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4 ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS

4.4 O papel do pesquisador e do auxiliar de pesquisa

Ressalta-se o papel da pesquisadora e da auxiliar de pesquisa no contexto de investigação. A auxiliar é estudante de pedagogia da Universidade Federal de Alagoas e Bolsista de Iniciação Científica do Grupo de Pesquisa Educação Infantil e Desenvolvimento Humano (GPEIDH/UFAL), coordenado pela professora Dra. Lenira Haddad. Seu papel durante o processo de geração de dados esteve relacionado ao manuseio da câmera filmadora principal, já que, por vezes, foram utilizadas duas câmeras. A câmera principal permaneceu disposta em um tripé de apoio e, por alguns momentos, foi retirada do tripé quando foi considerado necessário acompanhar algum movimento.

A postura adotada pela auxiliar de pesquisa foi de focalizar em situações que chamassem atenção pelo tema família nas brincadeiras. Para desempenhar seu papel, esta participou de alguns momentos das sessões de observação participante junto à pesquisadora, as quais não foram videogravadas, de modo a refinar o olhar para os eventos interativos entre as crianças e permitir que estas a conhecessem e construíssem uma relação de confiança. A mesma manteve um diálogo com a pesquisadora a cada oficina iniciada e finalizada de modo a refletir sobre o que fora capturado. Em relação à sua postura com as crianças, embora não tenha sido seu papel dialogar com estas, nem fazer perguntas durante as oficinas, sempre que as crianças recorreram a ela, a mesma respondeu a seus chamados, e quando não foi possível, a pesquisadora o fez.

Já em relação ao papel da pesquisadora, ressalta-se que a sua postura foi se moldando a partir das reflexões geradas em campo desde o primeiro momento de imersão, quando passou a frequentar a instituição, conhecer seu funcionamento, ter acesso às turmas de crianças e observá-las em diferentes situações: em momentos livres e dirigidos pelas professoras.

Desde o primeiro momento em que se apresentou tanto ao grupo 1 quanto ao grupo 2, a pesquisadora manteve a postura de se apresentar pelo nome, de comunicar às crianças sua profissão, onde e sobre o que estuda e tentar fazer com que elas compreendessem que não se tratava de uma “tia da escola”, como é comum no estado de Alagoas as crianças se referirem tanto aos professores quanto os demais profissionais da educação que fazem parte do contexto educacional de sua convivência. Desse modo, embora seja possível ver nos episódios que compõem o conjunto de dados desta pesquisa (capítulo 5) que as crianças se referiram à pesquisadora por “tia” é possível afirmar que perceberam que não de tratava de uma “tia”

(professora), mas de um adulto que estava fazendo parte do cotidiano da pré-escola, por um tempo determinado, porque estava desenvolvendo um trabalho com elas.

Foi possível verificar que, de certo modo, as crianças trataram a pesquisadora de forma “diferente” de como tratam os demais funcionários da instituição, especialmente os professores. O sentimento da pesquisadora é de que as crianças construíram uma relação baseada na confiança, em que puderam contar seus planos de brincadeira, em que foi permitido conflitar umas com as outras e negociar; em que puderam incluir este adulto pesquisador em seus enredos, o qual participou mostrando seu interesse pelo que as crianças estavam a fazer e o quanto que aquilo era importante para elas e para a própria pesquisadora. Foi possível ainda reconhecer esta relação entre adulto pesquisador e crianças como “diferente” à medida que estas se mostraram à vontade para pedir objetos que as auxiliariam na brincadeira, para pedir para sair da brincadeira quando não estivessem a fim. A este respeito, as crianças legitimaram um lugar que este adulto pesquisador ocupou em suas rotinas e que, pelos fatos narrados, foi um lugar de parceiro, de apoiador dos seus planos.

Desse modo, assim como Oliveira (2015), a postura da pesquisadora foi de diálogo com as crianças tanto no momento do planejamento quanto durante as brincadeiras, de modo a fazer perguntas sobre o que estavam a fazer, sobre os papéis que estavam a desempenhar, com o cuidado para atrapalhar minimamente os fluxos de suas interações. Entretanto, ressalta- se que tais perguntas, algumas vezes feitas por iniciativa da pesquisadora, outras vezes porque alguma criança tenha iniciado o diálogo com ela, foram de grande importância por possibilitar em alguns momentos que as crianças dessem novos rumos à brincadeira, comunicassem algo que estivessem fazendo, e permitiram que dessem mais informações acerca do objeto pesquisado. Conforme Pereira & Pedrosa (2016), a entrevista durante a brincadeira é uma estratégia que permite alcançar o sentido mais próximo do pensamento da criança.

Acerca do papel do adulto que atua com as crianças nos espaços coletivos de educação infantil, define-se a importância e atribuições desse papel conforme princípios da Abordagem Curricular High Scope, na qual o adulto deve ter o papel de apoiante das ações das crianças, de estimulador dos seus planos, que faça a estas perguntas sensíveis a fim de ajudá-las a refletirem (HOHMANN e WEIKART, 2007; LYRA, 2016, p. 84). Baseada na proposta da High Scope, Lira (2016, p. 97) afirma que a habilidade que o adulto deve ter para “fazer perguntas às crianças é crucial para se acessar o pensamento delas. Perguntas que se

relacionam ao que a criança está fazendo no momento e que focalizam nos processos de pensamento contribuem para ampliar seu pensamento”.

Nessa concepção, ao adulto cabe o papel observar as ações das crianças, ouvi-las, possibilitar um espaço de tomada de decisões e participar ativamente nas/das suas atividades, sem interferir na sua autonomia ou no modo de como realizá-las. Dessa maneira, esse adulto deve auxiliar a criança a concretizar seus planos, o que implica na organização do espaço e da rotina. Essa concepção de adulto é o que define o papel do pesquisador adorado nessa pesquisa, e que está relacionado ao pensamento da pesquisadora acerca do papel do professor de creche e pré-escola, afinal, deve ter uma postura de investigador para possibilitar às crianças experiências ricas em termos de desenvolvimento.