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CAPÍTULO 3: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

4.1. O papel das expectativas

Antes de iniciarmos a temática da motivação, consideramos importante clarificar um conceito que lhe está bastante associado e que, durante muito tempo, foi tratado de for- ma isolada, ou melhor, sem lhe ser dada a visibilidade ajustada à sua implicação na motivação do sujeito. Estamos a falar do conceito de expectativas também intitulado de crenças, de acordo com alguns autores.

Segundo Oliveira (1992), o tema das expectativas é um dos construtos mais versados e aplicado em diversos campos, desde o pedagógico ao clínico, passando, também pelo social, empresarial e laboral, sem descurar os mundos desportivo, político, militar e até mesmo o religioso.

Para Barros (2004: 350), o termo expectativa é de natureza vaga ―que tanto pode signi- ficar uma simples crença, como um pressentimento mais ou menos fundado ou então manipulado‖. Para Oliveira (1992), há conceitos semelhantes às expectativas de realiza- ção automática ou profecia auto-cumprida ― ―self-fulfilling prophecy‖ (ou profecias interpessoais/hetero-expectativas) ― como seja o efeito placebo, o efeito halo, o efeito Hawthorne1, onde ―a mudança das condições exteriores pode provocar mudanças de comportamento, independentemente da natureza da mudança, atendendo a que os inves- tigados se sentem objecto de atenção‖ (G. De Landsheere, 1976, cit. por Oliveira, 1992: 36). Existem também as profecias auto-desconfirmadas ― ―self-discon-firming prophe- cies‖― ou que não se realizam automaticamente.

As profecias de realização automática são caracterizadas como uma falsa definição da situação, que provoca um novo comportamento, fazendo com que a concepção original falsa apareça como verdadeira (Merton: 1948, cit. por Oliveira, 1992 e Miras, 2002). Para Oliveira (1992: 137), ―trata-se de expectativas que a pessoa alimenta a respeito de

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Nome de uma fábrica de material eléctrico em Chicago. Os investigadores manipulavam a claridade, mudando as lâmpadas e mediam o rendimento laboral. No final, as lâmpadas eram mudadas ficticiamente e o rendimento man- tinha-se.

outra pessoa (...) ou de grupos (…)‖. No segundo caso, o comportamento de um grupo pode fazer, por oposição ao de um segundo, com que as intenções desde último mudem no sentido do comportamento do primeiro grupo.

Se as hetero-expectativas são uma realidade, há, também, a necessidade dos sujeitos se consciencializarem da existência de expectativas intra-pessoais ou auto-expectativas, já que todos nós, para alimentarmos as expectativas a respeito dos outros, temos crenças ou percepções a respeito de nós mesmos, influenciando-se as duas modalidades de for- ma mútua. Na perspectiva de Oliveira (1992: 137), nas expectativas intrapessoais ou auto-expectativas estão em causa ―as expectativas que a pessoa tem a respeito de si pró- pria (por exemplo, locus de controlo do reforço, sentido de auto-eficácia, expectativas de sucesso, etc)‖.

Em termos gerais, para Vaz-Serra, Antunes e Firmino (1986), as expectativas desempe- nham um papel importante nas vidas das pessoas. Tudo o que a pessoa faz tem por detrás a expectativa de que se deverá obter um dado resultado com esse comportamento específico.

Quem realçou verdadeiramente o papel das expectativas foi Tolman (Vaz-Serra et al., 1996: 85) referindo que, quando um dado sinal é seguido no tempo por outro que lhe dá significado, ocorre entre ambos uma relação cognitiva ―que formaliza o conhecimento de que comportar-se de certa maneira perante o sinal conduz ao seu significado‖. Geram-se, assim, as expectativas.

Rolo (2004, cit. por Santos, 2007) define expectativa como um processo de pensamento sobre metas, na qual cada pessoa tem a percepção do caminho para alcançar os seus objectivos (ou seja, uma pessoa estabelece uma meta, vai à procura dela e realiza os seus objectivos). As expectativas de resultados são crenças acerca das consequências ou das expectativas de determinado comportamento (Bandura, 1977, 1986). Todavia, para Lent, Brown e Hackett (1994, 2002), as expectativas envolvem a imaginação das conse- quências.

No campo da educação, há imensos estudos sobre as expectativas de envolvimento aca- démico dos alunos à entrada do Ensino Superior, assim como aquilo que realmente con-

seguem concretizar, tendo as mesmas sido entendidas como um factor importante no ajustamento e realização desses estudantes (Berdie, 1966; Gerdes, 1986; Soares, 2003; Soares & Almeida, 2001; Stern, 1966, cit. por Soares & Almeida, 2005). O grau de investimento cognitivo e comportamental que os alunos estão dispostos a dedicar (expectativas) ou dedicaram (comportamentos) à vida universitária afectam os níveis de satisfação, rendimento e desenvolvimento conseguidos (Astin, 1993; Baker & Schultz, 1992ab; Baker, McNeil & Siryk, 1985; Bradley et al., 2000; Gerdes & Mallinckrodt, 1994; Jackson et al., 2000; Pancer et al., 2000; Sax et al., 2000, 2002; Shaw, 1968; Soa- res, 2003; Soares & Almeida, 2001, 2004, cit. por Soares & Almeida, 2005).

A influência das expectativas nos comportamentos dos sujeitos, com vista à obtenção dos resultados, é defendida por Khu (1999, cit. por Soares & Almeida, 2005), apoiando- -se em dois mecanismos. Por um lado, funcionam como um sistema organizacional ou como um filtro capaz de orientar e dirigir os comportamentos dos sujeitos para aquilo que os mesmos consideram importante e, por outro lado, pelo facto de constituírem um estímulo ao comportamento tal como é defendido pelas teorias da motivação, das expec- tativas ou da auto-eficácia.

Como acima referimos, as expectativas também podem ser de uma pessoa em relação a outra. Trata-se de formas de categorizar as pessoas, prevendo o seu comportamento e as suas atitudes. Regra geral, as expectativas afectam o modo como os outros interagem connosco, influenciando, por sua vez, a nossa auto-imagem e o nosso comportamento (por exemplo, as expectativas dos docentes afectam de forma notável aquilo que os alu- nos aprendem, assim como as expectativas dos investigadores afectam os resultados dos estudos que desenvolvem). Em suma, acontece que nos comportamos em função daqui- lo que os outros esperam de nós.

As fontes que originam as expectativas são de duas naturezas (Vaz-Serra et al., 1996). Por um lado, as experiências do sujeito que levam a associar a obtenção de um dado resultado com a execução de um certo comportamento, em obediência a um sinal. Por outro lado, as expectativas também podem ser formadas sem ter em conta a experiência directa do indivíduo, mas a partir de relatos, experiências, etc., de outras pessoas.

A teoria da expectativa diz-nos que a força da tendência para uma pessoa agir de deter- minada maneira depende da Força da expectativa quanto ao resultado da sua actuação e ao grau de atractividade da recompensa que estiver associada ao resultado conseguido. A teoria assume três relações: a atractividade (Valência), o desempenho-recompensa (Instrumentalidade) e o esforço-desempenho V x  (Expectativa).