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Com a fala do presidente da Província do Espírito Santo, do ano de 1838, João Lopes da Silva Couto, pôde-se perceber que tanto a formação do professor, quanto as características que esse deveria apresentar passam a ser tema insistente nos relatórios dos presidentes da Província. No caso do relatório apresentado no ano de 1838, entre algumas considerações do estado da instrução pública, avalia o presidente que, em relação ao ensino primário, a situação era muito ruim, pois somente existia na Província uma escola de primeiras letras, que funcionava como “[...] huma [aula] de ensino individual que [...] [era] frequentada por 181 meninos” (COUTO, 1838, p. 9), a outra aula, aberta para meninas, não havia conseguido professora que a assumisse. De acordo com o presidente da Província, “[...] he sabido que não só n’esta Provincia como também em quasi todo o Imperio, a educação da mocidade tem sido abandonada e confiada a pessôa menos habilitadas para tal cargo, salvas as justas excepções”.

Para contornar esse problema, João Lopes da Silva Couto sugere à Assembléia Provincial a necessidade urgente de aumentar o ordenado dos professores para que a função se tornasse mais atraente. Propõe também que fosse enviado à Província do Rio de Janeiro pessoas que se interessassem pelo Magistério primário a fim de se preparar na Escola Normal da Corte. Quando concluíssem o curso, deveriam retornar para a Província e assumir as cadeiras da instrução pública da Capital e das vilas. Não se cogita a instalação de uma instituição para a formação dos professores na Província. A solução mais simples seria deslocar estudantes da cidade de Vitória para instituições que já oferecessem o curso normal.76 Dois anos depois, outro presidente da Província volta a reclamar das dificuldades em se abrir uma segunda escola de primeiras letras na capital.

[...] he grande necessidade a creação de outra Escola de Primeiras Letras nessa Capital: não se póde esperar algum adiantamento da

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preliminares à educação superior.

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Antonio Pereira Pinto, assumindo em 1848 a função de presidente da Província, o qual passou o cargo no mesmo ano ao novo presidente, comendador José Francisco de Andrade e Almeida Monjardim, faz os seguintes comentários ao redigir seu relatório para os membros da Assembléia Legislativa: “[...] fallando sobre a instrução, ─ sinto ter de annunciar á V. Ex. que ella se acha em estado bem pouco satisfactorio, pela falta mui sensivel de pessoas habilitadas, que occupem o magisterio. Levo em vistas propôr á assembléia provincial em a sua primeira reunião a consignação de quantia sufficiente para se mandar dous moçõs dos mais applicados desta provincia cursarem as aulas dessa côrte, afim de importarem para sua patria as lições, que n’ellas beberem”(PINTO, 1848, p. 18-19).

mocidade havendo huma só Aula, e sendo frequentada por 180 alumnos, conforme a relação apresentada pelo Professor. Observo que alguns com a idade de 15 e 16 annos, e tendo 9 e 10 annos de escola ainda não estejão prontos; outros ha que frequentando a aula perto de 5 annos apenas soletrão. Este atraso denota que o Professor não póde dividir sua attenção por todos (OLIVEIRA, 1940, p. 9).77

José Joaquim Machado de Oliveira, entrando em contato com o presidente da Província do Rio de Janeiro para saber se era admitido alguém se matricular, respectivamente, na Escola Normal e na de Arquitetos Medidores, recebeu a resposta de que era possível, desde que os diretores das escolas aprovassem. Relata o presidente que fez circular pela Província do Espírito Santo editais convidando jovens que quisessem realizar seus estudos no Rio de Janeiro, financiados pela Província. Dois jovens se apresentaram para a vaga, mas, ao serem sabatinados pelo presidente da Província sobre suas expectativas, um desistiu; o outro, após ser aprovado, também acabou desistindo. A solução foi, então, enviar um órfão para a Corte para tornar-se professor pela Escola Normal de Niterói e arquiteto medidor pelo Ateneu daquela cidade.78

No ano seguinte, ainda como presidente da Província, José Joaquim Machado de Oliveira resolve que, para sanar a falta de professor para ocupar a segunda cadeira do ensino primário da Capital, enviaria para a Capital o Império um jovem chamado Manoel Ferreira das Neves, o qual teria os estudos financiados pela Província, a fim de adquirir “[...] as habilitações necessarias, não só dos principios instructivos, como do modo de os practicar” (OLIVERIA, 1841, p. 13). De acordo com o presidente, ao voltar, já capacitado com as habilitações adquiridas na Escola Francisco Crispiniano Valdetaro (para onde o estudante tinha sido enviado), assumiria a cadeira de primeiras letras da Capital e procederia à reforma do método até então utilizado.79

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Em 1840, o presidente da Província, José Joaquim Machado de Oliveira, constata as dificuldades de organizar a instrução pública na Capital. Verificava que havia um baixíssimo aproveitamento dos alunos. Credita essa situação ao modelo escolar adotado na primeira escolar primária da Capital. Descreve que a instrução era oferecida como base no ensino individual em uma classe imensa, em que o professor não dava conta de atender a todos que dele tinham necessidade. Como se pode perceber, o método de ensino individual ainda era empregado na Província, mesmo que, em 1827, por intermédio da Lei da Instrução Pública, se preconizasse a adoção do método Lancarter em todos os estabelecimentos de ensino. Constata que esse ensino individual era empregado em conjunto com o ensino mútuo, situação que lhe causou assombro, pois o professor não conseguia lidar com as dificuldades que a junção dos dois métodos gerava.

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Sobre o jovem órfão que foi enviado para estudar na Corte, nunca mais se obteve notícias, apesar de, em alguns relatórios de presidentes da Província, haver a cobrança de informações sobre seu paradeiro.

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Em 1848, o então presidente da Província, Luiz Pedreira do Couto Ferraz, ao avaliar a situação do ensino oferecido no Espírito Santo, observa que a situação não lhe era agradável, mas, em meio à falta de aptidão que verificava na maioria dos professores, faltaria “[...] porêm á justiça se deixasse de trazer [...] [ao] conhecimento, que o mesmo mal não se observa em igual intensidade na capital. Brilhantes forão os exames porque publicamente passarão em dezembro do anno proximo findo, os alumnos da 2. ª cadeira de 1.ªs letras

Decorre algum tempo sem que se volte, nos relatórios dos presidentes da Província, a discutir sobre a necessidade de formar professores.80 Somente na gestão de Luiz Pedreira do Couto Ferraz, em 1848, é que se aborda novamente a necessidade de se pensar na formação dos professores que atuavam nas escolas de primeiras letras, mas apenas para avaliar que a situação era precária. A solução para a melhoria da instrução pública, para o presidente, era aumentar a fiscalização, estratégia que, segundo ele, garantiria o bom trabalho do professor. Prescreve também formar professores com base nas experiências dos professores adjuntos.

Em 1852, ao relatar sobre a Instrução Pública, o presidente da Província, José Bonifacio Nascentes de Azanbuja, como seus antecessores, qualifica de desanimador o estado da instrução pública. De acordo com Azanbuja (1852), muitos eram os fatores que concorriam para esse estado e, entre eles, estaria a “[...] falta de pessoas habilitadas para o ensino; poucos são os professores que possuem os predicados precisos para poderem com vantagem exercer o magisterio. Esta causa com difficuldade e só com o tempo poderá ser removida, pois que depende de estudos que a Provincia não oferece, e nem podem ser procurados em outra parte pela defficiencia de meios dos seus habitantes; resignemo-nos pois á nossa sorte” (AZANBUJA, 1852, p. 27-28).81

Com as dificuldades para a abertura de uma escola normal na Província do Espírito Santo, um caminho que foi apontado por alguns dos presidentes foi que, com a abertura do Liceu da Vitória, em 1854, pudesse se formar, além de alunos aptos a ingressar nos cursos superiores do Império, também professores para o ensino nas escolas de primeiras letras. No ano seguinte à inaugurarão da instituição, o Barão do Itapemirim, primeiro vice-presidente da Província, faz os seguintes comentários:

Pesa-me declarar a V. Ex. que continua a luctar com antigos e graves embaraços este importantissimo ramo da publica administração, sendo os mais salientes a carencia quasi absoluta de pessoal habilitado para o execicio do magisterio, e a incuria, e desmazelo do paes. [...] Todavia o Lycêu inalgurado ha pouco mais de anno pelo illustrado antecessor,

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a cargo do professor Manoel Ferreira das Neves” (FERRAZ, 1848, p. 16).

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Os presidentes, em seus relatórios, detêm-se em analisar, conforme suas palavras as péssimas condições do ensino na Província, algumas vezes as creditando ao baixo salário recebido pelos docentes das escolas de primeiras letras e, em alguns momentos, a falta de fiscalização ou a pouca vocação dos professores, os quais muitas vezes exerciam outras atividades profissionais que não possuíam relação direta com a docência.

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De acordo com o relato do presidente, Sebastião Machado Nunes, em 1854, muitas deficiências que a Província sofria, em relação a pessoas habilitadas para o ensino das primeiras letras, advinha do fato de “O ensino da mocidade [...] exigir sacrificios penosos que não tem uma retribuição correspondente. D’aqui vem que ninguem procura adquiri a instrucção precisa para seguir essa carreira, honrosa sim, porém de pouca vantagem. Para se conseguir algum melhoramento no ensino primario no estado actual das cousas, convém marcar as habilitações dos professores, e prometer-lhes maiores vantagens (NUNES, 1854, p. 23).

funcciona regularmente sob a zelosa direcção do Dr. João Climaco d’Alvarenga Rangel, e delle deve a provincia aguarda em parte a remoção d’alguns embaraços, se receber de V. Ex. como devo esperar impulso, protecção, e reformas, que reclama (BARÃO DO ITAPEMIRIM, 1856, p. 19).

Apesar da euforia inicial a respeito da possibilidade de suprir a falta de professores para a escola primária, com a contratação dos alunos formados pelo Liceu da Vitória, no ano de 1859, o presidente da Província Pedro Leão Velloso, constata que o Liceu da Vitória não estava atendendo aos objetivos para os quais foi criado. Comenta o presidente:

[...] o Lyceu, que começou em 1854 sob tão felizes auspicios, chegou ao mais deploravel estado de decadencia; como que uma força deleterea mysteriosa e occultamente lhe tem ido, de dia em dia estragando a vida. [...] Como está, repito-vos não pode continuar o Lyceu com desperdicio dos dinheiros publicos [...] sob condições de proveitosa applicação, de ser empregado em cousa de interesse geral: o contrario é uma verdadeira espoliação. [...] Como está, não pode, por forma alguma continuar o Lyceu; e aqui cumpre-me dizer-vos, ainda que esse estabelecimento fosse procurado, pelo modo [como] está organisado, em resultado final, para bem pouco serviria a instrucção ahi bebida, não prestado pra preparar jovens, que se tenhão de dedicar á estudos maiores, nem para dar instrução, que por sí só possa ser proveitosa aos usos da vida (VELLOSO, 1859a, p. 51). A instituição, que havia sido criada para ser um celeiro de professores, não atingiu o objetivo esperado. Desse modo, advoga-se que fosse fechada e, em seu lugar, aberta uma escola de ensino primário. Com o desalento de o Liceu não ter produzido os frutos esperados, Pedro Leão Velloso declara que, para esse fim, deveria se buscar um meio para formar os professores da Província. De acordo com ele: “[...] para esse fim dous são os meios adoptados - Escolas normaes e Instituição de professores adjuntos” (VELLOSO, 1859a, p. 50).

Em seu relatório de 1860, quando da entrega da cadeira de presidente da Província ao comendador José Francisco de Andrade e Almeida Monjardim, segundo vice-presidente, Pedro Leão Velloso, mostra-se amimado em relação à instrução pública na Província do Espírito Santo pois havia criado uma instituição capaz de oferecer a formação necessária aos futuros docentes do Magistério primário. Assim se pronuncia no relato:

[...] com o fim de habilitar gente para o professorado foi por authorisação da assembléa provincial, creada na capital uma especie de escóla normal, cuja direcção tive de confiar ao Dr. José Ortiz, professor de francez no Lyceu, em quem não faltando conhecimentos para elevar a missão da que foi encarregado á devida altura, sobra verdadeira vocação e fervorosa dedicação para o ensino e educação da

mocidade; o pensamento, que presidio a creação da escola ainda não foi de todo realisado, não obstante, ella vai produzindo fructos, como o demonstra o augmento de disciplulos que appresenta a aula. como V. Ex. verá do respectivo mappa annexo, os pais procurão a escola com a confiança de que lá seus filhos encontrarão os idoneos alimento para o espirito e para o coração; consta-me que o Dr. Ortiz prepara um methodo facil para ensinar a ler (VELLOSO, 1860b, p.18).

No ano de 1861, quando o presidente da Província do Espírito Santo, Antonio Alves de Souza Carvalho, transfere a administração para o primeiro vice-presidente, João da Costa Lima e Castro faz os seguintes comentários:

[...] em virtude da lei provincial n.º 14 de 14 de julho de 1859 e resolução da presidencia de 5 de setembro do mesmo anno, foi encarregado de reger a 2.ª cadeira do ensino primario desta capital o Dr. José Ortiz, o qual tem intelligencia superior ás funcções, que exerce com zelo, filho de uma vocação especial. São obrigados, na forma das disposições citadas, a frequentar essa cadeira as pessoas que se destinão ao professorado (CARVALHO, 1861, p. 7).

Mas quem era o professor José Ortiz para receber tal incumbência? Lendo o relatório de 1857, produzido pelo barão do Itapemirim, então primeiro vice-presidente da Província do Espírito Santo, fica-se sabendo que o professor José Ortiz82 tinha sido contratado primeiramente para integrar o corpo docente do Liceu da Vitória, no qual regeria, como professor interino as cadeiras de Francês, Geografia e História. Mas, com o fechamento do Liceu da Vitória,83 ele passou a lecionar na segunda cadeira de primeiras letras da Capital, denominada de Colégio do Espírito Santo, que também passou a funcionar como uma espécie de curso normal, em que os pretendentes ao Magistério passariam a assistir suas aulas para se habitarem à docência, não como alunos, mas assistentes, ou seja, adjuntos.

Sobre o método de ensino que o professor José Ortiz havia preparado para facilitar o ensino da leitura, não são fornecidos maiores detalhes nos relatórios. Como é possível perceber no relato do presidente da Província, Luiz Antonio Fernandes Pinheiro, em 1868, a forma como o professor João Ortiz havia combinado os métodos, individual, mútuo e simultâneo, para ele era de muita pertinência. Declara no relatório: “O methodo de ensino

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O professor José Ortiz, contratado para ensinar na “[...] 2.ª cadeira de 1ªs lettras dessa Capital actualmente encarregado da regencia da escola normal. Este professor deixando sua importante familia e interesses de ordem mais elevado no Rio Grande do Sul, pondo de lado as aspirações a que tinha direito pela educação litteraria que recebera entrega-se com ardor ao ensino de 1ªs lettras e arrastando pela força da vocação guia com especial e nunca desmentido zelo da instrucção da infância” (PEREIRA JUNIOR, 1862, p.29).

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“O Lycêo creado pela Lei n.º 4 de 24 de Julho de 1843 e installado com bons auspicios a 25 de Abril de 1854, já não existe!” (MATTOS, 1865, p.13). Posteriormente é reaberto, nas mesmas dependências, o Colégio do Espírito Santo, em que o professor José Ortiz passa a ministrar as aulas de primeiras letras.

adoptado pelo respectivo professor, e por mim approvado é o eccletico ou mixto, isto é ahi acham-se dando as mãos o methodo individual, o simultaneo e o mutuo. Acho que desta alliança de methodos só pode resultar o bom aproveitamento dos alumnos” (PINHEIRO, 1868, p.12). Reconhece também que os professores da Província já estavam fazendo uso do método simultâneo nas escolas de ensino primário, mas não estava surtindo o efeito esperado. Por isso acredita que o melhor seria que se fizesse a combinação de métodos. A experiência realizada pelo professor João Ortiz demonstrava que um método eclético era possível.

Como foi descrito, em 1860, Pedro Leão Velloso inaugura, segundo suas palavras, uma espécie de escola normal que, na verdade, era a segunda escola primária da Capital, a qual foi confiada ao professor João Ortiz, lente da cadeira de Francês do Liceu da Vitória. Pelo relato do presidente, a instituição foi estruturada com base no modelo da formação dos professores adjuntos com freqüência obrigatória para todas as pessoas que tivessem interesse no Magistério primário.

Nessa escola de formação de professores adjuntos, não existiam matérias a serem cursadas com a finalidade da habilitação ao ensino primário. Nesse modelo de formação, os aspirantes ao Magistério se comportariam como aprendizes, como se fizessem parte de uma corporação de ofícios, em que aprenderiam, por meio da observação de um mestre mais experiente e por intermédio de lições práticas. Modelo este denominado por Villela (2002, 2005), como artesanal. Segundo a autora (2005), a situação de uma escola normal com apenas um professor era muito comum, mas dessa situação alguns inconvenientes eram esperados: a instituição somente podia atender a um número restrito de alunos, os conteúdos eram rarefeitos, o processo de formação era demorado, uma vez que os alunos eram preparados individualmente até que se considerasse que estavam prontos para os exames. O resultado era um grande número de desistências de alunos, mesmo havendo, em alguns momentos, incentivos financeiros por parte da administração provincial.

No relatório do vice-presidente da Província, Eduardo Pindahiba de Mattos, em 1865, descrevendo suas viagens pelo Espírito Santo, ele comenta que foi possível encontrar professores que mal sabiam ler, soletravam com sofrimento e possuíam quase nenhum conhecimento sobre a gramática. Reportando-se à Assembléia Provincial, prescreve que a única solução era a criação de uma escola normal para formar os professores da Província.

[...] como remedio a esse mal é minha opinião que devereis decretar a creação de uma eschola normal, onde aquelles que se destinão ao magisterio, vão beber a instrucção de que carecem; vão adquirir perfeito conhecimento das materias que têm de ensinar; onde em uma

palavra, aperfeiçoando a sua educação intellectual e moral, se habilitem para o exercicio de suas importantes funcções. É este a meu ver o primeiro passo a dar no sentido de melhorar a instrucção publica entre nós. A utilidade das escholas normaes é reconhecida desde meados do seculo passado, tendo-as estabelecido na Allemanha com assignaladas vantagens, e hoje se póde dizer que não ha paiz da Europa onde se cuide seriamente na educação popular, que as não tenha adoptado em larga escala (MATTOS, 1865, p. 52).

Porém o que teria havido com a escola normal presidida pelo professor José Ortiz? Os relatórios dos presidentes da Província não fazem menção, mas, pelas informações que o relatório de Mattos (1865) fornece, percebe-se que outras representações sobre a formação de professores já estavam circulando no Espírito Santo, as quais eram incompatíveis com o modelo de formação oferecido nas aulas do professor José Ortiz. A escola normal perspectivada no relatório de Mattos (1865) passa a ser projetada como instituição modelar. Fala-se agora em matérias a serem cursadas, em relação ao que os professores teriam que ensinar, e disciplinamento intelectual e moral para o exercício da função docente.

Entra em jogo, na preparação do professor para a escola primária, um outro modelo que possui como referência as instituições que haviam sido organizadas com a finalidade de modelar a prática docente. Não vendo, na Província, nenhuma instituição que cumprisse a função de formar o professor, pergunta o presidente Eduardo Pindahiba de Mattos a Assembléia: o ensino primário possui por missão instruir

[...] mas como fazel-o, se não for elle [o professor] instruido e bem educado, e que seja mesmo essa sua instrucção e educação superior a que tem de transmitir á seus discipulos? Mas querendo-o, onde poderá elle aqui habilitar-se, como adquirir esse gráu de instrucção de que carece? A eschola normal preencherá esse fim. Estabelecida ella, e imposta a sua frequencia como condicção aos que aspirarem ao magisterio; prohibido expressamente por uma lei, que jamais se admita a concurso, ou que nomêie interinamente para este serviço quem não provar ter frequentado, por espaço nunca inferior a um anno, a eschola normal, que em pouco tempo encontraremos pessoas habilitadas para o desempenho desta importante taréfa (MATTOS, 1865, p. 53).

Somente em 1869, é que, nos relatórios dos presidentes da Província, volta-se a tocar na necessidade de uma escola normal para a formação dos professores.84 Em relatório anexo