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Capítulo II Fundamentação teórica

2.2. Educação para o Desenvolvimento

2.2.2. O papel da disciplina de História e Geografia de Portugal

São diversas as competências proporcionadas pela disciplina de História e Geografia de Portugal no processo de ensino-aprendizagem dos alunos. “La Historia ofrece un marco de referencia para entender los problemas sociales, para situar la importancia de los acontecimientos diarios, para usar críticamente la información, en definitiva, para vivir con la plena conciencia ciudadana” (Prats e Santacana, 1998).

Segundo Félix (1998), o estudo da História no ensino básico possibilita cinco competências ao aluno que o pode orientar no seu dia-a-dia como cidadão. Assim, revela a importância do conhecimento da realidade em que vive, permitindo-lhe situar-se conscientemente no mundo. Indica também, a compreensão da natureza social e individual no ser humano, a qual proporciona ao aluno a compreensão das mudanças e evoluções das sociedades humanas. Como terceira competência, é realçada a relevância do tratamento da informação, a qual desenvolve aptidões ao nível da “análise, inferência, interpretação

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crítica, síntese e juízo crítico (…)” Félix (1998, p. 77-79). No que diz respeito à quinta competência, o autor (idem) menciona o desenvolvimento de atitudes tolerantes, nomeadamente a formação na tolerância cultural e social, que visa promover atitudes coletivas de sociedade diferentes. Como última competência, é referida a valorização do património histórico.

O programa de História e Geografia de Portugal (Ministério da Educação), em vigor desde 1991, é o principal meio orientador de aprendizagens, organizando-se por diferentes temas. Focando-nos no tema “Portugal Hoje”, o qual se encontra estruturado a partir das realidades económicas, sociais e culturais do meio envolvente, este tem por preocupação marcar o lugar e a ação do Homem na utilização dos espaços. O documento revela a importância da análise de outros meios, semelhantes ou diferentes, possibilitando a sensibilização do aluno para a existência de desigualdades económicas, sociais e culturais.

“A presença da História no currículo do Ensino Básico encontra a sua justificação maior, no sentido de que é através dela que o aluno constrói uma visão global de uma sociedade complexa em permanente mudança no tempo, numa dimensão mais abrangente e plural do mundo” (Ministério da Educação, 2001, p.87).

“O tema “Portugal Hoje” constitui-se com conteúdos que visam a compreensão do espaço português e a sensibilização para a diferença (económica, social e cultural)” (Félix, 1998, p. 75). O lugar da História vai para além do contexto nacional, promovendo nos alunos a capacidade de refletir e de serem críticos, através de variadas perspetivas analisadas relativas a distintas culturas e meios. Também Delors et al. (1996) concordam que o seu ensino deve ir mais além do contexto nacional e incluir uma dimensão social e cultural, permitindo, assim, uma visão global, mais ampla da compreensão dos factos passados e presentes.

De acordo com Félix (1998), o ensino da História deve dar uma importante contribuição para a educação, tanto no desenvolvimento da cidadania que possibilita aos jovens adquirir competências como o pensamento autónomo, a analise crítica das distintas formas de informação e o desenvolvimento de atitudes relativas ao juízo autónomo, à curiosidade e à tolerância.

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Tal como afirmam Amaral, Alves, Jesus e Pinto (2012), as capacidades desenvolvidas nas aulas de História são fundamentais uma vez que nos ajudam a lidar com a informação de modo crítico. A História dá sentindo ao presente, ajuda-nos a compreender a mudança e o processo através do qual a nossa sociedade se transforma no que é hoje. A História possibilita a formação dos jovens, estimulando a capacidade de interpretar, refletir, contextualizar e lançar hipóteses. Também de acordo com Barton (2004), a História pode contribuir para promover o pensamento crítico. Mais do que um autor afirmam a importância das competências fornecidas pelo estudo da História. Gonçalves (2004) revela que é necessário fazer com que os nossos alunos encarem a História, com outros olhos, que a vejam como uma disciplina interessante. Mattoso (1999) refere que o que interessa não é «gostar de História», mas estar convencido que sem ela não se pode compreender o mundo em que vivemos. A História ajuda a fornecer uma perspetiva de uma humanidade ampla e diversa, auxilia a compreensão dos interesses e modos de pensar de outros povos e diferentes culturas. De acordo com Barton (2004), os estudantes devem ser expostos a temas históricos que os forcem a considerar assuntos tais como o impacto do racismo, da guerra, do colonialismo e das relações económicas. Também a Educação para o Desenvolvimento visa a consciencialização e a compreensão das causas dos problemas de desenvolvimento e da desigualdade a nível mundial.

“La Educación para el Desarrollo es una educación activa que promueve la cooperación solidaria, compromete a professorado y estudiantes en la defensa de los derechos humanos, de la paz, de la dignidad de las personas y de los pueblos, oponiéndose a cualquier tipo de marginación por credo, sexo, clase o etnia. Pretende que quienes participan en un proceso de Educación para el Desarrollo, incorporen el sentido crítico a través de este proceso de enseñanza aprendizaje que les permite desarticular prejuicios e impulsar actitudes solidarias” (Argibay e Celorio, 2005, p.15).

Assim, a História e Geografia de Portugal é uma disciplina privilegiada para estas abordagens. Importa que o docente conjugue o ensino da disciplina com a Educação para o Desenvolvimento. Neste caso, a área da História e Geografia de Portugal possui um papel favorecido pois possui a particularidade de se ligar ao homem “(…) a História é requisitada para desempenhar um papel e uma função marcadamente social” (Alves, 2009, p. 20).

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O ensino da História permite a aquisição e desenvolvimento de valores relativos aos conceitos de tolerância e de solidariedade, mas também permite a supressão de estereótipos e pré-juízos.

Barton (2004), refere que ao considerar as finalidades da educação histórica, estas pressupõem um contributo para a cidadania. Também refere que na aula de História, é necessário ajudar os estudantes a alcançar conclusões que devem ser justificadas com base nas fontes disponíveis.

Revela-se, assim, importante focar no papel da Educação para o Desenvolvimento, atendendo à sua contribuição na solução dos principais problemas que a humanidade enfrenta. “O sistema educativo tem, pois, por missão (…) preparar cada um para este papel social” (Delors et al., 1996, p.52). Os alunos devem ser preparados com base nos valores e conceitos do mundo em transformação e no contexto em que habitam, de forma a fazerem julgamentos informados, tolerantes e justos com vista ao bem comum.

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