• Nenhum resultado encontrado

O Neoplatonismo e Plotino

No documento Introdução à história da filosofia antiga. (páginas 158-162)

9.1. Período Transcendental (Ou Religioso)

É o período em que temos a retomada de Platão e Pitágoras, onde é deixada de lado a investigação sobre a realidade sensível, passando-se a tratar do suprassensível. É o momento no qual a razão perde vitalidade, deixando de ser o critério único para explicar a realidade.

9.2. O Neoplatonismo e Plotino (205 – 270 d.C.)

Quando começamos a escrever a partir de um título como o Neoplatonismo e Plotino, a ideia básica que permeia tal título é a de que não há uma separação entre ambos, na medida em que, na História da Filosofia, se formos investigar o primeiro – a filosofia que pontificou durante no mundo Greco-romano do século três ao século seis antes de Cristo (Emilsson, 1999, p.357) –, isso significa que estaremos penetrando inapelavelmente no pensamento de Plotino – especialmente na sua obra Enéadas –, bem como daqueles que o seguiram, como, por exemplo, Porfírio e Proclo.

O Neoplatonismo, como não poderia deixar de ser, significa uma retomada da filosofia platônica, que se seu de diversas formas e em distintos períodos. O último período é exatamente onde se desenvolve o pensamento de Plotino, o real fundador da escola Neoplatônica, embora tal afirmação não seja demasiado precisa, pois Plotino, de alguma forma, herda variados aspectos das diversas tradições platônicas, sobretudo do platonismo médio (Emilsson, 1999, p.359).

A recepção que Plotino faz de Platão não se estende por todos os campos, na medida em que se restringe, em larga escala, à metafísica platônica e à sua filosofia da natureza. Como menciona Emilsson (1999, p.360), vários diálogos são objeto de interesse, mas o mais importante é que sua leitura é guiada pela denominada doutrina não

escrita, e basicamente pela “identificação do Uno e do Bem” (2.9.1). Na realidade, “o Uno é um descendente do Um de Parmênides, e a Ideia de Bem na República. Os paradoxos do Parmênides são tomados como um prenúncio de uma realidade última inefável, que é, como a Ideia de Bem, ‘além do ser em poder e dignidade’” (Kenny, 2004, p.311). O Uno é absolutamente transcendente (6.9.6), está para além do ser (6.8.16)

O Uno é esta realidade última inefável e simples, sem necessidade (6.9.6), único (5.4.1) completamente uniforme, não dividido, ou seja, não contém multiplicidade, pois é privado de partes, não possuindo forma, não estando em movimento ou repouso, não tendo tamanho ou qualidade (6.7.1), não sendo intelecto ou alma, nem estando no espaço ou no tempo (Enéadas, 6.9.3 apud Kenny, 2004, p.312). Enfim, ele escapa ao conhecimento que possamos ter dele – ele não pode ser conhecido racionalmente, na medida em que está além do pensamento (Donini e Ferrari, 2012, p.439) –, mas, ao mesmo tempo, é o princípio de geração de todas as coisas, pois é princípio da realidade de todas as coisas que são, ou existem.

Todas as coisas procedem dele por emanação.

Plotino nos apresenta as três hipóstases (realidades existentes): a primeira é o próprio Uno; após, temos o Nous (o Intelecto), e por fim, a Alma. As três hipóstases devem ser entendidas como princípios que desempenham papéis bastante precisos, obedecendo, também, a uma estrutura hierárquica precisa, em conformidade com o grau de unidade que lhe é característico (Emilsson, 1999, p.365), começando, como vimos, pelo Uno, pura simplicidade, completa unidade, e sem o qual nada poderia existir, pois o Uno dá ser às coisas (6.9.1; 5.3.15), na medida em que tudo o que existe, existe em função da existência do Uno.

O Intelecto é o segundo componente desta estrutura elaborada por Plotino, e deriva do Uno. O que distingue o Intelecto do Uno é o fato deste último conter maior multiplicidade, devido ao fato de que o Nous contém todas as ideias [platônicas] (5.9.6); ele é o intelecto cuja atividade é o pensamento, não qualquer pensamento, mas o pensamento das ideias [platônicas], pressupondo uma dualidade –

uma forma de multiplicidade – entre o “pensante e o pensado” (Donini e Ferrari, 2012, p.437). O Intelecto, além de ser a região das ideias, é o domínio do ser real, ou seja, do que especifica o que algo realmente é, em função de si mesmo, e não de outra coisa (Emilsson, 1999, p.367).

Do Intelecto deriva a Alma imanente – e tal como o Intelecto o é da unidade simples do Uno, ela á uma cópia da unidade pontual do

Nous, ou seja, da intelecção que unifica a dualidade entre pensante e pensado. A alma contém uma maior multiplicidade que o Intelecto, e é o princípio da vida do mundo sensível, caracterizando-se por ordenar o universo sabiamente, estabelecendo um liame entre os dois mundos, o inteligível e o supramencionado sensível: “Por um lado, conserva uma relação direta com o Intelecto, mas por outro lado, está em contato com o mundo sensível” (Donini e Ferrari, 2012, p.448). Independentemente do fato de estabelecer a vinculação entre os dois mundos, a Alma pertence ao mundo inteligível, embora crie e governe o mundo sensível. Para dar uma maior consistência a sua concepção hierárquica, Plotino teria de encontrar um elemento do gênero que fosse próprio ao sensível, e ele o faz, estabelecendo a alma do mundo e a alma dos indivíduos (IV. 3.1-8), vinculada ao corpo (o que expressa o mal moral), e que deverá sofrer um processo de purificação, que é a origem do retorno/regresso ao princípio que deu origem ao todo, qual seja, o Uno.

Abaixo da Alma, e não sendo uma hipóstase, temos a matéria, o que há de mais baixo na hierarquia estabelecida por Plotino. A matéria é completamente indeterminada, privação absoluta, isto é, absolutamente carente de ser, sendo apenas um “receptáculo ou substrato de formas corporais imanentes, tais como cores, formas e tamanho”, não sendo objeto de mudança, apenas subjazendo à mudança (Emilsson, 1999, p.371).

Segundo Irwin (1989, p.199), a preocupação básica de Plotino era demonstrar todas as incoerências a que nos conduzem o senso comum no que concerne à concepções como corpo e alma, forma e matéria, percepção e pensamento, e isso teria levado Plotino, “não ao ceticismo, mas a uma concepção mística da realidade”, onde “as

satisfeitas pela união entre o que conhece e o que é conhecido, e entre o que ama e o que é amado”, em um processo que somente pode ser deslindado pela razão (Idem, p.200).

No documento Introdução à história da filosofia antiga. (páginas 158-162)