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Valorizar os recursos humanos e sociais locais

9. Uma proposta para o Olival Basto

9.2 Valorizar os recursos humanos e sociais locais

Uma estratégia de planeamento urbano não deve centrar-se única e exclusivamente na atracção ou criação de vantagens comparativas, devendo também contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população local.

Assim, tendo em conta o forte peso da população idosa na estrutura etária local devem ser também observadas medidas e acções que contribuam de forma decisiva para a melhoria da qualidade de vida destas pessoas, especialmente no que diz respeito à relação que estas estabelecem com o espaço público no seu quotidiano.

Previamente a qualquer proposta ou medida, é importante envolver a população e actores locais no processo de diagnóstico dos problemas que os lugares enfrentam. Desta forma, e atendendo à indiferença instalada na população local devem ser criadas estruturas de participação que promovam a intervenção cívica enquanto forma de responsabilização comunitária e social. Este estímulo social pode ser realizado através da realização de actividades e animação cultural em articulação com a população e os actores e instituições locais.

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Porém, para que este processo se revista de representatividade, é necessário estabelecer um envolvimento com as parcerias locais. Desta forma procura-se garantir que a população seja parte efectivamente envolvida no processo de decisão, vendo assim as suas preocupações reflectidas nas estruturas de decisão que também ganham uma legitimidade acrescida graças à participação pública. Devem ser também tomadas medidas que salvaguardem a representatividade de mulheres e homens idosos, assim como a de outros grupos sociais que venham a ganhar expressão. Para tal devem ser respeitados os princípios da governança inclusiva.

Face ao peso da população idosa é relevante definir um conjunto de medidas directamente vocacionadas para a valorização desta comunidade. Desta forma, e face ao conjunto de necessidades e expectativas particulares da população idosa pode ser oportuno nomear um conjunto de idosos cuja responsabilidade passe por, no seu quotidiano, identificar os problemas e dificuldades que as pessoas mais velhas enfrentam, que podem ir desde dificuldades de circulação devido à existência de degraus ou desníveis acentuados à inexistência de bancos ou abrigo das paragens dos transportes públicos. Tal contribuiria para a valorização do papel desta comunidade, bem como permitiria identificar problemas para os quais os planeadores e decisores não estão tão sensibilizados.

De igual forma, a criação de grupos de trabalho vocacionados para a assistência à população idosa podem desempenhar um papel importante na assistência a idosos em dificuldades, como por exemplo isolados em casa devido à inexistência de uma estrutura familiar de apoio ou de dificuldades no acesso ao espaço público devido à falta de elevador. Estas estruturas poderiam assumir uma forma semelhante às Comissões de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ), participadas pelos diversos actores e instituições locais, centrando a sua atenção na protecção de idosos em situação de risco.

Das possibilidades de trabalho desta comissão podem constar diversos temas, porém, no que ao espaço e estruturas públicas diz respeito, seria importante criar e desenvolver estruturas que conjugassem simultaneamente as necessidades de idosos e crianças. Tal seria importante para pessoas idosas que têm a seu cargo durante parte

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do dia os seus netos, situação algo comum no Olival Basto, e que têm a necessidade de espaços de lazer e permanência que satisfaçam as suas necessidades e as dos seus netos. Assim, é necessário conciliar num só espaço onde são oferecidas actividades de jogo e lazer, mais vocacionadas para crianças, e de permanência e encontro, apropriadas para idosos, que propiciam também a vigilância informal, desencadeando uma sensação de maior segurança e conforto.

Esta utilização do espaço público dá uma maior vitalidade aos lugares, para além de fomentar a intergeracionalidade e a coesão social, desencadeiam uma noção de proximidade que está muito associada à vida de bairro, o que é vantajoso para o reforço e manutenção de uma identidade territorial positiva.

Sendo este apego à freguesia um sentimento generalizado por parte da população residente, especialmente da mais idosa e que há mais tempo reside na freguesia, é importante assegurar que esta se mantém à altura das suas expectativas e necessidades.

Desta forma, é igualmente relevante que o Centro de Dia continue a ser apoiado devido ao importante papel que desempenha junto desta população. Assim, e face às dificuldades de tesouraria e gestão enfrentadas é pertinente assegurar que os serviços oferecidos pelo Centro de Dia não são reduzidos, sob pena da população idosa se ver ainda mais isolada e sem grandes motivos para sair de casa.

Igualmente, deveria ser equacionada a criação de um serviço de lavandaria social, uma vez que o Centro de Dia está equipado com tudo o que é necessário para a realização desse serviço.

Não obstante, o Centro de Dia deve também desenvolver actividades que incluem e valorizem de forma activa o papel da mulher, que apesar de estar presente no Centro de Dia não o está de forma tão numerosa quanto os homens. Desta forma, seria importante realizar, no âmbito das actividades do Centro de Dia, ocasionalmente, feiras no espaço público, cujo objectivo seja o de divulgar e dar a conhecer os resultados de algumas das ocupações das mulheres que frequentam o Centro de Dia, como por exemplo bordados ou outros artigos artesanais.

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Para além de fomentar uma utilização saudável dos lugares, estas feiras serviriam também para promover o papel da mulher e incrementar a sensação de segurança através da já mencionada vigilância informal, desencadeada pela simples presença no espaço público.

Poderiam igualmente ser desenvolvidas outras acções cujo principal papel fosse o de intervir no tecido social da área de estudo. Assim, face ao papel patrimonial que as vilas desempenham no Olival Basto, podendo ser consideradas um dos seus principais símbolos, aquelas que se encontram subaproveitadas poderiam ser regeneradas, dando-lhes uma função cultural, como por exemplo um centro de memória afectiva, aumentando a oferta de equipamentos culturais do concelho e da própria freguesia, para além do centro cultural da Malaposta, fomentaria a ligação emocional dos residentes no Olival Basto ao seu território, promovendo igualmente a coesão social e a intergeracionalidade.

De igual forma, esta valorização social pode também sustentar uma integração territorial das diversas áreas que compõem a freguesia. Assim, a promoção da coesão social e da intergeracionalidade pode passar pelo aproveitamento dos recursos territoriais, como por exemplo, a utilização dos terrenos enquadrados na REN, em articulação com as Comissões de Moradores da Quinta da Várzea, para a criação e manutenção de hortas comunitárias. Os produtos dai resultantes poderiam ser destinados para auto-consumo, comércio local em feiras comunitárias ou para o apoio de famílias carenciadas. Isto permitiria uma valorização social e territorial, já que estaria envolvida a comunidade no aproveitamento dos recursos locais disponíveis e contribuiria de forma decisiva para a integração da comunidade nos diversos territórios da freguesia, valorizando-os através do seu aproveitamento.

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