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Parte I: Enquadramento teórico e conceptual

3. Os livros infantis e a educação inter/multicultural

3.1. O papel dos livros ilustrados na educação de infância

Em qualquer biblioteca ou livraria podemos encontrar uma grande variedade de livros que, para além dos seus títulos, autores e temas, se distinguem consoante o formato, o tamanho, o tipo de papel utilizado, a espessura das páginas, as imagens/ilustrações, o tipo e o tamanho da letra utilizada, a mancha gráfica e a encadernação; falamos dos livros infantis. Estas são apenas algumas das características que especificam e adequam os livros ao seu público-alvo: as crianças.

Os livros para crianças procuram frequentemente formatos e imagens que sejam o mais apelativos possível. A ilustração é, em muitos casos, o «cartão de visita» do livro. Tal como refere Pires, «a ilustração é importante e desempenha um papel fundamental no primeiro contacto que a criança tem com o livro» (Pires, 2002, p. 42).

Os livros ilustrados constituem o género literário mais adequado e utilizado com as crianças em idade pré-escolar (Mendonza & Reese, 2001). O contacto com este tipo de livros tem uma importância dupla: em primeiro lugar porque permite que a criança conheça outro tipo de situações, valores e sentimentos narrados no livro e na sua história; em segundo lugar, porque a leitura do livro ilustrado é a primeira de muitas leituras e, talvez, o instrumento essencial para a criança se tornar, posteriormente, numa leitora assídua (Marques, R., 1997).

Os livros infantis constituem uma verdadeira «forma de arte» cujo papel na formação das crianças, apesar de todas as inovações tecnológicas do nosso tempo, nos parece ainda insubstituível. Como aponta Mesquita,

Como toda a forma de arte, a literatura infantil exerce a sua influência pedagógica ou educativa sobre o indivíduo, quer pela contribuição na formação do seu pensamento quer pelos modelos que representa (Mesquita, 2002, p.43).

Aos livros ilustrados reconhece-se, ainda, a grande vantagem de possibilitarem à criança «ler» ainda antes de esta estar capacitada para o fazer. A partir das imagens, a criança pode, sozinha, compreender a história que o livro pretende contar.

Naturalmente, o tipo de ilustrações, bem como aquilo que é representado e o modo como é representado desempenham um papel importante na construção e/ou compreensão que a criança vai fazer da história. Por isso, quanto mais detalhes a ilustração apresentar, mais complexa e pormenorizada poderá ser a «leitura» que a criança vai realizar.

As ilustrações apresentam algumas particularidades relativamente às suas intenções e ao seu público. Os livros infantis ilustrados são prova disso ao adequarem o tipo e a frequência das ilustrações à faixa etária das crianças a quem se destinam. O tipo de ilustração varia, naturalmente, conforme a faixa etária a quem o livro se destina ou está aconselhado. Um livro para crianças até aos dois anos apresenta, geralmente, ilustrações simples. No entanto, os livros que apresentam ilustrações simples e/ou pouco pormenorizadas não estão condenados à pobreza de conteúdo, pelo contrário, um livro pode conter ilustrações extremamente simples e o seu conteúdo ser rico de significados. À medida que avança o nível etário a quem os livros se destinam, também a sua configuração se vai alterando: as ilustrações passam a ser cada vez mais pormenorizadas, os livros passam a ter mais texto, têm mais páginas, o papel das páginas é menos espesso e, sobretudo, as histórias têm outra estrutura e complexidade. Nos livros infantis destinados a crianças que já dominam a leitura, a importância da imagem é menor sem que, contudo, se possa afirmar que neste caso, as imagens sejam subordinadas ao texto.

Segundo Temple et al. (1998), existem fundamentalmente três tipos de livros ilustrados: os livros ilustrados que não contêm texto, cujas imagens são suficientes para compreender a história; os livros ilustrados em que o texto e as imagens se combinam para contar a história e, por fim, os livros ilustrados em que a história está toda em forma de texto e onde as ilustrações servem apenas para explorar qualquer pormenor do texto ou que cumprem apenas um objectivo estético.

Os livros de imagens constituem um importante recurso ao nível das práticas educativas no ensino pré-escolar. Compete ao educador de infância proporcionar às

crianças o contacto com a maior diversidade possível de livros e de textos (Ministério da Educação, 1997).

Ler, ouvir ler ou, simplesmente, manipular um livro são considerados passos fundamentais não apenas para a aquisição de hábitos de leitura como para o próprio desenvolvimento cognitivo, afectivo e estético das crianças (e.g. Marques, 1997; Ministério da Educação, 1997; Barratt-Pugh, Rohl, 2000; Tyrrel, J, 2001). Os livros e a leitura «constituem um dos grandes prazeres da vida e são vitais para munir a criança com as palavras de que necessita para expressar sentimentos, ideias e pensamentos» (Figueiredo, 2002, p. 49). Segundo Mesquita;

É com auxílio do livro, particularmente do livro infantil, que poderemos influir sobre a vida afectiva e estética da criança, já que o livro infantil ocupa um lugar privilegiado, pois é o ponto de encontro entre duas artes, a da palavra (texto) e a da forma (ilustração), de modo a aumentar a compreensão e a eficácia do livro (2002, p. 43).

Para Mendonza e Reese (2001), o livro infantil apresenta uma utilidade tripla: é útil do ponto de vista estético, é útil na perspectiva do desenvolvimento psico-social e, por último, é obviamente útil como propiciador de aprendizagens. Por «utilidade estética» entende-se o prazer que a leitura e a própria manipulação do livro proporcionam à criança. No campo psico-social, a utilidade dos livros prende-se com o facto de estes permitirem à criança conhecer personagens com diferentes maneiras de estar, de fazer e de ser, podendo a criança acompanhá-las no desenrolar dos acontecimentos, nas suas emoções, nos seus juízos e nos seus valores. Em suma, a utilidade psico-social da literatura infantil liga-se ao quadro de aprendizagens sociais que, indirectamente, proporciona à criança leitora/ouvinte. No que se refere à utilidade ao nível das aprendizagens, é indiscutível que a realização de leituras com e para as crianças faculta um maior e mais rápido desenvolvimento da linguagem e da expressão

oral (Marques, 1997; Hohman & Weikart, 2003). O contacto frequente com os livros e, por conseguinte, com a linguagem escrita apresenta, ainda, inegáveis vantagens na aquisição de «competências literárias»3 (Martins & Niza, 1998; Meier, 2004).

Mesquita reconhece, ainda, que «os livros infantis, além de auxiliares de aprendizagem do mundo, formam o leitor no gosto. Formar o gosto e possibilitar escolhas são coisas fundamentais na vida adulta» (Mesquita, 2002, p.43).