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O Movimento LGBT no Brasil: breve histórico

2.4 ESTRATÉGIAS DA DIVERSIDADE SEXUAL: A ROTA DA

2.4.1 O Movimento LGBT no Brasil: breve histórico

Pela dimensão, complexidade e importância que tem a sexualidade na vida de uma pessoa, o direito de poder vivenciá-la e expressá-la não deixa de ser considerado um direito humano. Os Direitos Humanos estão relacionados principalmente à dignidade humana, à liberdade e igualdade entre todas as pessoas. A temática dos Direitos Humanos é de grande importância e está na pauta de discussões, debates, acordos

internacionais. Teve sua origem associada ao pós-guerra e mais especificamente à Segunda Guerra Mundial através da Declaração Universal dos Direitos Humanos em 10 de dezembro de 1948. Os países signatários deste documento devem promover através da educação o respeito aos direitos e liberdades. Lugarinho (2010, p. 62) chama ainda a atenção sobre este tema dos direitos humanos ter se tornado discurso e moeda de troca entre a instituição “Estado” e a própria humanidade.

Pelo reconhecimento dos Direitos Humanos e diante das injustiças sociais, surgem movimentos reivindicatórios de luta e combate às mais diversas formas de discriminação e segregação. O Movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) é um deles e está presente no Brasil e em quase todo mundo. Basicamente o objetivo deste movimento é a luta contra a discriminação e pelo reconhecimento dos direitos destas minorias terem uma vida digna e poderem exercer livremente sua cidadania.

Quanto à sua formação Trevisan (2010, p. 50-51), faz um comparativo entre a formação do Movimento LGBT no Brasil e Estados Unidos e chama a atenção para o fato de que no movimento americano houve ausência de lideranças fortes e em contrapartida uma grande participação popular e que isso contribuiu para uma maior autonomia. E acrescenta ainda que no Brasil,

Os grupos locais e as entidades associativas GLBT tornaram-se feudos, frequentemente disputados por partidos e tendências políticas de esquerda. Neste contexto, proliferaram lideranças baseadas em centralismo, disputa de poder, autoritarismo e personalismo (quando não, puro estrelismo, de olho na mídia).

O Movimento LGBT não aconteceu isoladamente no mundo. Aconteceu junto a outros movimentos como o movimento de luta estudantil e principalmente influenciado pelo movimento feminista entre outros. Segundo Castells (2010), uma economia informacional avançada, a liberação sexual e o desafio feminista ao patriarcalismo, contribuíram para o desenvolvimento dos movimentos de liberação gay e lésbico tanto nos Estados Unidos como no resto do mundo.

A negação e/ou repressão à questão da homossexualidade não impossibilitou que houvesse resistência por parte das pessoas discriminadas, segregadas e excluídas por esta questão. Esta resistência possibilitou a criação de vários movimentos sociais de luta e combate à discriminação e defesa dos direitos humanos. Estes movimentos sociais lutam em defesa dos direitos de lésbicas, gays e de afirmação da liberdade sexual explodiram no mundo inteiro, começando nos Estados Unidos em 1969-1970, espalhou-

se para quase todo o mundo, Castells (2010). Diversas foram as comunidades gays que se formaram ao redor do mundo e com isso as diversas associações que lutam pelo reconhecimento destas comunidades.

No Brasil são várias as associações legais que lutam pela defesa dos direitos humanos e cidadania das pessoas homossexuais, bissexuais e transexuais. Neste contexto, pode-se dizer que o SOMOS, conhecido como Grupo de Afirmação Homossexual, fundado em 1978 é o mais antigo coletivo LGBT e é considerado precursor da luta pelos direitos homossexuais.

Outro coletivo antigo e muito atuante no combate e defesa dos direitos humanos LGBT é o GGB da Bahia (Grupo Gay da Bahia), fundado em 1980 pelo antropólogo Luis Mott. Entre tantas conquistas e talvez a mais importante, segundo Luis Mott (2007) foi a de ter conseguido apoio através da aprovação de sete moções junto a importantes Associações Científicas fazendo com que elas se posicionassem positivamente e oficialmente com relação a homossexualidade e isso acabou se refletindo na retirada em 9 de fevereiro de 1985 do artigo que tratava a homossexualidade como um problema de saúde pelo Conselho Federal de Medicina inclusive se antecipando a própria Organização Mundial de Saúde (OMS).

E entre muitas outras associações no Brasil que lutam pelos direitos LGBTs, hoje a maior de todas, ABGLT - Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais - , fundada em 1995 e é uma rede nacional com 308 organizações afiliadas espalhadas pelo Brasil que trabalha no sentido do respeito e valorização da causa LGBT.

No caso brasileiro a homossexualidade não é crime desde 1830, contudo muito preconceito, discriminação e diversas formas de violência contra homossexuais fazem parte da história e cultura brasileira. Siqueira e Andrade (2012, p. 113) afirmam,

No Brasil a Santa Inquisição mandava para a fogueira os pecadores ‘sodomitas’ até 1830. Posteriormente, ao final do século XIX, em função do estatuto da doença atribuído à homossexualidade, muitos homossexuais foram mandados aos manicômios e prisões para serem tratados. Esses são aspectos da construção histórica da homofobia doença social caracterizada pelo ódio aos homossexuais.

Apesar de toda a violência contra o público LGBT que já ocorreu e toda a violência e discriminação que ainda ocorre, existe uma luta incessante com relação à causa dos direitos das pessoas homossexuais, bissexuais e transexuais. Algumas conquistas importantes em favor a esta causa foram marcadas por reivindicações destes coletivos

juntos a seus governos. Entre as conquistas a união estável para casais homoafetivos. Em 5 de maio de 2011 por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) quando o mesmo reconheceu a família homoafetiva e concedeu aos casais homossexuais o direito à união estável com os mesmos direitos legais dos casais heterossexuais. E em 14 de maio de 2013 o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma resolução que obriga a todos os cartórios do país a celebrar casamentos homoafetivos.

Apesar do reconhecimento e importância que historicamente estes coletivos assumem diante desta parte da população LGBT, são alvos de críticas dentro e fora deles. Trevisan (2010) chama a atenção do servilismo governamental e/ou partidário da militância homossexual no Brasil que acaba dificultando uma melhor articulação de políticas homossexuais efetivas.