéticas sejam su- ficientes para explicar a formação das diferentes entidades moleculares, bem como os estados de agregação entre elas, é útil classificar as interações em diferentes tipos. No quadro 3.4 apresenta-se uma descrição dos principais tipos de interações, tal como são definidas pela IUPAC (2014).

Quadro 3.4: Principais tipos de interações eletromagnéticas ao nível atómico e molecular. Adaptado de IUPAC (2014)

Tipo de interação

Descrição

Ligação iónica Ligação entre átomos com eletronegatividade muito diferente. Em sentido estrito, ligação iónica refere-se à atração eletrostá- tica gerada pela diferente carga elétrica de aniões e catiões, em contraste com uma ligação covalente pura. Na prática, é pre- ferível considerar o maior ou menor carácter iónico da ligação, do que apresentar as ligações como iónicas puras ou covalentes puras.

Ligação covalente Região de elevada densidade eletrónica entre núcleos atómicos, que resulta, pelo menos parcialmente, da partilha de eletrões entre estes, e dá origem a uma força atrativa e a uma distância internuclear característica.

Ligação de

hidrogénio Forma de associação entre um átomo eletronegativo e umátomo de hidrogénio, ligado a outro átomo eletronegativo. É melhor representada como uma atração eletrostática, re- forçada pelo reduzido tamanho do hidrogénio, que possibilita uma maior proximidade entre os dipolos, ou cargas, envolvi- das. Ambos os átomos eletronegativos pertencem habitual- mente (embora não exclusivamente) ao 2.◦ período da tabela

periódica, isto é, N, O ou F. Interações de van

der Waals Interações atrativas ou repulsivas entre entidades molecula-res (ou entre grupos dentro de uma molécula), diferentes das que dão origem às ligações que as constituem e também dife- rentes das interações eletrostáticas entre iões ou grupos ióni- cos, ou entre estes e entidades eletricamente neutras. Inclui as interações dipolo permanente–dipolo permanente; dipolo permanente–dipolo induzido e dipolo instantâneo–dipolo ins- tantâneo induzido. Estas últimas são também designadas for- ças de London. Algumas vezes a designação interações de van der Waals é usada para a totalidade das interações intermo- leculares, independentemente das suas características específi- cas.

SÓLIDO fusão solidificação LÍQUIDO evaporação condensação GÁS As partículas estão próximas, vibrando em torno de uma posição fixa na estrutura sólida.

As partículas estão pró- ximas, podendo movi- mentar-se livremente no volume do material.

As partículas estão afas- tadas e têm poucas inte- rações.

(Adaptado de http://www.100qns.com/the-nature-of-matter.html)

Figura 3.2: Modelo corpuscular dos estados sólido, líquido e gasoso.