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OS EFEITOS NEGATIVOS DA DIVERSIDADE SEXUAL NAS

A sexualidade ultrapassa o campo do privado, pois através dela as pessoas assumem uma identidade, um comportamento, expressam seus desejos, preferências e opiniões.

Tudo isso junto está presente na pessoa e naturalmente acaba refletindo diretamente e/ou indiretamente no que ela é, no que ela faz e nas relações sociais que se estabelecem seja na família, no trabalho etc.

Nesta pesquisa, a partir das entrevistas feitas com lésbicas e gays pode-se perceber que existem efeitos negativos da diversidade sexual nas organizações e basicamente estes efeitos estão relacionados à interferência negativa nas relações interpessoais, aumento do stress. E tudo isso por sua vez, pode, entre outras possibilidades, está relacionado com a cultura organizacional, quando se encontra um ambiente predominantemente heterossexista e quando também não existam ações que promovam a valorização da diversidade sexual, sem falar ainda na possibilidade de existir a homofobia internalizada em algumas pessoas.

Um ambiente predominantemente heterossexista contribui para a exclusão e discriminação das demais sexualidades que não se enquadram neste padrão. Então às vezes aceitar-se homossexual diante de um contexto predominantemente heterossexista, pode não ser algo fácil e natural. Logo, fica compreensível o fato de determinadas pessoas terem dificuldades para se auto aceitar como homossexuais, caracterizando assim uma espécie de homofobia internalizada dificultando a integração delas nos diversos contextos culturais.

Dois efeitos negativos importantes percebidos nas falas das pessoas entrevistadas são destacados aqui: a questão do stress e o fato das pessoas assumirem um comportamento mais “reservado”, exercendo uma influência direta nas relações interpessoais e na qualidade de vida delas.

Diante do que foi entendido pelas historias de vidas contadas pelas pessoas entrevistadas, as pessoas para se protegerem de alguma forma das discriminações e/ou para não correrem o risco de serem rejeitadas pelo grupo social, assumem um comportamento mais reservado e distante do que elas comumente costumam ter. Vale lembrar que o fato de ter este tipo de comportamento por si só não indica algo negativo, desde que seja algo natural e espontâneo das pessoas. Quando por questões circunstanciais assumem esta postura, se mantêm mais distantes e silenciosas diante de colegas, deixa de ser algo natural e espontâneo. Neste sentido, muitas vezes se omitem, ou seja, omitem parte de suas vidas afetiva, familiar causando uma mudança de comportamento diferente do que elas costumam e gostariam de ter.

É fato que as organizações não são os únicos espaços onde práticas discriminatórias relacionadas às sexualidades acontecem interferindo negativamente na vida das pessoas,

nas relações interpessoais, no aumento do stress etc. A família a escola e meios de comunicação e demais instituições contribuem para que isso aconteça e para que haja a naturalização da homofobia.

De forma geral, as pessoas não têm a obrigatoriedade de ter que falar sobre sua sexualidade, mas por outro lado, existe o fato delas também sentirem a necessidade de falar sobre elas e de se expressarem naturalmente seja na família, no trabalho, nos momentos de entretenimento etc. Há necessidade de explicitarem seus desejos, suas opiniões, preferências e sentimentos e isso é absolutamente humano e natural. Neste contexto, não existe a possibilidade de se extrair, os desejos, sentimentos, preferências de uma pessoa, ou seja, de extrair ou separar a sexualidade dela própria.

Com relação à expressão da sexualidade, através das falas das pessoas entrevistadas se percebeu o fato de elas assumirem um comportamento mais reservado no ambiente de trabalho não como uma coisa natural, mas como postura estratégica de auto defesa inclusive na família. Então, o fato de uma pessoa LGBT assumir uma postura reservada no ambiente de trabalho pode ser caracterizado como um efeito negativo da diversidade sexual nas organizações que tem suas possíveis razões ligadas à questão do heterossexismo presente nos mais variados ambientes inclusive no trabalho, a homofobia internalizada e/ou a falta de uma gestão que valorize e reconheça a diversidade sexual.

Uma justificativa possível para esta postura pode ser dada através da “Teoria da Espiral do Silêncio”. Esta Teoria em linhas gerais chama a atenção com relação à força que tem a opinião representada pela maioria sobre uma minoria. Esta pode fazer calar a opinião da minoria e isso se deve entre outras coisas do medo que a minoria pode sentir diante da rejeição e isolamento por não seguir o consenso imposto pela maioria, NOËLLE-NEUMANN (1995). O consenso aqui pode ser interpretado aqui pela própria heteronormatividade ditando as regras do que é aceitável, do que é correto etc. Diante de um contexto onde não há espaço para as pessoas falarem, se expressarem de forma natural, onde não há espaço para elas serem elas mesmas, elas acabam adotando uma postura mais reservada. Neste contexto, comumente procuram falar pouco no sentido de manifestação dos sentimentos, desejos e opiniões que vão de encontro aos valores heterossexuais. Diante disso, tudo isso afetará as relações interpessoais haja vista o distanciamento que esta postura poderá causar e a própria insatisfação pessoal de ter que se silenciar e se omitir diante dos valores impostos pela maioria que por sua vez estão relacionados à heteronormatividade.

Nesta perspectiva este efeito negativo acaba afetando a vida das pessoas e as organizações. Por outro lado quando as minorias representadas aqui pelos grupos LGBT, estão inseridas em um clima organizacional mais receptivo, solidário onde elas possam ser ouvidas, possam se manifestar sem ter que esconder as suas identidades, maior será a satisfação delas e elas poderão ser elas mesmas.

Neste sentido, pode se entender o porquê de uma minoria sexual como é o caso de lésbicas e gays de modo geral não poderem muitas vezes se expressar com a naturalidade e espontaneidade que gostariam no ambiente de trabalho. Levando em consideração que vivemos em uma sociedade machista e heteronormativa, se perceber neste contexto e expressar-se e ser reconhecida nele é algo que pode ser difícil e/ou traumático. Estas pessoas precisam se sentir apoiadas e aceitas e na possibilidade de não se sentirem, acabam assumindo uma postura mais distante e reservada. Mecchi (2006, p. 6) analisa a importância desta questão da livre expressão das pessoas LGBT no ambiente organizacional através do conceito de “voz organizacional”,

Assim, há de se destacar que um colaborador GLBT que tenha espaço para se expressar sem medo de represálias terá uma tendência maior de se sentir psicologicamente comprometido com a organização, uma vez que passa por menos experiências de conflito. Tal “aceitação”, por assim dizer, refere-se ao acolhimento da identidade reconhecidamente GLBT.

Diante do exposto, se pode concluir que muitas vezes as lésbicas e gays sejam não declarados ou parcialmente declarados são levados a serem pessoas “reservadas” não porque querem, mas pelo medo da rejeição e isolamento imposto por uma maioria heterossexual sobre uma minoria homossexual.

A questão do stress foi outro quesito importante observado por praticamente todas as pessoas entrevistadas. Este acaba se fazendo presente em praticamente todos os possíveis efeitos negativos relacionados à questão da diversidade sexual em especial aqui representada por lésbicas e gays. De fato, o stress representa um efeito negativo exercendo uma influência direta na qualidade de vida das pessoas e acontece quando não há uma gestão que busca a valorização e reconhecimento das diversas expressões da sexualidade humana.

O stress aparece associado aqui ao medo da discriminação, desmotivação, medo de rejeição, de perder o emprego por motivo da homossexualidade, além de também está associado ao fato da pessoa ter que esconder a própria sexualidade. Isso fica perceptível

nas seguintes falas, “...em uma empresa privada o risco maior de se perder emprego é maior que em uma empresa pública”, “...trabalhava de 7 da manha até nove da noite, sábados e domingos. Batia metas e via que com toda a minha dedicação e competência não valiam de nada. Então teve um dia que eu questionei ao meu superior o fato de não ter tido uma promoção e o mesmo me disse que era em virtude da minha pouca “integração” com a equipe. A integração a que ele se referia era o fato de eu me recusar a participar das festas com as prostitutas contratadas por eles e com os demais colegas do sexo masculino. Com isso, me senti desmotivado e decepcionado e acabei pedindo para sair da empresa”.

A lesbofobia e homofobia se tornaram uma constante nas organizações, chegando a um nível de naturalização que acontece através de assedio moral expresso entre outras formas, através de bullying homofóbico que envolve brincadeiras e piadas que visam inferiorizar e segregar as pessoas em virtude da sua homossexualidade. Em seu artigo sobre assédio moral e sexual Freitas (2001, p. 9) chama a atenção sobre o poder destruidor psicológico do assedio moral na vida de uma pessoa ,

No nosso dia-a-dia, não ousamos falar de perversidade; no entanto as agressões reanimam um processo inconsciente de destruição psicológica constituído de procedimentos hostis, evidentes ou escondidos, de um ou vários indivíduos sobre o outro, na forma de palavras insignificantes, alusões, sugestões e não ditos,que efetivamente podem desestabilizar alguém ou mesmo destruí-lo, sem que os que o cercam intervenham. O agressor pode engrandecer-se rebaixando o outro, sem culpa e sem sofrimento; trata-se da perversão moral.

Estas práticas discriminatórias e agressões verbais e/ou físicas além de poder destruir psicologicamente o indivíduo, mexer com sua autoestima, são capazes de gerar um

stress, um desconforto e mal estar contínuos que acabarão refletindo negativamente na

qualidade de vida, no seu trabalho e nas suas relações interpessoais. Oliveira (2010, p. 270) em seu artigo sobre stress emocional afirma,

Regiões cerebrais como o hipocampo, a amígdala e o córtex pré frontal apresentam alterações morfológicas e químicas em resposta ao estresse, que são reversíveis se o estresse durar semanas. No entanto, não se pode garantir a reversibilidade desses efeitos se o estresse for prolongado por períodos maiores. Apesar de as pesquisas apontarem o presente.

Pode-se afirmar que o stress está presente em todos ou quase todos os efeitos negativos relacionados à questão LGBT nas organizações quando estas não reconhecem e valorizam a questão da diversidade onde todas as minorias possam ser incluídas e possam ter voz própria para se manifestar e se expressar. E com isso possam vivenciar as suas possíveis identidades, entre elas, a sexual.

5. 2 OS EFEITOS POSITIVOS DA DIVERSIDADE SEXUAL NAS