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6 ANÁLISE DOS PRINCIPAIS FATORES QUE INFLUENCIAM A

6.11 O PAPEL DO ESTADO E O FORTALECIMENTO INSTITUCIONAL

A presença e papel do Estado é essencial na Amazônia. O fortalecimento do Estado, enquanto ente responsável pelas atribuições e competências públicas, e em defesa dos interesses maiores da sociedade, é um dos principais desafios para a gestão e governança florestal suficientemente boa na Amazônia. Cabe ao Estado, institucionalmente, fazer as leis e cumprir seu papel de fiscalizar, regular e de implementar políticas florestais de interesse dos atores envolvidos com o setor florestal.

Embora não haja luta entre classes bem definidas, verifica-se que existe luta social entre diversas categorias sociais. Observam-se práticas e atividades predatórias, como a derrubada da floresta e queimadas indiscriminadas, levadas a cabo em maior intensidade pelos fazendeiros de gado e soja na Amazônia. Segundo muitos pesquisadores, a classe latifundiária impede o avanço das instituições públicas que trabalham na área florestal e ambiental.

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A presença de conflitos permanentes entre fazendeiros e comunidades tradicionais, índios e colonos, empresários e trabalhadores, dentre outros, pela exploração dos recursos florestais, e implantação de atividades agropecuárias, minerais, energéticas e transportes, ainda é muito forte, conflituosa e, por vezes, violenta, levando a mortes e impactos sociais e ambientais de grande vulto. É fácil observar a existência de “modelos de desenvolvimento” e “sistemas produtivos” díspares que polarizam lutas políticas desiguais e pujantes entre diferentes atores na Amazônia.

Não se pode negar que a fragilidade do Estado na Amazônia seja um dos principais problemas na gestão e governança dos recursos florestais. Entretanto, apesar da propalada ausência e deficiência do poder público, ele foi capaz de exercer a defesa da soberania nacional, intercedendo e protegendo os interesses do povo regional em detrimento da interferência e mesmo intervenção internacional indevida na região, sendo as forças armadas, em especial, o Exército brasileiro, determinante para a segurança e desenvolvimento social na faixa de fronteira.

Dentre os desafios para uma gestão e governança suficientemente boa, aponta-se o fortalecimento institucional e a elaboração do macro-planejamento institucional para avaliar o desempenho da economia, por meio de metas, indicadores e resultados, e não somente na avaliação de programas específicos. A construção de cenários e avaliação das ações permite prever e acompanhar, em prazos determinados, o desempenho das políticas e sua efetividade no alcance de resultados concretos e promissores. Se houver problemas, consegue-se antecipar e tomar medidas reparadoras.

Dentre os principais fatores que impedem o avanço das instituições governamentais federais, estaduais e municipais rumo à gestão e governança suficientemente boas, estão: falta de indicadores, descentralização deficiente, estrutura física e operacional insuficientes, quadro de pessoal insuficiente e mal capacitado e indefinição de políticas florestais.

A identificação, armazenamento e disponibilização de dados e indicadores, a todos os agentes públicos e privados, para análise e correção de rumos, é primordial na integração de ações na implementação das políticas florestais. O compartilhamento de indicadores qualitativos auxilia e melhora, sobremaneira, a gestão e governança florestal na Amazônia.

A descentralização institucional deficiente pode se adequar ao processo de gestão e governança, em nível estadual, pois, a vasta imensidão da Amazônia e a grande extensão de seus municípios e dificuldades de acesso tornam a ação federal muito precária. A descentralização institucional visa empoderar o poder público e atores locais, adaptando suas ações às realidades e peculiaridades sociais e culturais da região.

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A ausência ou deficiência de estrutura física e operacional nas organizações públicas impedem o cumprimento satisfatório de suas atribuições legais e diminui a capilaridade na execução de atividades, prejudicando a conscientização e fiscalização por parte de seus agentes. Por isso muitas atividades clandestinas como desmates, queimadas e exploração do subsolo ocorrem sem o conhecimento do poder público. Pela imensidão que é a Amazônia, fica difícil a presença da União nas diversas localidades, principalmente aquelas mais longínquas.

O fato é que sem o fortalecimento dos órgãos ambientais e florestais torna-se difícil atingir os objetivos das políticas florestais e garantir a operacionalidade das leis. Mecanismos criados pelos setores privados e de governo, nas três esferas, para melhorar o processo de gestão e governança florestal e ambiental na Amazônia, ainda são insuficientes e, em algumas esferas, inexistentes.

Como frisado, insistentemente, a maior fragilidade nas organizações públicas, diz respeito aos recursos estruturais e de pessoal com deficiência quantitativa e qualitativa. Portanto, o fortalecimento institucional é o principal mecanismo de incentivo para o uso sustentável e conservação da floresta amazônica. Com o fortalecimento institucional e do setor produtivo florestal, os recursos econômicos gerados pelo uso dos recursos florestais tendem a se avolumar, desencadeando um círculo virtuoso num curto horizonte espacial e temporal.

A reestruturação, integração e articulação institucional são fundamentais para o fortalecimento das instituições na Amazônia. A estrutura de gestão inadequada dos órgãos responsáveis pelo setor florestal na Amazônia dificulta a eficácia dos sistemas nacionais e estaduais de gerenciamento de áreas naturais protegidas, uma vez que, via de regra, a grande extensão territorial das Unidades de Conservação dificulta o seu monitoramento. Em muitos casos a estrutura de locomoção e apoio logístico é inadequada à realidade geográfica local.

Fator importante para as organizações públicas é contar com um organograma apropriado à gestão estatal democrática. Esse é o fato mais importante para o aperfeiçoamento democrático, visando dar qualidade e produtividade à gestão pública. As decisões devem ser coletivas e não podem ser tomadas de forma vertical e hierarquizadas, mas devem incluir e contemplar os interesses da sociedade.

Como argumentado acima, a estrutura organizacional adequada melhora a gestão e está de acordo com um bom processo de governança florestal. No entanto, muitos empecilhos dificultam esse avanço, como a falta de acesso a ferramentas e conhecimentos

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de gestão, as quais não são repassadas nas academias e centros de ensino, pois suas grades curriculares estão em dissonância à realidade florestal regional.

A imaturidade institucional e o precário relacionamento organizacional são fatores que dificultam a integração. A imaturidade, pouca maturidade ou falta de maturidade reflete nas ações e atribuições. O relacionamento difícil entre diferentes esferas de poder compreende o nível da União, estados e municípios. Na capital do Acre, Rio Branco, foi realizado uma série de eventos para discutir a integração entre os Planos Nacional e Estadual de Prevenção e Combate ao Desmatamento. Durante esses eventos observou-se como é difícil a integração entre essas esferas de poder, embora pareça ser um caminho inexorável para o alcance de objetivos promissores.

A desburocratização simplifica os processos, entretanto, a ferramenta de planejamento e organograma adequados melhoram a gestão organizacional, visando à efetividade das ações. Entretanto, de nada adianta uma estrutura organizacional de planejamento e monitoramento, se o fluxo de processos que divide competências não estiver funcionando. Repensar o organograma, a divisão das secretarias, suas atribuições e novos mecanismos e instrumentos operacionais é medida imprescindível.

A desconfiança na descentralização de políticas tem procedência, pois, quem detém o poder nem sempre está preparado para o exercício da função nos órgãos de governo, intensificado pela falta de capacitação e empenho de gestores locais. Isso acontece com frequência nos governos municipais.

A maior participação dos atores envolvidos no processo de gestão e governança florestal na Amazônia depende, em grande medida, de atividades de eventos técnico- científicos para troca de informações e conhecimentos. Essa participação e envolvimento dos diversos atores permite estabelecer discussões sobre problemas, soluções e tomada de decisões, levando ao nivelamento de informações e entendimento comum, fundamentais para o avanço do setor florestal.

6.12 POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PARA USO E

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