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Parte II: Estudos empíricos

6. Estudo II Avaliação estereotípica dos livros infantis e percepções das crianças

6.3 Exposição das variáveis

6.3.1 Variáveis independentes

Definição Operacionalização

Manipulação de livro Livro «Atlas das crianças» - avaliado como contendo menor grau de estereotipia.

Manipulação de livro Livro «Somos todos diferentes» - avaliado como contendo maior grau de estereotipia.

6.3.2 Variáveis dependentes

Definição Operacionalização

Identificação da origem geográfica

Pergunta aberta com a possibilidade de não resposta:

«De onde são estas pessoas?»

Identificação da origem geográfica por

associação

Pergunta fechada:

«Estas pessoas são da África, Ásia, Europa, América do Sul ou América do Norte?»

Adjectivos

Na presença de cada par de fotografias, a criança associava-as com os seguintes adjectivos:

«Como são estas pessoas?»: -boa/má; - feliz/infeliz, -simpática/antipática, -trabalhadora/preguiçosa - limpa/suja -bonita/feia? Amizade

Nominais dicotómicas (sim/não) para a seguinte questão:

«Este casal tem dois filhos da tua idade. Gostarias de brincar com os filhos deles?»

6.4 Metodologia

6.4.1 População e amostra

A população deste segundo estudo é composta pelas crianças que frequentam o jardim de infância e cujos educadores utilizam livros nas suas práticas pedagógicas de teor inter/multicultural.

A amostra foi constituída através de critérios de conveniência ou acessibilidade (Pomeroy, 1993, cit. in Lourenço & Gomes, 2003), e é composta por 60 crianças com idades compreendidas entre os 5 e os 6 anos que se encontram a frequentar 3 salas de jardins de infância do Concelho de Faro pertencentes a Instituições Privadas de Solidariedade Social (I.P.S.S).

O principal factor que presidiu à escolha das 3 salas de jardim de infância – com 20 crianças cada - foi precisamente o facto de nenhuma delas ter ainda abordado ou desenvolvido, nas práticas pedagógicas, temáticas relacionadas com a educação inter/multicultural.

6.4.2 Procedimentos

Após contactadas algumas educadoras de infância, seleccionou-se um conjunto de 3 educadoras de grupos de crianças com idades compreendidas entre os 5 e os 6 anos, que ainda não tivessem abordado a temática da educação inter/multicultural. As educadoras foram elucidadas no que consistia o estudo e como seria conduzido.

Como procedimento ético, foi também solicitado aos encarregados de educação que autorizassem a participação das crianças, para o que lhes foi enviado, por intermédio do educador de infância, uma breve explicação do estudo que se pretendia realizar.

Cada um dos livros foi, então, colocado em duas em salas de jardim de infância com 20 crianças cada.6 Durante um período de três meses (de 1 de Abril a 1 de Julho de 2007), as 40 crianças tiveram ao dispor, na biblioteca das suas salas,7 um exemplar daqueles que, no estudo anterior, foram avaliados como os livros de educação inter/multicultural com maior e menor carga estereotípica.

Desta forma, 20 crianças estiveram em contacto com o livro «Atlas das crianças», cuja avaliação em termos de grau de estereotipia foi a mais baixa, o outro grupo de 20 crianças recebeu na sua biblioteca o exemplar de «Somos todos diferentes», avaliado como o livro com maior grau de estereotipia.

Foi ainda utilizada uma terceira sala de jardim de infância, também com 20 crianças, que não recebeu qualquer livro infantil de teor inter/multicultural e que viria a servir de grupo de controlo.

Foi pedido às educadoras de infância das salas experimentais que lessem o livro às crianças apenas uma vez pois, «tal como alguns estudos indicam, a frequência da leitura do livro influencia o tipo de questões que as crianças colocam» (Spodek & Saracho (trad.), 1993, p. 147). Na eventualidade das crianças levantarem questões ou dúvidas, foi, ainda, pedido às educadoras de infância que respondessem da forma que melhor soubessem, mas sem que tal implicasse uma abordagem muito extensa à temática pois tal poderia, de alguma forma, influenciar os conhecimentos e as percepções das crianças, enviesando o resultado do estudo. Passado esse período, iniciou-se o procedimento experimental (entre 2 e 17 de Julho de 2007).

6 As salas de jardim de infância têm, por norma, e no máximo 25 crianças. Pelo facto de, durante o

período em que foram aplicados os testes, um dos grupos estar reduzido a 20 crianças (as restantes estavam doentes e/ou de férias), optámos por reduzir a amostra a 20 crianças por grupo.

7 As salas de jardim de infância têm, por norma, um espaço dedicado à leitura. Este mesmo espaço é

habitualmente designado como biblioteca pois reúne um conjunto de livros e todo um ambiente propício às primeiras leituras das crianças.

O procedimento experimental consistiu em mostrar a todas as crianças um conjunto de 5 pares de fotografias de seres humanos originários de cinco regiões do globo: África, Ásia, Europa, América do Sul e América do Norte (Anexos 4 a 8). Cada par era constituído por uma fotografia de um homem e uma fotografia de uma mulher,

Os testes foram realizados às crianças nas suas salas de actividades, individualmente mas com as respectivas educadoras presentes (ainda que sem participarem). As crianças podiam despender do tempo que achassem necessário para responder. A questão era repetida sempre que criança o solicitasse.

De modo a não perturbar a dinâmica das actividades das educadoras, os testes às crianças realizaram-se no período da tarde, por não haver actividades dirigidas.

6.4.3 Instrumentos

Este segundo estudo possui algumas semelhanças com o já mencionado adjective

checklist de Katz e Braly e consistiu na apresentação, às crianças, de imagens de figuras

humanas (Anexos 4 a 8), sendo-lhes pedido em seguida que «qualificassem» essas figuras com recurso a um conjunto de adjectivos, «atributos» ou «traços de personalidade». Por outras palavras, na presença de cada imagem, as crianças foram instadas a responder a um conjunto de perguntas acerca dos atributos ou características que lhes reconheciam.

Para cada origem geográfica foram seleccionadas duas fotografias a cores exactamente com a mesma dimensão e tipo de impressão, uma representando o género masculino e outra o género feminino.

Também a selecção de fotografias foi sujeita a algum rigor. Estas foram retiradas da Internet (concretamente do site de fotografia http://www.flickr.com) e submetidas à

apreciação por parte de 3 educadoras de infância, 1 professor do 1º ciclo, 1 sociólogo e 1 psicóloga até se ter chegado à selecção definitiva (Anexos 4 a 8).

O critério que presidiu à escolha das fotografias, prendeu-se fundamentalmente com a ausência de ambiguidade, ou seja, com a clareza com que efectivamente representam determinado grupo humano («étnico», «racial», nacional, etc)

Os adjectivos escolhidos, por seu turno, foram retirados de duas obras relativamente recentes que utilizaram este tipo de metodologia no estudo da identidade nacional e da auto-imagem dos portugueses (Bastos, 2000, p. 92, Miranda, 2002, p. 189) tendo, contudo, sido adaptados à idade, léxico e níveis de compreensão das crianças.

O elenco de perguntas a formular e a lista de atributos a apresentar às crianças foram também submetidos a uma apreciação prévia por parte de duas educadoras de infância, de um professor do 1º ciclo, de um sociólogo e de uma psicóloga. Esta pré- testagem permitiu fazer algumas alterações até se ter chegado à versão final (Anexo 3). Assim, e em primeiro lugar, perguntou-se às crianças se conheciam a proveniência geográfica da figura em causa (a pergunta colocada foi: «De onde são estas pessoas?»). Esta questão visou essencialmente perceber se, após a manipulação dos livros, as crianças associavam imediatamente um determinado fenótipo a uma determinada proveniência geográfica, isto é, procurou-se saber se os «negros» eram sistematicamente associados a África, os «Brancos» à Europa etc.

A segunda questão solicitava que as crianças associassem as fotografias que lhes foram apresentadas a cinco proveniências geográficas: África, Ásia, Europa, América do Sul e América do Norte, tendo-lhes sido perguntado: «Estas pessoas são da África, Ásia, Europa, América do Norte ou América do Sul?».

É importante sublinhar que, enquanto a primeira pergunta era aberta e permitia a não resposta por parte das crianças, na segunda questão foram-lhes fornecidas as origens geográficas dos representados e o que se procurou avaliar foi o grau de correcção ou incorrecção das correspondências entre fotografias e origens geográficas.

Em seguida, a questão colocada foi: «Como são estas pessoas?» tendo posteriormente sido apresentado um pequeno conjunto de atributos organizados em pares de opostos: Boa / Má Feliz / Infeliz Simpática / Antipática Trabalhadora / Preguiçosa Limpa / Suja Bonita / Feia

Para cada par de fotografias foi, ainda, colocada a seguinte questão «Este casal tem dois filhos da tua idade. Gostarias de brincar com os filhos deles?».

As respostas das crianças foram tratadas estatisticamente através do programa SPSS, versão 14.0 para Windows.

6.5 Apresentação e análise dos resultados