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1. DESAFIOS DA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA

1.3 O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa PNAIC

Dentre as políticas públicas educacionais citadas nas seções anteriores, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) é o programa destacado nesta pesquisa, pela importância no enfrentamento do desafio da alfabetização. Instituído pela Portaria nº 867 de 4 de julho de 2012, é um compromisso formal pelo qual o Ministério da Educação (MEC) e as secretarias de educação estaduais, municipais e distrital “reafirmam e ampliam o compromisso previsto no Decreto nº 6.094/2007, de alfabetizar as crianças até, no máximo, os oito anos de idade [...], aferindo resultados por exame periódico específico”, passando a abranger:

I - a alfabetização em língua portuguesa e em matemática; II - a realização de avaliações anuais universais, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP, para os concluintes do 3º ano do ensino fundamental; III - o apoio gerencial dos estados, aos municípios que tenham aderido às ações do Pacto, para sua efetiva implementação (BRASIL, 2012a).

Considerando-se que, aos oito anos de idade, as crianças precisam ter a compreensão do funcionamento do sistema de escrita, o domínio das

correspondências grafofônicas12, a fluência de leitura e o domínio de estratégias de compreensão e de produção de textos escritos, são delineados quatro princípios centrais que devem ser considerados ao longo do desenvolvimento do trabalho pedagógico:

1. o Sistema de Escrita Alfabética é complexo e exige um ensino sistemático e problematizador; 2. o desenvolvimento das capacidades de leitura e de produção de textos ocorre durante todo o processo de escolarização, mas deve ser iniciado logo no início da Educação Básica, garantindo acesso precoce a gêneros discursivos de circulação social e a situações de

interação em que as crianças se reconheçam como

protagonistas de suas próprias histórias; 3. conhecimentos oriundos das diferentes áreas podem e devem ser apropriados pelas crianças, de modo que elas possam ouvir, falar, ler, escrever sobre temas diversos e agir na sociedade; 4. a ludicidade e o cuidado com as crianças são condições básicas nos processos de ensino e de aprendizagem (PACTO

NACIONAL PELA EDUCAÇÃO NA IDADE CERTA13).

Levando em consideração a concepção apresentada pelo PNAIC, percebe-se que, no campo educacional, a alfabetização é uma das maiores prioridades nacionais no contexto atual e que, nesse processo, o professor que atua nos anos iniciais do Ensino Fundamental precisa ter clareza do que ensinar e de como deve ensinar. Em outras palavras, é necessário que ele tenha clareza da concepção de alfabetização e letramento presente nos documentos nacionais para que esta esteja subjacente à sua prática.

De acordo com o documento elaborado pelo MEC (2012), que orienta a implementação do PNAIC, o programa constrói-se sobre quatro eixos de atuação, quais sejam:

i. Formação presencial continuada para os professores alfabetizadores e seus orientadores de estudo. É ofertado um curso presencial, com características semelhantes às do Pró-Letramento14, cuja metodologia utiliza-se

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Correspondências grafofônicas são as correspondências entre letras e fonemas. 13

Disponível em <pacto.mec.gov.br> . Acesso em 26 out. 2013 14

O Pró-Letramento é um programa de formação continuada para professores que visa à melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem, abrangendo as áreas da leitura, da escrita e da matemática básica. Podem participar do programa professores em exercício nas séries iniciais do EF de instituições públicas de ensino. A formação é realizada à distância, mas conta com atividades presenciais, acompanhadas por orientadores. O programa é realizado pelo Ministério da Educação em parceria com universidades da Rede Nacional de Formação Continuada e com a adesão de estados e municípios. A Secretaria de Estado da Educação é responsável pela capacitação dos professores orientadores de Alfabetização e Linguagem e de Matemática da rede municipal de ensino.

de estudos e atividades práticas. A formação acontece no período de dois anos, com carga horária de 120 horas por ano e é conduzida por Orientadores de Estudo, professores das redes que se preparam para essa função em um curso de 200 horas de duração por ano, ministrado por universidades públicas. A recomendação é a de que os Orientadores de Estudo sejam selecionados entre a equipe de tutores que tiveram formação pelo Pró-Letramento no município ou no estado.

ii. Materiais didáticos. Esse eixo se caracteriza pela disponibilização pelo MEC de um conjunto de materiais específicos para alfabetização, tais como livros didáticos e manuais do professor, distribuídos pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD); obras pedagógicas complementares aos livros didáticos, distribuídos pelo mesmo programa; dicionários de Língua Portuguesa; jogos pedagógicos; obras de referência de literatura e pesquisa distribuídas pelo Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE); obras de apoio pedagógico aos professores, também distribuídas pelo PNBE; jogos e softwares de apoio à alfabetização. Além desses materiais, foi previsto o aumento da quantidade de livros e jogos a serem entregues na escola, de forma a criar uma biblioteca para os alunos e professores na própria sala de aula.

iii. Avaliações. Para compor esse eixo foram previstas as seguintes ações:

I - avaliação do nível de alfabetização, mediante a aplicação anual da Provinha Brasil aos estudantes das escolas participantes, pelas próprias redes de ensino, no início e no final do 2º ano do ensino fundamental;

II - disponibilização pelo INEP, para as redes públicas, de sistema informatizado para coleta e tratamento dos resultados da Provinha Brasil;

III - análise amostral, pelo INEP, dos resultados registrados após a aplicação da Provinha Brasil, no final do 2º ano;

IV - avaliação externa universal do nível de alfabetização ao final do 3º ano do ensino fundamental, aplicada pelo INEP15 (BRASIL, 2012a).

Além disso, avaliações processuais devem ser desenvolvidas e realizadas de forma contínua pelo professor junto aos alunos. Os docentes e

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gestores devem acompanhar os resultados, adotando medidas necessárias para aperfeiçoar o que for necessário.

iv. Gestão, controle e mobilização social. A gestão do PNAIC se dá em quatro instâncias, a saber: um Comitê Gestor Nacional; uma Coordenação Institucional em cada estado e no Distrito Federal; uma Coordenação Estadual, que responde pela implementação e monitoramento das ações em sua rede e pelo apoio à implementação nos municípios e uma Coordenação Municipal, para implementação e monitoramento das ações na sua rede. Nesse eixo, destaca-se, também, o SISPACTO que é um sistema de monitoramento disponibilizado pelo MEC, com o objetivo de apoiar as redes e assegurar a implementação de diferentes etapas do Pacto.

Ao aderirem ao Pacto, os entes governamentais assumem o compromisso de alfabetizar todas as crianças em Língua Portuguesa e Matemática16; realizar as avaliações anuais promovidas pelo INEP a todos os alunos concluintes do 3º ano do Ensino Fundamental e, no caso dos estados, apoiar técnica e financeiramente os municípios para a efetiva implementação dessa política.

A seção seguinte trará à discussão os conceitos de alfabetização e letramento à luz de autores como Soares(1998, 2004), Kleiman (2008), Mortatti (2006) e Tfouni (2010), base teórica para a compreensão das concepções de alfabetização e letramento que permeiam as orientações definidas no PNAIC e que guiarão o Plano de Ação a ser proposto no capítulo três.

1.4 Alfabetização e letramento: como definir, como garantir sua presença