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5. Resultados e discussão

5.4. O processo de implementação do PAIF

5.4.3. O PAIF no CRAS 3

O CRAS 3 é um centro diferenciado, por dois motivos principais: o perfil dos seus profissionais, que são os que possuem o maior tempo de experiência de trabalho na área da assistência social; e o perfil de risco e vulnerabilidade do território, que não foi caracterizado pela baixa escolaridade, pelo desemprego e pela existência de famílias monoparentais chefiadas por mulheres, três dos cinco principais fatores de risco e vulnerabilidade social encontrados nos demais CRAS.

Em relação ao perfil das entrevistadas, todas apresentam uma escolaridade superior à exigida, tendo a agente social um curso superior e as especialistas, pós-graduação em suas respectivas áreas de formação. O grande diferencial das entrevistadas, contudo, não é referente a formação, é o tempo de experiência na área de assistência social. A agente social possui 26 anos de experiência, tendo trabalhado em serviço de convivência e fortalecimento de vínculos (nomenclatura atual) e com meninos de rua; a assistente social possui 18 anos de experiência, também trabalhou com meninos de rua, além de ter trabalhado em diversas organizações como assistente social; já a psicóloga é a mais nova entre as três, porém, dentre os CRAS pesquisados, a que possui mais tempo de trabalho no Centro.

De acordo com a lógica utilizada para os demais casos, a proposição é de que a percepção de ambiguidade neste CRAS seja menor do que nos demais, visto o tempo de experiência das profissionais. O perfil dos profissionais do CRAS 3 é apresentada no Quadro abaixo.

CRAS 3

Agente Social Assistente Social Psicóloga

Formação Ensino superior

completo. Formação em Economia

Serviço Social, com pós em terapia de casal, em docência do ensino superior e em trabalho social com família e comunidade. Psicologia com especialização em andamento na área de Análise do Comportamento Humano.

Tempo de AS 26 anos 18 anos 6 anos

Tempo de CRAS 15 anos 4 anos 6 anos

Experiência profissional na área de Assistência Social anterior ao trabalho atual Serviço de Convivência e Fortalecimento de vínculos

Trabalho com meninos de rua

Foi assistente social em diversos locais: hospitais, centros de saúde, secretaria municipal, empresa estadual, abrigo de crianças e adolescentes. -

Quadro 14: Perfil dos profissionais do CRAS 3 Fonte: Elaboração própria

Em relação ao perfil de vulnerabilidade e risco do território, a violência doméstica se destaca, sendo citada por todas as entrevistadas. Em seguida, o fator que mais se destacou foi o de jovens com problemas de uso de drogas. O problema da falta de renda não foi tão destacado quanto nos demais CRAS visitados, sendo esse um dos pontos mais interessantes. Dentre os territórios visitados, esse é o que parece melhor estruturado em termos de acesso a políticas públicas. A condição de renda das famílias também aparenta ser superior à dos demais territórios. Cabe, no entanto, ressaltar a consideração feita pela agente social:

Quando falam deste território, as pessoas acham que aqui não tem vulnerabilidade, não tem carência, mas isso aqui esconde muita coisa, muita carência. Aqui tem muita carência financeira, violência contra a mulher... Aqui tem muita violência contra a mulher. Também tem muito envolvimento dos jovens com as drogas. Tem muito problema relacionado ao pagamento do aluguel (AGENTE SOCIAL, CRAS 3). O quadro abaixo sintetiza as percepções dos entrevistados quanto ao território e quanto às demandas dos usuários.

CRAS 3

Agente Social Assistente Social Psicóloga

Perfil de risco e vulnerabilidade do território

Baixa renda

Violência contra a mulher Problemas com os jovens Envolvimento com drogas Problemas com o aluguel (o aluguel na região é alto e compromete a renda das famílias)

Violência contra a mulher. Violência envolvendo crianças.

Gravidez na adolescência (gestação precoce). Muitas pessoas moram na rua.

Filhos com problemas de uso de drogas

Violência doméstica

Demandas que

chegam ao CRAS

A maior demanda tem sido pelo benefício do Bolsa Família: inscrição, problemas com o recebimento.

Benefício por razão de vulnerabilidade.

Pedido de ajuda para pagar aluguel.

Busca de auxílio vulnerabilidade.

Questão comportamental das crianças: problema de agressividade,

comportamento mais quieto, que revelam os problemas pelos quais a família passa.

Famílias que possuem usuários de drogas e querem enfrentar essa situação.

Mulheres com problemas com o companheiro.

Quadro 15: Características do território e das demandas do CRAS 3 Fonte: Elaboração própria

De forma semelhante à situação que foi relatada pela assistente social do CRAS 2, no CRAS 3 chegam demandas que não possuem relação com a proteção social básica, como é o caso das pessoas que pedem recursos para pagar o aluguel:

Vem muito pedido de ajuda para pagar o aluguel. Foi o que eu falei anteriormente, que o aluguel daqui é caro. Então elas vêm muito pedir o que... está com aluguel dois, três meses atrasado. Mas o benefício não é destinado a pagamento de aluguel (AGENTE SOCIAL, CRAS 3).

É interessante retratar a percepção da agente social sobre o ciclo de vulnerabilidade e risco social das pessoas que moram no território. Para ela, o início do problema está na dificuldade em pagar o aluguel:

A renda dessas famílias é baixa, então elas comprometem muito da renda com aluguel porque querem morar aqui, uma área central boa. Mas o que acontece? Elas acabam comprometendo muito da renda com o aluguel, aí vêm todas as demais carências, principalmente a alimentar, a insegurança alimentar. Além disso, por trabalhar o dia todo, os filhos ficam a mercê da escola e da televisão e vêm também os problemas com drogas; um problema vai desencadeando o outro (AGENTE SOCIAL, CRAS 3). A assistente social focou-se nos problemas de violência doméstica, gravidez na adolescência e a existência de muitos moradores de rua que procuram o CRAS. À frente será visto, no entanto, que nem o problema da violência doméstica ou dos moradores de rua pode ser resolvido no CRAS; essas são demandas que o CRAS pode acompanhar, mas que deverão ser encaminhadas necessariamente a órgãos da assistência social especializados nesses tipos de situação.

A psicóloga do CRAS 3 relatou os problemas de envolvimento dos jovens com drogas e a violência doméstica. Ao responder, ela fez uma consideração que corrobora a explicação de que as distintas formas de interação que os profissionais desenvolvem com os usuários da política geram variações quanto às percepções dos entrevistados sobre o perfil do território e às demandas que chegam ao CRAS (explicação proposta na descrição do PAIF no CRAS 1). Segundo a psicóloga, existe uma divisão de trabalho no CRAS:

(...) fica um apoio na frente, o agente, que direciona as demandas. ‘Ah, é uma questão de recurso, de vulnerabilidade, então já vai especificamente para a assistente social’. Se for uma questão mais de relacionamentos, já vem direcionada para mim (PSICÓLOGA, CRAS 3).

Assim, sua visão sobre a realidade se distingue da visão dos demais profissionais em razão dessa divisão.

Uma vez que a demanda chega ao CRAS, a agente social faz a recepção e o acolhimento da família e, com isso, acaba identificando as vulnerabilidades pelas quais ela está passando. Essa demanda é encaminhada para a rede socioassistencial ou para um dos especialistas em assistência social, quase que exclusivamente para a assistente social. A demanda só é encaminhada para a psicóloga diretamente pela agente social nos casos em que o usuário solicita expressamente essa necessidade. Nos demais casos, mesmo identificando que há necessidade de

atendimento inicial pelo psicólogo, a demanda é encaminhada ao assistente social. Os agentes sociais também são responsáveis por realizar visitas domiciliares, com o objetivo de averiguar o perfil de risco e vulnerabilidade social da família e, com isso, subsidiar os relatórios técnicos dos especialistas. A figura abaixo apresenta as atividades que foram relatadas pela agente social do CRAS 3 no seu dia-a-dia.

Demandas Agente Social CRAS 3

Recepção Acolhimento Escuta qualificada

Encaminhamento da demanda para um dos especialistas em assistência social

Encaminhamento da demanda para a rede socioassistencial Identificação

da demanda

Realização de visitas domiciliares

Figura 13: Atividades relatadas pela agente social do CRAS 3 Fonte: Elaboração própria

Quando a demanda chega ao especialista em assistência social, as atividades desenvolvidas pela assistente social e pela psicóloga são basicamente as mesmas, sendo elas as de realização de atendimentos individuais e grupos, a realização de visitas domiciliares, a articulação com outros órgãos para fins de encaminhamento e os acompanhamentos, como mostram as ilustrações a seguir.

Assistente Social CRAS 3 Demandas

Realização de atendimentos individuais.

Acompanhamento familiar.

Articulação com outros órgãos para fins de encaminhamento.

Realização de atendimentos em grupo. Realização de visitas domiciliares.

Figura 14: Atividades relatadas pela assistente social do CRAS 3 Fonte: Elaboração própria

Psicóloga CRAS 3 Demandas

Realização de atendimentos individuais

Realização de encaminhamentos. Realização de atendimentos em grupo. Realização de visitas domiciliares.

Realização de acompanhamentos.

Figura 15: Atividades relatadas pela psicóloga do CRAS 3 Fonte: Elaboração própria

Sobre as visitas domiciliares cabe apontar que elas são feitas pelos agentes sociais em caráter subsidiário, quando a quantidade de demandas impossibilita que o especialista as realize, no entanto, por serem destinadas a identificar o perfil de risco e vulnerabilidade do território, as informações resultantes das visitas são de extrema importância para direcionar o encaminhamento que será dado à situação da família.