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Capítulo II Fundamentação teórica

2.2. Educação para o Desenvolvimento

2.2.1. O papel do professor

Os professores possuem um grande impacto no desempenho escolar dos alunos, e mais do que instruir, importa orientar os alunos em função de múltiplas competências

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que humanizam um cidadão, nomeadamente a capacidade de assumir responsabilidades e hábitos que capacitem os alunos de viver em sociedade. “Os professores têm um papel determinante na formação de atitudes – positivas ou negativas, devem despertar a curiosidade, desenvolver a autonomia, estimular o rigor intelectual e criar condições necessárias para o sucesso da educação”(Delors et al., 1996, p.131). Deste modo, o professor apresenta a função crucial de mediador na mudança uma vez que apresenta um papel influente para com os seus alunos. “O trabalho do professor não consiste simplesmente em transmitir informações ou conhecimentos, mas em apresenta-los sob forma de problemas a resolver (…)” (Delors et al., 1996, p.135). Cabe-lhe, assim, a função de planear e organizar situações de aprendizagem que suscitem interesse e curiosidade nos alunos de maneira a estimular a aprendizagem e direcionar para a solução.

A sala de aula deve constituir um espaço seguro de partilha e discussão. É, assim, também função do professor preservar este local e proporcionar um ambiente estável e tolerante. De acordo com Delors et al. (1996), a Escola pode criar condições para a prática quotidiana da tolerância ajudando os alunos a ter em consideração os pontos de vista dos outros e estimulando a discussão de dilemas morais ou de casos que impliquem opções éticas.

Sendo o professor parte integrante e fundamental da Escola e sendo a Educação para o Desenvolvimento segundo CIDAC (2018), um processo educativo que envolve pessoas e instituições num todo, com o intuito de incentivar a promoção de valores e de atitudes relativamente ao mundo em que vivemos e a nós próprios, é evidente o vínculo de ambas. “A educação deve procurar consciencializar o indivíduo para o respeito pelas outras culturas, tendo como principal responsabilidade a edificação de um mundo mais solidário” (Delors et al., 1996, pp.42-43). Contudo, estes valores não podem ser “ensinados”, pois é essencial que sejam escolhidos pelos indivíduos. Assim, é papel do professor o estabelecimento de situações de construção do pensamento crítico para o enriquecimento a nível de valores, nomeadamente o respeito pelo outro.

Segundo Cunha (2008), as funções do professor são cada vez mais multifacetadas e complexas pois, atualmente, já não se resume ao domínio dos conteúdos específicos de uma determinada área do saber, nem a técnicas e estratégias pedagógicas. É assim tarefa

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do professor formar cidadãos conscientes e proporcionar situações que permitam o desenvolvimento de capacidades críticas em relação à realidade para que possam utilizar as suas aprendizagens em situações do quotidiano. Levar o aluno a pensar criticamente é essencial. O professor possui a responsabilidade de o preparar para o mundo atual. São- lhe, portanto, exigidas outras competências relativas ao desenvolvimento pessoal e social dos seus alunos, como “(…) oportunidades de desenvolvimento de pensamento crítico, criativo e autónomo (…)”(Cunha, 2008, p. 64).

A missão do professor é educar para a paz, como tal, estas temáticas devem ser trabalhadas em contexto escolar de sala de aula. Tal como Cunha (2008) afirma, os professores são elementos importantes no desenvolvimento social e pessoal dos jovens. “Como formador, é relevante que o faça “(…) transmitindo informações e valores fundamentais, ajudando o jovem a adoptar valores próprios e a desenvolver a capacidade de tecer juízos, de refletir sobre as informações alternativas, a vida e o mundo (…)” (Cunha, 2008, p. 99). O professor deve ser capaz de fazer com que os jovens apliquem tais princípios no seu quotidiano, deve também “(…) possibilitar aos estudantes a experiência de usar uma variedade de fontes de informação para alcançar as suas conclusões” (Barton, 2004, p.19). O professor tem a tarefa importante de formar cidadãos e de desenvolver neles a capacidade crítica da realidade, para que possam utilizar o que aprenderam na escola em diversas situações e /ou lugares.

Cada vez mais existem recursos para auxiliar os professores neste contexto, estruturas e instituições especializadas que compreendem a relevância destas temáticas, divulgam diversas propostas para trabalhar os problemas globais que vivenciamos. O Ministério da Educação, que reconhece a importância da Educação para o Desenvolvimento e a Educação para a Cidadania Global lançou em 2016 um documento orientador intitulado Referencial de Educação para o Desenvolvimento, “(…) que visa enquadrar a intervenção pedagógica da Educação para o Desenvolvimento, como dimensão da educação para a cidadania, e promover a sua implementação na educação pré-escolar e nos ensinos básico e secundário” (Torres et al., 2016, p.7). Este referencial, possui a simplicidade de ser trabalhado através de diferentes dimensões, nomeadamente numa perspetiva transversal da educação para o desenvolvimento, em contexto de ensino

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e aprendizagem nas diferentes áreas e ciclos do ensino básico. O mesmo documento, aborda seis temas globais: Desenvolvimento; Interdependências e Globalização; Pobreza e Desigualdades; Justiça Social; Cidadania Global e Paz.

Também o Manual Global Schools, lançado em janeiro de 2018, apresenta diversas propostas didáticas direcionadas para o 1.º e 2.º ciclos do ensino básico nas diferentes áreas de ensino, inclusive a História e Geografia de Portugal. De acordo com a Esteves et al. (2018), as propostas didáticas foram realizadas com base nos valores da ED e da ECG, tendo como finalidade o desenvolvimento do pensamento crítico, do respeito por diferentes perspetivas através de debates, a perceção da globalização e os seus impactos quer a nível pessoal quer coletivo na transformação social.

Estes recursos, entre muitos outros criados para o efeito, ajudam as instituições e os professores a aprofundar os assuntos programáticos. Além disso têm em consideração a promoção de aprendizagens significativas como a consciencialização e a compreensão das causas dos problemas atuais que influenciam a sociedade, assim como a capacidade de lidar com a diferença. Neste contexto, como apresentam temas transversais, os mesmos são adaptáveis às diferentes áreas do saber.