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O padrão de mobilidade de mulheres e homens

5. Olival Basto: Problemáticas

5.3 O padrão de mobilidade de mulheres e homens

A questão da mobilidade não se esgota na análise relativamente à disponibilidade de transporte. É também oportuno dar a conhecer a realidade das pessoas que se deslocam de e para o Olival Basto para estudar ou trabalhar, uma vez que isso permitirá compreender o tipo e forma de movimentos pendulares, e os reflexos que os mesmos têm no quotidiano da comunidade.

Desta forma, e analisando a figura 16, é possível concluir que a grande maioria da população se desloca para fora do concelho para trabalhar ou estudar, com quase 64% das mulheres e perto de 65% dos homens a deslocarem-se para outro concelho para trabalhar ou estudar.

Apesar de não se verificar uma diferença significativa, a população feminina

tem, tendencialmente, menor mobilidade que os indivíduos do sexo masculino. (…) A maior participação das mulheres nas tarefas domésticas e nos cuidados dos filhos são os principais responsáveis por estas diferenças (Fonseca, 1988: 245), o que permite

perspectivar um conjunto distinto de necessidades para mulheres e homens face à mobilidade.

75

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% Na freguesia onde reside

Noutra freguesia do concelho onde reside Fora do concelho onde

reside

Mulheres Homens

A percentagem de pessoas que reside e trabalha na freguesia é bastante baixa, o que, num universo total de pouco mais de 3800 pessoas que estudam ou trabalham, resulta em pouco mais de 630 pessoas a viver e trabalhar no Olival Basto. Isto faz com que se dê um abandono massivo da freguesia da parte da manhã e um regresso generalizado durante a tarde, o que significa que, durante boa parte do dia, a população que se encontra e permanece na freguesia é a população desempregada e reformada, ou seja, maioritariamente a população mais envelhecida.

É também de realçar que, apesar de existir uma tendência para as mulheres trabalharem mais próximas do local de residência, este facto não se verifica de forma determinante no Olival Basto. Apesar de as mulheres se apresentarem em número superior na categoria dos residentes que também trabalham na freguesia e em número inferior ao registado para os homens quando considerados aqueles que trabalham fora do concelho, a diferença é demasiado ténue para se poder considerar um padrão generalizado nesta freguesia.

Figura 16 - População residente no Olival Basto empregada ou estudante por sexo segundo o local de trabalho ou estudo (%), 2001 Fonte: Censos 2001

76 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50% Autocarro Automóvel como Condutor Automóvel como Passageiro Comboio Eléctrico ou Metro Motociclo ou Bicicleta A Pé Outro Meio Transporte colectivo da empresa ou da escola Homens Mulheres

Face a esta forte movimentação por motivos laborais, em que quase dois terços da população trabalham fora do concelho de Odivelas, torna-se também importante conhecer os tipos de transportes usados na deslocação para o emprego e averiguar se existem diferenças significativas entre homens e mulheres.

Na figura 17 está representado o tipo de transporte utilizado por mulheres e homens na sua deslocação, ficando bem claras fortes diferenças de género.

Neste caso evidencia-se a maior utilização das mulheres dos transportes públicos quando comparadas com os homens. No caso do transporte público, o autocarro, é utilizado por quase metade das mulheres do Olival Basto, ao passo que é utilizado apenas por pouco mais de 33% dos homens. O número de mulheres que vão para o trabalho a pé é também mais elevado que o dos homens. O transporte particular por excelência, o automóvel é utilizado pelo dobro dos homens, quando comparado ao número de mulheres (15%), sendo esse valor, 36,6%, inclusivamente superior ao número de homens que utilizam o autocarro para se deslocarem para o seu emprego (33,2%). Isto torna bem claras as diferentes necessidades de transporte Figura 17 - População residente no Olival Basto empregada ou estudante por sexo segundo o principal meio de transporte

utilizado no trajecto para o local de trabalho ou estudo, 2001 (%) Fonte: Censos 2001

77 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% Autocarro Automóvel como Condutor Automóvel como Passageiro Comboio Eléctrico ou Metro Motociclo ou Bicicleta

A Pé Outro Meio Transporte colectivo da empresa ou da escola

Homens Mulheres

público entre mulheres e homens, bem como a utilização que é feita dos mesmos. Tal exige uma abordagem que seja igualmente sensível às necessidades específicas das mulheres já que são estas quem mais utiliza o transporte público.

De igual forma, se forem consideradas apenas as pessoas que residem no Olival Basto e trabalham foram do concelho (63,8% das mulheres e 64,5% dos homens) as diferenças ficam ainda mais acentuadas, como se pode comprovar pela análise da figura 18.

Neste caso, apesar do número de homens a utilizar o autocarro subir, a diferença verificada para as mulheres é ainda maior, situando-se na ordem dos 20%. No que ao transporte particular diz respeito, o valor aumenta para ambos sexos, em cerca de 4% para os homens e 2% para as mulheres, o que representa uma diferenciação na utilização de transporte bastante significativa. Esta situação é sintomática das diferenças entre mulheres e homens nas necessidades de transporte Figura 18 - População residente no Olival Basto empregada ou estudante noutro concelho por sexo segundo o

principal meio de transporte utilizado no trajecto para o local de trabalho ou estudo, 2001 (%) Fonte: Censos 2001

78 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% Nenhum Até 15 Minutos 16 a 30 Minutos 31 a 60 Minutos 61 a 90 Minutos + de 90 Minutos Homens Mulheres

mesmo quando se analisa apenas o conjunto de pessoas que trabalham fora do conselho de residência.

Como resultado desta utilização diferenciada dos transportes são também expectáveis tempos de deslocação para o trabalho diferentes para mulheres e homens. Esta questão assume um papel central no planeamento, já que quanto maior for o tempo gasto na deslocação para o trabalho menor será a disponibilidade para a realização de outras tarefas (inclusive o trabalho), com especial relevância para as mulheres, a quem está principalmente atribuída a realização de tarefas domésticas. A isto acresce a realização das já mencionadas “chain trips” em que as mulheres, nas suas deslocações diárias realizam diversas tarefas reprodutivas, que podem ser, por exemplo as compras diárias ou ir deixar e buscar os filhos à escola.

Com base na relevância desta questão apresentam-se, na figura 19, os tempos que homens e mulheres do Olival Basto gastam na deslocação para o emprego.

Figura 19 - População residente no Olival Basto empregada ou estudante por sexo segundo o tempo utilizado no trajecto para o local de trabalho ou estudo, 2001 (%)

79

Relativamente aos dois principais escalões de tempo, ou seja, entre os 16 a 30 e os 31 a 60 minutos, são as mulheres quem mais demora a chegar ao local de trabalho, com 33,3% destas a demorar entre 31 a 60 minutos ao passo que este valor para os homens se situa nos 30,6%. No entanto a diferença entre mulheres e homens no escalão dos 16 aos 30 minutos não é muito significativa, já que o valor é de 36,7% para os homens e 34,7% para as mulheres. Apesar de não haver uma forte diferença nos valores registados entre mulheres e homens relativamente ao tempo que gastam na sua deslocação para o emprego, são tendencialmente as mulheres quem mais tempo gasta a realizar esse percurso.

Embora não seja possível afirmar de forma inequívoca quais os factores que dão origem a uma maior demora na deslocação para o emprego por parte das mulheres, tal pode estar relacionado com o facto de serem as mulheres quem mais utiliza os transportes públicos, estando sujeita a mais transbordos seja pela própria estrutura da rede de transportes públicos seja para realizar tarefas reprodutivas. Note- se, não obstante serem os homens quem menos tempo demora a alcançar o seu local de trabalho são também quem trabalha mais longe do local de residência.

Tal como foi feito com o modo de transporte, também se apresenta o tempo que quem trabalha fora do concelho demora a chegar ao seu trabalho uma vez que é um conjunto significativo de pessoas que tem o seu posto de trabalho fora do concelho e importa conhecer com mais detalhe o tempo que estas deslocações custam a quem tem de realizá-las diariamente, procurando avaliar se mulheres e homens também são afectados de forma diferenciada. Para tal apresenta-se a figura 20, relativa aos tempos de deslocação para homens e mulheres que se encontram nesta situação.

80 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50%

Nenhum Até 15 Minutos 16 a 30 Minutos 31 a 60 Minutos 61 a 90 Minutos + de 90 Minutos Homens Mulheres

Face à analise do gráfico conclui-se que, tal como já verificado na figura anterior, são as mulheres quem mais demora a chegar ao seu local de trabalho. Os principais escalões temporais mantém-se o de 16 a 30 e o de 31 a 60 minutos, sendo, mais uma vez, as mulheres quem demora 31 a 60 minutos a chegar ao seu local de trabalho, ao passo que são mais os homens enquadrados no escalão dos 16 a 30 minutos.

No entanto, as discrepâncias são, neste caso, mais acentuadas. Existe uma diferença de 4,3% a favor dos homens no escalão dos 16 aos 30, sucedendo o contrário no escalão seguinte, com o número de mulheres a ser superior em 4,7%.

Esta análise torna claras as diferenças entre mulheres e homens, acentuando a necessidade de uma resposta diferenciada adequada às necessidades de ambos em função das tarefas socialmente atribuídas.

Figura 20 - População residente no Olival Basto empregada ou estudante noutro concelho por sexo segundo o tempo utilizado no trajecto para o local de trabalho ou estudo, 2001 (%)

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