• Nenhum resultado encontrado

O papel do professor na formação do aluno da Educação de Jovens e Adultos

3 O DESENVOLVIMENTO DA LEITURA COMO PRÁTICA SOCIAL COM VISTAS AO LETRAMENTO

3.1 VISÃO CRÍTICA DO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

3.1.2 O papel do professor na formação do aluno da Educação de Jovens e Adultos

A educação no Brasil tem se apresentado com alguns problemas referentes ao papel docente. O papel do professor é diretamente proporcional ao sucesso do aluno no contexto escolar. Por isso, quanto melhor for a participação do docente, possivelmente, mais êxito obter- se-á na prática educativa.

O ensino de Língua Portuguesa está relacionado, muitas vezes, com o estudo intensivo e acrítico da gramática normativa. Grande parte dos professores não tem uma visão crítica acerca do ensino e acaba seguindo modelos distantes das realidades lingüística e social dos alunos, utilizando livros didáticos totalmente ultrapassados que não levam o aluno a pensar de maneira reflexiva perante a língua. Muitas vezes, até mesmo a ordem dos conteúdos do livro didático é seguida como “mandamento sagrado”, pois, geralmente, os programas das disciplinas são baseados na ordem dos conteúdos do livro adotado.

Atualmente, há uma necessidade de reformulação das estratégias educacionais empregadas nas escolas, por isso torna-se fundamental uma nova postura do professor em relação ao ensino de Língua Portuguesa. A reformulação das estratégias deve perpassar a teoria, tem de sair do papel e passar para prática, sendo uma constante em sala de aula. Segundo Possenti (2004, p. 24), “ter uma concepção clara sobre os processos de aprendizagem pode ditar o comportamento diário do professor de língua em sala de aula”. Por isso, o domínio de uma língua é o resultado de práticas efetivas, significativas e contextualizadas.

O papel do professor deve relacionar-se à criticidade, em que a “educação bancária” esteja distante da prática e a dialogicidade esteja presente durante todo o processo de ensino- aprendizagem. A escola deve impregnar uma educação libertadora e não uma educação opressora, deve fazer com que a cultura do silêncio seja substituída pela participação ativa do aluno no processo de construção da educação. Segundo Bortone (2008, p. 7), o documento do MEC/CNE 009/2001, ao formular as diretrizes curriculares nacionais para formação de professores, enfatiza que

quanto mais o Brasil consolidar as instituições políticas democráticas, mais fortalecerá os direitos da cidadania e mais ampliará o reconhecimento da importância da educação para a promoção do desenvolvimento sustentável e para superação das desigualdades sociais.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais estabelecem que o ensino deve voltar-se à realidade social dos alunos, a partir da valorização das experiências destes em uma perspectiva dialógica de educação. No ensino de Língua Portuguesa, o professor deve ser um mediador. Segundo Possenti (2004, p. 47), o objeto língua “não se aprende por exercícios, mas por práticas significativas”. Deve-se fazer com que o ensino de Português deixe de ser visto como a transmissão de conteúdos prontos e passe a ser uma tarefa de construção de conhecimento por parte dos alunos, uma tarefa em que o professor deixa de ser única fonte autorizada de informações, motivações e sanções (POSSENTI, 2004, p. 95).

É de fundamental importância o princípio apontado por Vygotsky (1996) ao discutir os problemas do método, em que a análise psicológica deve sempre incidir sobre os processos nunca entendidos como objetos fixos e estáveis. Não existe nada eterno, fixo, absoluto. Tudo o que existe na vida humana e social está em permanente mudança, tudo é perecível. Assim também deve ser o papel do professor, deve haver mudanças constantes, esquecer o padrão fixo e estar pronto para a flexibilidade, atendendo as perspectivas sociais inerentes.

Um pressuposto básico de Vygotsky é que a origem das formas superiores de comportamento consciente deve ser achada nas relações sociais que o homem mantém. Vygotsky não via o homem como um ser passivo, mas o entedia como ser ativo, que age sobre o mundo, sempre em relações sociais. O professor deve trabalhar com os alunos por meio das relações sociais, em que o educando seja um sujeito ativo da construção e do desenvolvimento. Desse modo, o professor terá uma maior possibilidade de formar um cidadão crítico-reflexivo.

O ensino de Língua Portuguesa voltado ao desenvolvimento do letramento é algo que está intimamente relacionado ao papel do professor em sua prática de sala de aula. Segundo Soares (2006), não basta apenas saber ler e escrever, é preciso saber responder às exigências da leitura e da escrita que a sociedade faz continuamente e cabe ao professor ser o mediador desse processo.

A partir das idéias de Barton, Vieira (2003, p. 256) menciona que “as práticas de letramento são formas culturais e gerais que as pessoas exploram em um evento de letramento”. A diferença entre sujeitos letrados e não-letrados está na condição de produção da língua, não nas características formais da mesma (cf. BORTONE, 2007). Se um sujeito tem acesso ao letramento,

ele terá maior flexibilidade lingüística, principalmente em interações com pessoas com as quais não há nenhum conhecimento prévio, uma vez que seu código lingüístico terá um maior grau de autonomia contextual, e estará pautado nas regras prescritas da norma de prestígio (Bortone, 2007, p. 140).

O ensino de Língua Portuguesa deve apresentar-se de maneira crítica e reflexiva, sendo o professor um mediador em sala de aula e o responsável por adequar suas aulas à realidade social e lingüística dos alunos. A escola tem de formar verdadeiros cidadãos, não pessoas alienadas que apenas reproduzem, maximizam ou minimizam aquele seu “mundinho”, sem a preocupação crítica e reflexiva de cidadão. O professor deve contribuir para o desenvolvimento de uma “pedagogia sensível às diferenças sociolingüístas e culturais dos alunos” (BORTONI-RICARDO, 2005, p. 130).